terça-feira, 5 de maio de 2009

Resignados e distraídos

DENTRO de três semanas, quando a Liga acabar e o Estádio do Dragão se trajar a rigor para festejar a vitória do FC Porto, a 24.ª da sua história, os adeptos do Benfica e do Sporting voltarão a interrogar-se: por que razão os seus clubes não conseguem ganhar tanto como ele?
Dentro de três semanas, chegar-se-á a esta conclusão: é impressionante o domínio do FC Porto e a sua capacidade para conquistar títulos, 14 no universo dos últimos vinte, sobrando meia dúzia para distribuir por Benfica (três), Sporting (dois) e Boavista (um). Os adeptos dos vizinhos de Lisboa voltarão então a questionar-se, já resignados: não será possível copiá-lo, imitá-lo, enfim, fazer alguma coisa de maneira a suster a extraordinária eficácia competitiva do futebol portista?

Como cada temporada desportiva no FC Porto é planeada com rigor e executada com sentido profissional, tudo leva a crer que em 2009/2010, se nada de inesperado entretanto emergir nos dois lados da Segunda Circular susceptível de interferir no normal curso dos acontecimentos, a probabilidade de mudança manter-se-á baixa, sem motivação que resista à imparável vaga de confiança a Norte suscitada pela perspectiva do segundo pentacampeonato. Mas não é só. Enquanto no FC Porto, a uma vitória do título, há todas as condições para projectar a próxima época sem sobressaltos, no Benfica e no Sporting isso não se observa.

Na Luz, depois de milionário investimento, ao jeito de este ano é que é, deve doer ao ver-se os jogadores destroçados, a onze pontos de distância do líder, sem alma, sem orientação, rendidos ao fracasso. Como tem sido hábito nos últimos anos, aponta-se o dedo ao treinador. Luís Filipe Vieira diz que não, há outro ano assinado, mas também se sabe que quanto mais barulhento e repetido é o apoio presidencial, mais perto fica a porta de saída. Aqui para nós o ideal seria Enrique Flores pôr-se ao fresco sem que o Benfica tivesse de gastar um cêntimo em indemnização, porque o dinheirinho vai ter de ser muito bem contado para voltar a formar-se uma equipa que não desista a meio do trajecto. Talvez a coisa se componha através de providencial interferência de um Sevilha, por aí. O espanhol vai à vida dele e, pronto, amigos como dantes... Encerrado o primeiro problema, liberdade para a resolução do segundo: escolher o senhor que se há-de seguir. Mais espera, mais notícias contraditórias, mais discussões e mais a imprescindível, mas não segura, abertura e flexibilidade dos decisores para desencantarem treinador que agrade a gregos e a troianos. Concluída esta fase, avança-se então para os derradeiros acertos no plantel, já debaixo da esfera de influência do novo mister, lá para Julho/Agosto...

Em Alvalade, perdida a corrida pelo primeiro lugar, mas praticamente assegurado o segundo, uma espécie de título dos pobres, despromoveram-se as questões relacionadas com a equipa de futebol. Todas as atenções, ou quase todas, se concentram na feira eleitoral, onde julgo dever destacar-se duas posições: uma de coerência, por parte de Rogério Alves; outra de sensatez, por parte de Abrantes Mendes. O primeiro, por saber responder com inteligência aos ataques que visam perturbar a sua equidade até agora inatacável; o segundo, na qualidade de candidato derrotado nas últimas eleições, por, igualmente até agora, se manter à margem do rebuliço.

Com calma, e quando houver oportunidade, fala-se com Paulo Bento para se saber se quer ficar ou não. Sobre entradas e saídas, logo se vê...

Tanta distracção na Segunda Circular. Soares Franco, como presidente, nunca ganhou a Liga, mas apela a linha de continuidade. Filipe Vieira insiste na defesa do seu projecto, que em cinco anos e tal só lhe deu um título de campeão. Perante estas médias brilhantes, como reage o FC Porto? Aproveita-se de adversários tão simpáticos e entretém-se a somar campeonatos...

Fernando Guerra n' A Bola.

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