quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Capas de 30 de Dezembro de 2010

Não há coincidências

Em Dezembro de 2001, no dia 28, pouco depois de ter celebrado o seu 64º aniversário com familiares e amigos, Pinto da Costa recebeu José Mourinho em sua casa. O FC Porto atravessava momentos complicados em termos desportivos sob o comando de Octávio Machado e, apesar de não ter sido assinado nenhum contrato, ficou acordado nessa noite entre ambos que José Mourinho haveria de ser o próximo treinador do FC Porto. O episódio é contado por Pinto da Costa no livro "Largos Dias têm 100 Anos" e é quase inevitável recordá-lo agora que o presidente do FC Porto voltou a escolher o dia do seu aniversário para assinar um contrato, desta feita com André Villas-Boas, prolongando-lhe o vínculo com os portistas por mais um ano. Acredito que tanto André Villas-Boas como José Mourinho estejam cansados das comparações que são feitas entre ambos, mas há coincidências como esta que as tornam mais ou menos inevitáveis.

Jorge Maia n' O Jogo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Comunicado da FC Porto - Futebol, SAD

A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, nos termos do artigo 248º nº1 do Código dos Valores Mobiliários, vem informar o mercado que prolongou por mais uma época desportiva, ou seja, até 30 de Junho de 2013, o contrato de trabalho que liga a sociedade ao treinador da sua equipa principal de futebol, André Villas Boas.

O Conselho de Administração

Porto, 28 de Dezembro de 2010

André Villas-Boas renova até 2013

O treinador do FC Porto, André Villas-Boas, renovou esta terça-feira o seu contrato com o clube por mais um ano. A assinatura do novo vínculo, que decorreu no Auditório José Maria Pedroto, no Estádio do Dragão, estende a ligação entre as partes até ao final da época 2012/13.

Foi o presidente dos Dragões, Jorge Nuno Pinto da Costa, quem anunciou a prorrogação do contrato, referindo que este gesto não deveria ser tornado público «dentro de um gabinete», mas sim num espaço com o nome de José Maria Pedroto. Esteve ainda presente a restante equipa técnica, administração, órgãos sociais e directores das várias empresas do FC Porto.

«Quando, no começo da época, apresentámos no nosso estádio o André Villas-Boas como nosso técnico, não foi um acto de coragem ou de arrojo. Conheço-o desde os 15 anos, não era uma esperança, mas sim uma certeza. Só existe um voto de confiança renovando o contrato, alargando o tempo do vínculo. Esperamos que seja apenas um dos muitos contratos que vamos renovar», referiu Jorge Nuno Pinto da Costa.

«Este é um voto de confiança e apreço pelo nosso trabalho, ainda para mais num dia especial para o presidente. Estamos a meio de um percurso longo e esperamos chegar ao sucesso nesta época, a todos os níveis. É um privilégio para mim ter uma equipa técnica, médica e auxiliar desta competência. Espero conseguir pô-la ao serviço do sucesso do clube. Continuaremos a acreditar no nosso compromisso com a vitória e a segui-lo passo a passo», afirmou André Villas-Boas.

PARABÉNS JORGE NUNO PINTO DA COSTA

As escolhas da vida de Pinto da Costa

Não falta quem diga que é melhor dar que receber sem nunca passar das palavras aos actos. Pois bem, no dia em que cumpre o seu 73º aniversário, Pinto da Costa, presidente do FC Porto há mais de 28 anos, aceitou o desafio de dar em vez de receber. Na verdade, aceitou partilhar, com os leitores de O JOGO, algumas das escolhas que foi fazendo ao longo do trajecto que o tornou num dos presidentes mais bem-sucedidos da história do futebol mundial e também num dos que registam maior longevidade no cargo.

73 anos de vida e mais de três décadas de dirigismo ao mais alto nível - foi director do departamento de futebol antes de assumir a presidência do FC Porto -, caucionados pelos quase 70 títulos acumulados só no futebol e pelo convívio diário com alguns dos melhores treinadores, jogadores e dirigentes de sempre, garantem-lhe um crédito único no momento de fazer uma lista com o seu "best of". Sem querer estragar o prazer da descoberta aos leitores, sempre podemos adiantar que há algumas surpresas entre os tops de Pinto da Costa que publicamos aqui ao lado. Não é o caso da presença de Eusébio entre os seus cinco melhores jogadores de sempre, onde Maradona não coube apenas por falta de espaço. Mas não haverá muita gente capaz de adivinhar qual é o primeiro nome que o presidente do FC Porto menciona no momento de eleger os treinadores com mais potencial. E também não haverá quem saiba porque é que uma vitória frente ao Penafiel por 1-0 lhe merece o mesmo destaque dos históricos triunfos em Viena, Sevilha ou Gelsenkirchen.

E como há mais na vida de Pinto da Costa do que apenas futebol, nas duas páginas seguintes o presidente do FC Porto revela o que pensa sobre outras áreas da sua vida, da sociedade e do País. Uma prenda de aniversário ao avesso em exclusivo para os leitores de O JOGO.

"Best of"

Batalhas

"Quando nos quiseram tirar a Taça de Portugal do Estádio das Antas, com o argumento que o Estádio Nacional era 'muito helénico'. Na verdade, era porque o FC Porto estava na final. Acabámos por vencê-la e disputar a final aqui."

"A batalha do rebaixamento do Estádio das Antas. Dentro da Direcção, havia muita gente contra: uns diziam que passava um rio por baixo, outros que havia um cemitério, e só tive apoio do Óscar Cruz, responsável das obras. Tive oposição interna e depois externa, com o pedido de subsídios que eram sempre recusados. Só andaram para a frente graças ao ministro Valente de Oliveira, que acabou por desbloquear a questão."

"A construção do Estádio do Dragão. O célebre Plano de Pormenor das Antas. Uma batalha terrível em que quem mais devia lutar por este equipamento fez tudo para o destruir e bloquear de todas as maneiras. Foi uma batalha ganha, e todos temos orgulho no nosso estádio e na sua envolvência."

73

Pela 20ª vez desde que chegou à presidência do FC Porto em 1982, Pinto da Costa celebra o seu aniversário em primeiro lugar no campeonato.

Revelações >> Nem só de futebol vive Pinto da Costa. O presidente do FC Porto tem uma visão própria sobre alguns dos temas do momento na sociedade portuguesa e ainda aproveita o desafio de O JOGO para algumas revelações. A de que pensa voltar a casar, por exemplo

>> Dinheiro

O dinheiro é importante para que as pessoas possam ter uma vida digna, possam manter a sua independência e possam ajudar quem precisa e mereça. Agora, a obsessão pelo dinheiro... às pessoas que estão obcecadas, costumo dizer que não dá para o levar no caixão. As pessoas devem gozar a vida e proporcionar o bem-estar a quem as rodeia e é para isso que o dinheiro serve.

>> Trabalho

O trabalho é um direito e uma obrigação de todas as pessoas e a sua falta é um dos principais problemas da nossa sociedade. Pelo menos, daqueles que querem trabalhar, porque há muitos que não querem e preferem viver de subsídios. Mas é dramático perceber que há muita gente que quer trabalhar e não pode. E mais ainda quando, ao mesmo tempo, ficam sem trabalho famílias inteiras. É um dos problemas que este país tem de encarar de frente e ultrapassar.

>> Amizade

A amizade é um sentimento único e sublime. Traduz o lado positivo da vida. É, de facto, raro e especial perceber que se tem uma pessoa de quem se pode dizer, no verdadeiro sentido da palavra, que é nosso amigo. Por definição, um amigo não o é por interesse, mas sim por se identificar com os interesses e o carácter do outro. Só o prazer de usufruir da sua companhia e de, muitas vezes, ter o privilégio de lutar ao seu lado por aquilo em que ambos acreditam é um privilégio. Especialmente quando as amizades perduram muitos e muitos anos, como acontece sempre que são verdadeiras.

>> Amor

O amor também não é mau. Em muitos aspectos, é semelhante à amizade. O amor fraternal pode ser fantástico, o amor no seio da família é muito importante e o amor entre duas pessoas é especial. É algo que nos leva a fazer tudo o que está ao nosso alcance para proporcionar o bem-estar às pessoas que amamos e também um sentimento que nos proporciona uma felicidade ímpar. É um sentimento fundamental para a realização de qualquer pessoa.

>> Sexo

O sexo do meu tempo, que é o que ainda mantenho, é algo de normal, mas que, para mim, só tem significado, quando as duas pessoas se entregam totalmente e com amor.

>> Casamento

Há dois tipos de casamentos: um que eu não compreendo, embora tenha sido promulgado e, portanto, sobre esse não falo. Sobre o casamento tradicional, entre homem e mulher, digo que é um relacionamento especial que começa por ser muito bonito, mas pode acabar feio. Quando uma pessoa toma a decisão de casar, naturalmente, está convencido que está a tomar um passo importante e seguro, que muitas vezes não o é. Por isso é que há tantos divórcios. Eu já tenho dois e não vou ficar por aqui porque estou a planear casar uma quarta vez. Mas todos reconhecemos que um casamento que dure 50 anos é algo de fantástico.

>> Escola

A escola é absolutamente fundamental em qualquer sociedade que pretenda ter um futuro. É com base naquilo que aprendemos na escola que partimos na aventura da vida e por isso mesmo deve haver todo o investimento e todo o cuidado com essa área da sociedade para dispensarmos à educação a atenção que merece.

>> Justiça

A Justiça é sempre atacada, por tudo e por todos, mas parece-me que exageradamente e de uma forma injusta. Em todos os ramos e actividades há melhores e piores profissionais, mas acho que a Justiça, mesmo tardando, ainda se faz neste país. E eu acredito na Justiça.

>> Fé

A fé ou se tem ou não se tem. Eu tenho. Fui criado no seio de uma família católica, o que muitas vezes não é suficiente, porque muitas pessoas acabam por perdê-la. Eu mantenho a minha fé e as minhas crenças e tenho motivos para isso porque nos momentos mais complicados nunca a perdi e sempre senti que há uma ajuda que ultrapassa o aqui que é explicável e natural.

>> Espírito de Missão

Todos nós temos obrigações perante os outros e, quando podemos ser úteis, muitas vezes temos de colocar o nosso próprio interesse para trás das costas e fazer aquilo que é mais importante para a comunidade.

>> Natal

Vejo sempre o Natal como um momento de felicidade. Ainda este Natal tive a felicidade de estar com a pessoa que amo e com a minha filha. Não me restarão muitos Natais, mas ainda espero poder passá-lo com a mulher que amo, com a minha filha e com o meu filho. Gostava que nos pudéssemos juntar os quatro.

Família

A família é a base de uma sociedade saudável e funcional. É fundamental para o bem-estar de cada um de nós, para nos sentirmos parte de algo maior e mais importante que nós próprios.

Datas com história

28 | Dezembro | 1937

Nasce na freguesia de Cedofeita, no Porto.

20 | Dezembro | 1953

Torna-se o sócio número 26 636 do FC Porto. A quota é de 20 escudos.

| 1962

Começa por ser vogal da secção de hóquei em patins.

26 | Fevereiro | 1967

Passa a ocupar funções no pugilismo, onde conhece Reinaldo Teles.

Maio | 1969

Empossado como director das Actividades Desportivas Amadoras.

13 | Maio | 1976

Aceita o convite do presidente Américo de Sá para assumir funções como director do departamento de futebol.

23 | Junho | 1976

José Maria Pedroto é anunciado como treinador para a época de 1976/77.

18 | Maio | 1977

O primeiro troféu como director do futebol: a Taça de Portugal.

11 | Junho | 1978

Ponto final no jejum de 19 anos. O FC Porto sagra-se campeão nacional.

Verão | 1980

Abandona a Direcção, sendo substituído no departamento de futebol por Teles Roxo.

17 | Abril | 1982

É eleito presidente do FC Porto, com 4573 dos 5024 votos contabilizados.

23 | Abril | 1982

Empossado presidente. Nesse ano, o hóquei em patins vence a Taça das Taças e o ciclismo ganha a Volta a Portugal.

| 1983

O basquetebol sagra-se campeão nacional.

16 | Maio | 1984

O FC Porto perde a final da Taça das Taças diante da Juventus.

21 | Junho |1986

O FC Porto sagra-se campeão europeu de hóquei em patins. Nesse ano, o voleibol conquista o título nacional.

7 | Janeiro | 1985

Morre José Maria Pedroto, "o treinador de Pinto da Costa".

Maio | 1985

Campweão nacional, com Artur Jorge como treinador.

17 | Dezembro | 1986

Vitória sobre o Benfica por 1-0, na inauguração do rebaixamento do Estádio das Antas.

27 | maio | 1987

O FC Porto sagra-se campeão da Europa vencendo o Bayern de Munique por 2-1, no Estádio do Prater.

13 | Dezembro | 1987

Campeão do mundo em Tóquio, Japão, ao derrotar, na neve, o Peñarol.

13 | Janeiro | 1988

Conquista da Supertaça europeia com dupla vitória sobre o Ajax.

Junho | 1990

O hóquei em patins conquista o segundo título de campeão europeu.

28 | setembro | 1993

O FC Porto comemora 100 anos de vida.

Maio | 1994

A equipa de hóquei em patins vence a Taça CERS, feito que repetiria na época seguinte.

27 | Agosto | 1994

Na madrugada deste dia, um acidente de viação tira a vida a Rui Filipe.

7 | Maio | 1995

O FC Porto, treinado por Bobby Robson, ganha em Alvalade, sagrando-se campeão.

12 | Maio | 1996

O bicampeonato é uma realidade. Oitavo título em 12 anos para Pinto da Costa.

18 | Setembro | 1996

Já com António Oliveira como treinador, o FC Porto conquista a Supertaça Cândido Oliveira derrotando o Benfica, por 5-0, em pleno Estádio da Luz.

17 | maio | 1997

Pinto da Costa conquista o tri que escapara ao clube em três ocasiões.

30 | Junho | 1997

Os associados aprovam por unanimidade a criação das SAD para o futebol e o basquetebol.

3 | Janeiro | 1998

Pinto da Costa toma posse para cumprir o sexto mandato. Já soma 16 anos como presidente do FC Porto.

26 | abril | 1998

O FC Porto iguala o Sporting conquistando quatro campeonatos seguidos.

12 | Abril | 1999

O andebol ganha o campeonato, o único título que faltava a Pinto da Costa em 16 anos como presidente.

30 | junho | 1999

A festa do penta no Estádio das Antas. Uma semana antes, o FC Porto garantira a conquista do título com uma vitória em Alvalade.

5 | agosto | 2002

É inaugurado o Centro de Treinos e Formação Desportiva Porto/Gaia.

23 | abril | 2003

Pinto da Costa completa 20 anos na presidência portista.

21 | maio | 2003

O FC Porto conquista a Taça UEFA ganhando ao Celtic, por 3-2, na final disputada no Estádio Olímpico de Sevilha.

16 | Novembro | 2003

É inaugurado o Estádio do Dragão, com capacidade para 50 mil espectadores e um dos 10 estádios do Euro'2004.

25 | novembro | 2003

O FC Porto recebe o Manchester United para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, no primeiro jogo europeu no "Dragão".

31 | Dezembro | 2003

Pinto da Costa é sócio do FC Porto há precisamente 50 anos. Numa cerimónia organizada pelo Conselho Cultural recebe a roseta de ouro.

26 | maio | 2004

Pinto da Costa festeja na Alemanha o segundo título europeu do FC Porto com uma vitória na final por 3-0, diante dos franceses do Mónaco. Este é igualmente o jogo da despedida de José Mourinho.

12 | Dezembro | 2004

Com Victor Fernandez a treinador, o FC Porto conquista a sua segunda Taça

Intercontinental, diante do Once Caldas.

24 | janeiro | 2004

O último jogo oficial no Estádio das Antas.

4 | Dezembro | 2004

Pinto da Costa lança o livro "Largos dias têm cem anos".

17 | abril | 2007

Pinto da Costa cumpre 25 anos à frente do FC Porto.

23 | abril | 2007

É lançada a primeira pedra do Dragão Caixa, o pavilhão multiusos do FC Porto, que será inaugurado oficialmente esta noite.

5 | abril | 2008

O FC Porto goleia o Estrela da Amadora e conquista o tricampeonato. O 23º do clube, 16º da era Pinto da Costa.

16 | Junho | 2008

UEFA confirma FC Porto na Champions, depois das dúvidas levantadas pelas averiguações decorrentes do processo Apito Dourado. Foi a primeira parte de uma importante vitória jurídica dos portistas, que viria a concluir-se quase um mês depois - 15 de Julho - quando o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) encerrou em definitivo o assunto.

23 |Abril |2009

27 anos depois de ter tomado posse, Pinto da Costa concretiza um dos grandes objectivos, inaugurando o pavilhão das modalidades, baptizado como Dragão Caixa.

10| Maio |2009

Os dragões ganham por 1-0 ao Nacional e confirmam matematicamente o tetracampeonato. O segundo da história do clube, algo que só o Sporting tinha conseguido até então.

30 | Maio |2009

O FC Porto vence no Jamor o Paços de Ferreira, por 2-0, e conquista a 14ª Taça de Portugal, a 10ª da era presidencial de Pinto da Costa.

9 | Agosto | 2009

Outra vez o Paços de Ferreira como adversário, agora na Supertaça. O FC Porto vence e carimba a 16ª do currículo de troféus.

24 | Abril | 2010

FC Porto vence a Oliveirense e sagra-se eneacampeão de hóquei em patins. Nove títulos consecutivos, feito inédito na modalidade.

16 | Maio | 2010

Mais uma final da Taça de Portugal: o FC Porto vence o Chaves, por 2-1, e conquista a 15ª Taça.

7 | Agosto | 2010

Estreia oficial de André Villas-Boas. O FC Porto vence o Benfica, por 2-0, e garante a 17ª Supertaça .

5 Jogadores


PELÉ
CRUYFF
DI STÉFANO
MADJER
EUSÉBIO
"Só fica de fora o Maradona, não por falta de qualidade, mas por falta de espaço"

Equipas

AJAX de Cruyff
BARCELONA de Guardiola
REAL MADRID de Di Stéfano
FC Porto de 1987
SPORTING dos Violinos

Clubes

Barcelona
Miúdos em que viu mais potencial
VÍTOR BAÍA - "Nem sequer era titular, mas percebi logo que era especial e mandei assinar contrato com ele"
RICARDO CARVALHO - "Ia ser dispensado para o Trofense, mas eu não deixei"
DECO - "Quando o vi, com apenas 18 anos, percebi logo o potencial que tinha"
JORGE COSTA - "Vi-o ainda júnior, estava para ser emprestado ao Penafiel e eu já não queria que ele fosse"
ROMÁRIO - "Queria ficar no FC Porto quando veio cá com o Vasco da Gama, e percebia-se o jogador que viria a ser"
Vitórias
Viena'87
Tóquio'87
Sevilha'03
Gelsenkirchen'04
VITÓRIA EM PENAFIEL - "Ganhámos com um golo do Bobó. Foi o último jogo em que o Pedroto esteve no banco. Sabia que ele ia para Inglaterra para tratamento, embora ele ainda não o soubesse"

Derrotas

Juventus em Basileia, na Taça das Taças
"Essa e as duas Supertaças europeias que perdemos, não me lembro de mais..."

Dirigentes

Dr. CESÁRIO BONITO - "Foi um grande dirigente e lutador em prol do FC Porto e do Norte"
SANTIAGO BERNABÉU - "Com quem privei quando ainda era director e que me impressionou pelos conhecimentos de futebol"
JOSEP LLUÍS NÚÑEZ - "Grande presidente do Barcelona"
Fernando Martins - "O presidente máximo do Benfica"
AFONSO PINTO DE MAGALHÃES - "Ao lado de quem fui dirigente durante três anos"

Treinador com mais potencial

"Acredito que o António-Pedro Vasconcelos merecia uma oportunidade no Benfica e o Eduardo Barroso no Sporting. Mas mais a sério..."
LEONARDO JARDIM - "O actual treinador do Beira-Mar parece-me poder fazer uma boa carreira"
VÍTOR PEREIRA - "Membro da equipa técnica de André Villas-Boas e um valor seguro para o futuro"

Mulheres bonitas

"Para mim, a beleza é interior, tanto como exterior. Por isso..."
A minha MÃE
a minha filha, JOANA,
as minhas irmãs ALICE e EDUARDA
e a FERNANDA MIRANDA

Locais

Porto
Viena
Sevilha
Natal (Brasil)
ROTUNDA DO AEROPORTO EM LISBOA - "Gosto sempre de lá passar quando me venho embora"




Manuel Tavares e Jorge Maia n' O Jogo.

Capas de 28 de Dezembro de 2010

Miguel Sousa Tavares n' A Bola



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Entrevista a Helton n' O Jogo

 Na primeira grande entrevista desde que é capitão do FC Porto, Helton falou do presente e do futuro, mas recusou-se a abordar a fundo algumas questões do passado. Por exemplo, elogiou o novo treinador, André Villas-Boas, que diz ter trazido "mais liberdade" aos jogadores, mas nunca quis falar do último, Jesualdo Ferreira. Quanto ao resto, destacou as qualidades do plantel, mas, mais do que isso, o espírito de grupo que impera no Dragão, tendo pegado em Mariano para exemplificar a união no balneário. Sobre o campeonato, recusa-se a dá-lo como conquistado, mas sempre foi dizendo que viveu um dia memorável na goleada sobre o Benfica.

Imagina-se a treinar, por exemplo o FC Porto, na próxima época?
Eu, a treinar o FC Porto? Essa é boa [risos]. De onde surgiu essa ideia?

É apenas uma brincadeira para sublinhar o facto de André Villas-Boas só ter mais um ano do que o Helton...
Bem, vou falar por mim. Quando tive a certeza de que ele seria o nosso míster, procurei colocar em prática os ensinamentos da minha família, que sempre me ensinou a separar uma eventual amizade das questões profissionais. Isso significa que tenho de ter respeito pelas pessoas. Ele podia ser mais novo do que eu ou poderia ter o triplo da minha idade que eu iria tratá-lo sempre com respeito. Aliás, nunca o tratei por André; sempre que me dirijo a ele, digo "míster". E quando preciso de conversar com ele, muitas vezes na condição de capitão, bato à porta do seu gabinete e pergunto se posso entrar. Em nenhum momento pensei na sua idade, mas sim na pessoa e na sua qualidade. Para além disso, ele tem ambição, respeita os jogadores e oferece-nos liberdade.

Curiosamente, muitos jogadores têm utilizado a palavra "liberdade" quando falam de André Villas-Boas. Isso significa que não havia liberdade com Jesualdo Ferreira?
Eu falo apenas do André, do míster André...

E quais são as vantagens e as desvantagens de ter alguém tão novo a treinar uma equipa como o FC Porto?
Muitos poderiam ver a idade como uma desvantagem; eu, não. A idade muitas vezes não condiz com a mente. Existem pessoas mais velhas que muitas vezes não conseguem ser respeitados pelos mais novos. Quanto às qualidades - e não quero com isto dizer que as pessoas mais velhas não são assim -, destaco a forma como ele está sempre em sintonia com os jogadores, para além de conseguir passar mais rapidamente as ideias que tem. Se repararem, também não há muitos velhotes no nosso plantel [risos]...

Houve alguma palestra emblemática de André Villas-Boas?
No final de todas as palestras que ele faz, os jogadores param para pensar. Podem ter a certeza de que não há nenhuma que não seja assim, e isso é óptimo. Há uma coisa que este grupo tem: pensamento positivo. Nunca desistimos, mesmo quando parece que algo vai correr mal. Temos um grande espírito de grupo, e ninguém está preparado para abrir mão disso.

Pinto da Costa afirmou, numa entrevista a O JOGO, que sentia a equipa acomodada e que a chegada de Villas-Boas também serviu para abanar com o grupo. Concorda?
[pausa prolongada] É verdade que o míster André mexeu com este grupo. Ele tem ideias e métodos bem diferentes daquilo a que estávamos habituados. Na vida, temos de estar sempre à procura de novas formas de nos motivarmos. O incentivo passa por procurar algo diferente, mas sem fugir à base que, aqui no FC Porto, são as vitórias. Já viram há quantos anos estou aqui no FC Porto? Esta será a minha sexta época... E, durante este tempo, já fui quatro vezes campeão...

Já agora, a saída de Bruno Alves, o capitão, fragilizou de alguma forma o balneário?
O Bruno sempre teve uma grande postura no clube, sempre demonstrou seriedade, empenho e prazer pelo que fazia. Era uma referência para muitos que cá estavam, mas também para quem chegava. Se fragilizou o balneário? Não vemos as coisas desse modo. Sabemos que, se tivesse ficado, nos estaria a ajudar, mas aqueles que cá estão conseguiram ocupar, e bem, o espaço do Bruno. Obviamente estamos sempre ao lado dos amigos, sobretudo daqueles que nos ajudaram a ser felizes, mas entendo que ambas as partes têm de estar em sintonia. Nesse sentido, acredito que o que aconteceu foi bom para ele, mas também para o clube.

 O facto de ser o capitão de equipa serviu para o incentivar?
Vou fazer uma retrospectiva da minha carreira no FC Porto. No primeiro ano, fiz 11 jogos e sofri apenas um golo, por sinal de penálti, mal assinalado, marcado pelo João Tomás, na altura no Braga. Fiz um bom final da temporada, e a prova disso é que no ano seguinte mantive a titularidade. Foi passando o tempo, e nunca tinha sido capitão, nem nunca tinha sido comentada essa possibilidade, nem tão-pouco tinha sido destacada a minha importância. Mesmo assim, nunca deixei de trabalhar. Algumas vezes colocaram em causa o meu trabalho, quase sempre sem eu ter culpa. Aliás, e em jeito de desabafo, por vezes um colega perdia um golo em frente à baliza e a culpa era do Helton. Mas pela minha personalidade e vontade de triunfar, por tudo aquilo que já passei no futebol - e não falo apenas do FC Porto, porque também conquistei títulos no Brasil -, nunca deixei de acreditar nas minhas qualidades. Nos momentos mais difíceis tive pessoas do meu lado que me ajudaram e que me diziam que, muitas vezes, algumas pessoas se esqueciam daquilo que eu já tinha feito. Voltando à pergunta sobre se a braçadeira de capitão me incentivou... Posso dizer que falei com uma pessoa à qual disse o seguinte: "Muito obrigado, o senhor fez-me voltar a gostar de jogar futebol..."

Mas quando foi isso? E quem é essa pessoa?
Isso não vou revelar....

Imagina-se a acabar a carreira no FC Porto?
Isso é um assunto interno... Ainda tenho 32 anos, mas porque não?

Falou-se recentemente da possibilidade de ir para o Fluminense. Gostava de regressar ao Brasil?
Bem, se fosse por vontade de alguns amigos, que são tricolores, de certeza que já lá estava [risos]. Mas tenho trabalho, contrato até 2012, sinto-me feliz no FC Porto e tenho a minha família adaptada à vida em Portugal. Neste cenário, só ponderava o regresso se os dirigentes do FC Porto me dissessem que não contavam mais comigo. Para já, a minha prioridade é o FC Porto e nem sequer penso no resto. É verdade que se comentou sobre a possibilidade de ir para o Fluminense, mas nunca passou disso mesmo.

Pinto da Costa considerou-o o melhor guarda-redes em Portugal. Concorda? E se não concordar, quem é o melhor guarda-redes do campeonato?
Fico feliz por ele ter dito isso, ainda para mais vindo do presidente. Mas temos de reconhecer que, neste caso, a opinião dele é suspeita [risos]. Não me considero o melhor; limito-me a trabalhar para ser o melhor. E não vou escolher ninguém, porque poderia falhar, apesar de considerar que tudo depende do momento. Reconheço que estou a atravessar um bom momento, mas a equipa também me tem ajudado muito.

Mas o Helton também foi, por exemplo, um dos melhores jogadores em campo em Paços de Ferreira...
Lá está, estamos aqui uns para os outros. É o nosso espírito. Aqui não são o Hulk, o Falcao ou o Varela que têm dado o máximo; são o Hulk, o Falcao, o Walter, o Ukra, o Castro, o Guarín, o Fernando, o Rolando, o Otamendi, o Maicon... Somos todos.

Vítor Baía afirmou que a melhor época do Helton foi quando ele ainda estava no FC Porto. Concorda?
É verdade que tive uma época brilhante quando ele esteve aqui. Foi uma pessoa que me ensinou a gostar do FC Porto, a lutar pelo FC Porto, que me fez ver muitas coisas. Ele, o Jorge Costa, o Pedro Emanuel... Estou muito grato por aquilo que aprendi com eles e não posso deixar de concordar que vivi uma grande época quando ele cá estava. Mas agora pretendo fazer ainda melhor. E isso depende de mim.

Ouviu o apito de Elmano Santos no penálti no jogo com o Setúbal?
Ainda estou para perceber o motivo pelo qual vi um cartão amarelo nesse jogo... Houve uma substituição na nossa equipa, num canto contra nós, mas o árbitro não deu tempo para o Sapunaru - que estava a entrar - chegar até à nossa área. Nunca tinha visto nada assim, e limitei-me a perguntar-lhe porque não o deixou posicionar-se na nossa área. Vi um amarelo por isso, sendo eu o capitão.

E no lance do penálti, ouviu o apito?
Não ouvi apito nenhum. Sinceramente.

Directos ao assunto: a vitória no campeonato está próxima?
Ora bem, vamos fazer contas. Faltam 16 jogos e cada um vale três pontos... Ou seja, ainda não ganhámos nada. Este campeonato está muito competitivo e, como já deu para perceber, qualquer equipa pode perder a qualquer momento.

Perguntado de outra forma: seria complicado perder o campeonato depois de uma primeira parte de temporada com apenas dois empates?
Temos a oportunidade de conquistar o título, mas não há jogos fáceis e os maus resultados podem suceder a qualquer momento. Já repararam que tem sido complicado assistir a goleadas? Isso é a prova da competitividade do campeonato. Não há equipas fracas e já tivemos jogos muito complicados com clubes de menor expressão. Felizmente, temos conseguido vencer, mas apenas porque estamos com um colectivo muito forte.

Na equipa que foi mais vezes utilizada, apenas o Moutinho não fazia parte do plantel da época passada. Afinal, a que se deve esta diferença de rendimento?
Confesso que não gosto de fazer comparações. Para mim, importa destacar os méritos desta equipa, embora reconheça que também podemos aprender com os erros, de forma a não os repetir. Para além disso, teria de falar de pessoas que não estão actualmente no clube, e isso não quero fazer. O importante é falar do presente, das pessoas que cá estão, do grupo actual - que é fantástico - e de tudo o que já conseguimos alcançar nestes primeiros meses de competição.

Tendo em conta os elogios, considera que este é o melhor grupo que encontrou no FC Porto?
Posso dizer que é um excelente grupo. Sem dúvida. Mas, cada um teve as suas virtudes e defeitos, não tendo sido por acaso que fomos tantas vezes campeões ao longo dos últimos anos.

Qual foi o momento mais importante desta época?
Todos reconhecemos a importância de começar a temporada com uma vitória, sobretudo frente ao campeão da época passada, e isto apesar de encararmos todas as equipas da mesma forma. Sabemos que há jogos e jogos, mas respeitamos todas as equipas, porque isso é um sinal de humildade. Costumo dizer que a humildade não se aprende na escola, mas que vem do berço. E, felizmente, pode dizer-se que a humildade passou um pouco por todos os berços aqui do clube.

E qual foi o jogo mais difícil até ao momento?
Tivemos dois jogos muito importantes, não só pela dificuldades impostas pelos adversários, mas também pelo estado do relvado. Foi em Coimbra, frente à Académica, e em Viena. Foram duas partidas muito complicadas, porque com aquelas condições climatéricas não conseguimos controlar todos os aspectos do jogo.

E nem sequer estava para jogar em Viena. Nessa partida, estava a preparar-se para assistir ao jogo sossegado no banco...
Bem, sossegados nunca estamos. Nem no banco, nem em casa, quando não somos convocados. Aliás, às vezes até é bem pior, porque a ansiedade é maior. De fora, vemos coisas que lá dentro nem nos apercebemos que estão a acontecer. Mas voltando a esse jogo, acabei por jogar devido a uma infelicidade do Beto. Ele queria muito jogar aquele jogo, para demonstrar em campo toda a dedicação que tinha vindo a colocar nos treinos. Foi uma situação chata para ele, mas também para mim, porque tive apenas cinco minutos para aquecer... Felizmente, correu tudo bem e conseguimos uma vitória importante.

E o jogo mais fácil, esta temporada, foi frente ao Benfica para o campeonato?
Fácil? Não, de maneira nenhuma. Não há jogos fáceis. Nesse encontro, limitámo-nos a não complicar e se marcámos tantos golos foi graças ao nosso empenho e qualidade. Mas, reconheço, foi um jogo memorável. Nunca o FC Porto tinha vencido o Benfica por aqueles números em jogos do campeonato...

Foi um momento de afirmação da superioridade do FC Porto no campeonato?
A equipa tem demonstrado um espírito muito bom. O grupo está em sintonia, mesmo aqueles que são menos utilizados ou até os que não são utilizados. Aliás, tenho de destacar o caso do Mariano que, por uma infelicidade, não foi inscrito para a primeira fase da época. As pessoas não sabem, mas o que ele tem feito é algo de verdadeiramente impressionante. Ele é um companheiro, um amigo, e a atitude dele no dia-a-dia tem sido impressionante, até pelo que ele representa no balneário. E estes actos servem para explicar muito do que se passa este ano, porque ele nem sequer tem jogado.

Conhece Dublin?
Não conheço, mas conto lá ir [risos]...

Mas então o FC Porto é mesmo candidato a vencer a Liga Europa?
Estamos a fazer o nosso trabalho e o melhor é deixarem-nos quietinhos, no nosso canto, a fazer o nosso trabalho. Lá mais para a frente se verá se somos ou não candidatos. Uma coisa é certa: temos os nossos objectivos e no FC Porto pensamos sempre em grande.


Considera o Roberto, do Benfica, um bom guarda-redes?
Não falo dos meus colegas de trabalho...

Faço então a pergunta de outra forma: é complicado para um guarda-redes sobreviver às críticas, tal como aconteceu com o Roberto no início da época?
E como aconteceu comigo no passado... É complicado. Muito complicado. Temos de gostar muito do que fazemos, porque, caso contrário, fica muito difícil superar determinadas situações.

E como se dá a volta a esses momentos?
Com trabalho. Não há outra forma. Não adianta pensar que chegamos a casa, fazemos um chazinho e que tudo vai melhorar. Não é assim que acontece.

E foi muito difícil reagir aos golos sofridos, por exemplo, frente ao Chelsea e Atlético de Madrid para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões?
Se tivermos a consciência tranquila de que fizemos o nosso melhor, não ficamos muito afectados, independentemente de quem critica. Aliás, às vezes essas críticas dão moral e ânimo, dependendo de quem vem... Se vierem de algumas pessoas... Bem, aí é que vai dar vontade de trabalhar ainda mais. Pensamos: "Ai ele não gostou do que eu fiz; legal, vou trabalhar ainda mais".


A selecção do Brasil é um caso encerrado para si?
É complicado falar sobre isso. Cada treinador tem as suas ideias e nem todos confiam nos mesmos jogadores. É normal. Sinceramente, nunca me preocupei com a selecção. E quando digo preocupar, estou a querer dizer que nunca foquei aquilo como primeiro plano. Ou seja, a selecção foi e será sempre a consequência do trabalho que faço no meu clube. Não adianta pensar na selecção se não estiver bem no clube.

Ficou surpreendido pelo facto de Hulk ter ficado de fora das últimas convocatórias?
Sou suspeito para falar, porque trabalho com ele todos os dias. É óbvio que temos de respeitar aqueles que vão no lugar dele, porque também são bons jogadores. Apesar disso, acredito que o Hulk ajudaria muito esta selecção, tal como tem ajudado o FC Porto. Ele está em grande forma e, conhecendo bem a selecção do Brasil, acho que é uma questão de tempo até se fixar em definitivo naquela equipa, até porque qualidade para isso não lhe falta.




 Quem é o jogador do FC Porto que remata melhor? A pergunta parece ter uma resposta óbvia: Hulk. No entanto, Helton, que trabalha todos os dias com o plantel, faz questão de acrescentar mais nomes à lista. "Ora aí está uma pergunta difícil... O melhor... Bem, com esta bola todos os remates são complicados. Se piscar os olhos, já fui [risos]. Agora mais a sério: o Hulk, o Guarín, o Belluschi, o James... O James remata muito bem, cuidado com ele. Mas é complicado escolher só um, porque todos têm uma maneira diferente de bater na bola. Uma coisa é certa: eles fazem-me a vida negra nos treinos", contou.

A mudança de João Moutinho para o FC Porto apanhou de surpresa muitas pessoas ligadas ao futebol, mas Helton confessa que encarou a transferência com naturalidade. "Sinceramente, não pensei nada de especial quando vi a notícia nos jornais. Depois, quando o encontrei pela primeira vez, limitei-me a dizer-lhe que se precisasse de alguma coisa, estaria aqui para o ajudar. Nada mais." Apesar disso, o guarda-redes reconhece que não existe a tradição de haver trocas de jogadores entre os grandes, muito menos um capitão de equipa. "Sim, sim. Eu sei disso. Mas aconteceu e ainda bem para nós. Foi uma grande contratação e já tive a oportunidade de lhe agradecer pessoalmente por ele ter vindo para o FC Porto."

Helton realizou um sonho: no passado dia 13, apresentou, em plena Casa da Música, o novo CD do seu grupo musical, Ministério Shalom, perante cerca de 500 convidados, entre os quais a quase totalidade do plantel do FC Porto. "Foi um grande dia para mim e confesso que fiquei surpreendido por terem ido todos. Caramba, foi mesmo muito bom, ainda mais sendo a realização de um sonho. Houve até amigos que mudaram o dia das suas viagens para me irem ver. Foi fantástico". E no balneário, qual foi a reacção no dia seguinte? "Bem, tive de aguentar as brincadeiras do costume. Houve até quem dissesse que o bombo já estava ensinado [risos]".

Pedro Marques Costa

Capas de 27 de Dezembro de 2010


sábado, 25 de dezembro de 2010

Pinto da Costa em entrevista ao jornal O Jogo

Pinto da Costa não ganha sempre. No dia em que recebeu O JOGO no seu gabinete no Estádio do Dragão, tinha acabado de perder Pôncio Monteiro. "Um amigo de todos os dias e de todas as horas", confessou com a mesma emoção que coloca no discurso sempre que fala do FC Porto, que ambos defenderam lado a lado. Pinto da Costa não ganha sempre, mas não se consegue habituar a perder, e é por isso que aposta em voltar a ganhar tudo esta época. O campeonato e a Taça, claro, mas também a Liga Europa, até porque acredita que, depois de Viena, o FC Porto pode voltar a ser feliz em Sevilha. Para o conseguir, conta com "uma grande equipa", mas acima de tudo com um treinador que conhece "desde sempre": "Sei quem bem quem é o André e o que ele vale." É por isso que o presidente do FC Porto tem a certeza de que Villas-Boas vai ficar no clube para além dos dois anos que tem de contrato.


Que importância teve André Villas-Boas neste arranque de temporada do FC Porto?
Teve a importância que atribuo sempre a um treinador. Um treinador é sempre uma peça-chave em qualquer equipa. A escolha do treinador é uma responsabilidade que sempre assumi precisamente por isso. Para que, no caso de correr mal, seja da minha responsabilidade. Creio que 50 por cento daquilo que conseguimos até agora é mérito do André Villas-Boas e da sua equipa técnica, que é excelente.

Havia dúvidas em relação à juventude dele. Nunca as partilhou?
Não. Nunca tive dúvidas, até porque se tivesse, não o tinha contratado. Acho que um indivíduo aos 32 anos, que era a idade que ele tinha, ou é bom ou não é.

Qual é a primeira qualidade que procura quando escolhe um treinador?
A primeira de todas é a competência, e essa associada à liderança e à coragem. O que mais me irrita num treinador é ter consciência de que devia fazer algo e não o fazer porque tem medo. Conheço o André desde os 15 anos e sei que ele fará sempre o melhor para que o FC Porto vença.

Sublinhou que Villas-Boas é uma aposta pessoal. Sentiu resistências dentro da SAD à sua escolha?
Não. Todos sabem que não há nenhuma decisão aqui que não seja tomada por consenso. Há apenas uma excepção: eu escolho o treinador. Foi sempre assim. Foi assim com o Jesualdo, com o Mourinho, com o Robson e com todos. Quero ser eu a assumir essa responsabilidade e quero que o treinador saiba que é uma escolha pessoal. Neste caso, foi uma escolha sem risco, porque conheço o André desde sempre; sei quem ele é e o que vale.

O FC Porto desempenhou algum papel no fracasso das negociações entre o Sporting e Villas-Boas?
Não. Quando o André Villas-Boas teve um acordo com o Sporting assinado no Gerês, com a presença do dr. José Eduardo Bettencourt, o FC Porto não teve nada a ver com isso. O FC Porto nessa altura estava ainda lançado para o pentacampeonato, e não pensávamos em substituir o treinador. Tomámos conhecimento de que ele tinha um contrato-promessa, achei que era uma boa solução e cheguei a dar essa opinião ao presidente do Sporting. Depois, num jogo em Coimbra, o presidente da Académica disse-me que devia optar por ele e que não existia compromisso com o Sporting, porque havia uma cláusula que não fora cumprida. Só quando decidimos que o Jesualdo saía é que partimos para a escolha de um novo treinador. Nessa altura era do conhecimento público a rescisão do acordo-promessa que ele teve com o Sporting.

Dois anos de contrato é suficiente para um treinador que é falado como hipótese para clubes como o Inter de Milão ou o Liverpool?
Qualquer indivíduo que ganha é falado. Para isso corresponder à verdade, são necessárias duas coisas: a vontade de alguém contratar outra pessoa, e a vontade dessa pessoa de ser contratada. O André tem manifestado de forma categórica que - e a frase é dele - a cadeira do FC Porto é a sua cadeira de sonho, e quando um indivíduo está no seu clube, dificilmente aceitará uma troca.

O facto de ser portuense e portista é uma qualidade para um treinador do FC Porto?
É, sem dúvida. Nestes 28 anos como presidente, tive muitos treinadores. Tive quase sempre treinadores altamente competentes, cem por cento profissionais, mas que não tinham o coração azul e branco. Tirando o Pedroto, o Artur Jorge e o Oliveira, nos últimos anos não tive um treinador do FC Porto. O Villas-Boas acompanhou os sucessos do clube e compreendeu, com o Robson e com o Mourinho, o que era preciso lutar para ter sucesso. Se é um apaixonado pelo clube, não foi por isso que o convidei, mas é um acrescento na minha satisfação saber que escolhi um treinador pela sua competência, pelo seu carácter e pela sua liderança e que, ainda por cima, ele é dos nossos.

Acredita que Villas-Boas pode bater o recorde de quatro anos de Jesualdo?
Acredito. Acredito numa coisa com a certeza absoluta, que é que ele vai fazer mais do que os dois anos de contrato que tem agora.

Apesar do interesse...
Apesar do interesse, seja de quem for. Aliás, admira-me é que haja tão poucos interessados.

Então vai renovar com ele?
Isso é algo para discutir mais adiante.

Há muitas pessoas que traçam paralelos entre André Villas-Boas e José Mourinho. Acha que existe algum paralelo entre ambos? Há semelhanças?
Não. Acho que se passa essa imagem, mas são muito diferentes. Claro que há semelhanças; por exemplo, são ambos altamente profissionais, vivem intensamente a sua profissão e dedicam-se aos seus clubes. Mas há logo aí uma grande diferença: o Mourinho foi um treinador de sucesso no FC Porto, mas, para ele, vir para cá ou para outro clube era igual, porque não era adepto do FC Porto. Curiosamente, a sua esposa até é portista desde pequena. Tenho ali uma fotografia em que eles assumem isso mesmo dizendo que o Mourinho festejou as vitórias de Viena e de Tóquio porque a esposa o obrigou. Foi um treinador fantástico, que se dedicou a cem por cento ao clube com um sucesso enorme. O Villas-Boas tem o acrescento de fazer o seu trabalho com profissionalismo, mas também com a paixão de o fazer pelo seu clube.

Consegue prever se André Villas-Boas chegará ao nível de José Mourinho, com os títulos que ele conseguiu?
Com os títulos que ele conseguiu, é difícil - vai ser difícil mais alguém chegar lá. Aqui, no FC Porto, teve um grande sucesso por mérito seu. Depois apanhou o Chelsea numa altura em que um milionário russo queria investir e lhe deu uma grande equipa, mas, para mim, o seu grande mérito foi o que conseguiu no Inter de Milão. Fez um trabalho notável, e não tenho dúvidas em dizer que ninguém mais fará o que ele fez.

Existe na opinião pública a ideia de que há algum ressentimento por parte do FC Porto em relação a José Mourinho. Isso corresponde à verdade?
Em termos pessoais, quando ele estava no Inter eu vivia intensamente as suas vitórias, tal como acontecia quando estava no Chelsea, de resto. Agora, no Real Madrid, estou dividido, porque o meu clube do coração em Espanha é o Barcelona e, naturalmente, estando ele no adversário do clube que se identifica connosco, fico dividido. Mais ainda tendo lá o Ricardo Carvalho e o Pepe, de quem sou amigo. Mas ressentimento quando ele ganha, nunca senti, muito pelo contrário.

Há uma diferença que salta à vista quando se compara André Villas-Boas com o seu antecessor no cargo de treinador do FC Porto, Jesualdo Ferreira: o primeiro tem praticamente metade da idade do segundo. Uma diferença que força a pergunta: Pinto da Costa sentiu a necessidade de fazer uma ruptura com o passado quando contratou Villas-Boas? 
Senti, sim. Senti que o FC Porto, no futebol, estava acomodado. Já sabíamos o que ia acontecer. Já sabíamos quem ia jogar, já sabíamos em que sistema íamos jogar, já sabíamos tudo e estávamos acomodados. O Jesualdo Ferreira foi um treinador competentíssimo, é um autêntico professor de futebol, fez evoluir e fará sempre evoluir os jogadores, mas faltava a dinâmica e a ambição de que uma equipa campeã precisa. Por isso foi necessária uma ruptura.

É inevitável abordar o facto mais relevante desta primeira fase da temporada: 36 jogos sem derrotas. Estava à espera de um número assim?
Se 36 jogos sem derrotas bate um recorde do tempo do Mourinho, é sinal de que é muito difícil de conseguir. Felizmente aconteceu assim, o que é óptimo e possibilita várias conclusões. A primeira é que esta série começou com o regresso do Hulk à equipa, ele que devia ter cumprido três jogos de castigo, tal como foi determinado pelo Conselho de Justiça [CJ] da Federação Portuguesa de Futebol, que é a entidade máxima da justiça no futebol. Bizarramente cumpriu 17 por vontade de alguém que não tinha fundamento jurídico para o fazer, como o provou o CJ da FPF. A primeira ilação a tirar é que a falta do Hulk foi preponderante e daí que, por mais que isso irrite alguns cavalheiros, o último campeonato ficará sempre associado aos túneis. Foi no de Braga, foi no da Luz, foi aí que o nosso adversário conseguiu afastar os principais jogadores da luta pelo título; dez jogos com o Jesualdo após o regresso do Hulk e mais 26 com Villas-Boas. É evidente que se no começo da época me perguntassem se, praticamente no final da primeira volta, ficaríamos satisfeitos com três ou quatro pontos de avanço, o que representaria ter a mesma "performance" do Benfica tendo ganho o jogo entre ambos, diria que seria muito bom. Chegar aqui com oito pontos de avanço é muitíssimo bom.

Começou a ganhar no jogo da Supertaça?
Não, começámos muito antes disso. As coisas começaram a correr bem no dia da apresentação do André Villas-Boas; foi o momento da primeira vitória. A forma desinibida, inteligente e directa como ele se apresentou e respondeu a todas as questões criou uma lufada de ar fresco e onda de esperança entre os adeptos. Criou-se uma nova dinâmica com a sua maneira de ser, capacidade, juventude e ambição. Depois foi decisiva a pré-época. Não vencemos alguns dos jogos que fizemos, nomeadamente no Torneio de Paris, enquanto o nosso adversário directo empolgava a crítica de Lisboa com exibições fantásticas e goleadas a adversários de segunda linha. É evidente que o empolamento dessas vitórias, ligado à maneira negativa e depreciativa como viam o nosso treinador e a equipa, foi fundamental para que, na Supertaça, cilindrássemos em jogo o Benfica, com uma exibição convincente. Aliás, quando íamos para o estádio os adeptos encarnados faziam-nos gestos indicando 5-0, como se fossem vencer por esses números. Não era com certeza uma antevisão do que seria o resultado do Dragão. E era assim também nas apostas, uma percentagem enorme de favoritismo para o Benfica. Mas, dentro do campo, com uma ambição, uma força e uma consciência do nosso valor imparáveis, conseguimos ultrapassar as dificuldades, pôr o adversário no seu lugar e tornar evidente que o empolamento habitual, tanto das exibições anteriores como a supervalorização de qualquer jogador que chega ali, que tudo isso jogou a nosso favor. Foi uma jornada em que vencemos claramente, em que fomos prejudicados com agressões que passaram impunes, e foi o lançamento para esta carreira. Os jogadores passaram a acreditar no seu valor, o treinador começou a entusiasmar os adeptos, e todos formamos um grupo que tem sabido ultrapassar todos os obstáculos.

Qual foi o obstáculo mais complicado de ultrapassar até agora?
Já jogámos debaixo de um dilúvio em Coimbra e vencemos. Já jogámos com neve em Viena e vencemos. Já tivemos um jogo com um rival directo em que sofremos um golo irregular, vimos um jogador mal expulso e outro ficou em campo inexplicavelmente que foi um misto da tempestade de Viena e do dilúvio de Coimbra; foi um ciclone que passou com apito na boca por esse jogo, e conseguimos resistir. A equipa está habituada a ultrapassar todos os problemas e a encarar todos os jogos para ganhar, seja contra quem for e seja onde for. E por isso é evidente que estes resultados não me podem surpreender.


Sonho
"Quando disse que ele era jogador à Porto, nunca sonhei que fosse possível que viesse para cá

Invencível
"Se bate recorde de Mourinho, é sinal de que é muito difícil de conseguir

João Moutinho foi a grande contratação desta temporada. Correspondeu completamente às suas expectativas daquilo que é um jogador à Porto?
Totalmente. O João Moutinho, como jogador, é o que toda a gente sabe e, como homem, é fantástico. Um indivíduo que, com o seu passado no Sporting, teve de ouvir ser apelidado de maçã podre e que não teve uma reacção violenta em resposta - que podia dar fundamentadamente, com os documentos que tinha e que levaram à sua saída - e se manteve em silêncio por respeito ao clube que representou e aos companheiros que lá ficaram... é uma atitude notável, que não sei se muitos outros teriam.

Dentro de campo, como corresponde ele à sua descrição de jogador à Porto?
É a mola, o motor de um relógio suíço. Ele não é do Porto, mas também não é de Lisboa; é do Algarve e, já agora, faço-lhe uma inconfidência dizendo-lhe que ele esteve cá a prestar provas antes de ir para o Sporting porque queria vir para cá. E só não ficou porque tinha um irmão que não foi aprovado, e os pais queriam que ambos ficassem juntos. Caso contrário, teria ficado cá. Quando disse que ele era um jogador à Porto, nunca sonhei que fosse possível que viesse para cá. Pela forma de ser, pelo facto de jogar sempre, de ser o primeiro a assumir os problemas, é o tipo de jogador que está de alma e coração em qualquer clube.

Acha que ainda vai rendibilizar os 10 milhões que investiu nele ou isso nem lhe passa pela cabeça?
Passar pela cabeça, pode passar, agora vontade de o vender, não tenho. Quero que esses dez milhões sejam rendibilizados com muitas vitórias e mantendo o relógio sempre a funcionar.

O jogo com o Paços de Ferreira foi um jogo para jogadores à Porto?
Foi um jogo que foi mal analisado. Li um título no teletexto que dizia: "FC Porto treme, mas não cai". Quer dizer, estava frio, mas não assim tanto. O FC Porto fez uma primeira parte fantástica. O Helton, na primeira parte, teve de correr para não arrefecer. O Paços não passou do meio-campo. O FC Porto teve um remate de cabeça do Sapunaru, o Falcao falhou dois golos que normalmente não falha, o Hulk esteve isolado, e eles nem respiraram. Na segunda parte, o Paços de Ferreira atirou-se para a frente. Agora, há uma coisa que temos e que muita gente pensa que não faz parte da equipa, mas nós temos: um grande guarda-redes. O Helton tem cinco golos sofridos, e os outros têm 14 ou 15. O Helton está lá para defender e faz parte da equipa, e acabámos o jogo em cima do Paços e vencemos por 3-0. Houve um momento em que o Paços de Ferreira dominou, mas, mesmo aí, sentimos que a equipa não queria ceder. E quando uma equipa joga assim, com aquela determinação, as probabilidades de ganhar são muito maiores. É isso que define os jogadores à Porto.

Disse que havia jogadores que não estavam com a cabeça no FC Porto. Referia-se a Bruno Alves e Raul Meireles?
Sim, referia-me a eles. Tenho todo o respeito por eles, são grandes jogadores, foram grandes profissionais, mas não tinham a cabeça aqui. O Bruno e o seu pai falavam todos os dias em transferências, o Raul Meireles menos, mas também, e toda a gente sabia que a vontade deles era sair. Acredito que deram todo o seu empenho, mas no subconsciente estava a vontade de sair e, quando isso acontece, o rendimento não é o mesmo. Não é uma crítica, mas apenas a constatação de uma realidade. Quando me perguntam o que é um jogador à Porto, tenho de responder que a primeira qualidade para qualquer jogador é querer estar no FC Porto. Ainda há dias ouvi o Álvaro [Pereira] a dizer que nem quer ouvir falar em transferências, e isto é que é um jogador à Porto.

Surpreendeu-o a forma como a equipa ultrapassou a saída deles?
Não, não me surpreendeu porque conhecia o valor dos que ficavam e dos que vieram. Trocar o Raul Meireles pelo João Moutinho não é um risco; sair o Bruno Alves, com o crescimento do Maicon e tendo já na agenda o Otamendi, que é só internacional argentino, era de prever que não houvesse assim um grande abalo. Só tive pena que o Bruno saísse porque me dava gozo ouvir o doutor Eduardo Barroso, que via cotovelos por todo o lado, talvez por deformação profissional. Nesse sentido, o Bruno faz falta.

A escolha de Antero Henrique para o futebol corresponde à necessidade de renovação que disse sentir no final da última época?
O Antero é quase um caso como o do André Villas-Boas. Conheço-o há mais de 15 anos. Acompanhei a sua evolução, e ele quase não precisa de falar para eu saber o que pensa. Ele já estava cá com o Jesualdo e tem a mesma preponderância que tinha. Poderá é sentir-se mais envolvido, porque este projecto entusiasmou toda a gente no clube que sentia, como ele sentia, que estávamos a cair num comodismo que é o pior que pode acontecer numa instituição como o FC Porto.

Em contrapartida, as saídas de Vítor Baía e Fernando Gomes representaram algum percalço para o clube?
Tinha e tenho relações de amizade com ambos. Conheci o Vítor Baía ainda nos juniores e guardo com carinho a primeira camisola que ele usou como sénior, bem como a camisola com que ele ganhou a Champions contra o Mónaco. Tive pena que saíssem do clube, e essa saída não aconteceu por minha vontade, mas eles entenderam que esse era o caminho que deviam seguir, e eu tive de respeitar essa decisão.

Na véspera da entrevista a O JOGO, Pinto da Costa foi jantar com a sua comissão de recandidatura, tornando inevitável a pergunta óbvia: vai recandidatar-se?

A resposta foi um claro nim, mas um nim pontuado por algum humor. "Acho que esse jantar foi mal interpretado", começou por explicar o presidente portista. "Este é um jantar habitual nesta altura do ano e nem sequer estamos em época eleitoral", acrescentou.

Mas está ou não disponível para se recandidatar?

Mais sorrisos na resposta: "Neste momento estou a cumprir o meu mandato; no fim logo vemos. Antes disso tenho muita coisa em que pensar. Temos o museu, por exemplo, que quero inaugurar no final do próximo ano." A próxima obra do catálogo do presidente portista tem projecto e até já começou a dar os primeiros passos, embora, para já, Pinto da Costa prefira mantê-los em segredo. "A seu tempo, tudo será anunciado. Posso dizer que será de topo, que servirá de complemento perfeito para o nosso estádio e para o nosso pavilhão, e garanto que será uma visita obrigatória da cidade, por muito que isso custe ao presidente da Câmara Municipal do Porto."

Houve algumas críticas do Benfica às arbitragens, e Jorge Jesus até já disse que o campeonato está desequilibrado por causa delas...
Claro que disse. Teve de dizer, porque foi o que resultou de uma reunião de alguns senhores do Benfica para delinearem uma estratégia de ataque ao FC Porto. O Jorge Jesus sabe muito bem porque é que o Benfica falhou e porque é que o FC Porto venceu. Isso são entretenimentos ridículos, as chamadas desculpas de mau pagador. Se eu dirigisse o FC Porto e orientasse o FC Porto reunindo-me com um "staff" onde estavam comentadores de televisão e jornalistas de jornais amigos, é evidente que tinham de sair asneiras; se o sr. Delgado e o sr. Guerra tivessem capacidade para dirigir o Benfica, já estariam lá. Quando são esses iluminados que vão lá dar opinião e iluminar, é óbvio que levam à situação ridícula de pôr o presidente da Assembleia Geral a pedir aos sócios para não irem aos jogos fora. Isto realmente é uma ideia peregrina, que ninguém percebe. Claro que ninguém lhes ligou nenhuma; quando muito, perceberam mal, porque deixaram foi de ir à Luz, onde as audiências baixaram drasticamente. Depois forçaram o presidente a desdizer numa carta aquilo que os órgãos sociais tinham decidido inicialmente. Claro que quando não há uma orientação séria e se dirige ao sabor das opiniões de meia dúzia de opinadores e jornalistas, é óbvio que tem de dar asneira.

E que balanço faz do trabalho de Vítor Pereira na Comissão de Arbitragem?
Não queria comentar muito o trabalho do Vítor Pereira. Tenho a ideia de que é uma pessoa séria, que procura fazer o melhor que pode e sabe, mas compreendo que a sua missão é muito difícil. Portugal é o único país da Europa que tem três programas televisivos de mais de uma hora de gente que não percebe nada de futebol. Podem perceber de medicina ou cinema, mas são pessoas que não sabem nada de futebol e vão discutir até à exaustão o trabalho dos árbitros. É muito difícil que este barulho todo não influencie o subconsciente das pessoas. Estou convencido de que quando as pessoas perceberem o ridículo que é ver o doutor Eduardo Barroso ou o doutor Fernando Seara a dizer que os penáltis contra as respectivas equipas nunca o são e que os penáltis contra o FC Porto são todos, isto acaba. São pessoas que não ajudam o futebol e desprestigiam as classes a que pertencem pelo fanatismo que evidenciam.

Os 5-0 ao Benfica foram uma espécie de retribuição pelo que aconteceu na Luz na última época?
Não. Foi um jogo normal. Nem sequer foi inédito. Aliás, foi muito mais interessante termos dado 5-0 na Supertaça em Lisboa, porque foi em casa do adversário e teve mais impacto. Acho que não teve nada de especial. Se ganhássemos por 1-0, ficava satisfeito na mesma. Por cinco, foi agradável. Podia ter sido por seis...

Mas não acha que foi esse o jogo que definiu decisivamente a liderança do campeonato?
Isso estava definido muito antes. Aliás, nos últimos três jogos com o Benfica, já com a equipa completa depois das injustiças que resultaram das confusões no túnel da Luz, demos 10-1. Por isso, as coisas estavam definidas há muito...

No início da época disse que o FC Porto ia voltar a vencer interna e internacionalmente. Acredita que o FC Porto pode voltar a vencer uma grande competição europeia já este ano?
Acredito que sim, que é possível, embora seja difícil, como mostra o sorteio da próxima fase de Liga Europa. O Sevilha é sempre um adversário de respeito. Nunca dissemos que vamos ganhar; dissemos, e mantemos, é que vamos tentar ganhar. Sabemos que não há equipas invencíveis, mas vamos lutar para sermos invencíveis até onde for possível. De resto, o FC Porto já foi feliz em Viena este ano; porque não há-de voltar a ser feliz também em Sevilha?

Não há representantes portugueses na Liga dos Campeões nos oitavos-de-final...
Algo que vejo com tristeza e que é negativo para o futebol português. Mas talvez assim as pessoas que só olham para o Sul possam dar o valor que é devido ao FC Porto pelo facto de passar regularmente para além da fase de grupos.

O FC Porto apresentou recentemente o maior orçamento do futebol português. Essa é uma situação sustentável?
É. O FC Porto tem apresentado lucros nos últimos quatro anos. De resto, apresentou este orçamento mais recente com uma nova previsão de lucro. Portanto, é sustentável.

Mesmo fora da Liga dos Campeões?
Pensamos que sim. Embora a nossa vontade seja a de sobreviver fora da Liga dos Campeões o menos tempo possível, até porque a diferença nas receitas para a Liga Europa é muito grande.

Vai ser possível manter jogadores como Hulk e Falcao na próxima época?

Acredito que sim. O Hulk tem uma cláusula de 100 milhões e se alguém bater esse dinheiro, ele pode sair. Mas estou convencido de que para o ano poderemos manter a estrutura da equipa actual.

Mas não há o risco de ficar com jogadores como Bruno Alves e Raul Meireles, que estiveram cá, mas tinham a cabeça noutro sítio?

Qualquer jogador tem objectivos. Os que jogam nos clubes mais pequenos querem jogar nos grandes, e os que jogam aqui sonham com o Barcelona e com o Real Madrid. Mas posso dizer-lhe que não sinto vontade de sair em nenhum jogador. O que temos, e não quero mencionar nomes, é jogadores de topo a pedir-nos para voltar ao FC Porto.

Disse que não há jogadores negociáveis durante a abertura de mercado em Janeiro. Nem Cristian Rodríguez ou Fucile?

O que eu disse foi que nenhum dos jogadores que o treinador considerar importantes sairá, seja por que preço for. Agora, se houver jogadores que não jogam e aos quais faça bem rodar quatro ou cinco meses num clube diferente, poderemos analisar essas situações.

Não tem propostas concretas nesse sentido?

Há vários clubes interessados em um ou dois jogadores, mas ainda não definimos o que vamos fazer.

Há a hipótese de se proceder a algum reajuste do plantel pelo lado do seu reforço?

Não há. Há dois anos havia uma lacuna no lado esquerdo que hoje não há - não vejo melhor jogador que o Álvaro Pereira. Depois, com o meio-campo que temos, também não é fácil ver que jogador poderia entrar no FC Porto. O Messi talvez conseguisse, mas não lhe podemos chegar...

No início da época falou-se na hipótese da contratação de Kléber, do Marítimo. Essa porta está fechada?

Completamente.

Como tem visto a actuação de Fernando Gomes na Liga de Clubes?

Acho que tem feito um grande esforço e, em termos administrativos e empresariais, a Liga está no bom caminho. Embora entenda que, eticamente, a Liga está errada e o campeonato viciado. Qualquer empresa que entra no desporto como patrocinador, é para ganhar; parece-me mal que o patrocinador da Liga seja também o patrocinador de um dos clubes concorrentes. Da mesma forma que a Revigrés quer que o FC Porto vença, que a Super Bock quer que o Sporting ou o FC Porto vençam, também o patrocinador da Liga quer que o Benfica ganhe, e isso é eticamente reprovável. Aliás, quando fui presidente da Liga o engº Roque ofereceu-se para a patrocinar com a Revigrés. Decidimos que sim, mas que o FC Porto teria de abdicar do patrocínio e arranjar outro patrocinador. Só que o engº Roque disse que não abdicava do FC Porto e que desistia de apoiar a Liga. Penso que o que se passa agora é incorrecto.

Mas acredita que, considerando a dimensão do mercado português, há alternativa aos actuais patrocinadores?

Tem de haver - a Liga tem de os procurar. Agora, parece-me incorrecto que o patrocinador da Liga seja o mesmo de um dos concorrentes, porque corremos o risco de viciar a competição. Acho que é eticamente incorrecto e já manifestei essa opinião junto de quem de direito.

Sente-se aliviado com a saída de Ricardo Costa da Comissão Disciplinar da Liga?

Quem se deve sentir aliviado são as vítimas das suas decisões. Já falámos no Hulk, que foi injustamente castigado com 17 jogos, quando devia ter cumprido três. Imagino que seja um alívio para ele e para o Sapunaru, que nem sequer pôde jogar.

Jesualdo Ferreira disse que, mais do que as ausências, esse processo influenciou negativamente o estado de espírito do plantel. Partilha dessa opinião?

Partilho, porque, perante uma injustiça tão clara, tão unânime entre os juristas que consultámos, instalou-se um clima de revolta e de impotência perante a inevitabilidade de jogar um campeonato que estava decidido à partida.

Jorge Jesus considerou anteontem os elogios que lhe dirigiu uma tentativa de dividir a família benfiquista, questionou a capacidade de Villas-Boas para resistir à pressão e duvidou do êxito do FC Porto sem a ajuda de terceiros. Era a resposta que esperava?

Só tenho uma objecção: é que fico admirado por ele não considerar um jogo de pressão a final da Supertaça contra um campeão nacional em título. Aí fico admirado; de resto, entendo perfeitamente. Essas declarações só reforçam o que disse: além de ser um grande treinador, é muito inteligente. Acho que o único falhanço dele foi ter considerado jogos sem pressão os dois FC Porto-Benfica que já disputou, um até para a final de uma Taça.

Fala-se de eleições para a FPF. Ainda recentemente se falava na hipótese de Fernando Seara avançar com Octávio Machado. Tem seguido essa corrida?

Não tenho, não. Acho que o presidente da Federação deve ter passado no futebol, obra feita no futebol. Ouvi há dias alguém dizer do doutor Fernando Seara que é um homem do futebol. Não sei onde jogou, não sei onde treinou, não sei que clube dirigiu. Não sei se ir para a televisão falar de árbitros já define um homem de futebol. Se for assim, proponho o Eduardo Barroso para vice-presidente, que ele também fala tanto de árbitros como o Seara. Mas o presidente deve ser uma pessoa com passado e obra no futebol. E isenta. E quando digo isenta, é equidistante dos clubes. Alguém que assume as posições do Benfica contra os outros, um indivíduo que é mandatário de campanha do presidente de um clube, acho que esse indivíduo não tem os requisitos de isenção para desempenhar o cargo de presidente da FPF.

A recandidatura de Gilberto Madail seria uma boa solução?

O dr. Madail é simpatizante do Benfica, mas não há ninguém que não seja simpatizante de um clube ou de outro. Agora, não toma posições a favor de um lado contra outros, não foi mandatário de ninguém em nenhum clube e, portanto, parece-me que esses requisitos, ele tem. Mas essa corrida não é nada comigo. Acho é que o facto de alguém ser comentador na televisão não habilita essa pessoa para a presidência da FPF.

E quanto às eleições para a presidência da República, tem alguma posição?

Não tenho. Não devo tomar nenhuma posição. Enquanto presidente do FC Porto, não tenho posição, nem preferência, nem devo manifestar-me de qualquer forma.

Como analisa o trabalho de Paulo Bento na Selecção Nacional? E tem alguma explicação para a diferença de rendimento em relação a Carlos Queiroz?

O Paulo Bento está a fazer um bom trabalho, como o comprovam os três jogos que realizou. Conseguiu uma grande empatia com o povo, e o facto de ser um seleccionador preanunciado pela comunicação social facilitou-lhe a vida e deu-lhe espaço para trabalhar à vontade e sem interferências. O trabalho do Carlos Queiroz, não o acompanhei de perto e não sou capaz de o analisar.

Antes do anúncio de André Villas-Boas, falou-se na hipótese de Paulo Bento treinar o FC Porto. Essa hipótese foi real?

Não. Falei uma vez com o Paulo Bento quando ele ainda era jogador da Selecção. Nunca falei com ele enquanto treinador do Sporting e só voltei a falar muito recentemente, quando ele já ocupava o cargo de seleccionador nacional. Nunca esteve em cima da mesa a hipótese de ele treinar o FC Porto, e sei que é absolutamente falso que alguma vez tenha comprado casa no Porto ou inscrito as filhas num colégio da cidade. De resto, asseguro-lhes que não há nenhum treinador que possa dizer que foi convidado pelo FC Porto a não ser o André Villas-Boas.

Como vê a situação dos clubes da cidade, em concreto o Boavista e o Salgueiros?

Vejo com tristeza, porque são dois clubes que marcaram uma época. O Salgueiros é um histórico da minha infância, e o Boavista não precisa de apresentações. Ambos são vítimas do presidente da Câmara que temos. Tenho a impressão de que se isto acontecesse em Lisboa, já teria sido encontrada uma solução para os seus estádios e para os seus problemas.

Curiosamente, o FC Porto tem prosperado com Rui Rio...

Temos prosperado porque, como nunca recebemos nada de ninguém, continuamos na mesma. A única coisa que o FC Porto recebeu dos anteriores presidentes foi a deferência, respeito e atenção que deixou de receber com este. Não é o facto de se ser recebido na Câmara, de se vir aos jogos do FC Porto ou de se enviar um telegrama a desejar felicidades que faz com que se ganhe ou perca. Mas é agradável. Um clube que ostenta o nome da cidade, que é seu embaixador em todo o mundo, não ter o mínimo apoio e ser ignorado pela Câmara é uma coisa absurda, mas não é por isso que deixamos de ganhar.

Manuel Tavares e Jorge Maia