terça-feira, 19 de maio de 2009

Inteligência operacional

Se fosse norte-americano e fizesse parte do aparelho do partido democrata, não passaria despercebido a Barack Obama e este, na hora de constituir a equipa para enfrentar o maior desafio da carreira política, chamá-lo-ia, dizendo que era um elemento fundamental do seu projecto. Claro que o FC Porto não é a Casa Branca, nem Pinto da Costa o Presidente dos Estados Unidos, mas tem um homem do presidente que é, afinal, a sombra dos mais recentes sucessos: Antero Henrique. Não foi, aliás, de modo insensato que Jesualdo Ferreira, no momento de festejar o tetracampeonato do FC Porto e o seu "tri", fez questão de tecer um rasgado elogio ao trabalho do Director Geral da SAD do clube. Poucas horas depois, Pinto da Costa, a quem ele despertou os sentidos há alguns anos pelo seu desempenho no clube, afirmava publicamente que ia revelar o segredo de tantos êxitos. Simples: "Nós escolhemos os melhores!". Ao contrário do técnico, não falou de ninguém em especial, mas o nome de Antero Henrique estava lá, seguramente, porque os sucessos da equipa começam muito antes de ela ser formada para entrar em campo. Interrogar-se-ão alguns: mas que tipo de trabalho faz ele? No fundo, é nele que assenta em matéria de organização de uma "máquina" tão complexa como é a estrutura do futebol de uma equipa que tanto soma títulos no plano interno como discute (e conquista) a Taça UEFA ou a Liga dos Campeões.

Quando nasceu, no mês de Abril de 1968, em Vinhais, no concelho de Bragança, este filho de um militar da GNR e de uma professora primária, a hegemonia do futebol português pertencia ao Benfica, que nos 20 anos seguintes somou tantos títulos (20) quantos os do FC Porto e do Sporting juntos. Talvez por isso não falta quem garanta que em miúdo ele era benfiquista. "Duvido muito que isso possa ser verdade. Aliás, a esse nível, o único 'handicap' dele é não ser natural da cidade do Porto, porque quanto ao resto...", assegura um amigo e parceiro do mundo do futebol. Se houve simpatia pelo Benfica, é porque estava na idade da inocência, pois o primeiro momento marcante de um idílio emocional e profissional que acabaria por marcar a sua vida sucedeu em 1987 (ano em que chegou ao Porto para prosseguir os estudos), quando, acompanhado de um grupo de amigos, foi ao Estádio das Antas festejar a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Três anos depois, passava a ser colaborador do clube, empenhando-se não apenas na reformulação do número de associados do clube como ainda no sector editorial da Revista Dragões. Sempre discreto e senhor de uma dedicação e eficácia invulgares, o jovem transmontano não apenas foi assimilando a cultura do clube, já então formatada pela influência de Pinto da Costa, como ainda teve espaço para definir novos rumos do clube.

"Acima de tudo, é inteligente e se nem todas as pessoas com essas qualidades são bons estrategas, ele acrescenta-lhe isso. O Antero acaba por ser um 2 em 1, porque é um excelente estratega e ainda faz tudo o que os operacionais fazem", explica o mesmo parceiro, que considera ainda o director geral do futebol dos dragões um genuíno "relógio suíço".

Na passagem pelo cargo de assessor para a comunicação social, que ainda durou alguns anos, estabeleceu novos parâmetros nos contactos com os jornalistas e ainda regras internas, colocando o clube ao nível dos melhores. Sempre discreto e métodico, é organizado até ao mais ínfimo pormenor. "Chega a ser irritante... Já entrei no seu gabinete e quando uma pessoa olha em redor, parece que não trabalha lá ninguém. Está sempre tudo demasiado arrumadinho, das canetas aos papéis. Impressiona...", acrescenta o empresário.

Em paralelo com a hegemonia do FC Porto no futebol português, Antero Henrique foi crescendo, por mérito do seu trabalho, na estrutura do dragão. A sua visão estratégica também lhe permitiu estar à frente, como lembra outra pessoa que com ele trabalhou e conviveu no plano profissional. "Ainda não se ouvia falar, como hoje, nas redes sociais na internet, e já ele andava no Hi5. Para além de invulgares capacidades de trabalho e de organização, tem uma energia que nunca mais acaba. Só a dormir é que não trabalha e mesmo assim não sei...", sublinha. Outra particularidade: quando precisa de algo, não hesita. "Se vê que precisa de saber informática, inglês ou aprofundar os seus conhecimentos noutra área, vai ali tirar um curso num instante. De resto, raramente manda fazer a um colaborador uma tarefa de que não é capaz...". Em 19 anos de dragão ao peito, contabiliza, entre outros sucessos, 14 títulos de campeão, 1 Taça UEFA e 1 Liga dos Campeões. Se o FC Porto tem um presidente e o seu rosto é Pinto da Costa, a inteligência operacional que o clube adquiriu na última década tem uma cabeça: Antero Henrique.

B. I.

ANTERO José Gomes da Ressurreição HENRIQUE

Naturalidade: Vinhais (7 Abril/1968)

1990: Torna-se colaborador do FC Porto, na organização de jogos e na Revista Dragões.

2005: Assume o cargo de director geral de futebol da SAD, depois de ter desempenhado, sucessivamente, os de assessor de imprensa e de director das Relações Externas.

Adalberto Ramos n' O Jogo.

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