sexta-feira, 30 de abril de 2010

Capas de 30 de Abril de 2010

Um grito de revolta

O que é preciso para que um treinador correcto se exceda e acabe por ser expulso do banco, num jogo em que a sua equipa tem uma vantagem confortável, depois de uma jogada a meio do campo, e em que a única coisa que sucedeu de relevante foi a amostragem de um cartão amarelo a um dos seus jogadores? A pergunta tem resposta óbvia: é preciso que a arbitragem tenha tomado uma decisão escabrosa.
Foi isso que sucedeu em Setúbal, onde Jesualdo não se conformou com a decisão do árbitro que, depois de ouvir o inefável assistente Gabínio Evaristo, amarelou um jogador do FC Porto que fora vítima de um derrube por parte de dois adversários e não cometera qualquer infracção. Aliás, se tivesse agredido um adversário (como a rola vermelha imaginou mas de facto não sucedeu) deveria ter sido expulso. Manuel Fernandes, que é insuspeito no caso, logo falou de um equívoco, e o jogador pretensamente agredido também já disse que o amarelo foi mal mostrado, mas a verdade é que esse pretenso equívoco foi logo acontecer, certamente por acaso, com Falcao, que estava em risco de exclusão, e assim fica impedido de defrontar o Benfica, e de lutar pela conquista do troféu de melhor marcador do campeonato.

Tudo acontece a Pedro Henriques, um árbitro que era uma elogiada promessa até ter sido proscrito dos jogos do Benfica, desde o distante Natal de 2008 e do encontro que terminou em sururu, depois de um golo anulado aos encarnados. Serve para apitar o FC Porto e, esta época, fê-lo pela terceira vez, depois de ter actuado em Olhão, onde Tomás Costa saiu com uma fractura no nariz sem que nada tivesse sucedido ao autor da proeza, e no jogo da primeira volta com o Setúbal, em que Djikiné agrediu Belluschi e cometeu dois penalties indiscutíveis que não foram assinalados. Assim, em breve estará perdoado….

Instantes depois de terminado o jogo no Bonfim, o sorridente Lucílio, também conhecido por SLB, entrou em jogo no palco da Luz. Foi uma justa homenagem a um dos patrocinadores da equipa do ano. Assinalou um penalty ao terceiro minuto, expulsou um jogador ao oitavo e, depois, deixou que Maxi ficasse em campo após mais uma entrada violenta e em tempo de descontos poupou o segundo cartão amarelo a Cardozo, que simulou um penalty.

Nada disto é relevante, dirão, porque tudo parece decidido na classificação. Ainda assim, compreendo o grito de revolta, como um acto de solidariedade para com o grupo de trabalho, e não apenas por esta situação escandalosa, que prejudicou um dos seus pupilos e reduz as suas opções para o jogo do fim-de-semana, mas também pelas nomeações, pelo acumular de casos e pela dualidade de critérios que tanto prejudicou a sua equipa ao longo da época. E, desta vez, percebo o silêncio da SAD. Desta forma, e em vésperas de um jogo com o Benfica, em que o combate se deve resumir ao relvado, ninguém poderá acusar o FC Porto de adoptar tácticas incendiárias.

O 'recta pronúncia'
«TODOS sabemos o que acontece ao Porto quando tem de jogar em Inglaterra contra equipas que vestem de vermelho e branco», escrevia Ricardo Araújo Pereira a 21 de Março, antes de perceber o que acontece ao Benfica quando joga em Inglaterra contra outros encarnados... Os feitos europeus do FC Porto, nos últimos 25 anos atormentam-no porque, desde que nasceu, o seu clube anda longe dessa ribalta e porque esse desequilíbrio fora de portas entre os dois clubes desmente a constante suspeita com que desmerece as vitórias do FC Porto em solo pátrio. Será que RAP encontra, na sua vasta biblioteca, uma única crónica sua, ou de um seu correligionário, em que se leia que o FC Porto foi melhor?

A contabilidade do cómico
UMA semana depois, escrevia que «o Benfica, que nunca perdeu uma final com o Porto, venceu, sem surpresa, a Taça da Liga». Ora, já em 1957/58 o clube do regime perdeu uma final da Taça contra o FC Porto. Para que conste, os dois clubes já disputaram entre si 21finais oficiais, e o Benfica leva vantagem com 12 vitórias. No Campeonato de Portugal, o Benfica ganhou em 1930/31. Na Taça de Portugal, o Benfica ganhou 8 finais e perdeu 1. Já na Supertaça, o FC Porto ganhou 8 e perdeu 2. O Benfica ganhou a Taça Lucílio Baptista deste ano. RAP pode invocar que as suas crónicas são humorísticas, desde que não queira que o levemos a sério, seja como bastião da coerência, seja como censor de cronistas.

O outro Ricardo
O Conselho de Justiça deu razão a Pinto da Costa, e anulou mais uma das inenarráveis sentenças de Ricardo Costa, que queria amordaçar o cidadão em causa através da sua inconstitucional interpretação a que alguém chamou de «lei da rolha». Claro que o excelso presidente da CD da Liga ficará, mais uma vez, imune a qualquer consequência. Li, a propósito, um oportuno comentário que citava Bertold Brecht, segundo o qual «alguns juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue induzi-los a fazer justiça». Mas, neste caso, e atendendo à grande reputação do excelso Doutor Costa em certos ninhos, prefiro invocar uma frase que a minha avó repetia muitas vezes: «O bom senso nunca terá heróis».

O exemplo da Inglaterra
RUI SANTOS não concorda com a lei da rolha, mas defende que, a exemplo do que sucede em Inglaterra, os agentes desportivos deveriam ser castigados por fazerem declarações que prejudicam a reputação do jogo. Ora, essa lei não existe em Portugal mas, concordando com o princípio, não entendo por que razão só se deveria aplicar a Pinto da Costa, quando se sabe a forma como os adversários sempre levantaram as mais fantasiosas suspeições para denegrirem as vitórias do FC Porto. E se falarmos em desprestígio, ainda que se reconheça que os dirigentes dos clubes não estão isentos de culpas, não encontraremos quem mais para ele tenha contribuído, este ano, do que a própria justiça desportiva.

Rui Moreira n' A Bola.

O que eu espero

ESPERO, em primeiro lugar, que seja um bom jogo de futebol. Se possível, com golos - com jogadas disputadas, corridas, lances de profundidade ou passes curtos bem conseguidos, fugas, malandrices, embates leais. Espero, também, que seja um jogo de guerra em que se perceba o que está em causa: a vitória nesse jogo. Por isso, não vale tudo. Não vale violar as regras de um jogo que foi criado por gentlemen e é praticado, muitas vezes, por arruaceiros. Não vale distrair do essencial, porque o essencial é ganhar este jogo. Espero, por isso, que os jogadores respeitem o talento, o cavalheirismo e a sorte. A sorte pode ser injusta, mas é a sorte do jogo. O talento também pode aparecer nos grandes jogos. E o cavalheirismo é um suplemento de que o futebol anda necessitado.
Espero, também, que as claques se entusiasmem com o jogo - e não com a batalha campal que costuma visitar os estádios em dia de Benfica-Porto. Espero que respeitem o resultado, mesmo se não for agradável. E, se não for agradável, não precisam de saudar o adversário; basta que não o insultem. Não precisam de valorizar a vitória do adversário; basta que repitam o resultado até se convencerem, e retomem a vida, precisamente porque há mais vida para além do futebol. Pode não ser a mesma coisa, mas é uma vida.

E espero que, no final de jogo, ganhe quem ganhar, haja festejos. Se o FC Porto ganhar (como espero convictamente, mesmo por meio golo de vantagem), que se festeje a vitória no jogo; se o Benfica ganhar, os seus adeptos hão-de festejar a conquista de um campeonato ao fim de cinco anos. E, nesse caso, o espaço público e, ao mesmo tempo, as suas memórias, devem ser respeitadas por ambos os clubes e por todos os adeptos. Seria um bom sinal se não houvesse confrontos antes, durante e depois do jogo.

Seria pedir de mais que os jogadores se cumprimentassem depois dos 90 minutos? Não. Precisamente porque no próximo ano há outro campeonato, e por aí adiante.

Francisco José Viegas n' A Bola.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Capas de 29 de Abril de 2010

Títulos

Depois de Hulk, o castigo de Falcao vem esticar até ao fim do campeonato o tópico das decisões discutíveis e discutidas. Aliás, não me admiraria nada se, daqui a uns meses, o FC Porto os nomeasse Dragões de Ouro. Seria uma resposta irónica a esta época, sim, mas seria também mais do que servir uma vingança fria, porque, no meio de uma temporada de oscilações, houve algumas certezas. Se é verdade que Hulk não pôde confirmar em absoluto, e de forma contínua, o talento que todos adivinham, ainda que tenha regressado em força nesta ponta final, Falcao manteve uma regularidade notável. De resto, é muito por culpa dele (e também de Álvaro Pereira) que as reflexões sobre esta época do FC Porto encravam. Se dois dos reforços funcionaram de forma tão evidente, lá se vai a teoria de que as contratações-chave foram mal geridas, não? E, mesmo que o título de melhor marcador lhe fuja, Falcao tem sempre o consolo de ter convencido à primeira.

Hugo Sousa n' O Jogo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Capas de 27 de Abril de 2010

Lei Marcial

Há quem diga que Pedro Henriques apita à inglesa, mas há outras versões menos lisonjeiras. Uma é a de que apita ao avesso, fechando os olhos a faltas claras e escancarando-os para outras que não existem. Em Setúbal, por exemplo, não devia ter apitado, mas apitou o lance entre Falcao e Bruno Ribeiro. E apitou mal, seja qual for o ponto de vista. Porque, ou, como diz o próprio Bruno Ribeiro, Falcao não teve intenção de o atingir e não há razão para a amostragem de qualquer cartão; ou teve a intenção de o agredir e devia ter visto o vermelho. O amarelo foi apenas mais um numa longa lista de disparates de Pedro Henriques, que já no jogo da primeira volta entre as mesmas equipas tinha apitado ao avesso. Na altura, Hulk sofreu uma falta clara na área do Setúbal, uma grande penalidade que toda a gente viu, menos Pedro Henriques. Ora, às vezes, os disparates de Pedro Henriques são inconsequentes. Afinal, o FC Porto ganhou as duas partidas ao Setúbal, apesar dele. O problema é que desta vez o árbitro de Lisboa excedeu-se e conseguiu estragar dois jogos: o que apitou, esta semana, e o que influenciou, da próxima, de onde afastou injustamente dois dos protagonistas.

Jorge Maia n' O Jogo.

Do carácter

FOI há 36 anos. Era Abril e dos canos das espingardas nasceram em flor cravos vermelhos. Tombou o fascismo – e a CUF. Pouco antes, os seus jogadores tinham largado espanto pela Taça UEFA – e quando lhes falaram do tempo novo, do (falso) romantismo no desporto da RDA ou da URSS, alguns deles, deixaram-se levar pela ilusão, chegaram a andar de fato-macaco, juntando ao futebol no campo, o trabalho nas fábricas...
Manuel Fernandes era a sua estrela – e não foi por aí. Pedroto estava apalavrado com o FC Porto e pediu a Américo de Sá que o fosse buscar depressa, soubera que João Rocha tinha tudo mais ou menos tratado com ele. Só de luvas ofereceu-lhe mil contos – muito, muito mais do que o Sporting lhe prometera. Era irrecusável, achou, ao primeiro impulso – mas, quando se abeirou do telefone tentado a responder sim, lembrou-se da mãe. Morrera semanas antes e quando já não perdia jogo do Sarilhense, revelou, profética, ao filho,que haveria de vê-lo em Alvalade. Então, pediu desculpa – que, para além do desejo dela, havia algo mais importante: comprometera-se com João Rocha, não assinara nada, mas deixara-lhe ao ouvido numa palavra, a sua honra. Américo de Sá percebeu, Pedroto também...

Do futebol moderno foi-se criando, entretanto, nítida, redonda, a ideia de que a única moral que vale a pena é a moral que aceita que as chaves do sucesso possam ter a forma de um pé de cabra, na frase que Pepe Sásia, tornou perfeita na metáfora da imperfeição:

–Atirar areia aos olhos de um guarda-redes é mau? Nós sabemos que os dirigentes não gostam que se faça isso, se o fizermos dando nas vistas...

Sábado, em Setúbal, Manuel Fernandes mostrou que o seu carácter não mudou – quando, logo depois, do cartão amarelo a Falcao, percebendo o que Pedro Henriques não percebera no seu destempero, o julgou simplesmente injusto. Ouvi, não me espantei. O que pensei foi que o fulgor que salta, em campo, jogo a jogo, do futebol do Benfica não merecia mais esta desconfiança por patacoada alheia...

António Simões n' A Bola.

Falcao, águias e outras rapinas

1 Pedro Henriques é um árbitro que, quando apareceu, prometia bem mais do que aquilo que viria a cumprir. Por razões que ignoro, o facto é que ele nunca passou de um árbitro banal, às vezes mesmo, pior do que isso até: acumula algumas limitações de julgamento, técnicas, com uma postura de vedetismo e autoritarismo que, não sendo qualidades em si mesmas, só podem tornar mais evidentes os defeitos. Nada é menos eficaz do que o autoritarismo sem a autoridade natural da competência. E, desta vez, quem pagou as favas foi Falcao — ou, como bem disse Jesualdo Ferreira, o espectáculo do Porto-Benfica que aí vem. Por desejo de protagonismo, por autoritarismo, Pedro Henriques resolveu tirar Falcao do clássico deste fim-de-semana, conseguindo ver numa mão em queda de um jogador em queda, depois de derrubado pelos adversários, uma atitude adequada para um cartão amarelo. Incompetência: essa mão na cara do adversário ou ele a julgava como acidental ou a julgava intencional — e então, seria uma agressão, que daria motivo para um vermelho directo, jamais para um amarelo. Exibicionismo: num jogo já decidido e sem história, Pedro Henriques não resistiu a entrar para a história como o árbitro que impediu que a luta pela Bola de Prata entre Falcao e Cardozo pudesse continuar a ser o único, rigorosamente o único, motivo de interesse que ainda resta neste campeonato. Nesse instante, de peito feito, ele achou-se importantíssimo, a suprema autoridade. Enganou-se e o seu engano é ridículo: Falcao faz falta ao espectáculo e, na disputa particular em que estava envolvido, é insubstituível; ele, não.

2 De qualquer maneira, não é justo mandar todas as culpas do desfecho da Bola de Prata para cima de Pedro Henriques. Jorge Jesus fez notar que a Bola de Prata é um troféu que já escapa ao Benfica há muitos anos — e que o Benfica adorava juntar este ano ao título de campeão, já entregue. E, como se tem visto e se viu outra vez este fim-de-semana, estamos em ano em que o Benfica quer, o Benfica tem. Os jogos do Glorioso têm tido uma fatal tendência para serem marcados por uma série infindável de penalties a favor (que Cardozo lá vai transformando, mais mal que bem) e por expulsões dos adversários, que muito facilitam os desfechos. Cardozo leva uns dez penalties convertidos no rol dos seus golos acumulados, Falcao leva dois. Cardozo leva alguns golos validados em off-side (como o terceiro do seu hat-trick contra o Olhanense), Falcao leva quatro golos limpinhos anulados por falsos off-sides. Está uma passadeira vermelha estendida para que Óscar Cardoso leve a Bola de Prata, a de Ouro e a de Diamantes. Resta, como me confessava um benfiquista mais tranquilo que outros que por aí andam, que Falcao é muito melhor avançado e jogador do que Cardozo — como aliás percebe qualquer um que perceba de futebol. E eu, que até acho que Cardozo é um bom avançado e útil na sua missão, não pude deixar de concordar com este benfiquista, quando ele, recebendo a notícia do terceiro golo de Cardozo contra o Olhanense, comentou: «Se ele, além de marcar golos, soubesse jogar futebol, já estava no Real Madrid!».

Não impede que Radomel Falcao, tão a leste destas guerrilhas internas, foi roubado de um troféu individual que indiscutivelmente merecia e mereceu, pela época que fez, pelos golos que marcou e pelos que injustamente lhe anularam e pelo jogador que é. Falcao saiu do jogo de Setúbal em lágrimas por não poder jogar o seu primeiro Porto-Benfica; Jesualdo Ferreira foi expulso do banco pela primeira vez na sua carreira. E Pedro Henriques lá vai continuar igual.

E não impede que Vítor Pereira deveria ter mais pudor em não nomear para os jogos finais do campeonato os árbitros que o mundo inteiro sabe que levam uma mancha benfiquista no coração. Lucilio Baptista — um dos piores árbitros dos últimos anos do futebol português — já não tem margem para benefício da dúvida, quando arbitra o Benfica. Toda a gente o sabe, toda a gente o vê, já toda a gente sorri quando o vê actuar com o Benfica em campo. Desta vez e em apenas oito minutos, ele liquidou o Olhanense e nem sequer deixou qualquer hipótese de que o jogo se pudesse vir a complicar para o Benfica. Aos dois minutos, marcou pressurosamente um daqueles penalties de bola no braço que, em querendo, só não se assinalam aos manetas (e bem menos evidente do que o braço na bola com que Aimar amorteceu para marcar o quinto golo do Benfica). E, aos oito, aí já com razão, mostrou o segundo amarelo ao não-maneta do Olhanense e, com isso e o penalty inventado, o jogo ficou arrumado, tirando os fait-divers: o quarto golo em off-side, o quinto preparado com a mão. Viva o campeão e o Bola de Prata!

Consola-me pensar que em breve Lucílio Baptista gozará a sua justa reforma e Ricardo Costa a sua justa retirada de cena. Cumpridas as suas missões, elogiado o seu zelo em defesa da «transparência». E talvez, quem sabe para o ano, o campeonato se resolva exclusivamente dentro do campo e não haja protagonistas marginais ao jogo a cumprirem a sua penosa missão de retirarem de jogo os seus verdadeiros e melhores protagonistas. Um campeonato inteiramente jogado à luz do dia, longe das sombras dos túneis, dos tiques de autoridade de personagens menores e que nenhuma, nenhuma falta fazem ao futebol.

3 Ricardo Costa retira-se, aliás, com mais uma derrota na sua infatigável batalha contra o F.C. Porto: o Conselho de Disciplina não apenas revogou o seu «castigo» de mais três meses de silêncio a Pinto da Costa, como ainda lhe lembrou esta coisa evidente: quem é o Sr. Ricardo Costa para querer silenciar quem quer que seja? Quem é este Torquemada de trazer por casa que se acha mais importante do que a própria Constituição da República? Quem é este mestre de direito cujas brilhantes teses, e de sentido único, nunca são acompanhadas por ninguém mais que julga os mesmos factos que ele? Quem é este pavão justiceiro que até consegue retirar à águia o brilho que, todavia, nós até lhe reconhecemos? Bye, Bye, Dr. Costa, volte lá para de onde nunca deveria ter saído.

4 Fantástico José Mourinho: ele e só ele derrotou o Barcelona. Não foi o Inter, porque o Inter é uma equipe banal, apenas com um grande guarda-redes e um excelente médio-esquerdo chamado Snejder. O resto são vedetas sem sustentação futebolística — como esse menino mal-educado que é o Balotelli, um jogador absolutamente vulgar, que eu, francamente, não consigo entender como é que merece de Mourinho mais atenção e mais oportunidades que o Ricardo Quaresma.

É sintomático que toda a critica tenha escrito que Mourinho anulou o Barça— jamais que o Inter fez um grande jogo. Não fez, nem nunca faz (talvez contra o Milan, no campeonato, e contra o Chelsea, em Londres). De resto, o futebol do Inter é tão entusiasmante como o Ricardo Costa a explicar as suas teses jurídicas: é um futebol incapaz de dar vida a um moribundo a quem prometessem mais dez anos de vida. Mas isso só torna mais notável o desempenho de José Mourinho: a sua capacidade única de estudar os adversários até à alma e de inventar maneira de os reduzir à impotência e o seu talento para juntar nove homens banais, acrescentados de dois ou três bons, e deles todos fazer uma equipe ganhadora. Mas, continuo na minha: de todas as equipes vencedoras de José Mourinho, a que melhor futebol jogava, que mais espectáculo dava, foi o F. C. Porto de 2003, que venceu em Sevilha a Taça UEFA.

PS: Ricardo Araújo Pereira lá prossegue a sua insana tarefa de meu arquivista particular e não nomeado. Desta vez, e para além do desejo reiterado de não me ver falar de árbitros (exclusivo de cronistas benfiquistas, como ele), realça a minha grande contradição por, em Julho passado, ainda a época não tinha arrancado e eu não tinha visto jogar ninguém, ter previsto que o F.C.Porto era outra vez o principal candidato ao título. O facto de, logo em Setembro e depois de ver o que já havia para ver, ter começado a escrever que o Benfica era a melhor equipe, à vista, não anula essa penosa contradição que ele me atribuí. Ao contrário dele próprio, a quem ninguém verá jamais um elogio ao futebol jogado pelo F.C.Porto (aliás, futebol, propriamente dito, é assunto que nunca o ocupa), ele acha que eu cometi o crime de não ter começado a elogiar o Benfica logo após o Torneio do Guadiana. OK: solenemente declaro, desde já, que o meu favorito para o ano é o Benfica. É o Benfica, é o Benfica.

Entretanto, agradeço ao arquivista ter-me lembrado que em Olhão, no jogo da primeira volta, o Cardozo só não foi para a rua porque o árbitro, enquanto caminhava para ele para lhe mostrar o vermelho merecido, lembrou-se do Benfica-Porto na semana seguinte e mudou o vermelho para amarelo. O Pedro Henriques também se lembrou do Porto-Benfica, mas, estranhamente, a consequência foi a oposta...

Miguel Sousa Tavares n'A Bola.

sábado, 24 de abril de 2010

Porto eneacampeão de Hóquei em Patins

FCPorto 7 - Oliveirense 5.

Capas de 24 de Abril de 2010

CJ acusa CD de impor lei da rolha

O Conselho de Justiça (CJ) da Federação voltou a decidir a favor de Pinto da Costa, retirando-lhe o castigo de três meses de suspensão aplicado, em Janeiro, pela Comissão Disciplinar (CD) da Liga de clubes, por ter prestado declarações públicas. Assim, mantém-se a suspensão inicial de dois anos, decorrente do processo "Apito Final" e que termina a 9 de Maio. Esta é a quarta vez que o CJ decide dar provimento a recursos de decisões da CD, todas elas relacionadas com o FC Porto, a segunda no caso do silênco imposto a Pinto da Costa.

O presidente portista falou aos jornalistas num seminário promovido pela Câmara da Maia e concedeu uma entrevista a O JOGO por ocasião do aniversário do FC Infesta, tendo a CD entendido que tal violava o castigo anterior. O presidente portista recorreu, argumentando que participou nos eventos na condição de presidente do clube e não da SAD. Num acórdão de 22 páginas a que O JOGO teve acesso, o CJ acusa a CD de "persistir numa interpretação maximalista do conteúdo da pena de suspensão" e sustenta que "referir-se às funções de representação no âmbito das competições desportivas e das relações oficiais com a LPFP e a FPF não abrange de modo algum a proibição de expressão, em outra qualidade".

Desse modo, o CJ não entende como é que Pinto da Costa, enquanto presidente da direcção do clube, "em eventos para os quais foi convidado, precisamente nessa qualidade, respectivamente a 8 de Setembro de 2009 pelo FC Infesta e a 15 de Setembro de 2009 pela Câmara Municipal da Maia, pode considerar-se proibido (quando essas funções não foram em nada afectadas pela suspensão) de falar de futebol". Mais à frente o CJ acusa a CD de pretender "condenar o Recorrente ao mais absoluto silêncio" e "amordaçar o arguido, impedindo-o de falar de futebol ou qualquer outro assunto". Algo que, na opinião do CJ, constitui uma "grosseira violação dos mais elementares direitos constitucionais". Daí que tenha considerado que a interpretação da CD pretendia "constituir uma 'lei da rolha', criada por via pretoriana, desenquadrada de qualquer razão lógica, pois não se vislumbra a necessidade de a pena de suspensão abranger o silêncio do dirigente fora do condicionalismo acima traçado, o qual, por isso, surgiria como uma anomalia".

N' O Jogo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

28 anos de presidência de Pinto da Costa

Pinto do Costa cumpre precisamente hoje 28 anos como presidente do FC Porto, o que lhe confere o recorde de longevidade a nível nacional. Eleito a 17 de Abril de 1982, com 4573 dos 5024 votos contabilizados, Pinto da Costa tomou posse seis dias depois, iniciando uma carreira na presidência que, seguramente, ele próprio não pensava ser tão duradoura. Em Maio será eleito pelos sócios do FC Porto para mais um triénio. É candidato único

Regime de excepção

Fernando garantiu ontem que para o ano o FC Porto vai voltar ao normal. Pois bem, não sei se o normal chega. É verdade que este ano foi anormal. As suspensões de Hulk e Sapunaru por cerca de três meses foram uma anormalidade. A sucessão de graves lesões traumáticas durante os treinos, muitas delas em vésperas de compromissos importantes, limitando não só as escolhas de Jesualdo Ferreira, mas também a possibilidade para trabalhar as alternativas, foram uma completa anormalidade. As oscilações de rendimento entre jogos como o FC Porto-Sporting para a Taça de Portugal e o Sporting-FC Porto para o campeonato, por exemplo, foram anormais. Mas mesmo um FC Porto normal pode não chegar se o Braga e o Benfica tiverem outro ano tão anormal como este foi também para eles. E é por isso que, para ficarem descansados, aquilo que os portistas esperam na próxima temporada é um FC Porto anormal. Excepcional, por assim dizer.

Jorge Maia n' O Jogo.

Roupagens, coerências e feitios

RICARDO ARAÚJO PEREIRA (RAP) que se toma por provedor da coerência e por controleiro dos plumitivos, voltou à liça. Trata-me por comerciante de gravata e tem razão porque não ando, como ele, que é um bom cómico de gravata, a ganhar a vida como Spock, em vestes de palhaço rico. São feitios…
Mas não só se enganou no destinatário como anda desatento. Continuo a achar que Vandinho foi mal castigado, porque só RAP & Companhia conseguiram descortinar a tal tentativa de agressão, invisível nas imagens disponíveis. E, se a punição não foi revista pelo CJ, foi porque se tratava de (falsa) matéria de facto, e não de direito (como no caso de Hulk), o que prejudica qualquer recurso, não havendo dúvidas que, ao contrário dos ARD, o treinador adjunto do Benfica é agente desportivo. Mas, admitindo que o atleta tenha pecado às escondidas, talvez RAP consiga, numa das suas hilariantes crónicas, explicar o mistério da súbita fúria dos bracarenses, quando tudo lhes estava a correr bem, pois estavam a ganhar ao Benfica. E quanto a Hulk, acha que por eu ter dito que ele estava em má forma, devia agradecer, em vez de contestar, o seu castigo? Compreendo que essa léria lhe seja mais útil do que admitir que, desde o regresso do brasileiro, o FC Porto ainda não perdeu ou empatou. Já agora, não sei se RAP se lembra do caso de doping de Nuno Assis, em que o seu clube tentou livrar o atleta da severa punição, nem sequer se RAP achava que Assis deveria ser titular, mas duvido que tenha julgado essa questão pertinente, e que isso devesse condicionar o empenho do Benfica em defender o atleta, e dos benfiquistas de se empenharem nessa causa. De facto, são feitios…

Pois, eu percebo que as penas foram úteis, e que RAP as defenda. Afinal, há anos que o Benfica vinha perseguindo, na secretaria e nos túneis, as vitórias que lhes escapavam no relvado. Pela minha parte, gosto mais do futebol quando é leal e jogado por todos os seus artistas. Gosto que o meu clube vença mas, quando assim não é, como foi o caso este ano, resta-me cumprimentar os vencedores e esperar que, no futuro, as coisas sejam diferentes; que seja quem for que ganhe não precise das toupeiras e do jogo sujo e subterrâneo. Sempre disse, e repito-o, que o Benfica praticou, esta época, um futebol superior ao dos adversários, e está de parabéns por esse facto, mas isso não branqueia os favores da toupeira, as convenientes nomeações de árbitros e os seus critérios à medida. Reconheço que em muitos casos, esses obséquios eram dispensáveis, tal a superioridade que o Benfica evidenciou, ainda que como o seu colega Zé Diogo lembrou, o campeonato não é uma competição para ver quem joga melhor. Em suma, RAP, se calhar o andor nem fazia falta, e «não havia necessidade» de haver regras especiais para o seu clube, que podia ter ganho sem elas. Pois, «poder, podia, mas não era a mesma coisa». São feitios e, acrescento, velhos vícios…

Um modelo esgotado
DEPOIS do jogo de domingo, e com o título perdido, Jesualdo revelou, na conferência de imprensa, um compreensível sentimento de desalento por não ter conseguido atingir o seu objectivo principal e por a presença na Liga dos Campeões ser agora uma miragem. Jesualdo, que teve um ciclo excepcional pelo qual lhe estamos gratos, já não tem condições para protagonizar a mudança. É certo que há jogadores lesionados, mas dão-se alvíssaras a quem consiga explicar a (des)arrumação do meio-campo, na primeira parte desse jogo. A verdade é que desde o início da época que se via que, sem Lucho, o inflexível modelo táctico de Jesualdo estava esgotado, porque não se adequava ao plantel disponível.

Opções tácticas e competências
Élícito questionar se Belluschi e Guarín não poderão ser úteis e se Meireles e Micael não podem render mais com outro esquema táctico. Ora, sem liga milionária, a política será de contenção, tanto mais que os jogadores que têm maior valor de mercado serão indispensáveis para que o clube consiga superiorizar-se à concorrência e reconquistar o título, o que reduzirá a hipótese de fazer mais-valias. Como os lucros da Europa e das transferências do passado já se evaporaram com a overdose de contratações e com o aumento constante dos custos salariais, vai ser preciso rentabilizar a prata da casa e contratar com parcimónia, o que exigirá um treinador experiente e versátil.

Cedências e lesões
AO ver o último jogo do Braga, perguntei-me como era possível que Luís Aguiar e Alan tivessem sido dispensados a custo zero, e como se justificava que se tenha emprestado Renteria a um adversário directo que já então estava à frente e que, ao que tudo indica, levará a melhor na luta pelo acesso à Champions. São sintomas de que muita coisa não tem corrido bem, o que ajuda também a explicar porque razão, com o plantel mais caro da história, o FC Porto ficou arredado do título quando ainda faltava um terço do campeonato. E nem quero falar da onda de lesões, que afasta alguns dos nossos melhores jogadores do Mundial da África do Sul, porque quero acreditar que se tratou, apenas, de muito azar.

Recandidatura revolucionária
DIZ Pinto da Costa que há uma revolução em curso, que para o ano tudo será diferente, e que é por isso que se recandidata. Também diz que vai engordar o plantel, mas todos sabemos que a pesca de arrasto na Argentina acabou, e voltaremos aos tempos da pesca à linha. Ora, o clube portista sempre foi mais bem gerido e governado quando estava em penúria e tinha recursos mais escassos que os seus adversários, do que em tempos de fartura. Por isso, quero acreditar que este inevitável apertar de cinto, e a reestruturação orgânica que impeça as tais esparrelas, terão consequências positivas nos resultados desportivos, na gestão e na sustentabilidade do clube.

Rui Moreira n' A Bola.

Uma vez sem exemplo

NÃO sei se o Benfica se sagra campeão esta semana ou na próxima — mas o título não lhe escapa. Honra aos vencedores. Espero que os adeptos do Benfica não estejam um ano à espera de receber o troféu, como aconteceu com o FC Porto, no que foi mais uma tentativa de humilhar o tetracampeão e de mostrar quem manda. Uma deselegância.
Seja como for, e uma vez sem exemplo, felicite-se o Benfica; o pior que há a fazer nestas (e noutras) circunstâncias é reunir desculpas que apenas mascaram o ressentimento. Neste caso, também, não há desculpas - o Benfica merece o título. Jogou melhor, tem excelentes jogadores, um bom treinador e, não convém menosprezar, teve a sorte do seu lado. A sorte é também construída e não depende apenas do arbítrio dos deuses (se bem que outros «arbítrios» fossem convenientes); dá trabalho, exige escolhas difíceis, intuição e vontade. Conta-se que, quando recomendavam um general a Napoleão, este não se limitava a querer conhecer os seus dotes, conhecimentos e exemplos de coragem e valentia. Queria, também, saber se era um homem com sorte. Jorge Jesus é treinador inteligente, mordaz, esperto e guerreiro — e soube merecer a sorte. Para cúmulo, gosta de bons jogadores, um dom que encanta adeptos e proporciona bons resultados.

Com opositores fragilizados ( Sporting em disputas internas, FC Porto alvo de perseguição histriónica na imprensa e na chamada «justiça desportiva»), o Benfica de Jesus (não de Vieira nem de Costa, como muito justamente dizia Mozer) aproveitou todas as oportunidades. Aproveitar as oportunidades é também uma virtude que se deve realçar (já o FC Porto, por exemplo, desperdiçou várias).

Aos meus amigos que não me perdoarão esta crónica, o seguinte: apesar do vergonhoso comportamento da assim chamada «justiça desportiva», o FC Porto perdeu por sua culpa. Faltou-lhe plantel, energia e vontade.

Francisco José Viegas n' A Bola.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Capas de 22 de Abril de 2010

Parece que é bruxo!

Antes de pensar em contratar os reforços de que precisa se quiser recuperar o título de campeão na próxima época, antes mesmo de contratar um treinador, caso se confirme a saída de Jesualdo Ferreira no final da temporada, talvez o FC Porto precise de pensar em contratar uma bruxa. Ou um bruxo, vá. Bem sei que ninguém acredita nelas ou neles, mas que os há, há, e do jeito que as coisas têm corrido no Dragão esta temporada ao nível das lesões, o FC Porto não vai lá só com especialistas em medicina desportiva. Rodríguez teve um ano intermitente por causa das lesões, Varela sofreu uma fractura quando realizava a sua melhor temporada de sempre, Farías esteve de baixa dois meses, Mariano sofreu uma rotura no ligamento cruzado do joelho direito, Raul Meireles está em gestão há algumas semanas, e agora Rúben Micael sofreu uma fractura num dedo do pé. Quase sempre e quase todos em vésperas de compromissos mais ou menos importantes. Juntem-se a estas as pequenas lesões rotineiras que resultam com naturalidade das ocorrências de um desporto de contacto, e tenho cá para mim que a solução passa muito mais por pentagramas, galinhas pretas e patas de coelho do que por câmaras hiperbáricas e material de osteossíntese.

Jorge Maia n' O Jogo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Capas de 20 de Abril de 2010

Um por todos...

É quase obscena a quantidade de vezes que se fala na necessidade de motivar jogadores de futebol que ganham dezenas de milhares de euros todos os meses para jogarem à bola. Afinal, uma boa parte de nós até paga para desfrutar de uma futebolada com os amigos, e a imensa maioria dos portugueses encontra motivação suficiente para trabalhar todos os dias na simples necessidade de pagar contas ou na menos simples ameaça de desemprego. Mas os jogadores de futebol são especiais. Precisam de se sentir motivados. Ora, depois de quatro anos consecutivos a ganhar os jogadores do FC Porto dão por eles fora da corrida pelo título a três jornadas do final do campeonato, o que poderia representar um desafio em termos de motivação para o que resta de temporada. Um desafio ultrapassado em larga medida por Falcao; o avançado colombiano não desiste da luta pelo título de melhor artilheiro do campeonato e não deixa os companheiros desistirem de o ajudar a consegui-lo. E o resultado disso é um FC Porto motivado para jogar bem e marcar golos.

Jorge Maia n' O Jogo.

Do Taguspark ao Annapurna

1 Nós, portistas, pertencemos a um grande clube: carregando o título de tetra-campeões, habituados que estamos a ganhar como ninguém mais nas últimas décadas e, arredados deste título, despedidos da Champions, humilhados na final da Taça da Liga e até já afastados da próxima edição da Champions (a não ser por via de um milagre), ainda conseguimos meter 20.000 num dia de semana no Dragão para assistir à meia-final da Taça, que já estava práticamente resolvida, e quase 30.000 quatro dias depois, para um jogo do campeonato, disputado 24 horas depois de se saber que o Braga havia ganho e, com isso, tinham morrido as ilusões de ainda poder lutar por um lugar na próxima edição da principal competição europeia. Porquê? Porque queremos ver o Falcao como melhor marcador da Liga, porque tínhamos saudades de ver o Hulk jogar e… porque gostamos de futebol e já só temos mais quatro ocasiões para ver a nossa equipa, antes que o pano desça sobre esta época triste.
Porque, quanto ao resto, já ninguém alimenta dúvidas: vamos ganhar a Taça, pese ao respeito que deve merecer o notável Desportivo de Chaves, que trouxe Trás-os-Montes ao Jamor. E acrescentaremos isso à Supertaça e a uma mais do que razoável presença nos oitavos-finais da Champions — que teria sido bem mais grata se não tem acabado com o massacre de Londres. Mas, o que nada nos pode consolar é deste tão pouco habitual terceiro lugar no campeonato — onde a equipa que nos vai ficar imediatamente à frente é formada, numa terça parte, por jogadores dispensados ou emprestados por nós. Arrancámos tarde na recuperação (assim que o Hulk foi liberto das garras do CD) e nem Benfica nem Braga cederam. E, agora, «les jeux sont faits»: o Benfica será campeão e o Braga irá tentar a improvável qualificação para a fase final da Champions. A nós, resta-nos a Liga Europa e a lição a extrair dos erros cometidos esta época.

2 Num artigo que me pareceu bem informado, o Diário de Notícias escreveu que a direcção do FC Porto «já decidiu quem são as estrelas transferíveis no final da época: Bruno Alves e Raul Meireles». Todos os outros, acrescenta o jornal, apenas serão transferíveis pela cláusula de rescisão. Com uma excepção notável: Hulk, cuja cláusula de rescisão é para inglês ver. Se a informação está certa, quer isto dizer que, tirando o Varela, que está lesionado, e o Álvaro Pereira e o Falcao (as únicas boas aquisições do último defeso), a SAD azul e branca está pronta a vender os outros jogadores que têm valor no mercado que interessa: Bruno Alves, Raul Meireles e Hulk.

Mas, como Pinto da Costa disse há dias que vai «engordar» e não «emagrecer» o plantel, isto aponta (se a notícia do DN está certa), para que o emagrecimento se faça onde não convém e a engorda onde não é recomendável. Ou seja, e como habitualmente: sairão dois ou três dos que interessam e ficarão todos os que não interessam- nem a nós, nem, obviamente, aos grandes clubes que pagam o preço pelo qual vale a pena vender. Depois, e se também se seguir a regra habitual, entrarão mais uma dúzia — dos quais dois serão bons ou aproveitáveis e o resto paisagem. E assim se engordará o plantel e a inimaginável folha salarial do clube, responsável pelos défices acumulados e pela necessidade, todos os anos repetida, de vender os bons jogadores para poder pagar aos maus. Oxalá, desta vez me engane, porque este filme já o vimos demasiadas vezes. E o que eu sei é que o Lisandro e o Cissokho estão nas meias-finais da Champions e o Lucho está à beira de ser campeão de França pelo Marselha, após dezoito anos de jejum…

3 Creio que não haverá mais do que três portugueses que acreditam, ou fingem acreditar, que Luís Figo é um notável inocente no negócio da Taguspark e da campanha eleitoral do PS, de que ele foi a peça central de toda a engrenagem. São eles José Sócrates, João Bonzinho e a magistrada do Ministério Público que acaba de deduzir acusação criminal contra todos os envolvidos, excepto Luís Figo.

José Sócrates, perguntado (há dois meses atrás) se os contornos do negócio que então já eram conhecidos não apontavam para um caso de utilização de dinheiros públicos para o financiamento da campanha do PS, declarou, ofendido, que «isso é uma infâmia! O Figo é um dos heróis da minha geração e o seu apoio foi totalmente desinteressado». Ele, pois, jurou acreditar que Figo (que, todavia, se declarara há tempos simpatizante da direita), afinal e em Outubro passado, teve um súbito rebate de consciência socialista. Para o qual, obviamente, em nada contribuiram os 750.000 ou 2 milhões de euros (na versão do Ministério Público) que a Taguspark lhe pagou. Que foi isso e só isso, esse rebate de consciência cívica, que o moveu a dar uma oportuna entrevista ao Diário Económico, com um rasgado elogio à governação de Sócrates (entrevista essa enviada previamente para aprovação do destinatário do elogio ou do seu staff de campanha) e a comparecer a um muito mediatizado pequeno-almoço com o PM, mesmo no final da campanha eleitoral.

Tudo não teria passado, como explicou João Bonzinho, de um banal contrato de publicidade ou venda de imagem, coisa que ele faz habitualmente. Embora, neste caso, excepcionalmente bem pago, a troco de um simples filme de publicidade, filmado numa tarde e jamais utilizado, e do compromisso de, uma vez por ano e durante três anos, comparecer em eventos públicos da Taguspark. Tudo pago por uma empresa com 100% de capitais públicos e a uma off-shore de que Figo é titular — sem impostos nem outros inconvenientes.

Também a delegada do MP, não querendo incomodar o cidadão Luís Figo — a quem, segundo João Bonzinho a Pátria tanto deve — conseguiu construir uma tão elaborada tese jurídico-penal que mesmo quem tem formação juridica vê-se às aranhas para tentar entender. Em resumo, ela descobriu um crime de corrupção em que os corruptores passaram a corrompidos, o corrompido passou a testemunha e assim ficou o crime de corrupção… sem corruptores. Uma originalidade, assaz imaginativa. E fundada, segundo ela, na crença que teve de que Luís Figo ignorava que a Taguspark fosse uma empresa pública: ignorava ele, o seu agente, o seu advogado, etc, etc. Todos, segundo o MP, acreditaram piamente que uma empresa que se dispunha a pagar 750.000 a 2 milhões de euros em troca dum pequeno almoço com Sócrates, e de um par de horas de filmagem no mesmo dia, podia ser, vejam lá, uma empresa privada, sem nenhuma relação com a política e agindo apenas, e tal como o próprio Figo, por um desvelado amor à Pátria e à governação de José Sócrates!

Eu penso que, de facto, não havia por onde incriminar Luís Figo. E não havia, porque ele, não sendo funcionário público nem sujeito a tutela pública, nunca poderia ser o «corrompido» de um crime de corrupção. Simplesmente, vendeu a imagem e, desta vez, não foi à Galp ou ao BPN, mas ao próprio governo em funções. Mas isso não é crime, nem havia crime algum de corrupção. Haveria, sim, talvez um crime de prevaricação ou semelhante ou de financiamento ilegal de campanha eleitoral, incriminando quem utilizou dinheiros públicos indevidamente. Porém e por razões que cada um presumirá como entender, quis-se ir para a hipótese mais gravosa — o crime de corrupção. E isso obrigou a uma ginástica jurídica que desembocou nesta fantástica fábula dos maus rapazes que, para prestarem um serviço ao «chefe», se aproveitaram da ignorância e da inocência de um cidadão patriota, convencido de que estava apenas a ganhar a justa paga pelo seu penoso trabalho e a exprimir as suas livres e judiciosas opiniões sobre os destinos da Pátria. Por favor, não venham tentar fazer de nós todos parvos!

4 Eu olho para o Eduardo, titular da baliza do Braga e da Selecção, e vejo o Ricardo II: a mesma agilidade nas defesas frontais, a mesma inépcia perigosa no jogo aéreo. E, tal como o Ricardo, raro é o jogo que lhe vejo em que ele não tem uma saída em falso ou comprometedora numa jogada pelo ar — mas, tal como o seu antecessor na baliza de Portugal, a sorte está quase sempre com ele. Esta semana não esteve e ofereceu assim um golo ao Leixões.

O mesmo digo do Helton, e esta semana, por opção e depois por lesão, o Beto substituíu-o na baliza do FC Porto, no jogo da Taça e no jogo do campeonato. E foi uma tranquilidade de há muito não vista: zero golos sofridos e alguns evitados e, acima de tudo, o espaço áreo dominado pelo guarda-redes, como deve de ser. Não tenho uma dúvida de que o Beto é muito melhor que o Helton. Mas, acima de tudo, por mais voltas que dêem, continuo convencido de que um guarda-redes que não domina o espaço aéreo que é seu, é um perigo à solta — por melhor que seja entre os postes.

5 Se ter jeito para um desporto e representar o seu país nesse desporto é ser patriota, então, para mim, patriota é o João Garcia, que acaba de entrar na lista dos dez únicos seres humanos que conquistaram as 14 montanhas que existem com mais de 8.000 metros de altura e sem recurso a oxigénio artificial. Sexta-feira, ele plantou a bandeira de Portugal no alto do Annapurna, depois de dezassete anos de esforços e sacrifícios para o conseguir. Com risco de vida, com marcas no corpo desde o Everest e sem receber um tostão do país para isso.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

domingo, 18 de abril de 2010

Liga Sagres - Porto vence

FCPorto 3 - Vitória de Guimarães 0.






Capas de 18 de Abril de 2010

Baía a presidente e Domingos treinador porque não?

Entrevista com Kostadinov n' O Jogo:

O corte de cabelo é exactamente o mesmo e só uns quilos a mais - ele diz que dez - destoam na figura que todos os portistas gurdam na memória. E foram memórias, entre o passado e o presente, que Kostadinov cruzou na conversa com O JOGO. Aliás, referências do passado podem tornar-se também referências do futuro do FC Porto.

O que tem andado a fazer e o que o trouxe a Portugal?

Sou director-técnico da Federação da Bulgária há mais ou menos um ano e estou a tirar o curso de treinador. Viemos a Portugal participar num torneio de sub-19 com as selecções de Portugal, Geórgia e Rússia. Terminei a carreira de jogador em 2000 e estive a trabalhar no início no CSKA da Bulgária.

Acompanha o futebol português?

Sim, acompanho pela televisão, porque transmite muitos jogos, e também me desloco a Portugal com certa frequência.

E está surpreendido com o terceiro lugar do FC Porto?

Quando uma equipa como o FC Porto perde pontos com clubes mais pequenos, alguns deles em casa, é normal que não esteja em primeiro lugar. E com essas perdas de pontos é normal que não seja campeão. O futebol português já era assim no meu tempo e essa continua a ser uma questão válida. O FC Porto esteve mais fraco em alguns jogos e daí a classificação. Vi alguns jogos do campeonato e deu-me essa ideia. Na Liga dos Campeões jogou bem, mas no campeonato nem sempre. Para além disso, o Benfica tem uma boa equipa e quando se ganha sempre os jogos mais pequenos, como está a acontecer, as hipóteses de ser campeão aumentam drasticamente. É com as equipas mais pequenas que se ganham os campeonatos.

E o Braga?

O Braga é sempre uma equipa que pode ganhar a todas as outras. Está sempre na parte de cima da tabela e tem importância no futebol português. Por isso, não fico surpreendido com a carreira do Braga.

Esperava que Domingos, com quem fez dupla no FC Porto, se tornasse um bom treinador?

É uma pessoa tranquila e pode observar de forma mais profunda o que se passa à sua volta. Está a ser um bom treinador e vai continuar a evoluir.

E tem falado com ele?

Sim. Pelo telefone.

O que lhe tem dito?

Que tenha sorte. Ainda ontem [anteontem] falei com ele e disse-lhe que ia ganhar este fim-de-semana.

Além de Domingos, também partilhou o balneário com Vítor Baía, que seguiu um caminho diferente, o do dirigismo. Acha que o futuro do FC Porto pode passar por eles?

É bom que estejam ligados ao futebol. O futuro vai dizer se podem ter sucesso. Mas acho normal que um possa ser presidente e outro treinador do FC Porto. Por que não?

sábado, 17 de abril de 2010

Capas de 17 de Abril de 2010

Belluschi sem comparações


Logo no início da época, quando explodiram os primeiros elogios a Belluschi, naquela pressa de tirar conclusões atrelada aos reforços, houve a inevitável colagem a Lucho. Jesualdo Ferreira ainda tentou avisar: olhem que não é bem assim, são diferentes etc. etc. Estava certo, e isso agora parece-nos tão óbvio, mas o problema é que, mesmo estando certo, não o dispensou - porque não quis ou, provavelmente, porque não pôde - das mesmas tarefas de Lucho. Belluschi definhou, perdido em funções que lhe eram estranhas e falhando o importantíssimo passo de causar uma boa primeira impressão. O esquema manteve-se, Belluschi foi aguentando sem deslumbrar; Tomás Costa não aparecia; Guarín também não; Meireles tardava a acertar o passo; não havia Rúben Micael; e a equipa encravava. Se calhar, mais do que a suposta liberdade de movimentos, sublinhada com diplomacia, Belluschi deve carregar noutra liberdade: a definitiva descolagem da comparação com Lucho. Mesmo que nem todos tenham visto a coisa assim desde o início, a ilusão acabou por ser partilhada. Sem excepções.

Hugo Sousa n' O Jogo.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Capas de 16 de Abril de 2010

Plantel precisa é de engordar

Pinto da Costa não disfarçou que esta é uma má temporada do FC Porto, independentemente de conquistar, ou não, a Taça de Portugal. No lançamento do livro de Fernando Póvoas "Emagrecer com sucesso", cerimónia levada a cabo na sala VIP do Estádio do Dragão, o presidente prometeu "engordar" o plantel, manifestando também a vontade de ganhar tudo na próxima temporada.

O FC Porto pode continuar no regime em que está ou este será um ano de vacas magras?
Temos tido bons resultados no regime em que estamos e vamos procurar mantê-lo. Mas não é um ano nem de vacas magras, nem de vacas gordas. Tivemos resultados muito positivos no início da época.

Na próxima época, o FC Porto vai emagrecer em termos de plantel?
Não muito, precisa é de engordar...

O que é que pretende ver na próxima época?
Quero ganhar tudo em que participarmos, nomeadamente o campeonato nacional, mas não o dos túneis, um sem túneis. Sabemos que os nossos clubes não têm as condições de outros países, mas não devemos abdicar de lutar por ganhar até lá fora.

A conquista da Taça de Portugal pode atenuar a época má do FC Porto?
A Taça de Portugal é sempre mais uma conquista e mais um troféu. As pessoas esquecem-se que já ganhámos a Supertaça este ano. Mas, é evidente que quando o FC Porto não é campeão é considerada uma má época. Quando os outros ganham qualquer coisa, já é uma boa época, fazem festas nas Câmaras e é como se fosse feriado nacional. Para os portistas é pouco. Mas isso é sinal que a nossa bitola está muito alta.

Foi o FC Porto que habituou mal as pessoas?
Se calhar, mas queremos que mantenham esse mau hábito.

Como encara o Chaves na final?
Encaro com imensa satisfação. Tenho imensos amigos em Chaves e é uma grande alegria.

Mas lamenta que a final da Taça seja no Jamor?
Não é a mim que compete fazer a marcação e ainda bem que é uma prova da Federação, senão ainda íamos ter um FC Porto-Chaves no Algarve. Pelo menos já não é tão longe.

Pode revelar alguma coisa sobre o treinador para a próxima época?
Estamos aqui para falar do livro e sabem que se fizerem outras perguntas, acabam por desvirtuar a razão que vos trouxe aqui.

António Soares n' O Jogo.

Um prémio de consolação

O Benfica ganhou ao Sporting e garantiu o título. Ao contrário do que tem sido a atitude de muitos benfiquistas, que sempre relativizaram as vitórias nacionais e internacionais do FC Porto, apesar de considerar que o seu clube foi o grande beneficiado pelas toupeiras e, como se voltou a ver neste jogo, pelos erros e critérios dos árbitros e pelas vergonhosas nomeações da Comissão de Arbitragem, felicito-os porque, também no relvado, a sua equipa foi a melhor.
Antes disso, em Vila do Conde, contra uma equipa em crise que acabara de sofrer duas cabazadas, o FC Porto fizera mais uma exibição paupérrima. Ganhou porque o poste ajudou, porque Helton se aplicou, porque Sidnei se deslumbrou e porque Farías voltou. Com o segundo lugar a uma distância quase inalcançável, esperava-se que o FC Porto entrasse com vontade de resolver a partida. Em vez disso, Jesualdo voltou a apostar numa equipa tristonha. Felizmente, já não falta muito para acabar este triste campeonato.

Na quarta-feira, e pela terceira vez em poucas semanas, o FC Porto voltou a encontrar o Rio Ave, desta vez para acertar as contas da Taça de Portugal. Com uma vantagem de dois golos, a passagem à final, onde estarão os bravos flavienses, estava mais do que garantida e, por isso, Jesualdo fez algumas mudanças na equipa. Num jogo a feijões, esperava-se que Nuno André Coelho tivesse uma oportunidade para jogar. Afinal, Jesualdo não lhe deve ter perdoado, ainda, não ter sido capaz de jogar a trinco em Londres. Desta vez, pelo menos, deixou que Fucile alinhasse de início, depois de ter cumprido o castigo que lhe foi imposto por esse mau jogo. O uruguaio, que se diz estar de saída, pareceu desmotivado, o que não é caso virgem no plantel.

Ainda assim, e após o jogo do Dragão, Jesualdo voltou à velha ladainha de que a equipa está a crescer e que os jogadores estão a entender os processos. Não se sabe muito bem porquê, nem de que processos o treinador fala, mas tudo aquilo que nos conta começa a ser repetitivo e irrelevante.

Há quem diga que este FC Porto foi igual ao do ano passado, e que só não renovou o título porque a concorrência foi melhor. Não sei se faz grande diferença saber se são os adversários que estão melhor, se é o FC Porto que está pior, ou se ambas as coisas são verdade. O que é inegável é que o investimento em jogadores não foi judicioso e as opções tácticas não foram as melhores; a equipa não cresceu, para usar o estafado jargão de Jesualdo Ferreira, e não teve a atitude do costume. Ora, todos sabem que um FC Porto que não joga à Porto não pode ganhar títulos.

O FC Porto estará, pela terceira época consecutiva, na festa de Oeiras. Claro que essa façanha, que tanto empolga os adeptos de outros clubes a quem disfarça muitas épocas falhadas, mais não é que um prémio de consolação para os portistas que, neste momento, já só anseiam pela nova época.

As velhas esparrelas
A propósito da próxima época, e enquanto o tabu do novo treinador perdura, Pinto da Costa prometeu que o clube não vai voltar a cair na esparrela como o túnel da Luz. É a primeira vez que se admite que alguma coisa falhou, nesse dia, ao nível da organização do clube. Ora, conhecendo-se o que já se passara na época passada, e no mesmo túnel da Luz, é caso para perguntar porque razão não houve, já este ano, o cuidado de prevenir o pior e de, pelo menos, impedir que os jogadores voltassem a sair da cabina para responder às expectáveis provocações. É para isso, também, que servem os dirigentes. Enfim, é nos anos maus que se apreendem as lições e que se fazem as melhores opções para o futuro.

A tal final antecipada
GARANTIRAM-NOS, não se sabe bem porquê, que era uma final antecipada. Afinal, a eliminatória foi desequilibrada, e ainda não foi desta que o Benfica recuperou o seu estatuto internacional. Não admira: não está ao alcance de qualquer equipa portuguesa competir ao mais alto nível do futebol europeu. Com alguma azia, Ricardo Araújo Pereira concluiu que essa foi a vitória da época para FC Porto e Sporting. Está enganado. A grande vitória dos portistas aconteceu em Lisboa, na sede da FPF, quando goleou, e pela lendária marca de sete a zero, um dos ídolos do Benfica que, por azar do destino, só serve para consumo interno, já que não tem qualquer utilidade nas competições europeias.

As contradições
ESTA época, a carreira do Sporting de Braga tem sido, a todos os títulos, excepcional. Não joga um futebol vistoso como o Benfica, não tem os valores individuais do FC Porto, e também é verdade que, aqui e ali, a sorte lhe tem sorrido. O que me espanta é que, depois de tantas vitórias, e de se manter na cola do Benfica e à frente dos portistas, ainda haja quem continue a afirmar que os méritos devem ser repartidos entre Domingos Paciência e o seu antecessor. O que é mais curioso é que quem o diz são os mesmos que criticam o tipo de futebol pouco ousado da equipa minhota, e que recordam a época passada, em que o Braga de Jesus jogava com um dispositivo táctico muito diferente…

As escolhas de Jesus
POR falar em heranças, Jesus não teve sorte ao ressuscitar a tão discutida escolha do seu antecessor Quique Flores, utilizando David Luiz como lateral-direito. Perdeu o seu melhor central, e não terá ganho um excelente defesa-direito. Também não lhe correu bem a escolha de um guarda-redes pouco rodado para um jogo de capital importância. Curiosamente, Jesus beneficiara, na final do Algarve, de idêntica escolha infeliz por parte do seu opositor. Já contra o Sporting, Jesus voltou a acertar na alteração táctica que fez ao intervalo. É assim o futebol, um jogo imprevisível em que os resultados também são feitos por pequenos detalhes, por opções e escolhas discutíveis, e pelos caprichos da fortuna.

Rui Moreira n' A Bola.

Regimes

O plantel no precisa de emagrecer muito. Precisa de engordar... A frase não é minha, lamento, mas do presidente do FC Porto, que ontem apresentou mais um livro de Fernando Póvoas. O problema dos regimes alimentares é que se trata, quase sempre, de substituir uns alimentos por outros, consoante os objectivos em causa: emagrecer ou engordar. A pirâmide alimentar continua a mesma, mas é no seu uso correcto que está o segredo.
Tratemos, pois, de substituir com determinação e com método. Mais proteína e menos hidrato de carbono, pode ser uma solução para o problema do FC Porto. E mais fibra. E mais imaginação (um dietista deve fazer-se acompanhar por um chef exigente e imaginativo). E, se me permitem, mais entusiasmo, sempre com produtos de boa qualidade.

Tal como uma cozinha não é um laboratório farmacêutico, também um balneário não é uma linha de montagem; o FC Porto precisa de jogadores de qualidade que se possam mover no tabuleiro de jogo, interpretando um papel, sim, mas acrescentando-lhe vibração, brilho, talento.

Quaresma tinha vibração a mais e disciplina a menos, mas era insubstituível na disciplina táctica de Jeusaldo (para lhe acrescentar um desequilíbrio criativo, tão útil ao FC Porto como desprezado pelos que o invejavam), servido de um organizador e distribuidor de grande talento, como Lucho, e de um marcador como Licha.

Nenhum deles está no FC Porto e Radamel Falcao pode lembrar um dos vértices desse triângulo, já que Ruben Micael ainda aprende as primeiras variedades dessa partitura e Belluschi depende da meteorologia.

É inegável que a SAD do FC Porto fez grandes negócios. Mas para alimentar essa dimensão empresarial é necessário mais. Uma boa imagem não se faz apenas com dieta alimentar: cavalheirismo, equilíbrio emocional e alegria também contam, e muito.

Francisco José Viegas n' A Bola.