terça-feira, 30 de setembro de 2008

A tradição ainda é o que era

Arsenal 4 - FCPorto - 0.

Capas de 30 de Setembro de 2008

Miguel Sousa Tavares - Muito pouca Europa, por aqui

Miguel Sousa Tavares n’ A Bola

1 - O começar mais uma semana europeia, as perspectivas dos clubes portugueses não se me afiguram auspiciosas. Excepção para o Braga, que tem a eliminatória já garantida e a quem tudo o que se pede é que acumule mais uns pontinhos a favor do ranking de Portugal na UEFA. Em contrapartida, Marítimo e Vitória de Guimarães têm uma tarefa quase impossível à partida, enquanto que o Benfica enfrenta um desfecho de tripla contra o Nápoles, que ninguém pode antecipar com segurança: é daqueles jogos em que a sorte e os nervos vão desempenhar um papel porventura decisivo. Na Champions, o Sporting tem o mais fácil dos jogos europeus das seis equipes portuguesas em competição, mas com um factor de perturbação prévio: só a vitória lhe serve, tudo o resto soará a fiasco comprometedor. Quanto ao FC Porto, está na posição inversa: ganhou o primeiro jogo caseiro contra o seu adversário mais directo no grupo e pode perder contra o favorito, em casa deste, sem que essa derrota faça dobrar a finados: é esse o mais provável dos desfechos.
A anteceder esta definidora jornada europeia, tivemos o derby de Lisboa, como sempre incensado, antes e depois, muito para além da qualidade do futebol visto em campo. Foi um jogo pobre, que o Benfica ganhou justamente, por ter sido a única das equipas que se decidiu a correr riscos e a fazer qualquer coisa contra o anunciado empate (no painel de palpites do Expresso, todos os doze participantes apostaram, sem excepção, num empate!). Na verdade, Quique Flores ou arriscava agora e ganhava ou podia muito bem começar a pensar em fazer as malas para passar o Natal em casa. Com apenas duas vitórias em onze jogos (e uma delas a miraculosa vitória da semana anterior em Paços de Ferreira), o espanhol ver-se-ia numa situação bem complicada em caso de empate ou derrota: ficaria a quatro pontos do Sporting e a dois do FC Porto, em caso de empate, ou a sete e quatro, em caso de derrota. E com a agravante de já ter recebido os dois rivais directos em casa, sem ganhar nenhum dos jogos. Era o tudo ou nada e ele percebeu-o a tempo. Quem também deve ter suspirado de alívio foi Rui Costa: ambos os golos da vitória tiveram a assinatura dos seus reforços — assistência de Aimar e golo de Reyes, no primeiro; assistência de Carlos Martins e golo de Sydnei, no segundo.

Quanto ao Sporting, fez o que pôde, embora a liderança do campeonato, com três vitórias nos três primeiros jogos, talvez levasse a esperar mais. A meu ver, erradamente: nenhuma das vitórias foi convincente, em nenhuma se mostrou uma equipa triunfante e segura de si. Pelo contrario, eu acho que o grande mérito de Paulo Bento é conseguir continuar a fazer do Sporting um candidato ao título quando as condições de concorrência com os seus rivais directos estão completamente desequilibradas (esta época, a SAD do Sporting não gastou um tostão em reforços — o Hélder Postiga deve ser para pagar muito, muito, suavemente). Não fosse a estranha teima em prescindir de Stojkovic e Vukcevic, e seria caso para dizer que Paulo Bento tem o osso espremido até ao tutano. Agora, muito mais do que aquilo, não acredito que dê.

Já agora, não resisto a um à parte: aqui, neste jornal, os jornalistas destacados para a função, consideraram o Yebda e o Miguel Veloso dos melhores em campo. Confesso o meu espanto: para além do facto comum de ambos terem evidentes preocupações com o penteado, não vi a qualquer deles futebol algum. O Miguel Veloso teve um passe magistral no primeiro minuto a isolar o Yannick e o resto do tempo passou-o a estragar jogo; o francês muçulmano usou o gigantismo para fazer faltas de toda a ordem, exibindo, no mais, uma elegância e clarividência técnica que fazem lembrar o cristão português Fernando Aguiar, tão apreciado lá para as bandas da Luz. Eis a prova de que o futebol raramente é matéria de consensos alargados.

Na véspera do derby lisboeta, o FC Porto, ferido no orgulho em Vila do Conde, viu-se e desejou-se para levar de vencida o «promovido» Paços de Ferreira, mais uma vez não se livrando de escutar justos assobios vindos da bancada. Mais uma vez, também, Jesualdo Ferreira pôs em campo a equipa errada e demorou uma hora a emendar a mão. É certo que (finalmente!) deixou de fora o Mariano González, fazendo-o descansar — a ele e a nós. Mas resolveu ressuscitar o Farías — esquecendo-se, porém e pelo que se viu, de o avisar — e, na ausência de Lucho, lançou mão daquele jovem Tomás Costa, que até agora só mostrou ser capaz de receber a bola vinda de trás e devolvê-la para trás. Ele, mais o Mariano, mais o Stepanov, mais o Guarín (e para não ir mais longe), fazem parte de um grupo de jogadores que eu, por mais que me esforce, não consigo entender como é que vieram parar ao FC Porto (no seu último texto aqui, o Rui Moreira põe o dedo na ferida, quando fala de diferença entre os reforços do Jorge Mendes e os dos curiosos «empresários» que gravitam à roda da SAD do FC Porto).

Facto é que, de Junho de 2007 a Julho de 2008, o FC Porto viu sair da equipa todos estes jogadores, agenciados por Jorge Mendes: Bosingwa, Pepe, Paulo Assunção, Ibsen, Anderson e Ricardo Quaresma. E nem num só deles encontro um substituto que, de perto ou de longe, se lhe compare. E isto é como o Sporting: não há milagres…

Logo à noite, no Emirates, frente a um Arsenal ferido pelo Hull City, espero o milagre, mas temo o inevitável. É quase certo que Jesualdo não vai fugir à regra dos treinadores portugueses quando se vêem perante jogos de dificuldade máxima: vai «inovar», reforçando o meio-campo ou a capacidade defensiva e desguarnecendo o ataque — dá quase sempre mau resultado, mas eles não resistem a tentar de novo. A imprensa inglesa já deu o mote contrário, revelando quem mais temem: é o Hulk (por acaso, o jogador mais caro de sempre do FC Porto, a par de Lucho). Mas Jesualdo também já mostrou que só confia no Hulk em desespero de ataque — até lá prefere o Mariano ou o Farías ou o Tomás Costa. Queira Deus que me engane, mas temo um FC Porto «de contenção», de «esperar para ver» e depois de «correr atrás do prejuízo».

2 - José Mourinho esteve igual a si mesmo no confronto com o Milan. Brilhante na conferência de imprensa em que enfrentou sem medo os tubarões da imprensa desportiva italiana; prejudicado pelo árbitro no decorrer do jogo, numa arbitragem que pareceu ter uma agenda oculta; e previsível e monótono no futebol apresentado pela sua equipa. Tal como no Chelsea, aquilo é sólido e vê-se que tem muitas horas de trabalho, com o objectivo único de obter resultados e, tal como no Chelsea, também agora ele dispõe de jogadores que podem, num instante de génio, disfarçar toda aquela monotonia. Mas a verdade é esta: nunca mais vi uma equipa de Mourinho jogar tão bem como o FC Porto que conquistou a Taça UEFA, em Sevilha — não o FC Porto, campeão europeu em 2004: o do ano anterior. Uma equipa pobre, em termos europeus, mas cheia de ambição e futebol.

Quanto ao saudoso Ricardo Quaresma, lá o vi a fazer o papel menor de quem espera em vão que as outras vedetas da equipa se dignem passar-lhe a bola. E viu-se que tem ali colegas do meio-campo que só o farão sob a ameaça de pistola. Pobre Quaresma, como se deve ter sentido frustrado! É bem feito!

domingo, 28 de setembro de 2008

115 ANOS

O FC Porto completa hoje 115 anos de existência. Uma data redonda que justifica uma celebração especial. Assim, ao já tradicional hastear da bandeira do clube na Praça do Estádio do Dragão logo pela manhã, à romagem ao mausoléu do FC Porto no cemitério de Agramonte e à missa de sufrágio na Igreja das Antas em memória dos antigos dirigentes, atletas, associados e adeptos do clube, realiza-se hoje um jogo de veteranos no renovado Campo da Constituição, rebatizado de Vitalis Park.

O jogo contará com a presença de velhas glórias do FC Porto e do Boavista, entre as quais se destacam os nomes de João Pinto, Aloísio, Jaime Pacheco, Frasco, Gomes e Rui Barros, entre muitos outros.

D' O Jogo

Capas de 28 de Setembro de 2008


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Capas de 26 de Setembro de 2008


Espero apoio e apluasos

Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira, n' O Jogo

O que espera do público neste jogo?

Espero apoio e aplausos, porque a questão dos assobios já foi ultrapassada. Aproveito para deixar uma ideia do que pensamos sobre esta questão: quando nos referimos aos assobios, no final do jogo com o Fenerbahçe, fizemo-lo com um sentimento que expliquei na altura e sobre o qual não vou falar mais. Provavelmente, em Vila do Conde os assobios teriam sido mais justos. Ponto final. Agora, espero aplausos e incentivo, porque o jogo com o Paços de Ferreira é difícil, num momento em que o FC Porto não está em primeiro lugar. Só passaram três jornadas e não vamos dramatizar essa situação. Começamos agora um ciclo de jogos difíceis, mas são esses que nos motivam, obrigando-nos a trabalhar muito e durante os 90 minutos.

Houve jogadores em sub-rendimento no último jogo. Vai fazer alterações?

Vou mexer com a equipa, mais do que mexer na equipa. Não foram necessárias muitas palavras para que os jogadores percebessem que aquele jogo não traduz comportamentos habituais do FC Porto. Não gostamos e os jogadores também não. Muitos daqueles que não conheciam bem o FC Porto perceberam que jogos assim não existem no nosso tipo de funcionamento. Aconteceu. E ainda bem que aconteceu no início de época.

Mas promoverá a rotatividade do plantel?

Vou apresentar os jogadores que podem defender melhor o que queremos, que é jogar bem e ganhar.

O que disse aos jogadores esta semana?

Não lhes vou dizer.

Este é um dos piores arranques dos últimos anos. Diminuiu a margem para falhar?

O FC Porto nunca tem jogos com margem para falhar. Essa questão não entra na nossa filosofia: não há jogos para falhar; há jogos para acertar. Este é para acertar.

As muitas caras novas que tem sido obrigado a apresentar podem ser a causa da inconstância exibicional?

Não. Quero recordar que o Benfica surgiu logo à segunda jornada e o FC porto teve um comportamento muito bom. Devem estar recordados das expectativas antes do jogo, o que aconteceu depois e até a forma como foi tratado, inteligente por quem tem interesse que as coisas funcionem assim. Depois, com o Fenerbahçe, gostaria de recordar que FC Porto e Braga foram as únicas equipas portuguesas a ganhar os jogos europeus. Esse foi um jogo difícil, que comentei com sentido crítico e pedagógico. O ciclo que se aproxima, que inclui Paços de Ferreira, Arsenal e Sporting, está calendarizado há muito tempo. Sabemos das dificuldades e preparamo-nos para ela.

Os assobios não têm dono

Eu sabia que Quaresma ia fazer falta ao FC Porto. E não estou a falar dos dribles, nem dos cruzamentos de trivela e nem sequer dos golos. Esses, de uma forma ou de outra, Jesualdo Ferreira pode resolver com Rodríguez ou Hulk ou Candeias. Quaresma faz falta especialmente por causa dos assobios. Na última temporada, os adeptos do FC Porto nunca assobiavam a equipa, assobiavam Quaresma. E isso era um sossego. Por um lado, os companheiros que raramente se sentiam atingidos pela veia crítica dos adeptos e por outro, Quaresma raramente se sentia afectado pelos assobios, com o seu rendimento a variar muitas vezes na razão directa da intensidade dos mesmos. Agora é diferente. Ninguém sabe quem é que os adeptos do FC Porto assobiam ao certo, se têm um alvo específico ou se assobiam a equipa inteira e isso pode causar ansiedade em jogadores pouco habituados a tanta atenção. A única coisa certa, tal como o próprio previu há alguns meses, é que já não assobiam Quaresma.

Jorge Maia n' O Jogo

Os ratos e a caldeirada

O FC Porto tem sido uma placa giratória de jogadores sul-americanos. Se alguns são excelentes, muitos serão desnecessários ou chegam por valores que parecem desadequados ou empolados e partem de borla ou por valores reajustados.
Miguel Sousa Tavares tem sido o grande crítico desta política esbanjadora e descaracterizadora. Pelo meu lado, tenho questionado a relação incestuosa da SAD com empresários familiares, em detrimento dos conceituados, como Jorge Mendes, que trazem os melhores jogadores e negócios. Tenho, também, reservas sobre a política de empréstimos, porque são poucos os que são reaproveitados ou valorizados e sobre a formação, que gera poucos talentos e a quem depois não se concedem as oportunidades sucessivas que são dadas a recém-chegados que de craque só têm rótulo, salário e preço.

Tudo isto é maquilhado, graças à falta de comparência dos adversários domésticos, pelos resultados desportivos, e pago à custa de bons negócios na venda de activos. Mas, bastaram as más exibições, e a suspeita de que não foi colmatada a saída de três peças chave do plantel, para se ver que nem tudo vai bem no reino do dragão.

Ao contrário de Mourinho, que só despachava com o Presidente e não fazia fretes, Jesualdo tem avalizado essa política de contratações. Será ele a vítima dessa fraqueza, se a caldeirada azedar. É que, se não o recusou e até o gabou, não vai poder dizer, depois, que a culpa foi do fraco peixe ou de quem o comprou.

Mas, para desviar as atenções da causa do mal-estar, já há manobras internas para promover a discórdia, atacando o Presidente através da inócua e razoável participação da Senhora sua mulher no Conselho Cultural do clube, que nada tem que ver com a SAD. Um sinal de que os ratos andam inquietos e, por antecipação, a conter os danos...

Rui MOreira n' A Bola


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Capas de 25 de Setembro de 2008


Construir alicerces em campo minado

Talvez seja tudo uma questão de expectativas: algumas são mais difíceis de satisfazer do que outras. Talvez seja por isso que parece não haver muitas dúvidas de que algo não está bem com o FC Porto. Afinal, uma vitória e dois empates nos primeiros três jogos do campeonato está longe de corresponder às expectativas criadas ao longo dos últimos anos pelos tricampeões nacionais. Mas será que este é de facto um arranque em falso? Afinal, o FC Porto venceu de forma convincente o Belenenses na primeira jornada e foi ao Estádio da Luz arrancar um empate num jogo em que dominou um dos rivais históricos no seu próprio terreno. Falhar mesmo, o FC Porto só falhou com o Rio Ave. Pelo meio, ainda conseguiu uma vitória no arranque da Liga dos Campeões, que pela primeira vez nos últimos cinco anos, não foi em falso e ainda garantiu 600 mil euros. É evidente que este FC Porto é menos seguro do que o do ano passado e, tal como Jesualdo Ferreira costuma dizer, está em reconstrução. Começar a demoli-lo nesta fase só interessa aos adversários.

Jorge Maia n' O Jogo

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Taça de Portugal - terceira eliminatória

Sertanense-F.C. Porto.

FC Porto: em construção ou em desconstrução?

DEPOIS da vitória sobre o Fenerbahçe, quarta-feira passada, Jesualdo Ferreira queixou-se dos assobios escutados no Dragão, explicando aos sócios do FC Porto que havia que ser mais compreensivo com uma equipa «em construção», que entrou em jogo com cinco estreantes em competições europeias. Realmente, faz alguma confusão escutar os assobios quando se está a ganhar por 2-1 um jogo tão importante e quando já se tinha regalado o público com uns vinte minutos iniciais de fino futebol. O que aconteceu então, para os assobios?
Aconteceu, primeiro, que o público do Dragão se tornou, com o passar dos anos e das vitórias, no mais exigente público de futebol em Portugal. Ali, não nos basta ganhar, porque ganhar, felizmente, é coisa a que estamos bem habituados. Queremos também ver empenho nos jogadores, coragem nos treinadores e futebol que compense a ida ao estádio. É essa uma das características que, hoje em dia, mais nos distingue dos rivais lisboetas e, embora tal possa ser por vezes difícil de aceitar para a equipa, não deixa de ser motivo de orgulho para os portistas: no Dragão, não nos rebaixamos a contestar a arbitragem logo aos três minutos de jogo, como ainda recentemente sucedeu no Benfica-Porto; não queremos ver a equipe ganhar de qualquer maneira, mesmo jogando mal; não desprezamos os adversários e sabemos que, quando não se corre e não se joga bem, não adianta estar a culpar a arbitragem ou o sistema pelos desaires. Tomemos o exemplo de anteontem em Vila do Conde: se o árbitro tivesse marcado, como devia, aquele penalty a dez minutos do fim, teríamos ganho o jogo. Mas não foi por isso que não ganhámos, foi porque a equipa e o treinador só acordaram para a necessidade de ganhar quando já era tarde.

A segunda razão para os assobios no jogo contra o Fenerbahçe é conjuntural. Jesualdo diz que a equipa está em construção, mas o que se viu, passados os brilhantes vinte minutos iniciais, culminados com aquele golo displicentemente desperdiçado por Lisandro López, foi antes uma equipa em desconstrução. Circunstancialmente, os assobios irromperam, e de impaciência, à vigésima vez que o Mariano González estragou uma jogada, mas, no fundo, no fundo, os assobios eram… para Jesualdo Ferreira, ele próprio. Ainda não digerimos mais uma derrota com o Sporting, onde Jesualdo acumulou erros visíveis a olho nu; ainda não digerimos uma vitória tão fácil desperdiçada na Luz; e, contra o Fenerbahçe, o que o público sentiu foi que outra vitória perfeitamente ao alcance tinha passado a correr o risco de se esfumar — como esteve quase a acontecer quando o Helton, para não variar, deixou que a bola sobrevoasse duas vezes a sua zona de intervenção obrigatória, na primeira vez falhando a intercepção e sendo salvo pelo Rolando, e, na segunda vez, ficando pregado à baliza a ver o Guinze falhar o cabeceamento a dois metros da linha de golo.

A desconstrução desta equipa que no ano passado ganhou o campeonato em atitude de passeio, começou, é verdade, na SAD: a saída do Paulo Assunção destroçou a solidez do meio-campo; as saídas do Bosingwa e de Quaresma desfizeram um flanco inteiro e, no caso do saudoso nº 7, tal como eu previ, reduziu a capacidade ofensiva da equipa a menos de metade. Mas Jesualdo também ajudou, e muito, os problemas actuais:

— continuou convencido de que Helton dá garantias suficientes de tranquilidade e segurança e o que sucede é exactamente o contrário — é ele o grande destabilizador dos centrais e o factor primeiro de insegurança defensiva;

— adepto, e bem, do 4x3x3, viu sair o Quaresma e, mesmo assim, despachou uma série de extremos que muito jeito lhe poderiam dar: o Vieirinha, o Alan, o Pittbull, o Hélder Barbosa.

— coleccionou, nos últimos dois anos, uma quantidade infindável de trincos, nenhum dos quais oferece um mínimo de garantias, o que faz com que, de facto, só haja um trinco capaz e adaptado, que é o Raul Meireles;

— só que o Raul Meireles faz falta como médio de ataque porque, além dele, Jesualdo só tem o Lucho — de quem depende, neste momento, toda a capacidade ofensiva da equipa. Entretanto, deitou fora o Leandro Lima, o Luis Aguiar, o Ibson, o Diogo Valente. A solução poderia passar pelo recuo do Cristian Rodriguéz para médio — até porque a extremo tem sido uma decepção —,mas então, adeus 4x3x3;

— e, enfim chegamos à razão mais evidente para os assobios, eu diria mesmo gritante: a inexplicável insistência de Jesualdo Ferreira em Mariano González. Contra o Fenerbahçe (que eu vi atentamente e de bloco notas na mão), a primeira vez que se deu pelo Mariano em jogo foi aos 41 minutos, quando rasteirou um adversário. Durante toda a primeira parte, ele não fez uma finta, um passe de qualidade, um cruzamento, uma desmarcação ou até uma intercepção: repetiu a dose contra o Rio Ave e, como Jesualdo poderá constatar revendo os vídeos, é um jogador que, depois de perder a bola (o que acontece quase sempre que a recebe) fica parado no mesmo sítio. Aos 51 minutos do jogo contra os turcos, o Mariano, após um ressalto feliz, ficou isolado perante o guarda-redes: a forma como rematou aquela bola, seria suficiente, se mais não houvesse no seu registo, para mostrar à exuberância que ele tem limitações técnicas que são inadmissíveis num jogador de uma equipa supostamente de topo. Não há um adepto portista que não prefira ver o Candeias, ou o Tarik, mesmo em Ramadão, ou o Hulk, no lugar do Mariano. Só Jesualdo Ferreira persiste e persiste na sua teimosia, revelando um grau de proteccionismo a este jogador que, para mim, não encontra justificação… nem perdão.

É claro que quem percebe de futebol é Jesualdo, não sou eu. Mas tenho sobre ele uma vantagem, enquanto observador: há vinte anos que eu vejo todos, todos, os jogos do FC Porto. Olhando para um jogo como o de anteontem, em Vila do Conde, há uma coisa que eu já sei e que Jesualdo já podia saber, com a experiência que leva da equipa: estes são os jogos que mais facilmente se tornam difíceis para uma equipa como o FC Porto. Os jogadores vão mudando, os treinadores e os métodos também, mas há coisas que permanecem imutáveis: num campo pequeno, com equipas fechadas na defesa e um guarda-redes que vai de certeza fazer a exibição da época, uma equipa de ataque e de espaços, como o FC Porto é desde há muito, vai sofrer com a falta de terreno, de ar… e de tempo. Só há uma solução para evitar problemas e o desespero no final: é carregar desde o primeiro minuto, até chegar ao golo e obrigar, então, o adversário a abrir espaços, porque tem de tentar o empate. Ora, não sendo bruxo, aos 3 minutos do jogo de Vila do Conde, eu estava a mandar uma mensagem a um amigo portista: «Desconfio que isto vai correr mal!». E porquê? Porque bastou ver a atitude displicente, pouco empenhada, de quem acha que tem todo o tempo do mundo, com que alguns jogadores entraram em campo, para perceber que aquilo se poderia complicar, com duas bolas na trave, um penalty por marcar, etc.

Quando, dois pontos perdidos sem razão nem brio, Jesualdo Ferreira veio queixar-se da hora inteira de sonolência a que a equipa se tinha entregue, cabe perguntar se a responsabilidade não será, primeiro que tudo, dele próprio. Quem falhou a passar a mensagem de que aquilo era para tentar resolver a partir do minuto 1 e não do minuto 61? Quem demorou uma hora inteira a ver o Mariano entregar jogo aos adversários até finalmente reagir? Quem demorou uma hora inteira a perceber que precisava de flanquear o jogo e, para isso, precisava de flanqueadores como o Candeias?

Uma das coisas de que tenho saudades do génio trapalhão do António Oliveira é disto: com ele, bastavam os primeiros 15 ou 20 minutos em que as coisas não funcionavam, para ele começar a mexer na equipa. Porque, como cantava o Vandrei, «quem sabe, faz a hora; não espera acontecer». É verdade, verdadíssima, que a procissão ainda vai no adro e que nada é irreversível. Daqui a uns tempos, acredito que o FC Porto poderá estar de volta ao caminho certo. Mas, para isso, é preciso mudar o que está mal e pode ser mudado, e não ficar à espera que as coisas mudem por si mesmas.



Miguel Sousa Tavares n' A Bola

Capas de 23 de Setembro de 2008


domingo, 21 de setembro de 2008

Empate

Rio Ave 0 - FCPorto 0. Depois admirem-se de ser assobiados.

Do Dragão Penta Campeão.

Andebol - classificação

Superleague Formula

FCPorto em 6,º lugar na Superleague Formula:



Capas de 21 de Setembro de 2008


A derrota dos farsantes

O Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) tornou público o acórdão relativo à sua sentença de 15 de Julho. Conhecia-se, desde então, a derrota do Benfica e também do Vitória de Guimarães. Mas este documento vai mais longe e arrasa a (in)justiça desportiva portuguesa. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, atinge também a sacrossanta Comissão Disciplinar da Liga. A UEFA fica em maus lençóis e terá que alterar o regulamento da sua mais importante prova, como há muito se percebera. Agora, para que tudo fique bem, o FC Porto precisa de usar todas as suas armas diplomáticas para demonstrar na Europa que foi perseguido pela justiça desportiva portuguesa, e denunciar o comportamento ofensivo do inefável senhor Platini.
Naturalmente, e com as coisas a correrem de feição, não falta quem defenda com redobrada convicção que o FC Porto adoptou uma estratégia certa: que fez bem em não ter recorrido, que tudo estava planeado, que não foi surpreendido com as complicações que surgiram na UEFA…

Ora, e desde logo, não há uma relação de causa a efeito. Porque, se o FC Porto o tivesse feito e tivesse recorrido da sentença, o TAS não decidiria, seguramente, de forma diferente. E, não ficaríamos apenas com a razão. Ficaríamos, também, com a nossa honra intocada. Além disso, o TAS pode não saber, e nunca o consideraria relevante, mas nós sabemos, que a tese vitoriosa — de que o recurso do presidente aproveita ao clube — não foi sequer planeada de início. Foi, e esse mérito é inegável, uma proeza hábil, um expediente tardio e bem sucedido, em que o FC Porto conseguiu que os processos fossem conexos.

O que mais me importa, como sempre disse, é a honra e a glória e não me importo nada que me acusem de romantismo. Não consigo, é verdade, ter uma relação oportunista e racional com questões que envolvem a honra e o bom nome.

Rui Moreira n' A Bola