quarta-feira, 6 de maio de 2009

Os olhares da "máquina"

O FC Porto chega a este final da época perdendo peças da máquina pelo caminho. Lucho, Hulk, Raul Meireles na ultima viagem à Madeira. Em nenhum momento, porém, a equipa abalou na organização de jogo. Por isso, conseguiu manter a dinâmica. Claro que se notaram algumas sombras no jogo, mas os grandes valores permanecem. A questão é, sem os intérpretes-chave, manter a conexão ideológica em campo.

Ponto principal: a velocidade da bola e a velocidade dos jogadores. Eis uma boa forma de pensar em Lucho. E, na sua ausência, ver os mistérios do seu jogo, que muitos acusavam sem chama. Viam-no correr menos, talvez, mas viam a bola correr mais. Em posse de bola, o FC Porto fez da velocidade de circulação defesa-ataque, variando o jogo de flanco, a principal expressão dinâmica da sua organização de jogo. Bases: jogo posicional e leitura de jogo (os dois vectores cruzados que, em movimento, criam as linhas de passe). Um bom primeiro toque é fundamental. Como tem Raul Meireles, herói discreto.

Há equipas que correm muito mais do que a do FC Porto, mas vêem muito menos a bola. E quando a têm, circulam-na devagar, porque não têm a organização no mesmo nível. E sem ela, esqueçam a dinâmica. Sem Lucho e Meireles (desde os 20 minutos) na Madeira, com Guarin e Tomas Costa, o FC Porto manteve a Equipa porque os jogadores (mesmo os menos diferentes) souberam manter a sistematização de princípios que a organização contempla.

Mais do que ter jogadores capazes de jogar em posições diferentes, o mais importante no futebol actual, na operacionalização da grande organização de jogo, é ter jogadores capazes de fazer a mesma posição, ou jogar nos mesmos espaços, de diferentes formas. Mais que polivalentes que fazem de médios ou avançados, ter jogadores multifunções que interpretam papeis diferentes (dando outras dinâmicas) a partir do mesmo lugar. Como fez Meireles a invadir os espaços órfãos de Lucho, ou como Lisandro ocupa e move-se a partir dos três corredores do ataque de forma diferente mas com a mesma qualidade. Esta expressão só é possível quando as peças conhecem como funciona a máquina (sua organização). É esta a base do título azul-e-branco. A cultura táctica.

Luís Freitas Lobo n' A Bola.

1 comentário:

António Almeida disse...

Respeito muito o Sr. Freitas Lobo, pois a opinião dele é muito importante para validarmos as nossas próprias opiniões mas digo uma coisa é tão bom vê-lo a engolir sapos.