segunda-feira, 11 de maio de 2009

O professor

TALVEZ a partir de hoje, ou hoje mesmo, muitos dos analistas — de cineastas a médicos, de empresários a ex-treinadores adjuntos — vão munir-se de um dicionário de adjectivos qualificativos para classificarem o feito de Jesualdo Ferreira ao tornar-se no primeiro técnico português a conquistar três campeonatos consecutivos, no caso, ao serviço do FC Porto. Os mesmos analistas que despejaram adjectivos pouco abonatórios nas fases mais críticas do FC Porto nestes últimos tempos. E pode até dizer-se que se esgotaram as habilidades para desvalorizar a hegemonia portista, habilidades que chegaram ao ponto de se dizer que o treinador do V. Setúbal facilitou a vida ao FC Porto quando fez duas substituições no Dragão e a partir daí foi o caminho aberto para a vitória. No lugar de Carlos Cardoso, treinador em sacrifício dos setubalenses, acho que ia para além das palavras de desagrado. Há tribunais. Quem percebe de cinema devia ficar por ali, pelo cinema.
Jesualdo, identificado como benfiquista, vestiu a camisola do FC Porto e colocou toda a sua sabedoria e experiência ao serviço do clube.

Simplesmente, porque leva muito a sério a palavra profissional. Mas não é de hoje, porque o professor não aprendeu a ser treinador no dia em que entrou no Dragão. Alguém se marimbou para o talento deste transmontano cheio de história de vida e com uma vida cheia de estórias.

Jesualdo ganhou o tetra e não o fez sozinho. Os jogadores, os seus adjuntos — e até esses foram achincalhados no dia em que o professor não pôde ir para o banco no jogo com o Manchester — , a equipa médica, toda a estrutura de apoio portista, a começar pela visão de Antero Henrique, sempre com o apoio e a destreza histórica de Pinto da Costa, eternamente desconcertante, estão de parabéns pelo tetra. O resto, é treta.

PS: Receio que alguns programas televisivos de análise à «jornada anterior» sejam um chorrilho de bajulações. Oh, como eu me divirto neste admirável Portugal.

Carlos Pereira Santos n' A Bola.

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