quarta-feira, 8 de abril de 2009

A semana de Jesualdo

FOI um belo resultado e uma excelente exibição que o FC Porto fez, ontem à noite, em Old Trafford. Comprovando que só em situações raras - numa eliminatória em que tudo corra de feição, conjugando a perfeição colectiva com momentos de inspiração individual - o campeão português poderá aspirar a ultrapassar algum dos grandes potentados que formam o primeiro pelotão do futebol europeu: Liverpool, Barcelona, AC Milan, Chelsea, Real Madrid, Inter, além, claro, do Manchester United de Alex Ferguson.
O empate a duas bolas de ontem confirmou que só o erro infantil de Bruno Alves, oferecendo de bandeja o primeiro golo aos ingleses, impediu que a exibição portista atingisse a perfeição colectiva. Com toda a equipa, de Helton a Cristian Rodriguez, passando por Fernando e Cissokho, a revelar um rendimento elevadíssimo e a demonstrar enorme autoconfiança com um futebol de grande qualidade.

Na primeira parte, o FC Porto mandou em Old Trafford, silenciou as bancadas e foi sempre superior ao Manchester: mais remates (10 contra 4), mais disparos à baliza (6 contra 2) e menos faltas (3 contra 5). No segundo tempo, a equipa de Ferguson foi mais pressionante, mas deparou com uma defesa portista concentradíssima e um Helton quase insuperável. Que só um lance de inspiração da dupla Rooney-Tévez conseguiu bater.

O 2-2 é um resultado favorável e moralizador, mas com uma equipa como o Manchester a eliminatória está longe de se encontrar decidida. Na próxima semana, no Dragão, só uma nova exibição portista a roçar a perfeição (e sem erros fatais…) permitirá concretizar o feito de afastar da Liga dos Campeões o actual detentor do troféu.

Aantecipar a exibição em Inglaterra, o FC Porto fizera, dias antes, em Guimarães, uma afirmação de autoridade da sua liderança e uma prova da superioridade do seu futebol a nível doméstico.

Ultrapassando, de forma categórica e com o mérito de virar um resultado desfavorável, aquele que era, em teoria, um dos desafios de maior dificuldade na sua recta final do Campeonato (o outro é a visita ao estádio do Marítimo), o FC Porto consolidou o seu estatuto de favorito à conquista do título de campeão. Vencida, de forma clara e incontestável, a batalha de Guimarães, restam à equipa de Jesualdo Ferreira sete jornadas e a possibilidade de empatar dois jogos sem perder a liderança da prova.

Acresce que cinco desses sete desafios (E. Amadora, Académica, V. Setúbal, Marítimo e Nacional) são exactamente os mesmos que o Sporting, 2.º classificado, terá também pela frente nas últimas cinco jornadas, bastando aos portistas não fazer piores resultados que os sportinguistas para não perderem a sua vantagem.

Só uma 2.ª volta tão periclitante como a de há duas épocas, quando o FC Porto deixou reduzir a sua distância pontual de 7 pontos sobre o Sporting para um escasso e inseguro ponto de avanço no final (cedendo 2 empates e 4 derrotas, perdendo 16 pontos), poderá pôr em causa a actual liderança portista. Mas a equipa azul-e-branca tem, nesta 2.ª volta da corrente época, um confortável registo de 6 vitórias e apenas 2 empates.

EJesualdo Ferreira poderá, assim, entrar na história do FC Porto com a conquista do segundo tetracampeonato do clube. Chamando a si o feito que nenhum outro treinador conseguiu no Dragão: o de vencer três Campeonatos consecutivos. Jesualdo pode agora, depois da má experiência no Benfica em 2002 e das três épocas e meia de sucesso no Sp. Braga, somar três títulos de campeão em três anos no comando técnico da equipa portista. E esta época até está à beira de vencer também a Taça de Portugal, troféu que ainda não ganhou na sua carreira, inscrevendo-se no círculo restrito de técnicos que alcançaram a 'dobradinha'.

Diz-se, nas últimas duas décadas, que qualquer treinador do FC Porto se arrisca a ser campeão. E é indiscutível que os recursos aplicados no futebol portista continuam a ser muito superiores aos dos seus concorrentes directos, com o orçamento para o plantel a ser quase o dobro, por exemplo, daquele que Paulo Bento tem no Sporting. O que permite a contratação regular de internacionais argentinos, brasileiros e de outros países.

Tal como é reconhecido que o modelo organizativo e a disciplina de grupo que há muito se impuseram no Dragão, bem como a capacidade de influência e pressão da superestrutura portista, são factores que ajudam ao êxito dos treinadores que chegam ao FC Porto.

Ainda assim, Jesualdo Ferreira pode chegar a Maio fazendo mais e melhor do que todos os seus antecessores. À excepção de Mourinho, claro. Já não é pouco.

José António Lima n' A Bola.

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