quarta-feira, 22 de abril de 2009

Isto está uma desbunda

Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira

n' A Bola:

O JOGO com o E. Amadora representa mais uma etapa rumo à dobradinha, uma vez que o FC Porto também lidera o campeonato?
— Esta é apenas mais uma etapa para chegar à final da Taça de Portugal. Vamos à Amadora para ganhar a eliminatória, sem esquecer que temos uma vantagem de dois golos e que este é um jogo que vale precisamente por golos e não por pontos.

— A perspectiva de vencer Campeonato e Taça colocam-no na linha de dois históricos treinadores portugueses, José Maria Pedroto e José Mourinho, que tiveram esse sucesso pelo FC Porto. É reconfortante saber disso?

— Ainda não cheguei lá, não ganhámos nada. Deus queira que isso aconteça mas ainda é muito cedo, aguardemos pelo final da época, antes de tudo queremos chegar à final da Taça e depois temos mais cinco jogos para sermos campeões.

— O adversário do FC Porto parece um pouco mais vulnerável nesta fase da temporada...

— Vou responder com honestidade: é natural que isso possa acontecer. Mas não posso esquecer as dificuldades que tivemos para ganhar na Amadora para o Campeonato, temos muito respeito pelos profissionais daquela equipa e muito respeito por esta competição.

— Como se motiva uma equipa que pouco depois de defrontar o Man. United chega à meia-final da Taça de Portugal com dois golos de vantagem?

— A motivação nunca foi problema no FC Porto. Para alcançar os objectivos temos de jogar nos limites, não temos direito a falhar.

— Fucile pode voltar a jogar imediatamente?

— Está convocado e isso é um bom sinal. É muito importante para nós chegar a esta fase da temporada e ter todos os jogadores em condições de ajudar a equipa, com excepção do Lucho.

— Haverá muitas alterações na equipa em relação aos últimos jogos?

— Vão jogar aqueles que podem garantir o melhor rendimento, as minhas escolhas são sempre determinadas por isso. Temos de correr e ter atitude séria e competitiva.

— O E. Amadora passa por grandes dificuldades financeiras mas o problema é extensivo a outros clubes. Não teme que o futebol português possa desmoronar, que o futuro esteja em risco?

— O futebol português chegou ao momento em que as grandes decisões têm de ser tomadas. Se serão, não sei, não tem havido trabalho de antecipação quando a estratégia passa por montar as coisas antes delas aconteceram. Em Portugal não se antecipa nada, reage-se depois de surgir o problema quando devia acontecer o contrário.

— Então, não é apenas a questão salarial a estar em causa.

— Onde estão as soluções para as fracas assistências, para a pouca qualidade de jogo? Temos 15 horas de programas semanais na televisão sobre futebol e 80 por cento das discussões são parciais sobre a arbitragem. Eu não vejo todos esses programas, porque não posso nem quero, mas fala-se desses temas com uma parcialidade... A discussão não é feita sobre o essencial, discute-se o supérfluo, portanto as coisas não avançam.

— Está a querer dizer que a vitória do FC Porto em Coimbra foi beliscada devido ao lance com a mão por Raul Meireles dentro da área?

- Está a ver...é um dos exemplos que quero dar. Essa é que é a discussão, é o descalabro, a desbunda. Só se fala disso e fala-se com um à-vontade e uma parcialidade que quem ouve não pode encarar as coisas a sério. Não sei se há volta a dar, eu não irei fazê-lo de certeza, os responsáveis é que têm de fazer isso. Discutimos coisas fúteis, o essencial não é discutido, a Imprensa é que pode dar a informação às pessoas do que se passa. Eu não sei o que se passa nos gabinetes dos ministros, no de Obama... A Imprensa tem vindo a dar informações, não intervém no que são as ideias sobre os problemas do futebol português.

n' O Jogo:

Os salários em atraso do Estrela serviram de ponto de partida para uma conclusão preocupante de Jesualdo Ferreira: estratégia, no futebol português, só mesmo dentro do relvado. Fora dele, é o descalabro total, porque, diz, ninguém pensa nos problemas concretos. Depois, como se não bastassem as preocupações sobre os salários, as fracas assistências ou a calendarização deficiente, só para citar alguns, o treinador apontou o dedo aos comentadores. Comentam tudo, essencialmente arbitragem, percebam ou não. O resultado é o futebol que temos.

Vai defrontar uma equipa que tem salários em atraso e, longe disso, não é caso único em Portugal. Estas questões preocupam-no? O futebol português pode estar em risco?

Em Portugal, temos por norma nunca antecipar nada. Somos reactivos; reagimos às coisas. Normalmente, não reagimos pelos melhores caminhos, porque nunca pensamos no problema. Não direi que seja em todas as áreas. As coisas acontecem, reagimos e nem sempre acertamos. O futebol português chegou a um momento em que as grandes decisões têm de ser tomadas, e acredito que não irão ser. Porquê? Porque nada está feito para trás, não há trabalho de casa. Medidas avulso não resolvem nada. Estou a dizer isto e não me refiro a ninguém em especial. É que também estou metido no futebol. Digo isto com a segurança de que muitas coisas aconteceram e ninguém as antecipou. As grandes evoluções fazem-se quando se antecipa o que pode vir a acontecer. A estratégia monta-se antes de as coisas acontecerem.

Então e agora, não há volta a dar?

Volta a dar? Não sei. Eu não a darei, seguramente. Os responsáveis estão a ver se conseguem. Mas, que está mal, está. Curiosamente, continuamos a discutir coisas supérfluas do jogo, coisas que têm um interesse relativo. O essencial não é tratado. Mas isto faz parte de nós, da nossa forma de viver e de estar. A Imprensa - e, quando me refiro a ela, digo que se trata do veículo que pode dar às pessoas a informação do que se está a passar, porque as pessoas não sabem o que se passa nos gabinetes da presidência, dos ministros ou do Obama - é um factor fundamental, não só do que é o conhecimento como a projecção de qualquer solução. A Imprensa tem vindo a dar informações que entendemos serem credíveis, tanto em discurso directo como em informações paralelas, mas quais são as ideias sobre os problemas do futebol português? Não estou a dizer que a Imprensa é interventiva ou que faz doutrina. Onde estão as soluções? Já as escreveram? Já lhes propuseram algo? A questão é esta: não há trabalho de casa e não há estratégia futura. Não estou a ficar fora deste problema. Tento fazer o melhor, tal como os jogadores e tal como os dirigentes. Toda a gente tenta fazer o melhor, mas não vejo nenhuma estratégia que resolva o problema da pouca assistência, da qualidade do jogo, dos calendários, do negócio do futebol, da seriedade com que as coisas são entendidas, que dê capacidade para a Imprensa se voltar para aquilo que é o jogo e não para as coisas secundárias. Para terminar, temos 15 horas semanais de programas sobre futebol na televisão, para além dos jornais, e garanto-vos que 80 por cento das discussões sobre arbitragem são parciais. Dizem o que viram e o que não viram. É esta a discussão do futebol. Façam as contas e vão às grelhas televisivas, vejam as horas que estão no ar e as audiências. A grande discussão não é sobre o essencial, e, como não é assim, as coisas não avançam. Há uns anos, a discussão era a mesma...

A propósito, sentiu que a vitória do FC Porto em Coimbra foi beliscada?

Está a ver? Cá está lançada a questão normal. Não vejo todos os programas, porque não posso e porque às vezes não quero, mas é essa a discussão do futebol português há anos e anos. Actualmente é a desbunda. É um descalabro, toda a gente a falar do mesmo. Só se fala disso [ de arbitragem ] e o que é mais grave é que se fala destes temas com à-vontade, com uma facilidade e um conhecimento das situações inacreditáveis. Fala-se com uma parcialidade que ninguém encara as coisas a sério. É esta a realidade.

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