O próximo jogador do FC Porto a ser posto fora de combate vai ser o Lisandro López. Porquê? Ora, basta ter visto o FC Porto-Vitória de Setúbal de anteontem para o perceber: porque ele é, neste momento, o mais influente e decisivo jogador da equipa e porque, na ausência do Hulk — já devidamente arrumado — transformou-se agora no alvo a abater pelos defesas contrários. Como, ao contrário de comentadores de outras áreas clubísticas, não tenho uma visão sistematicamente conspirativa do que acontece no nosso campeonato, não digo nem penso que a pancadaria que o Hulk foi levando até ser posto fora do campeonato e a que o Lisandro já começou a levar seja um serviço encomendado. Mas o que sei é que faltam quatro jogos e, sem o Lucho, o Hulk e o Lisandro, os quatro pontos de vantagem do FC Porto sobre o Sporting parecem curtos e o campeonato pode ficar reaberto. E, pese à boa imprensa que alguns deles têm, eu — e as bancadas do Dragão — sabemos bem que aquele é o pior banco de suplentes de que há memória: Stepanov, Tomás Costa, Andrés Madrid, Guárin, Mariano, Fárias, todos juntos não valem um jogador médio. Por isso, e apesar de o FC Porto entrar agora num ritmo de competição em pé de igualdade com Benfica e Sporting, a coisa já esteve mais desanuviada.
Bem pode o Paulo Bento fazer-se de desentendido e dizer a aleivosia de que os árbitros não têm de estar mais atentos a que um grande jogador possa jogar do que um jogador banal (como se alguém se preocupasse em arrumar um mau jogador…). A verdade é que, se em lugar do Hulk, tem sido o Liedson a ser arrumado pelo Ney, a esta hora já ninguém suportava ouvir o Paulo Bento. Porque, como ainda este fim-de-semana se viu contra o Estrela, não fosse o génio do Liedson, e o Paulo Bento estava a ver o título e a Liga dos Campeões por um canudo. Assim, confortado pelo facto de o Liedson, apesar de também decisivo, não ter sofrido uma única falta durante o jogo (assim como o Ney, não cometeu uma única falta…), confortado com três pontos muito pouco justificados no futebol apresentado, Paulo Bento lá se permitiu mais uma das suas cenas de histeria contra todos e contra o mundo em geral, porque o árbitro (bem ou mal, nunca percebi se há regra ou não), deixou que o Estrela cobrasse um livre sem apitar e da cobrança do livre — graças ao desatino do Rui Patrício e dos centrais — o Sporting esteve à beira de ver fugir dois pontos ao minuto 90. E o Paulo Bento lá saíu do campo, como é seu hábito, a esbracejar, a invectivar o juiz-de-linha e sem sequer olhar o treinador adversário enquanto o cumprimentava, a ver se assim disfarçava o constrangente facto de o Sporting ter acabado um jogo em Alvalade e contra os «amadores» do Estrela, enfiado na sua grande área, a defender de pontapé para a frente, a magra vantagem conseguida pelo talento de Liedson.
Aconteceu, aliás, em Alvalade, uma das melhores arbitragens a que já assisti neste campeonato, sem a menor razão de queixa, de parte a parte. Mas o público de Alvalade assobiou, de princípio a fim e como é seu hábito, todas e cada uma das decisões do árbitro contra o Sporting, e acabou a gritar «gatuno»por causa do tal livre que lançou o pânico na defesa do Sporting e nas bancadas do estádio. Como alguém escreveu há dias, o único árbitro que eles não contestariam era o próprio Paulo Bento. Não sei se é assim que esperam ganhar campeonatos, mas é assim que esperam ganhar a lenda: mentir, tantas e tantas vezes, até que se crie a ideia de que a mentira é verdade. Não inventaram nada.
Entretanto, o que eu sei é que uma comunicação social que foi capaz de passar uma semana a discutir como escândalo do mês a mão do Raul Meireles em Coimbra (numa vitória, todavia, dilatada e de mérito indiscutível do Porto), passou, como facto menor, sobre a maneira científica como o tal Ney mandou o Hulk para os balneários, no jogo da Taça, na Amadora, a meio da semana. E se houve crime anunciado foi este! Há meses que se percebia que o desfecho teria de ser assim: à medida que Hulk foi crescendo e explodindo, de jogo para jogo, à medida que a sua velocidade e o seu poder fisico começaram a encaixar na qualidade técnica, fazendo dele o «caso» do campeonato, tornou-se cada vez mais evidente que a fórmula pré-estabelecida de o travar era à pancada. E ele foi aguentando, aguentando, caindo e levantando-se, até chegarmos ao vergonhoso espectáculo de Guimarães, sobre o qual aqui escrevi então. Em Guimarães, logo ao minuto primeiro, o Hulk arrancou, deixou um, dois, três adversários para trás e, quando ia a isolar-se na área para o golo, levou uma trancada tamanha, que não era apenas para travar a jogada, era para intimidar e deixar marcas. Como era o minuto um, o árbitro nada fez, senão assinalar a falta. E os jogadores do Guimarães, claro, perceberam a mensagem: é fartar vilanagem! Seguiu-se uma autêntica, desenfreada e impune caça ao homem, até que Jesualdo Ferreira percebeu que mais valia tirar o desgraçado do Hulk do jogo do que perdê-lo para o resto do campeonato. Mas apenas adiou a sentença quinze dias: na Amadora, repetiu-se o processo desde o princípio e bastaram dez minutos para que a época estivesse acabada para um dos melhores, se não o melhor jogador deste campeonato. E o árbitro, uma vez mais, magnânimo: nem vermelho, como se impunha, nem sequer amarelo — apenas uma ligeira advertência ao jogador, do tipo «é pá, não dês muitas mais dessas, se não tenho de te mostrar um cartão e eu detesto isso».
E este fim-de-semana, lá estava o árbitro em actividade e o Ney a jogar em Alvalade e a portar-se como um cordeirinho. Só o Hulk é que, azar, só volta para o ano! Já vi este filme há dois anos, no Dragão, quando o Katsouranis teve uma entrada assassina sobre o Anderson, partiu-lhe a tíbia e o peróneo, rompeu-lhe os ligamentos do joelho, arrumou com ele seis meses, e o inefável Lucílio Baptista assistiu a tudo a dois metros de distância e achou que aquilo não valia nem um amarelo. E a seguir foi o Lisandro e a história repetiu-se, tal qual. Mas, desde que os «azarados» sejam jogadores do FC Porto, a quem é que isso incomoda? Preferem é continuar a alimentar a lenda de que jogador violento só há o Bruno Alves. Pois, mas o Bruno Alves fez agora quatro jogos de seguida na Liga dos Campeões sem cometer uma única falta e, não sei porquê, está na lista de compras dos principais clubes europeus, à frente de qualquer outro jogador português (deve ser por ser violento…).
Já aqui elogiei o Paulo Bento, como treinador, e, por isso estou à vontade para dizer que as suas declarações a propósito da lesão do Hulk foram lamentáveis. Lamento que alguém que faz carreira no futebol e que foi jogador muitos anos, quando, confrontado com a lesão do Hulk, em lugar de se fazer de desentendido e aproveitar para, mais uma vez, investir contra moinhos de vento, não tenha tido o fair-play de dizer isto. «É uma vantagem para nós, que não desejávamos. Um dos melhores jogadores do campeonato foi afastado por uma entrada de um adversário, que não é admíssivel. Se tivesse sido com um jogador meu, eu estaria justamente indignado». Mas parece, infelizmente, que esse espírito é demais para certos espíritos. E depois queixam-se os sportinguistas de que não há público em Alvalade nem militância no clube. E, se amanhã partirem uma perna ao Liedson, ainda haverá menos. Mas, olhem, no Dragão há público. Mesmo que a gente saiba que, por cada um que é abatido em combate, não há , nesta equipa, nenhum suplente minimamente capaz de lhe tomar o lugar.
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
Bem pode o Paulo Bento fazer-se de desentendido e dizer a aleivosia de que os árbitros não têm de estar mais atentos a que um grande jogador possa jogar do que um jogador banal (como se alguém se preocupasse em arrumar um mau jogador…). A verdade é que, se em lugar do Hulk, tem sido o Liedson a ser arrumado pelo Ney, a esta hora já ninguém suportava ouvir o Paulo Bento. Porque, como ainda este fim-de-semana se viu contra o Estrela, não fosse o génio do Liedson, e o Paulo Bento estava a ver o título e a Liga dos Campeões por um canudo. Assim, confortado pelo facto de o Liedson, apesar de também decisivo, não ter sofrido uma única falta durante o jogo (assim como o Ney, não cometeu uma única falta…), confortado com três pontos muito pouco justificados no futebol apresentado, Paulo Bento lá se permitiu mais uma das suas cenas de histeria contra todos e contra o mundo em geral, porque o árbitro (bem ou mal, nunca percebi se há regra ou não), deixou que o Estrela cobrasse um livre sem apitar e da cobrança do livre — graças ao desatino do Rui Patrício e dos centrais — o Sporting esteve à beira de ver fugir dois pontos ao minuto 90. E o Paulo Bento lá saíu do campo, como é seu hábito, a esbracejar, a invectivar o juiz-de-linha e sem sequer olhar o treinador adversário enquanto o cumprimentava, a ver se assim disfarçava o constrangente facto de o Sporting ter acabado um jogo em Alvalade e contra os «amadores» do Estrela, enfiado na sua grande área, a defender de pontapé para a frente, a magra vantagem conseguida pelo talento de Liedson.
Aconteceu, aliás, em Alvalade, uma das melhores arbitragens a que já assisti neste campeonato, sem a menor razão de queixa, de parte a parte. Mas o público de Alvalade assobiou, de princípio a fim e como é seu hábito, todas e cada uma das decisões do árbitro contra o Sporting, e acabou a gritar «gatuno»por causa do tal livre que lançou o pânico na defesa do Sporting e nas bancadas do estádio. Como alguém escreveu há dias, o único árbitro que eles não contestariam era o próprio Paulo Bento. Não sei se é assim que esperam ganhar campeonatos, mas é assim que esperam ganhar a lenda: mentir, tantas e tantas vezes, até que se crie a ideia de que a mentira é verdade. Não inventaram nada.
Entretanto, o que eu sei é que uma comunicação social que foi capaz de passar uma semana a discutir como escândalo do mês a mão do Raul Meireles em Coimbra (numa vitória, todavia, dilatada e de mérito indiscutível do Porto), passou, como facto menor, sobre a maneira científica como o tal Ney mandou o Hulk para os balneários, no jogo da Taça, na Amadora, a meio da semana. E se houve crime anunciado foi este! Há meses que se percebia que o desfecho teria de ser assim: à medida que Hulk foi crescendo e explodindo, de jogo para jogo, à medida que a sua velocidade e o seu poder fisico começaram a encaixar na qualidade técnica, fazendo dele o «caso» do campeonato, tornou-se cada vez mais evidente que a fórmula pré-estabelecida de o travar era à pancada. E ele foi aguentando, aguentando, caindo e levantando-se, até chegarmos ao vergonhoso espectáculo de Guimarães, sobre o qual aqui escrevi então. Em Guimarães, logo ao minuto primeiro, o Hulk arrancou, deixou um, dois, três adversários para trás e, quando ia a isolar-se na área para o golo, levou uma trancada tamanha, que não era apenas para travar a jogada, era para intimidar e deixar marcas. Como era o minuto um, o árbitro nada fez, senão assinalar a falta. E os jogadores do Guimarães, claro, perceberam a mensagem: é fartar vilanagem! Seguiu-se uma autêntica, desenfreada e impune caça ao homem, até que Jesualdo Ferreira percebeu que mais valia tirar o desgraçado do Hulk do jogo do que perdê-lo para o resto do campeonato. Mas apenas adiou a sentença quinze dias: na Amadora, repetiu-se o processo desde o princípio e bastaram dez minutos para que a época estivesse acabada para um dos melhores, se não o melhor jogador deste campeonato. E o árbitro, uma vez mais, magnânimo: nem vermelho, como se impunha, nem sequer amarelo — apenas uma ligeira advertência ao jogador, do tipo «é pá, não dês muitas mais dessas, se não tenho de te mostrar um cartão e eu detesto isso».
E este fim-de-semana, lá estava o árbitro em actividade e o Ney a jogar em Alvalade e a portar-se como um cordeirinho. Só o Hulk é que, azar, só volta para o ano! Já vi este filme há dois anos, no Dragão, quando o Katsouranis teve uma entrada assassina sobre o Anderson, partiu-lhe a tíbia e o peróneo, rompeu-lhe os ligamentos do joelho, arrumou com ele seis meses, e o inefável Lucílio Baptista assistiu a tudo a dois metros de distância e achou que aquilo não valia nem um amarelo. E a seguir foi o Lisandro e a história repetiu-se, tal qual. Mas, desde que os «azarados» sejam jogadores do FC Porto, a quem é que isso incomoda? Preferem é continuar a alimentar a lenda de que jogador violento só há o Bruno Alves. Pois, mas o Bruno Alves fez agora quatro jogos de seguida na Liga dos Campeões sem cometer uma única falta e, não sei porquê, está na lista de compras dos principais clubes europeus, à frente de qualquer outro jogador português (deve ser por ser violento…).
Já aqui elogiei o Paulo Bento, como treinador, e, por isso estou à vontade para dizer que as suas declarações a propósito da lesão do Hulk foram lamentáveis. Lamento que alguém que faz carreira no futebol e que foi jogador muitos anos, quando, confrontado com a lesão do Hulk, em lugar de se fazer de desentendido e aproveitar para, mais uma vez, investir contra moinhos de vento, não tenha tido o fair-play de dizer isto. «É uma vantagem para nós, que não desejávamos. Um dos melhores jogadores do campeonato foi afastado por uma entrada de um adversário, que não é admíssivel. Se tivesse sido com um jogador meu, eu estaria justamente indignado». Mas parece, infelizmente, que esse espírito é demais para certos espíritos. E depois queixam-se os sportinguistas de que não há público em Alvalade nem militância no clube. E, se amanhã partirem uma perna ao Liedson, ainda haverá menos. Mas, olhem, no Dragão há público. Mesmo que a gente saiba que, por cada um que é abatido em combate, não há , nesta equipa, nenhum suplente minimamente capaz de lhe tomar o lugar.
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
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