domingo, 26 de abril de 2009

Jesualdo quer ficar mais um ano

Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira n' O Jogo:

"Onde é que estava no 25 de Abril?" A pergunta costuma ser esta, mas, ontem, Jesualdo ouviu-a de maneira diferente - "Onde conta estar no 25 de Abril do próximo ano?" Foi uma maneira de abordar a renovação que tarda e que ainda é assunto tabu. O treinador lá foi dizendo que, por ele, continua no FC Porto...

Jesualdo Ferreira cedeu, pela primeira vez, à tentação de manifestar a sua vontade de continuar no FC Porto, na próxima época, ele que até aqui tinha remetido - e continua a fazê-lo de resto - o processo da sua continuidade para uma análise feita pelas pessoas competentes, numa altura própria para tal. Mas ontem, o técnico confessou, se calhar um pouco timidamente até, mas disse que sim, que gostaria de continuar no FC Porto na próxima época, uma novidade que não deixou de alicerçar no óbvio.

Acha que para o ano estará aqui a falar connosco no 25 de Abril?

Para poder estar, tenho de estar vivo. É a primeira premissa. Se gostaria? Sim. Tenho um ponto de vista claro daquilo que é um profissional. Ele é avaliado pelo seu trabalho e por aquilo que consegue produzir. E, portanto, entendo que essa avaliação tem de ser feita de uma forma séria, de uma forma entendida por todos e aceite por toda a gente.

Mas não pode fazer uma auto-avaliação?

Ainda não acabou nada. No futebol, as avaliações são factuais. Para lá chegar são necessárias duas coisas importantes. Primeiro: os sócios do FC Porto querem ganhar tanto o campeonato como nós, se calhar mais. Grande parte dos profissionais que aqui estão não têm tantos anos de FC Porto quanto eles. Segundo: nos próximos jogos, em casa ou fora, temos de estar como em Coimbra, Manchester ou Madrid. Queremos ter os sócios connosco para estarmos em família, porque não somos muitos para superar as dificuldades que vamos ter pela frente.

Comemora o 25 de Abril de forma especial?

Sim. Era um jovem que lutava pelo que queria, não só sobre o ponto de vista político. Procurei seguir em frente. Por isso, em certas alturas, não abdico de nada. É capaz de ser verdade dizer que o FC Porto ganhou mais quando a democracia entrou no país. Dados são dados. Mas não vão pôr nada disso, não têm espaço [risos]. O que vai ficar? O que vão dizer? Sei o que vão escrever: "ele diz que o FC Porto ganhou mais em democracia". Todos os puros deste país, os moralistas, vão dizer assim: "Como é possível ele dizer isto?" Mas nunca fizeram a história disto; nunca perceberam. Entendem, mas não querem perceber.

O futebol português antes e depois do 25 de Abril de 1974 também mudou?

Quando estive aqui antes do último jogo falei de uma série de questões e veja a polémica que se levantou. Vai sempre tudo bater na mesma tecla. Há quem queira entender e há quem não queira. Depois, ainda há os que entendem e não percebem, e também há o contrário. Um regime político, antes e depois, tem a ver não com futebol mas com História. Estamos sempre a fazer adaptações. A partir do momento em que a democracia permitiu que as pessoas discutissem mais, que tivessem mais capacidade para produzir liberdade para pensar e iniciativas para aprender, é natural que os quadros se alterem. Já passaram 35 anos, com alterações em todas as áreas da sociedade, e porque não no futebol também? A comunicação social informa aquilo que lhe dizem e aquilo que vê. A Imprensa será sempre algo extremamente poderoso para se fazer passar aquilo que se quer. Antes do 25 de Abril quem eram os clubes que ganhavam? E depois? Têm a resposta, porque perguntam?

Fica contente com estas notícias de alegado interesse em jogadores do FC Porto?

Fico preocupado. Gostaria que não me levassem a equipa toda antes de acabar o campeonato e a Taça. Há uma grande diferença entre aquilo que é a vida do clube e a vida dos jornais. A vida do clube é tentar ter um grupo fechado, porque é importante, para trabalhar bem, ter o grupo imune a pressões exteriores. A vida dos jornais é tentar saber notícias para vender mais. Muitas vezes, os interesses dos jogadores não são os dos treinadores, que gerem o colectivo, e os jogadores têm as suas próprias posições. O negócio exterior do futebol muitas vezes colide com aquilo que são os interesses de uma equipa

Mas há alguma verdade nestas notícias?

Isso é a vida da minha equipa, não tenho de a divulgar.

E o Orlando Sá, confirma? O Braga já o fez...

Quem confirmou?

Jorge Jesus...

No meu tempo, era o presidente. Se o Jorge Jesus o confirmou, por aqui tem de ser o FC Porto, através dos canais próprios. No FC Porto, quando um jogador é contratado, há quem tenha a função de o divulgar. A minha é a de falar sobre os jogadores que o FC Porto tem. Isso tem que ver com contrato definitivo. Não sou eu que os faço, pois não? Se essa pergunta fosse feita ao Ferguson, tinha cabimento; aqui no FC Porto, não.

Paulo Bento ficou sem resposta

Acha que o Paulo Bento percebeu mal as suas palavras em relação à arbitragem?

Não vou comentar essas questões objectivamente. Para mim, é importante que uma equipa jogue de forma séria, que os jogadores respeitem os árbitros, o público e a profissão de que vivem. A forma que eu entendo é não permitir, porque não gosto, que os meus jogadores se atirem para o chão, embora isso aconteça; que discutam com os árbitros, às vezes isso acontece; que joguem de forma agressiva para além daquilo que é tacticamente importante. Se verificarem os cartões amarelos e as ausências por expulsão dos jogadores do FC Porto, se verificarem o número de faltas quer na Champions, quer no campeonato, percebem que esses são conceitos que temos. E nessa perspectiva, entendo que a protecção que se deve fazer aos jogadores está em linha directa com as exigências de quando se joga a um nível elevado. Não se trata de diferenciar ninguém, trata-se de proteger o jogo, obrigando os jogadores a serem competentes para se exprimirem da forma mais correcta, garantindo que o jogo seja atractivo, tenha mais público e seja um negócio com impacto. De uma forma geral, as pessoas entendem, mas não querem perceber. E não tenho de perder tempo com essas questões.

Para o jogo com o Setúbal, que expectativas?

Não há adversários ideais, há adversários que têm as suas capacidades, mas há, acima de tudo, um FC Porto que quer ganhar e que entende que este jogo com o Setúbal é o mais importante e o mais difícil que temos no nosso horizonte. O Setúbal é uma marca que temos de respeitar por aquilo que fez até hoje no futebol português. Recordo que é um clube que nos habituou a ter grandes equipas onde aparecem bons jogadores, com grande talento. Por razões que se prendem com aquilo que é a realidade do nosso futebol, o Vitória de Setúbal passa por dificuldades. Nós respeitamos o clube, a equipa e as dificuldades dos seus profissionais. Mas a nossa missão, enquanto profissionais, é fazer um jogo sério e ganhar. No trajecto do FC Porto, este jogo é tão importante como outros, mais mediáticos, com adversários mais poderosos.

A equipa tem trabalhado com os mesmos índices de motivação, apesar das ausências de Lucho e de Hulk?

Ficamos tristes quando os jogadores se lesionam. A nossa missão enquanto treinadores é proteger os jogadores, dar-lhes condições para recuperarem rapidamente e fazer perceber à equipa, porque foi esse o nosso processo de trabalho, que é sempre a equipa que terá de resolver as questões dos jogos e não as individualidades. A partir do momento em que o Lucho se lesionou, e agora o Hulk, as questões deixaram de ser da equipa e passaram a ser das individualidades, e não é esse o nosso processo. É uma realidade neste momento, mas não vivemos do passado, há que fazer o que é necessário com os jogadores que temos, que sempre considerámos serem competentes para jogar no FC Porto.

O jogo da Amadora foi um aviso para a equipa e para o que resta da temporada?

Não se trata disso. Passámos a eliminatória, que era um dos objectivos, mas perdemos e não gostámos de ter perdido. O jogo não foi aquilo que queríamos. Mesmo que tivéssemos ganho ou empatado, não teríamos gostado do jogo. Não serviu de aviso. Na Amadora, o FC Porto utilizou uma série de jogadores que, no seu contexto de equipa e ao longo do tempo, têm tido menos competição, mas que foram capazes de entrar forte e de fazer um golo. Têm de perceber que o FC Porto saiu um pouco do jogo a partir desse momento e ainda controlou até à lesão do Hulk. Mas quem está no futebol, quem vive essas pressões por dentro, tem o sentimento de grupo e de balneário, quem sofre com esses acidentes, percebe o que isso significou. Às vezes, são factores motivadores que fazem com que as equipas ainda cresçam mais, mas, naquele caso, não o foram.

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