EM anos anteriores, nós, portistas, fomos mal habituados. Enquanto, por alturas do Natal, outros se despediam das grandes decisões, nós tínhamos já praticamente garantidos os dois principais objectivos de cada época; a ultrapassagem da fase de grupos da Champions e a aquisição de uma vantagem pontual na Liga que permitia gerir de forma tranquila a conquista do campeonato. Este ano, se o primeiro objectivo foi alcançado com categoria (primeiro lugar no grupo), já o segundo ficou distante, permitindo até a um Benfica sedento de títulos reivindicar o de «campeão de Inverno». É essa deficiente performance interna do FC Porto, a par da emergência do Sp. Braga e da agradável surpresa do Leixões, que tem permitido o diagnóstico consensual de que este está a ser o campeonato mais disputado dos últimos anos.
Esse facto, como habitualmente, tem alimentado a eterna discussão de saber se o campeonato se nivelou por cima ou por baixo. Olhando apenas ao FC Porto, não há dúvida de que se nivelou por baixo. E para isso contribuíram as saídas de mais alguns jogadores fundamentais — e, entre todos, Ricardo Quaresma, responsável pela produção de metade dos golos na época passada — e por uma política de dispensas de Jesualdo Ferreira que eu continuo a não conseguir compreender. A menos que existam razões ocultas, que desconheço e não tenho de saber, ninguém me consegue explicar porque se dispensam jogadores como Luís Aguiar, Pittbul, Candeias, Alan ou Ibson, para manter no banco jogadores como Stepanov, Benitez, Bolatti, Mariano ou Farías. Vendo, diante do Sporting, o esforço penoso de jogadores como Lucho, Meireles, Lisandro e até Hulk (massacrado pela pancadaria que levou em Madrid e vem levando cada vez mais), e olhando para um banco onde não havia nada de útil, perguntei-me como é que Jesualdo vai conseguir aguentar este barco a flutuar na Champions, no campeonato e na Taça de Portugal...
Mas, mesmo levando em conta as razões particulares dos portistas, o facto é que, entre os que disputam o campeonato, o panorama não parece melhor. E este fim-de-semana, em que se enfrentavam o 2º e o 4º e o 1º e o 3º, forneceu amplos motivos de reflexão sobre o assunto. Na Luz, duas equipas repousadas por ausência de outros compromissos, ofereceram um paupérrimo espectáculo de futebol. É verdade que é impossível exigir mais ao Leixões (outro com salários em atraso...), que, mesmo assim, deixou a Luz com o credo na boca, obrigando o Benfica a recorrer a todo o tipo de anti-jogo — nove a defenderem, pontapés para a frente de qualquer maneira, perdas de tempo de toda a gente, lesões simuladas, etc. Mas, mesmo assim fiquei impressionado com a notável incompetência dos jogadores do Leixões na hora de rematar à baliza. Bem sei que é uma característica comum no nosso campeonato, mas não deixa de ser difícil de entender: porque não treinam mais os remates?
Quanto ao Benfica, que celebrou a vitória como se fosse a ante-câmara do título, impressionou-me, uma vez mais, a pobreza franciscana do seu futebol. Ganhou graças a um auto-golo e à eficácia de alguns textos sistematicamente escritos na véspera dos jogos com o objectivo de intimidar e condicionar previamente os árbitros (aqueles 3 minutos de descontos, o critério das faltas próximas da área, foram eloquentes...). Queixam-se que ficaram com dez, mas só ficaram os últimos 15 minutos e, antes disso e tirando a habitual perdida de Aimar frente ao guarda-redes, nada mais fizeram em toda a segunda parte do que defender a vantagem lá atrás. E, para uma equipa que nada mais tem a fazer do que jogar uma vez por semana, não se compreende tamanha aflição por ter de jogar com um a menos, em casa e frente ao Leixões, no último quarto-de-hora!
O FC Porto-Sporting começou com uma polémica lançada por Miguel Ribeiro Teles na antevéspera do jogo (já reparam que nunca é o FC Porto a lançar polémicas prévias e a excitar os ânimos antes dos grandes jogos?). Uma polémica em que, salvo melhor opinião, o dirigente sportinguista não teve ponta de razão. Não a teve juridicamente, porque o FC Porto se limitou a aproveitar os regulamentos, como todos fazem, e não tem culpa que o sorteio tenha posto o Sporting a jogar para a Champions um dia mais tarde que o FC Porto (para a semana, acontecerá o inverso). E não a teve desportivamente, porque, sendo certo que o Sporting teria sempre menos um dia de descanso, também é verdade que teve mais um antes do jogo da Champions — e o que desgasta aqui não é um só jogo, mas o ciclo completo deles. Aliás, como bem se viu no Dragão, o FC Porto, que teve de se deslocar a Madrid onde fez um grande e disputadíssimo jogo, estava bem mais cansado que o Sporting, que ficou por Alvalade e pouco se cansou no triste jogo contra o Bayern. Irritou muito os sportinguistas que o FC Porto tivesse adiado o jogo de amanhã para a Taça, já depois de o jogo com o Sporting ter sido marcado para sábado. Tanto quanto sei, porém, já não havia hipótese de o mudar então para domingo e nem o FC Porto nem o Estrela da Amadora eram obrigados «por castigo» a jogar a uma quarta, quando podiam jogar a um domingo em que nenhuma das equipas estará em acção.
Polémica à parte, foi uma miséria de jogo, que para os portistas, só teve três motivos de conforto: primeiro, e com o empate registado, ganhámos mais uma Copa BES, esse mini-torneio entre os três grandes (e que já ganhámos umas seis vezes, em sete ou oito edições); em segundo lugar, o Helton não teve ocasião de oferecer o golo que quase sempre oferece nos grandes jogos, e não apenas na Champions (já contra o Benfica, em minha opinião, o cabeceamento do Yebda era perfeitamente defensável); finalmente, enquanto que Paulo Bento achou que tinha sido «um bom jogo», já Jesualdo Ferreira não esteve com diplomacias e disse exactamente o que se tinha passado: um mau jogo, sem oportunidades, com constantes interrupções e entradas ríspidas. E eu fico contente por verificar que o treinador do meu clube não vende gato por lebre e não fica satisfeito quando vê a equipa jogar mal. É esta diferença de ambição, a todos os níveis, que faz com que ganhemos mais do que os outros...
O Sporting ficou claramente satisfeito com o empate, porque o empate lhe salvou a pele. O FC Porto não ficou satisfeito, quis de facto ganhar, mas não teve talento nem força para tal. Seguem-se mais dois jogos tremendos: em Matosinhos, e a segunda mão da Champions, no Porto, contra o Atlético de Madrid. Queira o destino que a goleada ingloriamente desperdiçada em Madrid, por erros próprios e por força de uma vergonhosa arbitragem decerto encomendada pelo Sr. Platini, não venha a revelar-se um falso bom resultado! Com a Ucrânia à beira de nos ultrapassar no ranking da UEFA, bem precisávamos que FC Porto e Sp. Braga prolongassem um pouco mais a vida dos clubes portugueses nesta época europeia. Até para que outros, como o Benfica, não tenham de entrar na Europa arrombando a porta da secretaria.
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
Esse facto, como habitualmente, tem alimentado a eterna discussão de saber se o campeonato se nivelou por cima ou por baixo. Olhando apenas ao FC Porto, não há dúvida de que se nivelou por baixo. E para isso contribuíram as saídas de mais alguns jogadores fundamentais — e, entre todos, Ricardo Quaresma, responsável pela produção de metade dos golos na época passada — e por uma política de dispensas de Jesualdo Ferreira que eu continuo a não conseguir compreender. A menos que existam razões ocultas, que desconheço e não tenho de saber, ninguém me consegue explicar porque se dispensam jogadores como Luís Aguiar, Pittbul, Candeias, Alan ou Ibson, para manter no banco jogadores como Stepanov, Benitez, Bolatti, Mariano ou Farías. Vendo, diante do Sporting, o esforço penoso de jogadores como Lucho, Meireles, Lisandro e até Hulk (massacrado pela pancadaria que levou em Madrid e vem levando cada vez mais), e olhando para um banco onde não havia nada de útil, perguntei-me como é que Jesualdo vai conseguir aguentar este barco a flutuar na Champions, no campeonato e na Taça de Portugal...
Mas, mesmo levando em conta as razões particulares dos portistas, o facto é que, entre os que disputam o campeonato, o panorama não parece melhor. E este fim-de-semana, em que se enfrentavam o 2º e o 4º e o 1º e o 3º, forneceu amplos motivos de reflexão sobre o assunto. Na Luz, duas equipas repousadas por ausência de outros compromissos, ofereceram um paupérrimo espectáculo de futebol. É verdade que é impossível exigir mais ao Leixões (outro com salários em atraso...), que, mesmo assim, deixou a Luz com o credo na boca, obrigando o Benfica a recorrer a todo o tipo de anti-jogo — nove a defenderem, pontapés para a frente de qualquer maneira, perdas de tempo de toda a gente, lesões simuladas, etc. Mas, mesmo assim fiquei impressionado com a notável incompetência dos jogadores do Leixões na hora de rematar à baliza. Bem sei que é uma característica comum no nosso campeonato, mas não deixa de ser difícil de entender: porque não treinam mais os remates?
Quanto ao Benfica, que celebrou a vitória como se fosse a ante-câmara do título, impressionou-me, uma vez mais, a pobreza franciscana do seu futebol. Ganhou graças a um auto-golo e à eficácia de alguns textos sistematicamente escritos na véspera dos jogos com o objectivo de intimidar e condicionar previamente os árbitros (aqueles 3 minutos de descontos, o critério das faltas próximas da área, foram eloquentes...). Queixam-se que ficaram com dez, mas só ficaram os últimos 15 minutos e, antes disso e tirando a habitual perdida de Aimar frente ao guarda-redes, nada mais fizeram em toda a segunda parte do que defender a vantagem lá atrás. E, para uma equipa que nada mais tem a fazer do que jogar uma vez por semana, não se compreende tamanha aflição por ter de jogar com um a menos, em casa e frente ao Leixões, no último quarto-de-hora!
O FC Porto-Sporting começou com uma polémica lançada por Miguel Ribeiro Teles na antevéspera do jogo (já reparam que nunca é o FC Porto a lançar polémicas prévias e a excitar os ânimos antes dos grandes jogos?). Uma polémica em que, salvo melhor opinião, o dirigente sportinguista não teve ponta de razão. Não a teve juridicamente, porque o FC Porto se limitou a aproveitar os regulamentos, como todos fazem, e não tem culpa que o sorteio tenha posto o Sporting a jogar para a Champions um dia mais tarde que o FC Porto (para a semana, acontecerá o inverso). E não a teve desportivamente, porque, sendo certo que o Sporting teria sempre menos um dia de descanso, também é verdade que teve mais um antes do jogo da Champions — e o que desgasta aqui não é um só jogo, mas o ciclo completo deles. Aliás, como bem se viu no Dragão, o FC Porto, que teve de se deslocar a Madrid onde fez um grande e disputadíssimo jogo, estava bem mais cansado que o Sporting, que ficou por Alvalade e pouco se cansou no triste jogo contra o Bayern. Irritou muito os sportinguistas que o FC Porto tivesse adiado o jogo de amanhã para a Taça, já depois de o jogo com o Sporting ter sido marcado para sábado. Tanto quanto sei, porém, já não havia hipótese de o mudar então para domingo e nem o FC Porto nem o Estrela da Amadora eram obrigados «por castigo» a jogar a uma quarta, quando podiam jogar a um domingo em que nenhuma das equipas estará em acção.
Polémica à parte, foi uma miséria de jogo, que para os portistas, só teve três motivos de conforto: primeiro, e com o empate registado, ganhámos mais uma Copa BES, esse mini-torneio entre os três grandes (e que já ganhámos umas seis vezes, em sete ou oito edições); em segundo lugar, o Helton não teve ocasião de oferecer o golo que quase sempre oferece nos grandes jogos, e não apenas na Champions (já contra o Benfica, em minha opinião, o cabeceamento do Yebda era perfeitamente defensável); finalmente, enquanto que Paulo Bento achou que tinha sido «um bom jogo», já Jesualdo Ferreira não esteve com diplomacias e disse exactamente o que se tinha passado: um mau jogo, sem oportunidades, com constantes interrupções e entradas ríspidas. E eu fico contente por verificar que o treinador do meu clube não vende gato por lebre e não fica satisfeito quando vê a equipa jogar mal. É esta diferença de ambição, a todos os níveis, que faz com que ganhemos mais do que os outros...
O Sporting ficou claramente satisfeito com o empate, porque o empate lhe salvou a pele. O FC Porto não ficou satisfeito, quis de facto ganhar, mas não teve talento nem força para tal. Seguem-se mais dois jogos tremendos: em Matosinhos, e a segunda mão da Champions, no Porto, contra o Atlético de Madrid. Queira o destino que a goleada ingloriamente desperdiçada em Madrid, por erros próprios e por força de uma vergonhosa arbitragem decerto encomendada pelo Sr. Platini, não venha a revelar-se um falso bom resultado! Com a Ucrânia à beira de nos ultrapassar no ranking da UEFA, bem precisávamos que FC Porto e Sp. Braga prolongassem um pouco mais a vida dos clubes portugueses nesta época europeia. Até para que outros, como o Benfica, não tenham de entrar na Europa arrombando a porta da secretaria.
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário