sábado, 28 de março de 2009

Ataquem os centrais

Entrevista a Benny McCarthy:

Sim, é possível. A convicção é de McCarthy, a propósito das hipóteses de sucesso do FC Porto na eliminatória com o Manchester United. Tal como em 2004, o sul-africano acredita numa surpresa, embora admita que, agora, será mais difícil eliminar os "red devils". Porquê? Segundo Benni, que está em Inglaterra há quatro anos e conhece ao pormenor o adversário, os ingleses estão mais fortes, fisicamente preparados e avisados para a qualidade do campeão português. O factor surpresa não terá, por isso, qualquer peso. Ainda assim, nada que retire o optimismo que é imagem de marca do avançado. Em entrevista a O JOGO, McCarthy deu a receita para deixar, de novo, os homens de Manchester a carpir mágoas: controlar Ronaldo e Paul Scholes; aproveitar a velocidade de Hulk ou Lisandro para fazer estragos entre os centrais do campeão inglês. "São lentos", diz.

Começando pelo sorteio, McCarthy admite que podia ter sido mais favorável ao FC Porto. Em todo o caso, sublinha o aparente excesso de confiança demonstrado pelo líder da Premier League. "Essa é a típica mentalidade deles. Sempre que sai uma equipa portuguesa a uma inglesa, dizem sempre que são favoritos e que o sorteio é bom, blá, blá, blá. Disseram o mesmo em 2004; que era o sorteio mais fácil e, depois, foi o que se viu", recordou, em jeito de crítica à postura dos "red devils". Aliás, até desconfia dela. "Apesar de tudo o que foi dito, o treinador do Manchester sabe, seguramente, que o FC Porto não é uma equipa fácil de bater e que chegou aos quartos-de-final por mérito e não por sorte. Foi primeiro no seu grupo na fase regular e muito superior ao Atlético nos dois jogos dos oitavos", sublinhou. "O Manchester está consciente do que é o FC Porto e sabe que pode ser eliminado outra vez", acrescentou.

Para o sul-africano, os "red devils" têm um trunfo importante. "Há três jogadores que conhecem bem a realidade do futebol português: o Ronaldo, o Nani e o Anderson, o dragãozito de Manchester", brincou, antes de completar a ideia: "Eles podem dar uma ajuda suplementar ao treinador". Neste FC Porto, que acompanha esporadicamente e à distância, revê alguns predicados na comparação com aquele de que fazia parte. "É uma equipa que mantém o mesmo espírito do meu tempo, continua a ser muito forte. Se conseguir um bom resultado em Manchester - de preferência não perder e marcando - terá fortes possibilidades de conseguir mais uma surpresa. Tem tantas possibilidades como o Manchester", analisou.

E, então, como se ganha a este Manchester? A pergunta saiu directa. McCarthy apontou os exemplos recentes dados pelo Liverpool e do Fulham, acrescentando detalhes. "Estão muito mais fortes do que em 2004, porque têm novos jogadores e alguns jovens com muita qualidade. Fisicamente, o Manchester está impecável. Como equipa, é mais estável e unida. Por isso, vai ser complicadíssimo passar. Por outro lado, acho que esta eliminatória surge numa boa altura para o FC Porto, porque o Manchester tem mostrado algumas debilidades ultimamente. Perdeu dois jogos seguidos no campeonato, não jogou bem e o FC Porto talvez encontre um adversário mais tenso do que o habitual, podendo explorar esse factor." Disse mais. "Basta recordar o Manchester-Liverpool, no qual a velocidade de Fernando Torres fez miséria na defesa do Manchester. Causou-lhes mesmo muitos problemas e isso foi decisivo. Eles dão algum espaço atrás que terá de ser aproveitado. Os dois centrais do Manchester - Rio Ferdinand e Vidic - são muito experientes, mas não são propriamente os mais rápidos do Mundo. Jogadores como Lisandro, que conheço bem, e Hulk, que não conheço tão bem, podem causar estragos e aproveitar essa lentidão". Para equilibrar, deixou um aviso que pode parecer óbvio."É preciso ter muita concentração defensiva, controlar Ronaldo e Paul Scholes, talvez o jogador mais influente".

Carlos Gouveia n' O Jogo.

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