TUDO levava a crer que o Benfica se sagraria campeão no Dragão, o que aconteceria se pontuasse nesse jogo ou, mesmo em caso de derrota, se o Braga não vencesse. Afinal, a atribuição do título ficou adiada para a última jornada. Nesta circunstância, há que começar por saudar a carreira dos minhotos, que já conseguiram, no mínimo, o segundo lugar no campeonato e o apuramento para a Liga dos Campeões, e lamentar que a intoxicação da opinião pública tenha antecipado um desfecho que não se concretizou e demonstrado falta de respeito por uma equipa que continua, afinal, a lutar pelo título.
Também no que diz respeito ao clima que rodeou o jogo, é lamentável que quem silenciou o apedrejamento ao carro de Pinto da Costa, e a forma como o banco do FC Porto foi alvo de uma chuva de objectos na Luz, apareça agora a dramatizar o que se passou com o autocarro do Benfica, com os seus contornos estranhos, e com o arremesso de objectos no Dragão, omitindo que também houve lançamento de petardos por parte dos adeptos benfiquistas.
Naturalmente, há um problema com a segurança nos nossos jogos de futebol que justificaria medidas enérgicas como os ingleses adoptaram, e com inegável sucesso. Antes que ocorra uma tragédia, é preciso que os dirigentes, os políticos responsáveis e as autoridades policiais unam esforços nesse sentido. Seria preciso, para isso, que vivêssemos num país diferente deste, onde a impunidade é total. Também seria preciso que a comunicação social, sem cair na neutralidade, conseguisse ser imparcial. Como Vítor Serpa escreveu em editorial, a violência não é admissível «seja no Dragão, na Luz, em Alvalade ou em Freixo de Espada à Cinta», mas também é importante que não se hiper-mediatizem casos, se dramatizem situações infelizmente vulgares, como as que sucederam dentro do Estádio do Dragão num jogo que não diferiu de outros clássicos, ou se inventem supostas intifadas.
Mas neste jogo — e recordo que também houve um emocionante jogo de futebol com golos e com muitos casos — o FC Porto conseguiu uma justa e merecida vitória frente ao eterno rival. Desta forma, o recolhe o prémio de consolação e todo o plantel salva a sua honra, depois de uma época em que não conseguiu reeditar o penta e ficou aquém das legítimas expectativas dos adeptos. Perante o Benfica na sua máxima força, e apesar de estar limitado por muitas lesões e pela ausência de Falcao, o FC Porto foi melhor que o adversário, e mesmo depois de se ver reduzido a dez jogadores, não se atemorizou. Pelo contrário, o dragão ferido parece ter encontrado, nessa injustiça, um novo fôlego e alento. Se tivesse sido essa a atitude da equipa ao longo da época, e apesar de ter sido discriminado pelas arbitragens por comparação com o Benfica e até com o Braga, e prejudicado pela (in)justiça desportiva, estou certo que o FC Porto não teria abandonado tão prematuramente a luta pelo título.
Olegário, o 'africano'
OLEGÁRIO BENQUERENÇA não fez uma arbitragem escandalosa. Fez, apenas, o que costuma fazer, adoptando o critério largo em plano inclinado que o levará à Africa do Sul. Ao expulsar Fucile em vez de castigar Coentrão, evitando assim marcar um penalty contra o Benfica que provavelmente resolveria o jogo, e fazendo com que os portistas jogassem 40 minutos em inferioridade numérica, ao deixar que Luisão agredisse um portista (como já agredira, bem à sua frente, um nacionalista) fez uma exibição dentro daquilo que era expectável. Tem sido assim este campeonato. E, para poupar a Ricardo Araújo Pereira o trabalho de recorrer a ficheiros, este era o andor de que eu falava logo no início da época.
Uma questão de critério
A injusta expulsão de Fucile desmente quem reclamava que, no Dragão, os jogadores do FC Porto nunca são expulsos. Aliás, já Fernando fora expulso num jogo caseiro no decorrer desta época, ainda que dessa vez se justificasse tal punição. Pelo contrário, este foi um ano em que o Benfica jogou muitas vezes contra dez, mas viu os seus jogadores poupados a cartões vermelhos que se justificavam, como mais uma vez aconteceu neste jogo com Luisão. E tendo Fucile sido condenado a uma suspensão agravada por a sua reacção ter sido excessiva, o que o impede de estar presente na final da Taça, espero que o FC Porto exija que doravante esse critério seja aplicado a todos os jogadores que são expulsos.
Uma excelente recauchutagem
SEM Helton, Varela, Micael, Mariano e, desta vez, também sem Falcao, com Rodríguez em recuperação e Meireles abaixo do seu melhor, o FC Porto acaba a época em boa forma. Melhor do que isso, os ajustamentos forçados fizeram despontar novos jogadores, com os quais se pode contar para a próxima época. Farías não desperdiça as oportunidades que as lesões e os castigos lhe vão entreabrindo, Beto demonstra as suas qualidades, Guarín e Belluschi brilham com o novo esquema táctico que Jesualdo teve de adoptar, Miguel Lopes parece agora bem integrado na equipa. Mas a melhor notícia deste jogo foi a exibição de Bruno Alves que, quando se concentra em jogar a bola, é um extraordinário central.
O número 1 da Selecção
NO jogo do Dragão, as duas balizas estiveram entregues a dois excelentes guarda-redes. Numa altura em que tanto se fala das escolhas de Queiroz, e não discutindo a convocatória de Eduardo que parece garantida, creio que Quim e Beto deveriam ser os outros escolhidos. O guarda-redes benfiquista tem a experiência a seu favor, e o facto de ter sido titular durante toda a época, exceptuando a Liga Europa, em que aliás fez muita falta a Jesus. Beto não teve muitas oportunidades, mas desde que agarrou a titularidade tem tido óptimas prestações. É um guarda-redes destemido, que não hesita em abandonar os postes e sair aos cruzamentos, o que pode fazer a diferença
Rui Moreira n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário