O meu coração divide-se. O GD Chaves acompanha-me desde a infância, quando achava absurdo que Pavão não jogasse nas fileiras do Desportivo, para ajudar a enfrentar os adversários da época. Pois se Pavão — o mesmo Pavão que me levou a comprar o primeiro exemplar de A BOLA para ler uma das crónicas que mudou a minha vida, assinada por Carlos Pinhão — era de Chaves.
A ida do Chaves à final da Taça foi um regresso à minha infância, quando o velho estádio era um campo de saibro que empastelava com as chuvas e onde vi os primeiros jogos a sério. Jogos contra o Vila Real, Mirandela, Bragança, Régua, Vizela, Limianos, Riopele (um dos mais belos equipamentos que já circularam pelos nossos estádios) — e com aquele trio defensivo fatal, Lisboa, Rocha e Malano, além de Albino, Rendeiro, Adão, Tony ou Soares dos Reis (guarda-redes que se excedia contra o Vila Real, como de costume). Assisti a duas invasões de campo, uma delas na sequência de um canto mal marcado (agredia-se um árbitro por razões sérias) e outra depois da expulsão de um jogador do Chaves que se limitara a rasteirar traiçoeiramente um extremo do Vila Real (um dever de qualquer jogador da casa). Depois, ainda assisti a jogos onde havia os nomes de Raul Águas (na altura falava pouco, o que era suportável), Fonseca (o bigode mais assinalável do futebol português), Noureddine (um marroquino excêntrico), António Borges (uma cabeleira inesquecível), Carlos Areias, Jorge Plácido, Padrão, Kiki, Vivas, Jorginho, Ferreira da Costa, Zrdavkov ou Rudi, Carvalhal (esse mesmo) ou Bastón (o guarda-redes que sofreu o golo mais caricato da história do clube).
Seja como for, este é o derradeiro fim-de-semana antes de o FC Porto tratar da vida. Está aí o mercado. Pede-se arrojo e sensatez ao mesmo tempo: o próximo campeonato vem já aí, e (como se viu) não são desculpáveis tantos deslizes como os deste ano.
Francisco José Viegas n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário