1 Vai demorada a discussão sobre quem será o próximo treinador do FC Porto. Com Pinto da Costa de férias, ninguém mais está autorizado, ou é fonte autorizada, para desvendar a ponta do véu. E pode ser até que, quando este texto sair, já haja treinador no Dragão. Ao certo, porém, a única coisa que parece possível de ter como certo é que Jesualdo Ferreira não continua — ou continuará, mas noutras funções. E, pelo que tenho ouvido aos portistas com quem falo do assunto, a saída de Jesualdo está longe de ser consensual, muito embora seja comum a sensação de que ele cumpriu o seu ciclo. Isso, e não o facto de ter perdido este campeonato, é que determinarão o final de uma ligação de quatro anos — ao contrário do que muitos concluem apressadamente. Dos nomes mais falados, Paulo Bento é o que menos convence. André Villas Boas tem defensores, que o vêem como uma possível reencarnação de José Mourinho. Laszlo Boloni não diz nada a ninguém e Co Adriaanse só pode ser uma ideia de mau gosto.
Como aqui salientei ao longo destes anos, Jesualdo revelou muitos méritos, uma grande capacidade de encaixe dos desvarios da própria SAD do clube e, o que não é despiciendo, foi sempre um senhor, dentro e fora do campo. O que mais critico e critiquei nele foi o seu imenso conservadorismo nas escolhas do seu lote de jogadores. Pior ainda, quando essas escolhas envolviam jogadores a que eu, pessoalmente, não vejo qualquer utilidade, actual ou futura — casos de Helton, Mariano, Guarín, Valeri. Em contrapartida, para quem está fora do lote restrito dos eleitos, parece só restar uma eterna travessia do deserto ou o empréstimo a outras cores. Foi assim que jovens como Beto, Nuno André Coelho, Hélder Barbosa, Sérgio Oliveira, Rabiola ou Candeias não dispuseram de oportunidades sérias de evoluir e integrar o grupo de 18 convocados habituais. E, quanto a jovens vindos dos juniores ou do célebre «Projecto 611», zero absoluto. Bem podem bater à porta ou até tentar arrombá-la: com Jesualdo Ferreira só entra quem já está dentro.
E agora que tudo pode ser baralhado e voltado a dar, agora que vem aí a inefável «saison argentina» e a inescapável venda de alguns dos melhores activos para sustentar o exército dos que ninguém quer, vou dedicar-me a classificar a época acabada de fazer por cada um dos que integraram o plantel de 2009/10, terminando o campeonato em 3.º lugar. E com notas de zero a dez. Ora, aí vai:
HELTON (2) - Julgo e espero que tenha assinado a sua definitiva desconvocatória como titular no último jogo da época, a final da Taça, onde mostrou exuberantemente tudo o que torna insustentável o seu posto de n.º 1 — insegurança, nervosismo e desconcentração entre os postes, total incompetência no jogo aéreo e uma irritante espécie de desleixo, mais parecendo às vezes que está a brincar.
NUNO (2) - Em todas as competições, só fez cinco jogos e apenas se deu por ele em duas ocasiões: quando foi porta-voz da revolta dos jogadores para com a Comissão Disciplinar da Liga e quando Jesualdo lhe deu a baliza da final da Taça da Liga e ele começou por responder com um monumental frango ao primeiro e inofensivo remate do Benfica e depois ainda colaborou em mais dois golos.
BETO (7) - Não fosse a lesão de Helton e ainda estaria à espera que Jesualdo lhe desse uma oportunidade... para mostrar que é infinitamente melhor e transmite incomparavelmente mais segurança à defesa do que Helton. Vá lá, que ainda foi a tempo de uma justíssima convocatória para o Mundial. O céu pode esperar, a baliza do FC Porto já não.
SAPUNARU (4) - Estava a prometer uma época melhor, quando atravessou o túnel da Luz e Ricardo Costa o devolveu à Roménia.
FUCILE (5) - Pior do que no ano passado, mas ainda um valor seguro, com intermitências. O pior, claro, foi o desastre do Estádio Emirates, onde conseguiu oferecer quatro golos num só jogo. Acabaria por ser um dos raríssimos a quem Jesualdo pôs de castigo por causa de uma má exibição.
MIGUEL LOPES (5) - Agarrou a oportunidade e provou bem. Bom a defender, mas pior a atacar do que Fucile.
ÁLVARO PEREIRA (8) - Ele e o também recém-chegado Falcao foram as revelações da época. Esteve em praticamente todos os jogos e foi o jogador mais utilizado do plantel (46 jogos). Sempre com uma pedalada, um pulmão e um coração imensos. Foi o segundo jogador da equipe com mais assistências para golo e o melhor do campeonato, na sua posição.
BRUNO ALVES (7) - Dois terços da época em grande estilo, com alguns golos e exibições notáveis. Depois, no último terço e como vem sendo habitual, o pai encarregou-se de o destabilizar e isso foi bem patente na final da Taça. Tem de resolver, de uma vez por todas, se quer sair ou ficar e, querendo sair, se tem quem pague o que o clube tem o direito de exigir.
ROLANDO (4) - Uma época claramente abaixo da anterior, às vezes mesmo desastrosa. Como se dá pouco por ele, muitas vezes escapam à vista os seus erros graves de marcação. Mas eles estão lá e resta saber como se desenvencilhará sem Bruno ao lado.
NUNO ANDRÉ COELHO (5) - Ando há um ano a escrever que ele tem tudo para ser o central do futuro no FC Porto. Pode ser que me engane, mas sem oportunidades nenhumas, nunca o saberemos.
MAICON (4) - Jesualdo preferiu apostar nele (utilizou-o mais do dobro das vezes do que Nuno André Coelho), mas não demonstrou porquê a preferência.
FERNANDO (3) - Mais ainda do que Rolando, fez uma época gritantemente pior do que a anterior. Desapareceram os seus cortes científicos, no limite — substituídos por constantes faltas, muitas da quais em zonas proibidas. E não melhorou nada o seu pior defeito — a falta de qualidade do passe e a incapacidade de sair a jogar para a frente, empurrando o jogo.
TOMÁS COSTA (4) - Tem boa vontade, mas isso não chega.
VALERI (0) - Um erro de casting. Parece que ainda ponderam mais uma época de empréstimo...
BELLUSCHI (4) - Tem bons pés e boa leitura de jogo. Mas também falta de força, de combatividade e excesso de tiques de vedeta — para o que lhe faltam bastantes mais e melhores provas.
FREDDY GUARÍN (3) - É, a par de Mariano, um dos queridos da critica (decerto benfiquista...). Lá porque tem um remate forte e marcou uns golos no final da época, não passou a disfarçar o indisfarçável: má qualidade de passe, ausência total de visão de jogo, dificuldades técnicas patentes e tacticamente perdido no jogo, seja qual for a posição que lhe distribuam.
PREDIGER (0) - O nome não prenunciava nada de bom e ele encarregou-se de o confirmar. Tem mais cinco anos de contrato (quem terá sido a luminária que o contratou?). É por estas e muitas outras que todos os anos é preciso vender os melhores.
RÚBEN MICAEL (4) - Muito desejado (por mim, inclusive), entrou na equipa como um furacão e foi perdendo gás aos poucos, até se lesionar. É um mistério saber como regressará.
RAUL MEIRELES (5) - Foi outro que assinou uma época bem mais fraca do que a anterior. A sair, esta é a altura certa. Mas este sector — o dos médios criativos, ofensivos — é onde a equipa já está mais débil.
CRISTIÁN RODRÍQUEZ (3) - Uma época para esquecer, entre lesões, cansaço e baixas de forma. Longe ainda de provar a valia da sua contratação e aquele que dizem ser um dos mais elevados salários da equipa.
MARIANO GONZÁLEZ (3) - Bem, já sabem o que eu penso... Foi, apesar de tudo, melhor do que no ano passado, beneficiou do castigo de Hulk e depois também teve o azar de uma lesão grave (a terceira lesão grave de um jogador nos treinos, esta época!).
HULK (6) - Também não atingiu o brilho do ano passado nem corrigiu os seus maiores defeitos. Apesar de tudo, e desmentindo as palavras de Luís Filipe Viera, que sugeriu que ele não fazia falta à equipa, quando regressou, o FC Porto venceu todos os nove jogos disputados até final da época. E, mesmo com três meses de castigo, ainda foi o jogador azul-e-branco com mais assistências para golo e o quarto do campeonato. Para o ano, fica só um apelo: deixem jogar o Hulk!
SILVESTRE VARELA (8) - Começou logo por se transformar numa das revelações da equipa, até se lesionar e falhar meia dúzia de jogos. Voltou e de novo em grande forma, sucumbindo a nova lesão no aquecimento para o jogo com o Benfica da final da Taça da Liga. Terá perdido um lugar no Mundial e fez tremenda falta à equipa.
FALCAO (8) - Foi a grande revelação do ano e o melhor marcador do campeonato, embora roubado do respectivo título. Um grande jogador de área, completo, inteligente. E um senhor dentro do campo.
FARÍAS (4) - O inútil mais útil do plantel.
ORLANDO SÁ (3) - Mais um a quem as lesões roubaram a época. No pouco que sobrou, pouco aproveitou para mostrar dotes à altura do lugar.
SÉRGIO OLIVEIRA, YERO, ADDY, ALEX, DIAS - Alguém os viu?
2 Grande, grandíssimo, José Mourinho. Esta vitória em Madrid, sim, foi Mourinho no seu melhor: tudo estudado, tudo previsto, em nenhum momento deu a sensação de que o Inter deixaria fugir a oportunidade por que esperava há 46 anos. É verdade que a inspiração de Milito resolveu o assunto, mas mesmo isso Mourinho parecia ter previsto. E o «triplete» em Itália fez dele, certamente, uma lenda eterna para lá dos Alpes.
Miguel Sousa Tavares n' ABola.
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