sexta-feira, 21 de maio de 2010

A festa da Taça

1 No Jamor, apesar de algumas clareiras, os adeptos portistas e flavienses fizeram uma festa bonita nas imediações do estádio, onde partilharam feijoada à transmontana e, depois, nas bancadas onde repartiram as emoções de um jogo bem disputado, num clima de amena confraternização.

2 Só não entendo por que razão os Super Dragões insistem em cânticos dedicados ao Benfica que a maioria dos adeptos portistas detesta, mas essa é uma velha obsessão que, pelos vistos, está para durar, e não deixa de ser verdade que são eles quem anima os festejos e nunca deixa de incentivar a equipa, mesmo quando as coisas não estão a correr bem.

3 Para os transmontanos, a inusitada presença na final, ainda por cima numa época em que a sua equipa foi despromovida e o clube atravessa graves problemas financeiros, era razão suficiente para o entusiasmo que mostraram, mas a incerteza no marcador, nos últimos minutos, foi o maior dos prémios para quem viajou quase mil quilómetros…

4 Gostei de ver Jorge Jesus na Tribuna de Honra, onde esteve a convite de Gilberto Madaíl. A presença do técnico campeão nacional é uma nota de fairplay que merece ser realçada.

5 Foram estes, em suma, os aspectos positivos de uma final da Taça de Portugal que não deixa saudades, porque a exibição do FC Porto foi inaceitável. É verdade que a tarefa parecia demasiado fácil, e também é notório que o relvado do Estádio Nacional não é propício a grandes espectáculos, mas nada disso desculpa a falta de empenho e de concentração de alguns dos seus jogadores nucleares, como é o caso de Bruno Alves e Raul Meireles, e a habitual sobranceria de Helton que, inexplicavelmente, roubou o lugar a Beto.

6 Acima de tudo, essas atitudes representam uma falta de respeito para com os adeptos e para com o clube, que tem outras tradições. Seja quem for o treinador do FC Porto para a próxima época — e calculo que não seja Jesualdo porque não deixei de notar que não cumprimentou o presidente quando foi receber a sua medalha — espero que visione o que se passou no Jamor e tire as suas conclusões sobre quem são os jogadores com que pode contar.

7 Depois, quando os adeptos dos dois clubes regressavam tranquilamente a casa, aconteceu aquilo que já se temia, depois da encenação que foi montada durante os dias que antecederam a final, e que teve o seu episódio mais lamentável na notícia falsa, divulgada pela BenficaTV, de que um adepto benfiquista morrera depois dos distúrbios que ocorreram em Braga.

8 Nada disto mereceu grande atenção por parte de grande parte da comunicação social. É compreensível, porque de cada vez que o FC Porto, com os seus dirigentes, atletas ou adeptos, ruma à capital, sucede este tipo de acontecimentos que, por isso, já não é merecedor de qualquer destaque. Ou seja, são factos que, de tão repetidos, já deixaram de ser notícia. Deve ser essa a explicação para tal critério jornalístico…

Tempo de mudança
COMPREENDO a amargura de Jesualdo, que já saberá que o clube pretende rescindir o seu contrato. Durante quatro anos, conseguiu um feito inédito no FC Porto, obtendo três vitórias sucessivas no campeonato. Enquanto adepto, estou grato por tudo o que trouxe ao clube. Admiro a sua postura, não esqueço que foi capaz de falar com coragem quanto o presidente estava amordaçado. O seu nome fica ligado a um ciclo inesquecível. Em condições normais, Jesualdo teria condições para continuar ligado ao clube, mesmo não tendo ganho o campeonato. Ninguém duvidará da sua competência e do seu empenho, mas a atitude da equipa nesta final ilustra bem porque razão o clube tem de mudar de rumo.

Entradas e saídas
NÃO há pachorra para as declarações do pai de Bruno Alves a propósito da sua saída do FC Porto. Ao que se sabe, o atleta tem sido bem tratado pelo clube, e terá uma cláusula de rescisão que foi livremente negociada e que resultou num benefício salarial. Da parte do FC Porto, tudo tem sido feito para acautelar os interesses de um homem da casa, que os adeptos acarinham e que ostenta a braçadeira de capitão. Se o senhor Washington entende que o filho já passou tempo demais no FC Porto e deve ir para um clube com maiores objectivos, então que arranje esse clube. O FC Porto ficará com os euros, e com a recordação de um bom atleta que deu muito ao clube, e a quem o clube também muito deu.

Um jogador em forma
GUARÍN, que era um jogador mal-amado por alguns adeptos do FC Porto, acabou a época em grande forma. As alterações que Jesualdo Ferreira se viu forçado a adoptar por força da onda de lesões acabaram por permitir que os seus dotes fossem, finalmente, reconhecidos. O colombiano não se limitou a fazer golos fantásticos: esteve, também, muito bem tacticamente, fazendo boas assistências e combinando bem com o seu compatriota Falcao. Tendo contribuído para um excelente final de época da equipa, deixou de ser um atleta dispensável e poderá ser uma das grandes aquisições e um dos esteios na nova equipa do FC Porto que agora vai ser construída, principalmente se o sistema de jogo for alterado.

Spock, o inquisidor
RICARDO ARAÚJO PEREIRA, o inquisidor-mor, anda incomodado por eu ter uma crónica n'A BOLA e fazer um programa de televisão, e pergunta para quando um programa de rádio… Tanta cobiça, e logo da parte de quem tem tempo para escrever crónicas numa revista e neste jornal — ainda que por compreensível falta de tempo, se dedique ao copy/paste fora de contexto daquilo que os outros cronistas escreveram —, para fazer um programa de rádio e ainda consegue fazer anúncios de duvidoso humor? Não sei se o RAP ainda se lembra do seu saudoso sketch sobre o machadez, mas como diria o verdadeiro Manuel Machado, «um vintém é um vintém…».

Rui Moreira n' O Jogo.

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