sexta-feira, 28 de maio de 2010

Os argumentos: Agora Escolha I

André Villas-Boas

Ambicioso
Desde os tempos em que metia na caixa do correio de Bobby Robson as análises estatísticas dos jogos do FC Porto que André Villas-Boas não parou de evoluir. Afinal de contas, considera, a base do seu trabalho está no estudo. No estudo das tácticas e dos adversários. Mourinho ensinou-lhe tudo, mas Villas-Boas quer mais. Os jogadores adoram-no, porque reconhecem-lhe competência, inovação e, sobretudo, aquele jeito especial de comunicação que dificilmente inclui palavrões. Mas, já agora, também os diz, embora num estilo brincalhão. O "cenourinha" André não quer ser crucificado por ser... ambicioso


Tudo ensaiado ao detalhe para parecer... espontâneo
Lê os jornais logo de manhã e até os cola na parede do balneário se lhe der jeito; não resiste a espreitar o que se escreve nos blogues; antecipa perguntas dos jornalistas e ensaia as respostas; procura desviar dos ombros dos jogadores toda a pressão, carregando-a ele se for preciso, e detesta desorganização. Sim, é isso mesmo: por mais que se esforce para se afastar da imagem de José Mourinho, e não há sinais de que esteja preocupado com isso, a verdade é que a colagem de características e hábitos que o definem acaba por acentuar as semelhanças.

E há mais: o entusiasmo dos jogadores é também incondicional. Por ele, os da Académica colocavam no fogo mãos, pés e pescoço."É ambicioso, recusa conformar-se com as coisas; quer sempre mais e melhor. Aliás, terá tido as suas razões para rejeitar o Sporting...", atira Miguel Pedro, que se cruzou com Villas-Boas em Coimbra, antes de emigrar. "Vive e respira futebol 24 horas por dia", acrescenta. Exagero ou não, segundo garantiram a O JOGO outros que não Miguel Pedro, o certo é que, pelo menos nas 24 horas que antecediam o regresso da equipa aos treinos, era fácil saber onde Villas-Boas estava: fechado na casa que nem sempre ocupava em Coimbra, com vista para o estádio, a traçar o plano de trabalho da semana. Detalhadamente. "Era raro repetir-se nos treinos, adaptados às características dos adversários. As surpresas constantes ajudavam a manter os jogadores agarrados", diz Miguel Pedro. Dizem também que o candidato a treinador do FC Porto sabe ser disciplinador sem cultivar distâncias. Proximidade é, aliás,a a imagem de marca. Intransigente, mas educado no trato (sem ser santo, e ainda que lhe possa escapar um ou outro se as coisas não correm como o planeado, garantem que os palavrões não lhe saem com naturalidade...), procurava não dar grandes pistas sobre a equipa que usaria no jogo seguinte, estimulando a concorrência.

Obcecado com o estudo dos adversários, e experimentado na habilidade para os radiografar, integra a informação recolhida nos treinos. "Insistia muito na ideia de que, sempre que possível, devíamos mandar no jogo, independentemente do adversário", sublinha Miguel Pedro, que sabe, por experiência própria, o cuidado de Villas-Boas com os dramas extrafutebol dos jogadores: "Cria laços de amizade muito fortes com os jogadores". E é por isso que ninguém se nega a esforços. "Mesmo os que não jogam sentem que pertencem ao grupo e que estão a evoluir", remata.


Detalhes
As Folhas A4

Os jogadores da Académica foram-se habituando às colagens. Nas paredes do balneário, era normal verem recortes de jornais, frases soltas ou palavras de incentivo que André Villas-Boas recolhia e usava para os espicaçar.

Treinos 

Diversificados e adaptados às características específicas dos adversários. Continua a ter o hábito de compilar informação, usando o vídeo como recurso preferido.

Minucioso 

Nada é deixado ao acaso. A semana de trabalho é esquematizada por antecipação e, antes das conferências de Imprensa, costuma tentar antecipar as perguntas mais prováveis dos jornalistas para ensaiar as respostas, procurando, mesmo assim, que pareçam espontâneas.

Balneário 

Fácil no trato, acessível, deixa os jogadores à vontade e não se exclui das brincadeiras.

Adjuntos 

Hábito curioso: nos jogos em casa tinha Zé Nando ao lado (homem da casa), nos jogos fora, era José Mário Rocha quem o acompanhava.

Segredos 

Os treinos da Académica passaram a ser à porta fechada. Chegou a abrir alguns, pelo meio, mas voltou ao hábito de os fechar no final da época.

António Soares e Hugo Sousa n' O Jogo.

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