sexta-feira, 21 de maio de 2010

Entrevista a Rúben Micael

"O FC Porto foi muito prejudicado"

Rúben Micael admite que ter perdido o campeonato foi uma grande desilusão, mesmo se reconhece que, ao nível individual, a época até nem foi má, apesar da fractura no pé, que até lhe pode ter custado a presença no Mundial. No FC Porto diz ter ficado impressionado com a cultura vitoriosa que encontrou e que as pessoas do clube lidam muito mal com as derrotas para concluir que só poderia mesmo jogar de azul e branco. Apesar de o FC Porto ter perdido em Braga e na Luz, o madeirense aponta os pontos desperdiçados contra equipas teoricamente mais acessíveis para explicar o fracasso portista na corrida ao penta. Quanto à dinâmica reencontrada pela equipa com a sua entrada no onze, Rúben Micael prefere "fundir-se" no colectivo para dar explicações.

Era este FC Porto que esperava encontrar quando assinou?

Sim. Vim encontrar pessoas com uma vontade de vencer impressionante. Não existe no vocabulário do clube as palavras empatar ou perder. Quando se perde aqui, as pessoas ficam com muita azia. Fiquei muito impressionado com isso, porque vivia numa realidade diferente. Cheguei cá e vi nas pessoas a expressão de querer ganhar sempre e é o que vai acontecer na próxima época.

Na sua perspectiva, o que é que foi decisivo para o FC Porto ter deixado escapar o título?

Acho que o FC Porto foi muito prejudicado. Houve uma fase muito importante, em que a equipa podia lançar-se definitivamente e surgiram as suspensões de Hulk e Sapunaru, dois jogadores muito importantes na equipa. Depois vieram as lesões e tudo isso contribuiu para dificultar muito as coisas.

Por falar em lesões, o Rúben foi uma das vítimas. Pode dizer-se que lhe estragou a época?

Sim, sem dúvida. O pé fez com que deixasse de treinar e jogar. A do ombro, se não fosse um departamento médico tão bom como o que temos no FC Porto, sei que me ia dar mais que fazer. Sem os médicos deste clube, o contratempo teria sido bem maior e eles evitaram um situação bem pior para mim.

Que balanço faz da sua temporada no clube?

Ao nível individual não vou dizer que correu mal, acho que correu bem. Cheguei comecei a jogar e ajudei a equipa. Ao nível colectivo foi mau, porque o FC Porto não foi campeão e, nesta casa, quando não se é campeão, corre tudo muito mal.

As derrotas em Braga e na Luz, contra concorrentes directos na luta pelo título, acabaram por pesar?

Acho que perdemos o campeonato contra equipas mais pequenas. Empatamos em casa com o Olhanense, Belenenses, Paços de Ferreira... e em casa o FC Porto nunca se pode dar ao luxo de perder tantos pontos e isso penalizou-nos muito, foi mau perder muitos pontos contra equipas, digamos que mais acessíveis.

Quando o Rúben Micael chegou ao FC Porto notou-se um salto qualitativo no futebol praticado pela equipa, que começou a jogar melhor. Como é que explica isso?

Não há explicação, o FC Porto contratou-me porque tinha em mente que vinha ajudar e foi isso que tentei fazer, foi ajudar a equipa.

Mas tem a noção que a sua entrada na equipa coincide com um FC Porto capaz de desenvolver um futebol mais organizado e de tomar a iniciativa de jogo com outros argumentos?

Não gosto de falar de mim. O mais importante é a equipa e na altura houve jogadores que subiram muito de rendimento, o que tornou tudo mais fácil, porque sozinho não poderia ter feito nada.

Mas concorda que o Rúben veio trazer algo que faltava à equipa, senão não era titular logo de entrada?

Não vou dizer que não, mas foi por isso que o FC Porto me contratou, porque estava a fazer um bom trajecto no Nacional.

O meio-campo acusou muito a saída de Lucho, não havia um jogador que preenchesse de uma forma satisfatória as suas funções. O Rúben colmatou essa lacuna no plantel?

Não acho que houvesse lacunas no plantel, porque o FC Porto tem bons jogadores no meio-campo, até antes da minha chegada...

Tem bons jogadores, mas para funções diferentes...

Sim, mas por exemplo, o Belluchi tem muita qualidade, o Guarín mostrou o seu valor na última parte do campeonato. São coisas que acontecem e o FC Porto não estava a passar por um bom momento nessa altura, não vim com a intenção de substituir o Lucho, que é um excelente jogador. Tenho características próprias e é como eu disse, a minha única preocupação foi ajudar a equipa.

Não teremos desculpas para não vencer a Liga Europa

Mesmo confessando a desilusão por não jogar na Champions, o madeirense garante que não haverá desculpas por jogar a meio da semana, aludindo ao que aconteceu com o Benfica, esta temporada, e apontou uma vitória na final, como objectivo.

É uma desilusão para si ter assinado pelo FC Porto a pensar também na Liga dos Campeões e acabar na Liga Europa?

Tinha sempre a expectativa de vir para o FC Porto e de, com isso, ser quase inevitável jogar na Champions. Fiz dois jogos e foi espectacular, porque é completamente diferente de jogar a Liga Europa. Agora é uma desilusão porque queria ser campeão, mas vai ser bom jogar na Liga Europa e será mais um título que o FC Porto quererá vencer.

O Atlético de Madrid que até foi eliminado pelo FC Porto na Champions, esteve na final da Liga Europa. Acha que têm hipóteses de chegar à final na próxima época e vencer?

Por isso é que eu digo que não há limites. Vamos outra vez falar da cultura vencedora do FC Porto, porque é um clube que, onde entra, é para ganhar. Por isso é que a Liga Europa não vai fugir aos objectivos da próxima temporada. Este ano houve uma equipa que venceu o campeonato e tinha aquela desculpa de fazer dois jogos por semana, mas no FC Porto não. Até se pode jogar de três em três dias, já aconteceu no passado e o FC Porto ganhou, portanto não haverá desculpa nenhuma.

António Soares n' O Jogo.

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