O Benfica ganhou ao Sporting e garantiu o título. Ao contrário do que tem sido a atitude de muitos benfiquistas, que sempre relativizaram as vitórias nacionais e internacionais do FC Porto, apesar de considerar que o seu clube foi o grande beneficiado pelas toupeiras e, como se voltou a ver neste jogo, pelos erros e critérios dos árbitros e pelas vergonhosas nomeações da Comissão de Arbitragem, felicito-os porque, também no relvado, a sua equipa foi a melhor.
Antes disso, em Vila do Conde, contra uma equipa em crise que acabara de sofrer duas cabazadas, o FC Porto fizera mais uma exibição paupérrima. Ganhou porque o poste ajudou, porque Helton se aplicou, porque Sidnei se deslumbrou e porque Farías voltou. Com o segundo lugar a uma distância quase inalcançável, esperava-se que o FC Porto entrasse com vontade de resolver a partida. Em vez disso, Jesualdo voltou a apostar numa equipa tristonha. Felizmente, já não falta muito para acabar este triste campeonato.
Na quarta-feira, e pela terceira vez em poucas semanas, o FC Porto voltou a encontrar o Rio Ave, desta vez para acertar as contas da Taça de Portugal. Com uma vantagem de dois golos, a passagem à final, onde estarão os bravos flavienses, estava mais do que garantida e, por isso, Jesualdo fez algumas mudanças na equipa. Num jogo a feijões, esperava-se que Nuno André Coelho tivesse uma oportunidade para jogar. Afinal, Jesualdo não lhe deve ter perdoado, ainda, não ter sido capaz de jogar a trinco em Londres. Desta vez, pelo menos, deixou que Fucile alinhasse de início, depois de ter cumprido o castigo que lhe foi imposto por esse mau jogo. O uruguaio, que se diz estar de saída, pareceu desmotivado, o que não é caso virgem no plantel.
Ainda assim, e após o jogo do Dragão, Jesualdo voltou à velha ladainha de que a equipa está a crescer e que os jogadores estão a entender os processos. Não se sabe muito bem porquê, nem de que processos o treinador fala, mas tudo aquilo que nos conta começa a ser repetitivo e irrelevante.
Há quem diga que este FC Porto foi igual ao do ano passado, e que só não renovou o título porque a concorrência foi melhor. Não sei se faz grande diferença saber se são os adversários que estão melhor, se é o FC Porto que está pior, ou se ambas as coisas são verdade. O que é inegável é que o investimento em jogadores não foi judicioso e as opções tácticas não foram as melhores; a equipa não cresceu, para usar o estafado jargão de Jesualdo Ferreira, e não teve a atitude do costume. Ora, todos sabem que um FC Porto que não joga à Porto não pode ganhar títulos.
O FC Porto estará, pela terceira época consecutiva, na festa de Oeiras. Claro que essa façanha, que tanto empolga os adeptos de outros clubes a quem disfarça muitas épocas falhadas, mais não é que um prémio de consolação para os portistas que, neste momento, já só anseiam pela nova época.
As velhas esparrelas
A propósito da próxima época, e enquanto o tabu do novo treinador perdura, Pinto da Costa prometeu que o clube não vai voltar a cair na esparrela como o túnel da Luz. É a primeira vez que se admite que alguma coisa falhou, nesse dia, ao nível da organização do clube. Ora, conhecendo-se o que já se passara na época passada, e no mesmo túnel da Luz, é caso para perguntar porque razão não houve, já este ano, o cuidado de prevenir o pior e de, pelo menos, impedir que os jogadores voltassem a sair da cabina para responder às expectáveis provocações. É para isso, também, que servem os dirigentes. Enfim, é nos anos maus que se apreendem as lições e que se fazem as melhores opções para o futuro.
A tal final antecipada
GARANTIRAM-NOS, não se sabe bem porquê, que era uma final antecipada. Afinal, a eliminatória foi desequilibrada, e ainda não foi desta que o Benfica recuperou o seu estatuto internacional. Não admira: não está ao alcance de qualquer equipa portuguesa competir ao mais alto nível do futebol europeu. Com alguma azia, Ricardo Araújo Pereira concluiu que essa foi a vitória da época para FC Porto e Sporting. Está enganado. A grande vitória dos portistas aconteceu em Lisboa, na sede da FPF, quando goleou, e pela lendária marca de sete a zero, um dos ídolos do Benfica que, por azar do destino, só serve para consumo interno, já que não tem qualquer utilidade nas competições europeias.
As contradições
ESTA época, a carreira do Sporting de Braga tem sido, a todos os títulos, excepcional. Não joga um futebol vistoso como o Benfica, não tem os valores individuais do FC Porto, e também é verdade que, aqui e ali, a sorte lhe tem sorrido. O que me espanta é que, depois de tantas vitórias, e de se manter na cola do Benfica e à frente dos portistas, ainda haja quem continue a afirmar que os méritos devem ser repartidos entre Domingos Paciência e o seu antecessor. O que é mais curioso é que quem o diz são os mesmos que criticam o tipo de futebol pouco ousado da equipa minhota, e que recordam a época passada, em que o Braga de Jesus jogava com um dispositivo táctico muito diferente…
As escolhas de Jesus
POR falar em heranças, Jesus não teve sorte ao ressuscitar a tão discutida escolha do seu antecessor Quique Flores, utilizando David Luiz como lateral-direito. Perdeu o seu melhor central, e não terá ganho um excelente defesa-direito. Também não lhe correu bem a escolha de um guarda-redes pouco rodado para um jogo de capital importância. Curiosamente, Jesus beneficiara, na final do Algarve, de idêntica escolha infeliz por parte do seu opositor. Já contra o Sporting, Jesus voltou a acertar na alteração táctica que fez ao intervalo. É assim o futebol, um jogo imprevisível em que os resultados também são feitos por pequenos detalhes, por opções e escolhas discutíveis, e pelos caprichos da fortuna.
Rui Moreira n' A Bola.
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