RICARDO ARAÚJO PEREIRA (RAP) que se toma por provedor da coerência e por controleiro dos plumitivos, voltou à liça. Trata-me por comerciante de gravata e tem razão porque não ando, como ele, que é um bom cómico de gravata, a ganhar a vida como Spock, em vestes de palhaço rico. São feitios…
Mas não só se enganou no destinatário como anda desatento. Continuo a achar que Vandinho foi mal castigado, porque só RAP & Companhia conseguiram descortinar a tal tentativa de agressão, invisível nas imagens disponíveis. E, se a punição não foi revista pelo CJ, foi porque se tratava de (falsa) matéria de facto, e não de direito (como no caso de Hulk), o que prejudica qualquer recurso, não havendo dúvidas que, ao contrário dos ARD, o treinador adjunto do Benfica é agente desportivo. Mas, admitindo que o atleta tenha pecado às escondidas, talvez RAP consiga, numa das suas hilariantes crónicas, explicar o mistério da súbita fúria dos bracarenses, quando tudo lhes estava a correr bem, pois estavam a ganhar ao Benfica. E quanto a Hulk, acha que por eu ter dito que ele estava em má forma, devia agradecer, em vez de contestar, o seu castigo? Compreendo que essa léria lhe seja mais útil do que admitir que, desde o regresso do brasileiro, o FC Porto ainda não perdeu ou empatou. Já agora, não sei se RAP se lembra do caso de doping de Nuno Assis, em que o seu clube tentou livrar o atleta da severa punição, nem sequer se RAP achava que Assis deveria ser titular, mas duvido que tenha julgado essa questão pertinente, e que isso devesse condicionar o empenho do Benfica em defender o atleta, e dos benfiquistas de se empenharem nessa causa. De facto, são feitios…
Pois, eu percebo que as penas foram úteis, e que RAP as defenda. Afinal, há anos que o Benfica vinha perseguindo, na secretaria e nos túneis, as vitórias que lhes escapavam no relvado. Pela minha parte, gosto mais do futebol quando é leal e jogado por todos os seus artistas. Gosto que o meu clube vença mas, quando assim não é, como foi o caso este ano, resta-me cumprimentar os vencedores e esperar que, no futuro, as coisas sejam diferentes; que seja quem for que ganhe não precise das toupeiras e do jogo sujo e subterrâneo. Sempre disse, e repito-o, que o Benfica praticou, esta época, um futebol superior ao dos adversários, e está de parabéns por esse facto, mas isso não branqueia os favores da toupeira, as convenientes nomeações de árbitros e os seus critérios à medida. Reconheço que em muitos casos, esses obséquios eram dispensáveis, tal a superioridade que o Benfica evidenciou, ainda que como o seu colega Zé Diogo lembrou, o campeonato não é uma competição para ver quem joga melhor. Em suma, RAP, se calhar o andor nem fazia falta, e «não havia necessidade» de haver regras especiais para o seu clube, que podia ter ganho sem elas. Pois, «poder, podia, mas não era a mesma coisa». São feitios e, acrescento, velhos vícios…
Um modelo esgotado
DEPOIS do jogo de domingo, e com o título perdido, Jesualdo revelou, na conferência de imprensa, um compreensível sentimento de desalento por não ter conseguido atingir o seu objectivo principal e por a presença na Liga dos Campeões ser agora uma miragem. Jesualdo, que teve um ciclo excepcional pelo qual lhe estamos gratos, já não tem condições para protagonizar a mudança. É certo que há jogadores lesionados, mas dão-se alvíssaras a quem consiga explicar a (des)arrumação do meio-campo, na primeira parte desse jogo. A verdade é que desde o início da época que se via que, sem Lucho, o inflexível modelo táctico de Jesualdo estava esgotado, porque não se adequava ao plantel disponível.
Opções tácticas e competências
Élícito questionar se Belluschi e Guarín não poderão ser úteis e se Meireles e Micael não podem render mais com outro esquema táctico. Ora, sem liga milionária, a política será de contenção, tanto mais que os jogadores que têm maior valor de mercado serão indispensáveis para que o clube consiga superiorizar-se à concorrência e reconquistar o título, o que reduzirá a hipótese de fazer mais-valias. Como os lucros da Europa e das transferências do passado já se evaporaram com a overdose de contratações e com o aumento constante dos custos salariais, vai ser preciso rentabilizar a prata da casa e contratar com parcimónia, o que exigirá um treinador experiente e versátil.
Cedências e lesões
AO ver o último jogo do Braga, perguntei-me como era possível que Luís Aguiar e Alan tivessem sido dispensados a custo zero, e como se justificava que se tenha emprestado Renteria a um adversário directo que já então estava à frente e que, ao que tudo indica, levará a melhor na luta pelo acesso à Champions. São sintomas de que muita coisa não tem corrido bem, o que ajuda também a explicar porque razão, com o plantel mais caro da história, o FC Porto ficou arredado do título quando ainda faltava um terço do campeonato. E nem quero falar da onda de lesões, que afasta alguns dos nossos melhores jogadores do Mundial da África do Sul, porque quero acreditar que se tratou, apenas, de muito azar.
Recandidatura revolucionária
DIZ Pinto da Costa que há uma revolução em curso, que para o ano tudo será diferente, e que é por isso que se recandidata. Também diz que vai engordar o plantel, mas todos sabemos que a pesca de arrasto na Argentina acabou, e voltaremos aos tempos da pesca à linha. Ora, o clube portista sempre foi mais bem gerido e governado quando estava em penúria e tinha recursos mais escassos que os seus adversários, do que em tempos de fartura. Por isso, quero acreditar que este inevitável apertar de cinto, e a reestruturação orgânica que impeça as tais esparrelas, terão consequências positivas nos resultados desportivos, na gestão e na sustentabilidade do clube.
Rui Moreira n' A Bola.
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