ESPERO, em primeiro lugar, que seja um bom jogo de futebol. Se possível, com golos - com jogadas disputadas, corridas, lances de profundidade ou passes curtos bem conseguidos, fugas, malandrices, embates leais. Espero, também, que seja um jogo de guerra em que se perceba o que está em causa: a vitória nesse jogo. Por isso, não vale tudo. Não vale violar as regras de um jogo que foi criado por gentlemen e é praticado, muitas vezes, por arruaceiros. Não vale distrair do essencial, porque o essencial é ganhar este jogo. Espero, por isso, que os jogadores respeitem o talento, o cavalheirismo e a sorte. A sorte pode ser injusta, mas é a sorte do jogo. O talento também pode aparecer nos grandes jogos. E o cavalheirismo é um suplemento de que o futebol anda necessitado.
Espero, também, que as claques se entusiasmem com o jogo - e não com a batalha campal que costuma visitar os estádios em dia de Benfica-Porto. Espero que respeitem o resultado, mesmo se não for agradável. E, se não for agradável, não precisam de saudar o adversário; basta que não o insultem. Não precisam de valorizar a vitória do adversário; basta que repitam o resultado até se convencerem, e retomem a vida, precisamente porque há mais vida para além do futebol. Pode não ser a mesma coisa, mas é uma vida.
E espero que, no final de jogo, ganhe quem ganhar, haja festejos. Se o FC Porto ganhar (como espero convictamente, mesmo por meio golo de vantagem), que se festeje a vitória no jogo; se o Benfica ganhar, os seus adeptos hão-de festejar a conquista de um campeonato ao fim de cinco anos. E, nesse caso, o espaço público e, ao mesmo tempo, as suas memórias, devem ser respeitadas por ambos os clubes e por todos os adeptos. Seria um bom sinal se não houvesse confrontos antes, durante e depois do jogo.
Seria pedir de mais que os jogadores se cumprimentassem depois dos 90 minutos? Não. Precisamente porque no próximo ano há outro campeonato, e por aí adiante.
Francisco José Viegas n' A Bola.
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