Há muitos, muitos anos, numa altura em que os cinemas ainda estavam divididos em plateia, balcão e galerias e a única coisa que se ouvia em "surround" eram as bocas inspiradas dos espectadores, fui ao Teatro S. João ver o "Fuga para a Vitória" de John Huston. Um filme de futebol filmado por um americano tinha de exprimir uma visão ingénua do jogo, mas o que me levou ao cinema nessa matiné não foi o argumento, nem Michael Cane, nem Stalone, mas a hipótese de ver gigantes como Paul van Himst, Bobby Moore, mas especialmente Ardiles e Pelé a jogar à bola. Eu tinha crescido a ouvir falar de Pelé, mas nunca o tinha visto jogar, a não ser de relance, naqueles documentários sobre o Mundial de 70 ou nas imagens do Portugal-Brasil de 66. Pois bem, ali estava eu, na quarta fila da plateia e Pelé maior do que a vida a jogar à bola. A dada altura, e toda a gente se lembra disso, Pelé passa por dois alemães, dá a bola a Booby Moore e entra na área à espera do cruzamento. O resto passa-se em câmara lenta, como se Huston nos convidasse a suster a respiração: Pelé salta, de olhos na bola, roda no ar e marca de pontapé de bicicleta. Um golo enorme, especialmente em technicolor e panavision. Falcao marcou um desses golos fabulosos contra o Marítimo. O Dragão susteve a respiração uns segundos e aposto que muita gente era capaz de jurar que viu tudo em câmara lenta como se John Huston fosse o realizador.
Jorge Maia n' O Jogo.
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