O que é preciso para que um treinador correcto se exceda e acabe por ser expulso do banco, num jogo em que a sua equipa tem uma vantagem confortável, depois de uma jogada a meio do campo, e em que a única coisa que sucedeu de relevante foi a amostragem de um cartão amarelo a um dos seus jogadores? A pergunta tem resposta óbvia: é preciso que a arbitragem tenha tomado uma decisão escabrosa.
Foi isso que sucedeu em Setúbal, onde Jesualdo não se conformou com a decisão do árbitro que, depois de ouvir o inefável assistente Gabínio Evaristo, amarelou um jogador do FC Porto que fora vítima de um derrube por parte de dois adversários e não cometera qualquer infracção. Aliás, se tivesse agredido um adversário (como a rola vermelha imaginou mas de facto não sucedeu) deveria ter sido expulso. Manuel Fernandes, que é insuspeito no caso, logo falou de um equívoco, e o jogador pretensamente agredido também já disse que o amarelo foi mal mostrado, mas a verdade é que esse pretenso equívoco foi logo acontecer, certamente por acaso, com Falcao, que estava em risco de exclusão, e assim fica impedido de defrontar o Benfica, e de lutar pela conquista do troféu de melhor marcador do campeonato.
Tudo acontece a Pedro Henriques, um árbitro que era uma elogiada promessa até ter sido proscrito dos jogos do Benfica, desde o distante Natal de 2008 e do encontro que terminou em sururu, depois de um golo anulado aos encarnados. Serve para apitar o FC Porto e, esta época, fê-lo pela terceira vez, depois de ter actuado em Olhão, onde Tomás Costa saiu com uma fractura no nariz sem que nada tivesse sucedido ao autor da proeza, e no jogo da primeira volta com o Setúbal, em que Djikiné agrediu Belluschi e cometeu dois penalties indiscutíveis que não foram assinalados. Assim, em breve estará perdoado….
Instantes depois de terminado o jogo no Bonfim, o sorridente Lucílio, também conhecido por SLB, entrou em jogo no palco da Luz. Foi uma justa homenagem a um dos patrocinadores da equipa do ano. Assinalou um penalty ao terceiro minuto, expulsou um jogador ao oitavo e, depois, deixou que Maxi ficasse em campo após mais uma entrada violenta e em tempo de descontos poupou o segundo cartão amarelo a Cardozo, que simulou um penalty.
Nada disto é relevante, dirão, porque tudo parece decidido na classificação. Ainda assim, compreendo o grito de revolta, como um acto de solidariedade para com o grupo de trabalho, e não apenas por esta situação escandalosa, que prejudicou um dos seus pupilos e reduz as suas opções para o jogo do fim-de-semana, mas também pelas nomeações, pelo acumular de casos e pela dualidade de critérios que tanto prejudicou a sua equipa ao longo da época. E, desta vez, percebo o silêncio da SAD. Desta forma, e em vésperas de um jogo com o Benfica, em que o combate se deve resumir ao relvado, ninguém poderá acusar o FC Porto de adoptar tácticas incendiárias.
O 'recta pronúncia'
«TODOS sabemos o que acontece ao Porto quando tem de jogar em Inglaterra contra equipas que vestem de vermelho e branco», escrevia Ricardo Araújo Pereira a 21 de Março, antes de perceber o que acontece ao Benfica quando joga em Inglaterra contra outros encarnados... Os feitos europeus do FC Porto, nos últimos 25 anos atormentam-no porque, desde que nasceu, o seu clube anda longe dessa ribalta e porque esse desequilíbrio fora de portas entre os dois clubes desmente a constante suspeita com que desmerece as vitórias do FC Porto em solo pátrio. Será que RAP encontra, na sua vasta biblioteca, uma única crónica sua, ou de um seu correligionário, em que se leia que o FC Porto foi melhor?
A contabilidade do cómico
UMA semana depois, escrevia que «o Benfica, que nunca perdeu uma final com o Porto, venceu, sem surpresa, a Taça da Liga». Ora, já em 1957/58 o clube do regime perdeu uma final da Taça contra o FC Porto. Para que conste, os dois clubes já disputaram entre si 21finais oficiais, e o Benfica leva vantagem com 12 vitórias. No Campeonato de Portugal, o Benfica ganhou em 1930/31. Na Taça de Portugal, o Benfica ganhou 8 finais e perdeu 1. Já na Supertaça, o FC Porto ganhou 8 e perdeu 2. O Benfica ganhou a Taça Lucílio Baptista deste ano. RAP pode invocar que as suas crónicas são humorísticas, desde que não queira que o levemos a sério, seja como bastião da coerência, seja como censor de cronistas.
O outro Ricardo
O Conselho de Justiça deu razão a Pinto da Costa, e anulou mais uma das inenarráveis sentenças de Ricardo Costa, que queria amordaçar o cidadão em causa através da sua inconstitucional interpretação a que alguém chamou de «lei da rolha». Claro que o excelso presidente da CD da Liga ficará, mais uma vez, imune a qualquer consequência. Li, a propósito, um oportuno comentário que citava Bertold Brecht, segundo o qual «alguns juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue induzi-los a fazer justiça». Mas, neste caso, e atendendo à grande reputação do excelso Doutor Costa em certos ninhos, prefiro invocar uma frase que a minha avó repetia muitas vezes: «O bom senso nunca terá heróis».
O exemplo da Inglaterra
RUI SANTOS não concorda com a lei da rolha, mas defende que, a exemplo do que sucede em Inglaterra, os agentes desportivos deveriam ser castigados por fazerem declarações que prejudicam a reputação do jogo. Ora, essa lei não existe em Portugal mas, concordando com o princípio, não entendo por que razão só se deveria aplicar a Pinto da Costa, quando se sabe a forma como os adversários sempre levantaram as mais fantasiosas suspeições para denegrirem as vitórias do FC Porto. E se falarmos em desprestígio, ainda que se reconheça que os dirigentes dos clubes não estão isentos de culpas, não encontraremos quem mais para ele tenha contribuído, este ano, do que a própria justiça desportiva.
Rui Moreira n' A Bola.
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