sexta-feira, 9 de abril de 2010

Quando o coração balança

NOS últimos dias, assistimos a duas arbitragens polémicas. Falo, naturalmente, do desempenho de Jonas Eriksson no Benfica-Liverpool e de Artur Soares Dias no Sporting de Braga -Vitória de Guimarães.
No primeiro caso, tanto os encarnados como os reds têm as suas razões para se sentirem prejudicados pelo sueco. Tudo começou com a expulsão de Babel, que pareceu exagerada, no mesmo incidente em que o árbitro exibia dois cartões amarelos a Luisão, dos quais só um contou. Depois, ficou a sensação de que o árbitro recorreu ao pior dos remédios, entrando em compensações que terão prejudicado o Benfica.

No derby minhoto, a actuação de Artur Soares Dias, que é um dos mais prometedores árbitros portugueses, foi ainda mais polémica. Ora, não acredito que o árbitro tivesse a intenção deliberada de prejudicar uma ou outra equipa, nem me parece que a sua actuação mereça as críticas severas que lhe foram feitas. É verdade que a arbitragem parece ter sido afectada pelo seu equívoco, quando assinalou um penalty inexistente que, depois, pôde corrigir graças à ajuda do árbitro assistente. Mas, no restante, e depois de rever o vídeo, creio que apenas o último dos penalties que beneficiou o Braga é discutível. Ainda assim, há imagens que mostram que Renteria foi agarrado, ficando por saber se esse esticão foi suficiente para que o jogador se estatelasse na área. Mas isso, convenhamos, depende do critério do árbitro.

Durante o intervalo do jogo, troquei mensagens com um amigo benfiquista. Parecia-me que, desta vez, os nossos interesses coincidiam, já que uma eventual perda de pontos dos bracarenses conviria tanto ao Benfica como ao FC Porto. Ainda assim, dizia-me ele, então, que «antes do jogo começar tinha dito que Soares Dias iria fazer tudo para prejudicar o Braga (leia-se ajudar o Porto)». É claro que, com o desenrolar da segunda parte, acabaria por concluir que, afinal, estava enganado e, depois da vitória do seu clube na Figueira da Foz, estará a refazer as suas contas. Compreende-se que os benfiquistas se sintam tão confusos como os portistas. É que os portistas ainda esperam que o seu clube consiga chegar ao segundo lugar, mas também gostariam que o Braga ultrapassasse o Benfica e chegasse ao título. Se calhar, é isso que explica que não se espantem por o FC Porto ter emprestado ao Braga, em Janeiro, o colombiano Renteria, que por acaso foi crucial neste jogo. Mas se a classificação dos três clubes estivesse invertida, também os benfiquistas iriam preferir que o Braga fosse campeão em vez do Porto e, na conjuntura actual, certamente torcem para que os minhotos garantam o segundo lugar e releguem os portistas para a Liga Europa.

Tudo isto é normal, e faz parte do jogo das paixões. A verdade é que entre quezílias e suspeições, o Braga vai fazendo o seu caminho, somando pontos e coleccionando vitórias, mesmo quando não as merece.

Desculpa de mau gosto
A propósito do que sucedeu em Braga, Jesualdo Ferreira apareceu, no fim do jogo com o Marítimo, a apelar à igualdade de critérios. Soou a uma desculpa de mau pagador. Que o FC Porto foi prejudicado pela arbitragem em vários jogos, é inegável: aliás, e de acordo com a insuspeitável contabilidade da SIC, tem sido o mais penalizado dos três primeiros da classificação. Todavia, numa altura em que o Braga não pode contar com Vandinho, e também sofreu com as lesões, parece-me inaceitável, de mau gosto e despropositado que se invoque este caso. Resta ao FC Porto fazer boas exibições, não perder pontos e lutar até ao final do campeonato para tentar, ainda, chegar ao segundo lugar.

Falcao e Hulk
A classe e a motivação: é assim que se pode caracterizar as exibições daqueles que foram, sem margem para dúvidas, os dois jogadores do FC Porto que fizeram a diferença no jogo com o Marítimo. Depois de conseguir dar a volta ao marcador, em apenas 8 minutos, e quando se esperava que a reviravolta catapultasse a equipa para uma grande exibição, o FC Porto voltou a fazer uma exibição sofrida. Felizmente, Falcao e Hulk estavam em campo. Se o colombiano é a melhor das aquisições da época, o brasileiro tem fome de bola e está motivado, em boa forma física, e quer mostrar serviço. Estes são dois activos inegociáveis, numa altura em que se começa a pensar na equipa para a próxima temporada.

O descontrolo emocional
RAUL MEIRELES marcou um golo à ponta de lança, com a ajuda do guarda-redes Peçanha, e saiu lesionado. Ainda assim, logo aos 5 minutos, teve uma entrada sobre um jogador adversário que lhe poderia ter custado um cartão vermelho. Uma das questões incompreensíveis, esta época, é o descontrolo emocional que tem afectado, sucessivamente, alguns dos mais experientes jogadores do FC Porto. Também por isso, o clube precisa de um novo timoneiro, no banco e no balneário. Os exageros da CD da Liga a propósito do que se passou no túnel da Luz terão impedido que se fizesse, então, um diagnóstico sério sobre situações que não são habituais na organização do clube, que costumava ser infalível.

A alma do negócio
TENDO optado por manter Jesualdo até ao final da época, o FC Porto esconde o jogo relativamente ao seu sucessor. Depois de Paulo Bento ter sido apontado como o mais provável sucessor, agora surge o nome de um brasileiro, e volta-se a falar de Villas Boas, com quem o Sporting rompeu o pré-acordo feito há dois meses, ao que dizem os mentideros. Assim, está tudo em aberto, e é muito provável que seja preciso esperar pela muito provável conquista da Taça para saber qual a decisão de Pinto da Costa, que nunca subdelegou a escolha do treinador. Ainda bem que o FC Porto guarda os seus segredos a sete chaves, e não se sente obrigado (nem pela CMVM) a desmentir os sucessivos boatos que vão surgindo.

Rui Moreira n' A Bola.

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