sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A guarda das nossas redes

1 Antes do início da final de Aveiro, Jesualdo conversou longamente com Helton. É provável que lhe tenha dito que estava a dar-lhe uma dupla prova de confiança, concedendo-lhe a titularidade e deixando Beto fora dos convocados. Aparentemente, o apoio psicológico não resultou, porque Helton largou uma bola logo no início do jogo e repetiu a asneira mesmo antes de Bruno Alves resolver a contenda. O que lhe valeu é que os adversários não aproveitaram, ao contrário de que sucedeu a Cássio, que deitou tudo a perder para a sua equipa num único e infantil deslize. No final, Helton foi abraçar o seu colega de profissão. Também não se sabe o que lhe disse, mas é provável que tenha desabafado que a sorte e o azar são assim…

2 Após a exibição de Beto em Espanha, onde Helton deu barraca, havia quem apostasse que a baliza lhe iria ser confiada. Afinal, chegado o primeiro compromisso oficial, Jesualdo jogou pelo seguro, escolhendo o brasileiro para titular. Será que o ex-leixonense merecia ser relegado para o lote dos não convocados? Creio que Jesualdo não se limitou a proteger Helton, nem a agradar a alguns dos adeptos portistas que lhe perdoam tudo: até a sua displicência, por norma em partidas cruciais. Quis, também, proteger Beto, evitando expô-lo ao risco de ser prematuramente arrumado por um eventual falhanço em que poderia não ter a sorte de Helton, e ter em vez disso o azar de Cássio.

3 Jesualdo diz que tem os três melhores guarda-redes nacionais, mas é inegável que ainda não encontrou um substituto à altura de Baía. Não quer isto dizer que Helton não tenha qualidades. Aliás, só assim se compreende que tenha chegado ao escrete canarinho. O problema é que, sendo capaz de fazer grandes defesas, também complica o que parece fácil, o que é mais comprometedor nos jogos importantes, contra os grandes adversários, que têm bons jogadores como Farías. É que a razão pela qual o FC Porto aproveitou a dádiva de Cássio, e o Paços não aproveitou as de Helton, tem a ver, principalmente, com a qualidade individual de quem sabe tudo aproveitar.

4 No ano passado, Nuno Espírito Santo teve o pássaro na mão e deixou-o fugir. Num guarda-redes tão experiente, não se esperava que isso acontecesse, mas a falta de rodagem tem destas coisas. Pelo contrário, Ventura não pode demonstrar o muito que parece valer. Agora, no Olhanense, talvez consiga afirmar-se e, quem sabe, voltar ao Dragão, onde continua a faltar prata da casa. Entretanto, veremos se Beto terá oportunidades para confirmar os atributos que mostrou no Leixões. É que, como já se viu com outros guarda-redes, que também eram excelentes em equipas menores, essa condição não chega para lhe garantir o sucesso numa equipa de topo como o FC Porto (ou a selecção do Brasil…), onde um guarda-redes tem muito menos volume de trabalho, mas onde não há margem de erro e cada intervenção tem um peso decisivo.

Rui Moreira n' A Bola.

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