sábado, 22 de agosto de 2009

Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira n' O Jogo:

Avesso a particularizar, ontem Jesualdo particularizou, e muito. Fez a defesa de Hulk e clamou por justiça. Há leis que não são cumpridas, diz. A explicação é simples: não há coragem.

Qual é a sua opinião sobre o que se está a passar com o Hulk?

Todos nós temos memória. Não ficaram espantados com o que viram [vídeo mostrado antes]? Temos de ficar espantados ao longo do tempo, e em alguns momentos, com as considerações que fazem sobre esse assunto. Houve quem entendesse isto como uma forma de desculpa. Era importante que se pensasse que havia um jogador no futebol português [n.d.r. Hulk] que estava a passar a mau da fita. Era o jogador que mais faltas ofensivas fazia e o mais penalizado durante o jogo, mas que, quando tivesse um desabafo, era imediatamente punido. Até que, como nada se fez para perceber o que se estava a passar, e até porque se esquece as indicações da UEFA e da FIFA que vão no sentido de proteger o jogo e punir quem faz faltas, chegámos ao último jogo. Assistimos a uma acção de jogo em que o Hulk fez um desarme que o senhor árbitro não considerou falta, a seguir puniu-o com segundo cartão amarelo e, depois, o vermelho. O curioso é que quando pensava que ia apanhar um jogo, percebi que com o segundo amarelo, e depois com o vermelho, isso podia significar dois jogos. Disse que era fácil expulsar o Hulk em Portugal. É preciso que ele leve pancada o jogo todo, que os adversários não sejam penalizados e depois esperar que faça uma falta para o expulsar. Foi o que disse.

O que é que o FC Porto pretende com esta reacção? É um alerta, um grito de revolta?

É tudo. Significa que o FC Porto acaba de renovar contrato com um jogador importante para o clube, com uma cláusula de 100 milhões de euros, que é uma coisa louca. Significa a importância que o jogador tem para o FC Porto e a importância que o clube tem para o jogador. O que pretendemos é que o futebol português tenha um jogo de maior qualidade, mais emotivo, com melhores espectáculos. Não queremos que os jogadores de melhor qualidade sintam incapacidade para fazer o seu jogo ou que as equipas não possam aproveitar as capacidades dos melhores jogadores. Disse que o FC Porto tinha um jogador que era capaz de fazer mais faltas ofensivas do que aquelas que os defesas faziam sobre ele. É uma coisa gira. É como se os grandes jogadores da NBA de cada vez que aplicassem as suas capacidades ao máximo, físicas ou técnicas, fossem penalizados. Num quadro de leis claras, elas têm de ser aplicadas. A questão não é a de não haver leis, mas sim a de não haver coragem para marcar as faltas. Há regulamentos que não são aplicados e quando isso acontece diz-se que não se sabe e não se faz nada. Não há é coragem para aplicar o que está previsto na lei. Mas não é só aqui e não é só no contexto desportivo.

Teme que o futebol português não esteja preparado para um jogador com a qualidade do Hulk?

Não é isso. Sempre houve jogadores de grande qualidade no futebol português. Quando se diz que os jogadores com talento devem ser protegidos, não se trata disso. Trata-se de aplicar as leis do jogo e ter a capacidade para avaliar as situações. Se não for assim, é muito fácil preparar uma equipa para jogar. Se o FC Porto se preocupa em ser a equipa que faz menos faltas, que ganha os jogos, que os seus jogadores não vejam amarelos e se somos melhores do ponto de vista táctico e técnico, por que é que é fácil fazer um jogo em que nada disto é importante e passa a ser importante apenas travar os jogadores com melhor qualidade? Trava-se o jogo através de faltas constantes. Vamos ver as faltas que existem em Portugal em cada jogo: 50, 46, 39... Isto é jogo? Tem de haver, por parte de quem é responsável pelo jogo, regras definidas. Também tem de haver mentalização dos jogadores e tem de haver consonância entre os agentes do futebol. Estamos a discutir imagens que passaram várias vezes na televisão na época passada e o que é que se fez? Nada. Aconteceu uma lesão grave do Hulk e aconteceu o que se viu neste último jogo, depois de já ter acontecido três ou quatro situações idênticas na Supertaça. Para que fique claro: não estou a desculpar o Hulk. O processo de educação do Hulk no futebol europeu, e tudo indica que continuará nele, é que tem de haver capacidade para controlar emoções. Não vamos é tirar do Hulk o que ele tem de mais poderoso, que é a agressividade competitiva e física, o talento e o profissionalismo. É bom que se diga que o Hulk não é mal-educado. Se fosse, estaria aqui a dizer o que penso. É um jogador que, como qualquer um, desabafa. É bom que os árbitros comecem a perceber o léxico que há no campeonato, porque não há apenas jogadores portugueses. É bom que os árbitros percebam que se têm sensibilidade nos ouvidos, também têm de entender que essa sensibilidade existe do lado dos jogadores. Num quadro emotivo, é bom que todos os agentes envolvidos percebam que é importante mudar, sob pena de não podermos qualificar o nosso futebol como bom.

Esta questão à volta do Hulk está a ter implicações na preparação da equipa?

Não. Durante 300 e tal treinos por época os jogadores sabem qual é a nossa linguagem de funcionamento. Os jogadores também entendem que não há questões claras.

O facto de não ter Hulk trava-lhe o crescimento da equipa?

Ele não cresce com os jogos... cresce com o treino.

Mas quanto ao crescimento da equipa...

A equipa vai ter de resolver o problema. Numa conversa que tive há tempos, disse que o Hulk influencia mais a Imprensa do que o seu próprio treinador. O Hulk impressiona mais a Imprensa e os espectadores do que a mim. São questões avaliadas dentro do treino e dentro daquilo que é o jogo de equipa. Quando o Hulk faltou, a equipa resolveu. Agora também terá de resolver. Para ele, foi mau. Para o FC Porto também. Vai faltar-lhe competição, vai ficar um mês parado. Vai dar para ele perceber que tem de lidar com esse tipo de avaliação injusta.

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