sexta-feira, 21 de agosto de 2009

'Catenaccio' à portuguesa

ENTENDE-SE o orgulho do presidente do Sindicato de Treinadores por todas as equipas das competições profissionais serem orientadas por portugueses mas, se é positivo que os treinadores portugueses tenham um prestígio que lhes abre as portas internacionais, também é verdade que essa exclusividade doméstica contribui para o conservadorismo do nosso futebol, que se reflecte nas tácticas defensivas e na falta de golos.
Os treinadores portugueses conhecem melhor do que ninguém os costumes caseiros, e sabem que os adeptos nacionais estão menos preocupados com o espectáculo do que com o resultado. Lembro-me, a propósito, duma conversa que tive com Co Adriaanse, semanas antes do holandês romper com o FC Porto. Dizia-me ele que havia momentos em que ficava na dúvida se o adepto português gostava, de facto, de ver futebol, ou se apenas estava interessado na vitória da sua equipa, ou seja, se gosta mais do jogo que de futebol.

O que é inegável é que, de acordo com os padrões nacionais, é menos preocupante não ganhar do que não perder. É por isso que, entre nós, e ao contrário do que acontece, por exemplo, no futebol holandês ou escocês, os adeptos tendem a só aplaudir a equipa quando esta está a ganhar, e é muito raro ouvir-se aplaudir quem está a perder ou já perdeu, mesmo que a derrota seja imerecida. Este status quo, que conta com a cumplicidade de alguns ilustres especialistas do futebolês, sempre prontos a crucificar os insensatos treinadores que ousam correr riscos, acaba por influenciar as tácticas e por redundar em maus espectáculos, com poucas ocasiões e pouquíssimos golos, como se viu na maçadora primeira jornada da nossa principal liga, com jogos tão monótonos, com equipas medrosas e com permanentes interrupções causadas por faltas reais e por muitas lesões fingidas. Creio, aliás, que o nosso futebol deve ser recordista mundial da utilização da maca.

Não defendo, note-se, a adopção de tácticas suicidas, por parte dos treinadores das equipas mais fracas. No jogo entre o gato e o rato, disputado entre o mais forte e o mais fraco, é normal que este tente pregar partidas àquele. Foi o caso do Marítimo, na Luz, onde fez a exibição possível, com sorte, é certo, mas também com inteligência e mérito. Contudo, se essa opção de contra-ataque é compreensível perante tão grande desequilíbrio de forças, já não entendo, por exemplo, a táctica do treinador do Paços de Ferreira que, a jogar em casa e depois de se ter apanhado com a dupla vantagem, no marcador por culpa da defesa do FC Porto e da trave, e no número de jogadores por precipitação de Hulk e por artes do xistrema, optou por reforçar a defesa em vez de tentar dar a estocada final.

É por essas e por outras, também, que os estádios estão vazios, e que o futebol nacional vai perdendo competitividade e viabilidade, e não sai da cepa torta.

Rui Moreira n' A Bola

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