NAPOLEÃO costumava dizer que o que os seus exércitos deviam fazer sempre em primeiro lugar era mostrar ao inimigo aquilo que o inimigo mais pudesse temer. Se essa for a ideia de Abel Resino, não tenho dúvidas: ao abrir da noite, no Vicente Caldéron, ele mostrará Kun Aguero, a quem Jorge Valdano já traçou, poético, o destino: «Num ano fez-se dono do Atlético, em menos de dez tornar-se-à um dos donos do futebol universal...»
Sim, por sua obra e graça, o jogo do Atlético entrou num cenário novo - do génio que é capaz de descobrir caminhos para o paraíso com a imaginação e a cintura, que em 10 metros quadrados põe toda a equipa a reencontrar-se com a energia e a ordem que a resgata de trevas e angústias. Mas, apesar disso, pode haver factor individual mais decisivo - o menino que driblou o destino da favela, que pequenino se levantava às duas da madrugada para vender bagatelas em feira pobre, que Givanildo de Souza se transformou, incrível, em Hulk. Nele, eu adoro a tendência para não ser aquilo que os treinadores pós-modernos querem que os jogadores sejam: disciplinados, obedientes, tecnocráticos, mostrando, rebelde – estilo, imprevisibilidade e volúpia. Nele, eu empolgo-me com a essência romântica que é jogar sem esquecer que, tal como na guerra, fundamental é a arte do engano, enganando com o drible, enganando com o passe, enganando com o raide. Nele, eu deslumbro-me com a convicção de que no campo ainda existe espaço entre o sonho e a criatividade que apenas a fúria e a delicadeza, a velocidade e a inspiração, podem atravessar. Nele, eu entusiasmo-me com a alma que carrega no acelerador do corpo imponente que rasga a ânsia com a baliza nos olhos, o instinto no pé. Tudo o que se tem visto por cá - e na Europa ainda não. Portanto, se esse Hulk estiver, logo, em Madrid, o FC Porto pode sair de lá com futuro ganho nas Champions e ele com futuro ganho na história - senão... se só lá estiver o seu fantasma, a sua ilusão, não sei... (e é melhor nem escrever o que estou a pensar...)
António Simoões n' A Bola.
Sim, por sua obra e graça, o jogo do Atlético entrou num cenário novo - do génio que é capaz de descobrir caminhos para o paraíso com a imaginação e a cintura, que em 10 metros quadrados põe toda a equipa a reencontrar-se com a energia e a ordem que a resgata de trevas e angústias. Mas, apesar disso, pode haver factor individual mais decisivo - o menino que driblou o destino da favela, que pequenino se levantava às duas da madrugada para vender bagatelas em feira pobre, que Givanildo de Souza se transformou, incrível, em Hulk. Nele, eu adoro a tendência para não ser aquilo que os treinadores pós-modernos querem que os jogadores sejam: disciplinados, obedientes, tecnocráticos, mostrando, rebelde – estilo, imprevisibilidade e volúpia. Nele, eu empolgo-me com a essência romântica que é jogar sem esquecer que, tal como na guerra, fundamental é a arte do engano, enganando com o drible, enganando com o passe, enganando com o raide. Nele, eu deslumbro-me com a convicção de que no campo ainda existe espaço entre o sonho e a criatividade que apenas a fúria e a delicadeza, a velocidade e a inspiração, podem atravessar. Nele, eu entusiasmo-me com a alma que carrega no acelerador do corpo imponente que rasga a ânsia com a baliza nos olhos, o instinto no pé. Tudo o que se tem visto por cá - e na Europa ainda não. Portanto, se esse Hulk estiver, logo, em Madrid, o FC Porto pode sair de lá com futuro ganho nas Champions e ele com futuro ganho na história - senão... se só lá estiver o seu fantasma, a sua ilusão, não sei... (e é melhor nem escrever o que estou a pensar...)
António Simoões n' A Bola.
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