DEPOIS do desastre londrino, não se podia esperar nada de bom da deslocação a Coimbra. E a verdade é que só se salvou o resultado e o empenho de alguns jogadores. De resto, a exibição confirmou que, até ao fim da época, o que de bom suceder será uma agradável surpresa.
Como tem sido costume quando as coisas correm mal, voltou a haver um sacrificado. Desta vez foi Fucile, que estivera desastrado em Londres, mas que não terá sido, nem de longe nem de perto, o único responsável. Será que Jesualdo, que apontara os erros individuais como a principal razão do desastre colectivo dessa noite, precisava de apontar o dedo a esse réu excluindo-o da convocatória, ou terá querido proteger o seu pupilo? Haverá nisso alguma vantagem, do ponto de vista da gestão do balneário?
O problema é que, pela mesma lógica, também Jesualdo vai sendo apontado como o único responsável pela época falhada. Aliás, e tendo mais um ano de contrato com o clube, a escolha do seu sucessor é o principal tema das conversas entre adeptos. Ora, sendo certo que o treinador não esteve isento de culpas por muito do que sucedeu, nomeadamente no jogo de Londres, onde terá sido ele a cometer o maior dos tais erros individuais, a verdade é que o seu insucesso não deve servir para esconder erros de gestão que são evidentes neste fim de ciclo.
Seria bom que este tempo de ressaca servisse para reavaliar o modelo de negócio e escolher uma nova estratégia de afirmação do clube. Da mesma forma que não interessa queimar o plantel e o treinador, também não chega dizer que esta gestão já ganhou tudo o que havia a ganhar e que por isso se conclua que é ingrato questionar ou até debater as suas políticas, da mesma forma que não se pode aceitar que, de repente, sejam alguns dos que caucionaram as políticas e participaram na gestão a aproveitar a crise para apontarem, tardiamente, os seus erros. Esses ajustes de contas de nada servem, da mesma forma que a glória passada não pode impedir uma discussão sobre o futuro.
O mérito da gestão do clube, que lhe valeu o reconhecimento fora de portas que a inveja nacional nunca tolerou, esteve sempre na sua capacidade de ser um David que conseguia vencer os Golias. Com Pinto da Costa, o FC Porto começou por dominar o panorama doméstico com orçamentos muito inferiores aos da concorrência. Depois, com a participação regular e bons desempenhos na Liga dos Campeões, e sabendo valorizar os seus activos, sedimentou a sua hegemonia à custa de um orçamento superior, que escondeu alguns vícios. Agora, sem as receitas da Europa e sem grandes negócios à vista, esse ciclo chegou ao fim. O desafio que se coloca a Pinto da Costa é o de encontrar um modelo adequado aos novos constrangimentos e a sua autoridade incontestada exige que seja ele a assumir pessoalmente a responsabilidade de recriar uma equipa à imagem de David, enxuta e sustentável, mas mortífera e vencedora.
Alta rotação, baixa identidade
UM dos problemas do modelo de negócio que o FC Porto adoptou, nos últimos anos, é que obrigou a uma grande rotação do plantel. Basta ver que, num jogo tão importante como o de Londres, metade dos titulares, excluindo o guarda-redes, eram jogadores que estão na sua primeira época no FC Porto. Ora, a questão de identidade, que é sempre relevante, sempre foi um dos segredos do sucesso do clube, como os seus antigos treinadores e jogadores não se cansam de atestar e que Baía, numa recente entrevista, veio recordar. Ninguém duvida que há jogadores com mérito na falange argentina, mas falta, nesta equipa, um líder em campo e, mais do que isso, um núcleo duro que jogue à Porto.
A Taça da importância
A Taça da Liga não é um troféu importante, nem servirá para salvar a época desportiva. O que importa é que o FC Porto vai jogar com o Benfica, e os adeptos de ambos os clubes olham para este encontro com atenção redobrada. A rivalidade, porque é apenas disso que se trata entre aqueles que gostam de futebol, exigirá que as duas equipas se apresentem no Algarve com a intenção e a vontade de ganhar. São essas as contas, e não há outros argumentos. Depois, se o FC Porto ganhar como se exige, resta esperar que o plantel aproveite essa ocasião soberana para se reconciliar com os adeptos, a quem tem dado muitas tristezas e poucas alegrias. Tudo o resto é, convenhamos, de somenos importância.
Táctica de avestruz
DE acordo com um comunicado, «a Administração da FC Porto SAD demarca-se desde já do acto eleitoral da LPFP que se avizinha; o FC Porto não irá participar no mesmo, muito menos apoiar quem quer que seja nesse processo eleitoral». Tudo isto porque este jornal publicou uma notícia sobre o tema que o clube reputa de falsa. Ora, não há razão que justifique que o FC Porto opte pela marginalização e deixe, por abstenção e ausência, que a portofobia se perpetue na Liga. E, se porventura o clube quer esconder a sua táctica, então que se remeta ao silêncio. Não, não é um critério jornalístico que vai a votos, nem é A BOLA quem organiza as competições, comanda a arbitragem ou controla a disciplina…
Panos e nódoas…
ANTÓNIO BORONHA, que anda há muitos, muitos anos no futebol, aproveitou o regresso do Marselha a Lisboa, vinte anos depois, para revelar um delicioso episódio que presenciou, por ocasião do célebre jogo que a mão de Vata sentenciou. A história envolve «a equipa de arbitragem chefiada por Langenhove, César Correia e Alder Dante, que os acompanhavam, e dois funcionários do Benfica, sendo um deles... loura e bonitinha» e decorreu após o jogo, num famoso cabaret. Não sei se Ricardo Araújo Pereira já escolheu o tema da sua próxima crónica, mas à falta de novas sobre o FC Porto, prometo-lhe que esta «estória», como Boronha lhe chama, é palpitante e será, estou certo, inspiradora.
Rui Moreira n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário