HÁ quem diga que é lenda, há quem diga que não. Que quando Martin O´Neill se estava a lançar como treinador nos Wycombe Wanders confessou a um dos seus pupilos que não sabia bem o que lhe pedir como lateral-esquerdo – ele, desconcertado, murmurou-lhe:
– Então, se não sabe, como é que pode treinar-me, mister?!
e O´Neill, sem um traço de desmancho no rosto, retorquiu-lhe, em brado:
– Eu não estou aqui para te treinar, estou aqui para estar demasiado ocupado a ganhar jogos apenas...
Esse é dos mais flagrantes sinais da razão filosófica do prof. Manuel Sérgio: que não pode saber muito de futebol, quem só sabe de futebol. Não tenho dúvidas: Jesualdo Ferreira sabe muito de futebol – mas, assustadiço, cada vez mais parece que só sabe de futebol. Ao contrário de Jorge Jesus. Por causa disso, lembrei-me de Giovanni Trapattoni, de célebre sentença sua:
– No máximo, um bom treinador pode conseguir que uma equipa melhore 10 por cento, mas um mau treinador pode piorá-la 50 por cento...
Não sei se logo à noite, o Arsenal me vai revelar em que percentagem andará, de momento, o FC Porto. Mas sinto que, aconteça o que acontecer, a Jesualdo Ferreira de pouco servirá o que já ganhou no Dragão – porque o futebol tem o destino cruel que Alex Ferguson lhe pôs numa frase, lapidar:
– Depois de o termos ganho, um troféu já não tem significado nenhum. Na altura foi o mais importante, mas assim que acaba a festa, é para esquecer. O mais importante passa a ser o passo seguinte...
O passo seguinte de Jesualdo foi um trambolhão. Que começou quando Jorge Jesus entrou, empolgado, na Luz, e, virando-se para os jogadores, sem o dizer assim, lhes disse o frenesim:
– Vou pôr-vos a suar sangue!
e o milagre foi eles acreditarem mesmo que suam sangue que incomoda, assusta, arrebata. Por isso, ninguém joga melhor em Portugal, semana após semana se vê – e desse fulgor se faz o drama de Jesualdo, o seu destroço...
António Simões n' A Bola.
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