segunda-feira, 8 de junho de 2009

Entrevista a Jesualdo Ferreira n' O Jogo

Começando pelo fim na viagem dos três títulos. Assinou por mais dois anos, continua com motivação?

Ainda não ganhei tudo. Falta ganhar a Supertaça, outros campeonatos; falta ter presenças mais significativas na Liga dos Campeões. Falta ganhar um campeonato sem derrotas. Há metas intermédias que constituem os nossos ciclos de motivação.

Vencer o campeonato sem derrotas é um objectivo para a próxima temporada?

É. Começamos sempre com um objectivo final, prioritário, mas tem de haver projectos intermédios, que são fundamentais para que possamos respirar com mais força em qualquer circunstância. As equipas fazem-se de rotinas de trabalho, de treino, de jogo, de rotinas tácticas e de comportamentos, mas as ambições não podem ser rotineiras. Devem sair de uma linha de continuidade. Nos últimos três anos, o FC Porto foi a equipa com mais golos marcados e menos sofridos. Só nos resta tentar um campeonato sem derrotas. Outro aspecto: andámos sempre dentro dos 70/75 pontos em 30 jornadas, e é importante projectar a ideia de conseguirmos mais pontos. Estivemos 23 jogos sem perder no campeonato, e não sei se isso será um registo importante. Estas são contas que têm de ser estabelecidas quando recomeçarmos a época, definindo etapas intermédias, objectivos parciais. Sem querer hierarquizar, o campeonato é o objectivo mais importante, mas também há a Taça de Portugal e a da Liga para ganhar, bem como a ideia de chegar aos oitavos da Champions, pelo prestígio, pela marca FC Porto e pelo dinheiro. O FC Porto já ganhou essa prova, pelo que é impossível ultrapassar esse objectivo, e prefiro não pensar na Taça UEFA.

Não gosta de individualizar, mas também há objectivos pessoais a atingir. É o primeiro tricampeão no FC Porto, mas pode tornar-se no primeiro treinador tetracampeão em Portugal…

Tudo o que for abaixo do que conquistámos é derrota. Tenho consciência de que vamos partir com os créditos quase a zero, porque as exigências serão sempre maiores.

Não teria sido mais fácil encerrar o ciclo com a dobradinha e sair por cima?

Isso não estava de acordo comigo a partir do momento em que o presidente me convidou para continuar. Lançou-me um desafio para novas conquistas, e eu nunca iria recusar. Se as coisas tivessem ficado num plano de discussão, poderia pensar se não seria bom para mim sair, mas não foi o caso. Todos nós temos desafios pessoais que às vezes devemos procurar, mas, a partir do momento em que o presidente me convidou, não tinha como dizer que não.

Voltando um pouco atrás na conversa: acha que era necessário ter mantido o tabu tanto tempo?

Não se trata de ser necessário ou não, nem se tratou de estratégia nenhuma. Tratou-se apenas de resguardar uma decisão que, a dado momento, dependia também de um conjunto de resultados que tinham de acontecer para que as coisas tivessem esta segurança e esta consequência normal. Achámos também que, quaisquer que fossem as conversas objectivas que tivéssemos em relação ao meu futuro no FC Porto, iriam provocar, por exemplo, perguntas como essa que me está a fazer. Que as façam agora, que a época já acabou, porque não queríamos que as fizessem num momento em que ainda tínhamos um campeonato e uma Taça de Portugal para ganhar.

Alguns dos que escrevem comentários disseram que, de alguma forma, a manutenção deste tabu o colocava numa posição de inferioridade em relação ao presidente. Sentiu isso de alguma forma?

Senti nada. Em qualquer momento, poderia ter feito um acordo com o presidente para divulgar a nossa conversa. Se tivesse, no meu espírito, uma ideia de grande herói, tê-lo-ia feito logo no dia seguinte, não tinha nenhum impedimento nesse sentido, mas achámos que era muito mais importante manter uma estabilidade em relação às questões. Por isso é que disse várias vezes para não fazerem mais perguntas sobre isso, porque não ia responder. Pretendia que me dessem estabilidade e que não me obrigassem a falar disso, que não me perguntassem como é que iam ser os próximos dois anos ou o que é que eu achava da saída deste ou daquele jogador, etc., e tudo isto em pleno campeonato. Quando estávamos a jogar e ainda tínhamos a Taça de Portugal para ganhar, íamos estar a falar no defesa-esquerdo que entraria ou no defesa-direito que vai sair? Se já estava contratado este ou aquele? Aquilo que fiz foi apenas rejeitar todo este tipo de questões. Ao fazer isso, a própria Imprensa não tinha a segurança para falar muito do assunto, como acontece noutros clubes, enquanto estão a jogar. No FC Porto, isso não pode acontecer. Portanto, garantir esta situação não me fragilizou nada.

Pinto da Costa foi autorizado a falar. Sente que isso foi importante para a equipa e que o aliviou um pouco, já que o Jesualdo Ferreira foi durante dois anos a única voz do clube?

Sempre que o presidente fala, o País abre mais os ouvidos. Vale mais ele a falar uma vez do que se for eu a fazê-lo dez vezes. O facto de ele ter aparecido, nos últimos dois meses, a dizer coisas importantes foi bom. E chamo a atenção para a mobilização de novos adeptos e a descoberta de muitos espaços em que seria impensável que houvesse tantos portistas. Essa foi uma das acções que mais me espantaram por parte do presidente. Isso deve-se a ele.

À equipa, também chega a voz dele?

Claro que sim, e isso é visível. Os jogadores têm uma admiração e um grande respeito pelo presidente.

Acha que neste último ano conseguiu libertar-se de algumas sombras que o acompanhavam desde que chegou ao FC Porto? Foi a herança de Adriaanse; as insinuações de que Baía, então no banco, participava em decisões técnicas; a importância de Carlos Azenha...

Fui sempre eu a mandar. Todos sabem disso. Mas, convinha que não fosse assim, fazia parte da tal história de que era um indivíduo ligado ao Benfica, que tinha pouco currículo e sem capacidades para treinar o FC Porto. Por tudo isso, como era possível que este indivíduo alcançasse vitórias? Houve quem tenha aproveitado para se promover. Também houve sempre uma linha condutora da minha parte, com o mesmo discurso e sem deixar de fazer o meu trabalho. Tenho uma liderança repartida porque acho que essa é a melhor de todas. No FC Porto, todos sabem que, na minha área, a responsabilidade é sempre minha. Sou eu que digo como se faz e como não se deve fazer. Pela própria organização do clube, é impossível que alguém seja o dono da verdade. Isso não existe em nenhuma empresa de sucesso.

Ganhou o campeonato e a taça, conseguiu a sua melhor participação na Champions, tudo isso sem as sombras do passado. Foi importante para este fenómeno de popularidade?

Tenho de aceitar isso, mas, para mim, não foi importante. Na minha cabeça, nunca houve dúvidas sobre o que estava a ser feito aqui. Uma liderança de uma equipa como o FC Porto, que ganha mais vezes, que tem jogadores de grande qualidade, e que tem uma Imprensa que o acompanha e que nem sempre lhe é favorável, é um veículo bom para que, por vezes, se digam coisas que não correspondem à verdade. Não tivemos, nestes três anos, problemas disciplinares, nem questões cabeludas para resolver, ganhando mais vezes do que os outros. Acham que isto seria possível com muitas cabeças a mandar?

Disse, já no final, que estava cansado. Foi o ano que lhe deu mais trabalho?

Foi o ano em que as coisas, pela maneira como correram e como foram sendo decididas, nos desgastou mais, e não falo só de mim. Era visível o desgaste na equipa do FC Porto, nos seus jogadores e em toda a sua estrutura. Sou muito honesto nessas coisas e se o disse publicamente é porque estou mesmo desgastado, se calhar até para não me incomodarem muito [risos] e ver se vou de férias...

Pegando no cansaço que alegou e na perspectiva da próxima época, que começa daqui a menos de um mês, está pronto para a inevitabilidade de ter de tapar alguns buracos grandes na equipa?

Para mim, é evidente que a administração do FC Porto vai seguramente conseguir um equilíbrio entre aquilo que são os resultados desportivos e as necessidades financeiras. Muitas destas questões vão ser resolvidas pelo próprio mercado. Estar a perspectivar o futuro próximo é perder tempo. O que temos de fazer, dentro daquilo que são as nossas estruturas, é reorganizar sempre o plantel. Já o fizemos antes, em Dezembro e no final da época, isto para podermos estar à altura de ultrapassar aquilo que são as necessidades financeiras, e sempre dentro dos resultados desportivos que o FC Porto quer ter. Primeiro: não acredito que o clube venda todos os seus melhores jogadores. Segundo: não acredito que o FC Porto queira fazer um encaixe financeiro tremendo para, depois, ter de construir uma nova equipa. O que vai acontecer, provavelmente, é uma reacção ao que o mercado ditar e reequilibrar estas duas questões. Nesta altura, poderemos vir a admitir a saída de um ou dois jogadores se estiverem devidamente cobertos, isto para que se mantenha a estrutura tão forte como a que tivemos este ano e, num aspecto ou outro até melhorar, porque também temos argumentos financeiros para procurar outras situações favoráveis.

Para pormos os nomes nas coisas, fala-se na saída do Bruno Alves e de Lisandro, admite falar nelas?

Fala-se nas saídas de Bruno Alves e do Lisandro, porque, sob o ponto de vista público, são os que aparecem mais vezes solicitados para sair. Os encaixes financeiros que esses dois jogadores podem proporcionar serão equacionados pela SAD como sendo bons, muito bons ou insuficientes. Ou, então, que ultrapassaram o que é habitual e, a partir daí, haverá uma decisão boa.

Mas, teoricamente, seriam dois grandes buracos...

Seriam dois grandes jogadores que saíam, mas estou seguro de que o FC Porto iria resolver bem o problema dessas duas saídas.

Não pensou em resolvê-las ainda?

Não. Ainda não saíram, ia agora estar a perder tempo para as resolver...

O professor evoluiu em quê nestes três anos?

Acima de tudo, confirmei muita coisa que pensava ser possível e que nunca tinha tido condições para o conseguir. Esta é a forma mais fácil de sintetizar o que sinto. Em nenhum clube onde trabalhei, até hoje, tinha tido a possibilidade de confirmar no terreno aquilo que achava ser o mais importante na preparação de uma época. Não foi agora que aprendi a treinar, não cheguei com um livro debaixo do braço. A estrutura do FC Porto permite que me preocupe exclusivamente com a equipa. Depois, há a exigência de cada vez sermos melhores.

Referiu a importância que a estrutura mais próxima da equipa tem nos resultados. Nesse capítulo, existe uma diferença muito grande entre o FC Porto e as outras equipas por onde passou?

Se o FC Porto ganha há mais anos, no plano nacional e internacional, se consegue rentabilizar mais jogadores e ser uma marca respeitável, alguma razão haverá, e não depende, seguramente, dos jogadores e do treinador. Resulta da organização. No futebol, a estrutura é a mais simples que conheci: tem um presidente, um director-geral e um treinador. Aqui, não existe nenhuma voz que abafe as outras ou nenhum ouvido que ouça só o que quer. O que existe são pessoas que pensam, mas são poucas as que, quando chega o momento, colocam as coisas em prática. É essa a simplicidade deste clube. Se os outros não conseguem isso, não é um problema do FC Porto. Ao contrário do que dizem, falo aquilo que penso, mas para ser diferente não tenho de falar diferente. A simplicidade não é fácil e eu próprio tive de aprender, porque, nos outros sítios, não era só treinador. Quando dava conta, estava a fazer outras coisas e deixava de ser tão bom treinador como tenho sido aqui.

Como avalia a evolução de Bruno Alves?

Bruno Alves, que foi sempre um jogador muito mal visto, com um temperamento muito difícil de controlar, era um jogador com imensa potencialidade, mas não conseguia ser um central eficaz. Teve um crescimento sustentado; cresceu pelas competências que tem. Aprendeu a defender, que era uma coisa que ele antes não sabia. Quando o fez, começou a ser um jogador mais sereno, mais equilibrado, mais controlado. Porquê? Porque o que era importante para o Bruno era saber defender e conhecer a tarefa a que estava destinado. Começou a fazê-lo com naturalidade e todas as outras questões desapareceram. O Bruno Alves é um indivíduo sem limites nas exigências que impõe a si próprio, sem limites nas exigências que impõe aos companheiros; identifica-se claramente como um jogador à Porto, como toda a gente já percebeu, e é um jogador a quem o futuro reserva não se sabe o quê, porque também não tem limites nas suas ambições. É o mesmo jogador que viu dois cartões amarelos no campeonato, fez pouquíssimas faltas, que em três Ligas dos Campeões comigo, em 26 jogos, viu três amarelos. Portanto, é este o jogador que as pessoas chamam violento, porque não esqueceram ainda o tal filme que ele trazia. Tal como eu, ele também trazia um, só que esse filme agora passou a ter outras cores. Passou a ser um jogador titular na Selecção, tal como o Bosingwa, que, quando aqui cheguei, não o era; o Raul Meireles também não; o Lisandro nem sequer era titular no FC Porto... Não gostaria de falar mais nos jogadores, mas era o que faltava estarmos a trabalhar três anos seguidos no FC Porto e eles saírem piores do que quando cá cheguei. O que atesta a evolução é aquilo que conseguiram individualmente e com a equipa.

Continuando com o Bruno Alves, houve um momento nesta época que os adeptos consideram fundamental. No final da derrota na Figueira da Foz, ele teve aquela reacção de ir ter com os adeptos e de ter oferecido o peito às balas. Acha que isso também define a personalidade?

Claro que sim, o Bruno é assim, é exactamente aquilo que as pessoas viram na Naval. Ir à massa associativa fazer o que o Bruno fez qualquer um faz, mas fazer aquilo que ele fez depois, durante a época, é que não. Toda a gente sabe o seu trajecto, na equipa e na sua posição específica. Por alguma razão, ele é o número dois do FC Porto, que é um número mítico no clube; por alguma razão ele foi capitão na ausência do Lucho. Ninguém notou que o capitão nos jogos decisivos do FC Porto foi o Bruno, que foi capaz de ultrapassar o que lhe aconteceu em Manchester de uma forma notável. Só alguém com muita capacidade mental, com grande força mental e grande confiança nos seus recursos ultrapassava, da forma como ele o fez, aquele acidente em Manchester. Diria que o Bruno Alves foi uma construção em que muita gente ajudou, nomeadamente ele próprio.

O trio que o FC Porto tem no meio-campo: Fernando, Raul Meireles, Lucho, foi dos mais estáveis ao longo da época. Na defesa e na frente houve mudanças. É importante para si manter esse trio?

Dois desses jogadores jogam há três anos juntos, com mais de 100 jogos feitos comigo. A única alteração foi o Fernando, que rapidamente agarrou aquilo que é a complementaridade. O Raul sabe que tem missões de transição, porque é o melhor médio de transições do futebol português, faz de duplo pivô muito bem quando é preciso uma maior contenção no jogo. O Lucho, podendo jogar num espaço maior em relação ao Raul, tem a vantagem da capacidade do jogo frontal, mas uma menor capacidade defensiva e de cobertura de espaços em relação aos outros dois. Mas, também não interessa que o faça bem, até para o próprio interesse da equipa. Portanto, a complementaridade dos três jogadores foi a garantia de uma grande equilíbrio da equipa.

É um sector que não lhe interessa mexer muito na próxima temporada…

O meio-campo foi mexido. A partir da segunda volta, foi muito mexido. Só que foi possível aos jogadores, trabalhando dentro dos mesmos processos, quando chamados a jogar ganharam estatuto, confiança e identidade. O trio Fernando, Raul e Lucho garante um conjunto de meios que outros não conseguirão, não por falta de qualidade, mas de rotina e de trabalho. Por exemplo, não é fácil desmanchar um meio-campo como o do Barcelona e encaixar lá três jogadores com as mesmas características. A não ser que se façam clonagens.

Ganhou finalmente a final da Taça de Portugal...

A Taça veio quebrar uma ideia. Primeiro, dizia-se que no FC Porto qualquer treinador ganhava o campeonato; foi assim no primeiro e no segundo ano. Para demonstrar que qualquer um fazia isso e que o que se estava a fazer não era nada de especial, dizia-se que não consegui passar os oitavos-de-final da Champions, como se isso fosse fácil.Este ano, foi tudo ao contrário: ganhámos o campeonato, passámos aos quartos e até ganhámos a Taça de Portugal. Agora começa a ser difícil dizer alguma coisa. Bem, vão dizer que não ganhei a Supertaça...

É um desafio?

É. Para ver se conseguimos passar também essa fase das finais.

Disse que o FC Porto era uma equipa mais de corridas de fundo…

O FC Porto, nas finais que disputou, momentaneamente não foi melhor e o adversário ganhou. Uma final é isso mesmo. Alguém esperaria que o Manchester fosse tão defensivo e tão macio como foi contra o Barcelona? Se calhar, nem eles próprios. Das finais que jogámos, perdemos uma muito bem e nas outras, tanto podíamos ter ganho como perdido. O jogo da última não foi muito bom, mas ganhámos bem. Foi um Paços fantástico que proporcionou uma festa interessante.

A nível pessoal, foi importante ganhar a Taça?

Para mim, é importante ganhar aquilo em que posso participar. Estou no FC porto e vou continuar porque quero ganhar.

Cissokho surpreendeu-o tanto a si como ao resto das pessoas?

Tenho que reconhecer que me surpreendeu pela forma como foi capaz de resistir a uma exigência muito grande.

Como é que o descobriu?

Foi através dos jogos que vi do Setúbal.

Quando o foram buscar sabiam que ele era este jogador?

Ele tem uma grande capacidade de dar profundidade ao jogo e isso não significa correr muito, mas conseguir, com e sem bola, ganhar espaços difíceis de conquistar. Mostrou essas qualidades no Setúbal. As minhas dúvidas situavam-se ao nível da capacidade táctica individual defensiva e da capacidade mental para jogar no FC Porto. Para a primeira dúvida, sabia que podíamos tratar dela com trabalho, a outra é mais difícil de prever, e foi o que mais me surpreendeu. Quando ele respondeu a esse nível, o resto foi fácil. Aprendeu a defender melhor, comete menos erros tácticos e melhorou muito a profundidade e eficácia, porque passou a jogar dentro do processo da equipa. Os laterais do FC Porto não devem estar nos 90 em ataques da equipa; houve uma adaptação normal. Mas, até ao fim de Abril, foi muito mais pujante e exuberante do que no último mês, resultado de um esforço superior ao que conseguia aguentar. Pagou essa factura, sem deixar de ser sólido e equilibrado.

Terá sido o jogador que mais sentiu na pele a atenção que a Imprensa dá a um jogador do FC Porto…

A determinada altura, a Imprensa, nacional e internacional, colocou-o numa posição em que foi complicado explicar-lhe que o Mundo ainda não tinha acabado nem começado, que ele tinha as mesmas botas, o mesmo equipamento, o mesmo número e os mesmos companheiros. Ninguém é insensível a esse tipo de situações, complicadas de tornear.

Considera que ele é uma preciosidade, sendo um lateral-esquerdo?

Fazendo de conta que aquilo que se tem escrito sobre ele é verdade, não é por acaso que tantos clubes se manifestaram interessados nele. Não é fácil encontrar um jogador com 1,84 metros, forte no jogo aéreo e no um contra um, defensivo e ofensivo, que imprime intensidades altíssimas ao jogo durante 90 minutos. Ainda por cima, consegue utilizar o pé direito para passar a bola com segurança. Não é fácil. Mas é jogador do FC Porto.

Do outro lado, chega ao final da temporada com Sapunaru, que demorou tempo a afirmar-se, a um bom nível…

O Sapunaru é um caso diferente. A determinada altura, o FC Porto conseguiu fazer no lado esquerdo aquilo que fazia no direito com o Bosingwa. Foi isso que o Cissokho deu, profundidade. As laterais não eram tão fortes porque tínhamos perdido o Bosingwa de um lado e o Quaresma do outro. Encontrámos o Rodríguez, mas sem as mesmas características e, a determinada altura, tivemos problemas de largura de jogo. O aparecimento do Cissokho coincide com a melhoria do Sapunaru e do Lisandro, juntou-se ao Hulk e equilibrou a equipa.

Rolando também chegou esta época e é menos falado…

O Rolando é o Bruno Alves do primeiro ano com o Pepe. O Pepe podia cometer três ou quatro falhas que não lhe acontecia nada, enquanto o Bruno cometia uma e tinha nota negativa. O Rolando está nessa fase, é um jogador muito inteligente, com grande capacidade de aprendizagem, tem uma grande humildade, sabe ouvir e falar, e também aprendeu a jogar defensivamente. Passou a ser um jogador que raramente faz uma falta, perde menos lances do que perdia, passou a entender-se com o Bruno Alves. Acabou por se complementar com ele, na sua sombra. É a complementaridade normal. O Bruno é o mesmo e não tinha o mesmo protagonismo do Pepe. O Rolando não vive na sombra de ninguém. Um meio-campo sem complementaridade jamais será bom, o mesmo se passa no eixo da defesa.

Jorge Maia n' O Jogo.

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