segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O último dinossauro à face da Terra


Pinto da Costa celebra hoje 72 anos

Ele aí está, génio de diversas faces

NÃO é fácil encontrar no futebol mundial figura de longevidade tão pronunciada e efectiva como Pinto da Costa. Nos tempos recentes não existe mesmo quem o iguale, mas num desvio temporal expressivo chega-se ao nome de Santiago Bernabéu, que foi presidente do Real Madrid durante 35 anos consecutivos (1943 até falecer, em 1978) ou ainda à poderosa família Agnelli, sempre ligada à Juventus.
No desporto em geral, também é difícil desvendar gente a percorrer tantos anos de presidência com a mesma pujança e sem vacilar às armadilhas do tempo e de outra espécie. Juan Antonio Samaranch, que presidiu ao Comité Olímpico Internacional durante 21 anos é uma dessas grandes figuras de topo, clube onde alinha também a mítica presença de João Havelange, líder da FIFA entre 74 e 98, e ainda cheio de saúde aos 93 anos.

Pinto da Costa, que hoje celebra 72 anos, terá em si um pouco de cada um deles, em termos de presença efectiva e de representatividade social, ainda que a sua expressão seja mais local do que universalista, como ele sempre desejou. Na maioria das vezes ele não é presidente de um clube de um país chamado Portugal, é líder de um clube chamado FC Porto. E essa posição choca na universalidade que o próprio cube foi conquistando pelo mundo fora, face aos títulos europeus e mundiais.

AMORES E ÓDIOS ETERNOS

Pinto da Costa, que nasceu a 28 de Dezembro de 1937, não será tão consensual no meio desportivo quanto Samaranch ou Havelange, que passaram pelo seu tempo dourado sem sopros de contestação, mas em contrapartida desperta mais emoções vivas que os antigos líderes do COI e da FIFA alguma vez despertaram. PC não é uma figura consensual no futebol português, nunca foi e só o será quando amolecer e se entregar, o que não parece ser o caso, pois vai avançar para mais três anos de presidência. Os títulos conquistados, a defesa do clube por todos os meios, garantiram-lhe amores eternos mas também ódios de estimação que vai transportando consigo. A sua vida, aliás, tem sido assinalada por curvas e contracurvas e por alguns episódios que o colocaram em posição nebulosa.

Acérrimo defensor do clube, da cidade e da região, o líder portista convoca por vezes essa condição regionalista para se expressar e esgrime a espada de um clube contra o mundo. Aí faz do Porto, clube, cidade e região, uma aldeia de Asterix dos tempos modernos, onde ninguém pode ousar entrar. Amando-o ou odiando-o, há um facto que não pode ignorar-se. Pinto da Costa será hoje o mais velho presidente de um clube de futebol em actividade: sempre são 72 anos. Provavelmente, ainda não chegou o tempo de se dedicar ao turismo sénior.


27 anos de presidência
Pinto da Costa subiu à presidência do FC Porto em Abril de 1982 e os sucessivos mandatos projectam-no para 27 anos de liderança efectiva, que podem estender-se a mais de três décadas caso se verifique, como parece ser a realidade, a candidatura para nova eleição. Quando subiu à cadeira do poder chegava aos 45 anos, mas não surgiu no clube em salto meteórico, foi tudo planeado a partir de idade quase juvenil, ainda não tinha 20 anos é já ocupava lugar de vogal na secção de hóquei em patins. Nunca mais se quebrou, desde aí, a ligação com o clube, foi sempre a subir. Apesar da idade que hoje celebra, Pinto da Costa ainda parece decidido e sem dar sinais de fraquejar. É um caso de longevidade brutal, apenas superado pelo realizador, também portuense, Manoel de Oiveira, que completou 101 anos a 11 de Dezembro e continua a filmar.

N' A Bola.


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