quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A bola rola e quem não se puser a pau fica debaixo


Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira n' O Jogo:

Da estrutura nuclear, Hulk, Helton e Rolando já passaram pelo banco. Jesualdo Ferreira explicou as opções e deixou um aviso aos jogadores: quem não se mexer acabará atropelado no jogo das opções...

Conversa longa, a tocar de leve no Guimarães, e a escarafunchar melhor as mudanças operadas num núcleo duro cada vez mais restrito. Tudo bem explicado, com alguns recados pelo meio: a bola vai atropelando quem não se mexe como devia. Uns já perceberam, outros não. Sem nomes, porque desta vez não estava para aí virado, Jesualdo Ferreira admitiu mudar outra vez o onze e deixou apenas escapar que quer uma equipa "com mais potência" em Guimarães.

Acha que o FC Porto será capaz de confirmar em Guimarães aquilo que disse ter visto de bom no final do último jogo?

São dois jogos e dois adversários diferentes. Poderá não haver grandes pontos de contacto entre um e outro. Jogaremos num campo que é difícil, contra um adversário moralizado, que vem de uma boa série de vitórias. O facto de mudar a equipa e o cenário do jogo coloca-nos novas perguntas para novas respostas. Neste momento, o FC Porto está melhor, mas temos de fazer ainda melhor do que fizemos com o Rio Ave. A mensagem de optimismo que passei, duas ou três semanas antes, a garantir que seríamos melhores, confirmou-se. Com esta vitória, o grupo moralizou-se, acreditando mais no que trabalha e produz. Estou seguro de que vamos ter um jogo com um grau de competitividade maior, provavelmente num terreno difícil, porque o mau tempo toca aos terrenos todos, mas os nossos objectivos são claros, e este jogo aparece, em termos de calendário, numa altura importante. O Guimarães está numa fase ascendente, não só nos resultados, mas também na produção de jogo, e vai criar-nos problemas diferentes. Esta semana, a nossa preocupação passou por melhorar a capacidade e o rendimento, que, sob o ponto de vista da finalização, tem sido baixo. A produção é boa, a eficiência nos movimentos colectivos também, mas a eficácia é má. Isso penaliza-nos.

Vai manter as alterações que fez na baliza e na defesa?

Desta vez, não vou dizer nada sobre isso. Estou maldisposto [risos]. Não vos vou dizer, mas é provável que haja alterações.

Até dia 20, o FC Porto terá quatro jogos, três deles com saídas complicadas [Guimarães, Atlético de Madrid e Benfica; o Setúbal é no Dragão]. Sente-se aliviado por ter a equipa completa, sem lesões?

Ter a equipa completa significa ter os recursos todos, podemos trabalhar melhor e isso garante-nos outro rendimento. Rendimento, neste momento, não se resume aos três factores conhecidos: treinar, repousar e alimentar. Já não é isso. Há um conjunto de factores exteriores que os alteram, e que podem não ser tão fáceis de controlar. O rendimento é avaliado em treino e em jogo. Os meus jogadores sabem que os lugares ganham-se a treinar e a jogar. Quando há mais recursos para treinar melhor e, acima de tudo, para avaliar melhor, torna-se mais fácil. Temos os 22 jogadores em condições, excepto o Orlando Sá. Já provámos, durante este processo, que qualquer um deles pode jogar no FC Porto. Para isso, tem de estar bem, trabalhar bem, entrar na equipa e justificar essa entrada. Temos 22 jogadores para escolher os 18 do estágio e desses escolher 11, escolhas que, por vezes, são dolorosas e difíceis. O primeiro critério das opções é a equipa, o segundo passa pelas alternativas à equipa, o terceiro critério é premiar e o quarto critério é punir. Também existe este. Dentro desse quadro de 22 jogadores, e na primeira escolha, há seis que ficam de fora. A nossa perspectiva é que ninguém se desmotive. As avaliações que faço são diferentes das vossas, ou das que fazem na bancada. Muitas vezes, por diversas razões, quando os jogadores não correspondem, nem é o treinador que toma decisões, é o próprio jogo que os atropela. A bola vai rolando e quem não se puser a pau fica debaixo; a nossa ideia é pôr essa bola a rolar e todo o mundo a correr à frente, porque a bola do FC Porto é pesada. Alguns jogadores já entenderam, outros começam a entender.

Que tipo de resposta encontrou dos jogadores que eram tidos como intocáveis e passaram pelo banco, casos do Helton, Rolando e Hulk?

Encontrei a resposta que um profissional do FC Porto tem de dar: trabalho. Não há outra. Acabei de explicar as razões e fui claro, ou pelo menos tentei. Pelo número de jogadores que temos, e com os jogos que temos, incluindo Janeiro e Fevereiro, percebe-se que a bola que vai rolar é tão pesada que ninguém pode andar distraído; há que andar à frente dela. Quando há recursos, como disse, podemos criar condições para eles andarem à frente da bola.

E havia quem andasse distraído?

Não, não se trata disso. Não há ninguém que possa andar distraído, mas, quando o refiro como exemplo, não significa que andassem.

Nesse contexto de alterações, disse que há lugares que se ganham e isso significa, por outro lado, que há outros…

[interrompe e completa] que se perdem. Ganham-se ou perdem-se nos treinos e nos jogos. Nem só o rendimento determina as alterações ou substituições que um treinador faz. Pode haver um jogador a jogar bem e a sair. Instituímos a ideia do titular e já sei que, agora, sempre que um deles sair da equipa, vão dizer que foi por castigo ou porque andava distraído. Não vale a pena ir por aí. Nenhuma equipa deixa de ter um núcleo de seis ou sete jogadores fixos, ou mais fixos. Eu até já fui acusado de nunca mexer. Aliás, já fui acusado de tanta coisa aqui que, quando vejo a defesa do contrário, acho piada. A grande verdade é que nenhuma equipa passa sem um núcleo duro, porque é esse que permite, mesmo com alterações, que as rotinas não se percam. Pode ser interessante mexer, mas, se sair mal, se a equipa não jogar, perde-se o mais importante, que é o rendimento para ganhar. Mudar é importante para criar novas rotinas, fundamentais para o desenvolvimento da equipa. Não é necessariamente por castigo ou distracções. E, como não jogamos sozinhos, as mudanças tornam-se mais importantes. Por exemplo, nas bolas paradas: ao fim de seis jogos haverá algum adversário que não saiba como o FC Porto as executa? A alternativa não é mudar os jogadores todos, mas sim as rotinas.


Consegue resumir numa palavra por que razão o FC Porto perde tantas bolas durante o jogo, sobretudo a meio-campo e depois de as recuperar?

Trata-se de eficácia. A pior coisa que acontece a uma equipa que está a defender é recuperar a bola e perder o primeiro passe. Ninguém gosta de defender. Defender exige solidariedade, humildade, espírito de sacrifício e união. Na minha opinião, essas perdas resultam da falta de eficácia nos posicionamentos no momento em que se ganha a bola. Uma equipa tem de defender bem, e é isso que preconizo, não por medo ao adversário, mas porque é essa a forma de ganhar a bola mais rapidamente para poder atacar. No momento em que a recuperam, os jogadores sabem que devem ter posicionamentos claros para que a primeira transição saia. Se isso não acontecer, falham-se passes com mais facilidade, independentemente de quem os falha. Claro que a isso há que acrescentar fadiga, o momento menos bom e o mérito dos adversários. Mas, basicamente, a equipa não está bem posicionada a defender e a primeira transição não sai. As equipas mais rápidas nas transições são as que têm mais sucesso; um segundo a mais ou a menos, faz com que se ganhe ou perca uma bola. O FC Porto não está tão forte nas transições ofensivas e também não o está nas defensivas. Isso enerva-me, incomoda-me, chateia-me, fico doido quando vejo a equipa trabalhar, ganhar a bola e, tendo tudo aberto, perde-a. Isso está a acontecer com frequência.

"Público de Guimarães não deixa"


Que Vitória de Guimarães espera? Atrevido ou mais defensivo e à procura de espaços, como se viu na Luz?

O Vitória de Guimarães não tem hipótese de ser uma equipa defensiva, porque o público de Guimarães não dá hipóteses. E espero mesmo que não deixe. Será um jogo de divisão permanente, em que as transições, defensivas e ofensivas, serão fundamentais, assim como os posicionamentos em campo. Sempre que nos sair bem, também temos de ser eficazes no golo. Nos últimos dois anos em Guimarães conseguimos isso, e estou convencido de que, com muitas dificuldades, vamos conseguir novamente.

"É bom ter o Bruno Alves"


Renovação do Bruno Alves seria uma boa prenda de Natal?

Esse processo está em andamento há muito tempo, creio que falta apenas formalizá-lo. Bruno Alves cresceu e afirmou-se no FC Porto, mas também no país e a nível internacional. Tê-lo connosco é bom. Sempre disse que, para qualquer treinador, é difícil estar preparado para perder os melhores jogadores. Já saíram muitos, mas nem por isso deixámos de existir, ou de nos qualificar para a fase seguinte da Liga dos Campeões.

Actor de sentimentos

A propósito da mensagem de confiança que tem passado, e sobre a eficácia produzida no plantel, houve uma tirada curiosa de Jesualdo: "A minha mensagem foi sempre essa, porque é isso que sinto. Por vezes, na vida, temos de ser actores: há-os com sentimento ou sem sentimento. Eu sou um actor com sentimentos. Nessa perspectiva, não sou capaz de passar uma ideia que não sinta. Não tenho dúvidas de que vamos ter sucesso."

Hugo Sousa n' O Jogo.

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