sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Paixões e inquisições

O FC Porto ganhou a Supertaça, quase garantiu a passagem à fase seguinte da Champions, e, apesar de ter tido um calendário mais difícil, está a apenas a três pontos do Benfica. Tudo isto acontece depois de ter feito um encaixe financeiro considerável que lhe custou duas das suas principais peças, e apesar de ter sete dos seus jogadores lesionados.
Será este um FC Porto menor? Até Jesualdo reconhece que as exibições não são de encher o olho, que nem tudo corre na perfeição, que há lacunas. Mas, a procissão vai no adro. Há novos jogadores que ainda não tiveram oportunidade de mostrar o que valem, principalmente no meio-campo que foi o sector mais atingido pelas alterações no plantel e onde a saída de Lucho está por resolver. Há, também, peças indispensáveis que tardam em atingir a plena forma.

É verdade que, esta época, o Benfica está mais forte. Enquanto o FC Porto fez mais-valias, cimentando o futuro, o Benfica encavou tudo por tudo na construção de uma nova equipa. É natural que assim seja, depois de quatro anos de vitórias portistas e de muitos anos de apagamento encarnado. Apesar deste reequilíbrio de forças ser indisfarçável, e de não estar plenamente satisfeito com o desempenho da equipa, não partilho do veredicto pessimista de Miguel Sousa Tavares que, na sua crónica de terça-feira, considerava ser esta a mais fraca equipa portista dos últimos anos. Guardo o meu juízo para mais tarde, quando a equipa do FC Porto estiver a 100% e defrontar o Benfica, cuja boa forma será difícil de manter.

Mas, dito isto, lamento que o site oficial do clube, através de mais um texto do anónimo Labaredas, se dê ao trabalho de atacar o MST por delito de opinião, principalmente quando há tanta, mas tanta coisa a dizer e que não tem sido dita pelo FC Porto, sobre muita coisa estranha a que temos assistido esta época. Nem me parece que se possa acusar MST de incoerência por, no ano passado e por esta altura, ter dito a mesma coisa, porque entendia, então, que só restavam Lucho, Lisandro e a esperança Hulk. Ora, se os dois primeiros saíram, é natural que MST ache que a equipa está ainda pior, e essa opinião, que repito não é a minha, tenho-a ouvido a muitos outros adeptos.

MST pode não ter sempre razão, mas escreve com a paixão do portista que quer sempre mais. Ora, essa insatisfação faz parte da cultura vencedora de um clube como o FC Porto que quer sempre ir mais longe e não repousa nos louros. Mas, para além disso, nos momentos mais difíceis em que é preciso tocar a reunir, é sempre ele o primeiro, e o melhor, a defender a honra e a glória do clube, com a sua prosa de coragem e com assinatura.


Será tango ou será tanga
A equipa do Benfica tem grande aproveitamento das bolas paradas. Tem, também, uma enorme capacidade de persuasão, conseguindo cavar livres e penalties, principalmente através de Di María, Saviola e, é claro, de Aimar. Sabe-se que os argentinos inventaram o tango, uma expressão cultural que aprecio e que acaba de ser elevada a património da humanidade pela UNESCO. Mas, por aquilo que se tem visto no relvado da Luz, transformado em piscina com o beneplácito dos senhores do apito e com o silêncio da comunicação social, os que vestem de encarnado são também grandes artistas na tanga. É normal porque, segundo conta a história da música argentina, antes do tango, havia a milonga.

Vergonha amarela
GOSTAVA que os árbitros fossem invisíveis. Gostava de poder assistir a um jogo de futebol e, no final, não me recordar de ter visto os árbitros, que já foram três, agora são quatro, e vão ser seis. Gostava que os jogos fossem decididos pelos jogadores que estão em campo. Gostava que as oportunidades fossem criadas por esses artistas. Gostava que quem manda no futebol gostasse do futebol de que eu gosto. Gostava que conseguissem encontrar quem, gostando de futebol, o conseguisse arbitrar sem querer ser protagonista. O que vemos, em Portugal, é que tudo acontece ao contrário. Os árbitros agora vestem de amarelo? Pois, deve ser porque alguém andar envergonhado com o que eles vão fazendo.



O direito de errar
É verdade que há muitas circunstâncias do jogo em que os árbitros não têm ao seu dispor os meios necessários para interpretarem aquilo que é visto na televisão, através do recurso às repetições. Mas, isso não desculpa que os árbitros assinalem faltas que não viram, que valorizem os mergulhos para a piscina, que se submetam à pressão das bancadas, que entrem em compensações e inclinem os campos de futebol. O que está em curso, no futebol português, é lamentável. Fala-se da falta de qualidade dos árbitros e da dificuldade de encontrar trigo entre tanto joio, mas não se pode escamotear que os critérios que determinam algumas das nomeações são, no mínimo, incompreensíveis.

André Villas Boas
FEZ parte da equipa de Mourinho e com ele passou pelo FC Porto. Estuda o futebol de forma científica e matemática. Preparou-se para uma carreira de treinador. Quem o conhece, garante que «só pensa em futebol». Chegou à Académica e, em duas semanas, transformou um conjunto de jogadores medianos numa equipa coesa e organizada. No Dragão, e enquanto os níveis físicos da equipa o permitiram, a Académica fechou todos os caminhos ao FC Porto, manietando Fernando e controlando, assim, as transições atacantes. No fim do jogo, Villas Boas não se enredou em desculpas, nem se perdeu em elogios ao adversário. Não tenho dúvidas que este treinador irá longe no futebol.

Rui Moreira n' A Bola.

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