sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um mérito ressentido

SEMPRE considerei Jesualdo Ferreira um treinador competente. Foi por isso que, numa altura em que, depois de uma grande época em Braga já assinara contrato com o Boavista, lhe perguntei, na televisão, para quando seria a sua vinda para o FC Porto. Não imaginava, nesse momento, que isso iria acontecer poucas semanas depois, nas circunstâncias que se conhecem.
Não partilho, sequer, da opinião de Mário Wilson, quando dizia que quem treina o FC Porto se arrisca a ganhar. Ganhar nunca é fácil, muito menos num clube de fora da capital, e ainda que a organização do FC Porto e o tradicional respaldo da direcção aos seus treinadores sejam uma ajuda preciosa, Jesualdo teve mérito pessoal nas conquistas dos últimos anos.

Creio, aliás, que esta opinião e este reconhecimento são comuns à esmagadora maioria dos adeptos portistas.

Admira-me, por isso, o tom ressentido do treinador, quando insiste que o seu mérito só foi reconhecido nos últimos meses. Jesualdo sabe que os resultados dependem de uma série de factores, entre os quais há muitos que são aleatórios. Como anda nisto há muito tempo, também sabe que um treinador ora é besta, ora é bestial, e que esse pêndulo oscila em função daquilo a que se costuma chamar, normalmente, a «ditadura dos resultados».

Creio, por isso, que o discurso de Jesualdo, repetido em várias entrevistas, não se destinava aos jornalistas ou aos adeptos.

É que ele saberá, e não terá gostado, que o FC Porto mantinha um outro treinador na reserva, para o caso das coisas lhe correrem mal. Felizmente, para ele e para o clube, a época saiu-lhe bem, e a sua renovação foi tão justa quão inevitável.

Mas, como consagrado mestre das tácticas, Jesualdo Ferreira devia saber que esta vitimização, que de nada lhe serve no presente estado de graça, lhe pode sair muito cara no futuro.

Rui Moreira n' A Bola.

Sem comentários: