sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Para lá do relvado

QUANDO estalou o pífio Apito Dourado, que por certas conveniências apontou numa única direcção, apurando factos que nada têm de elogiáveis e olvidando sintomas idênticos noutras bandas, pressagiei que, independentemente das questões jurídicas, o processo teria, a prazo, consequências graves para o FC Porto. Temi que os árbitros ficassem condicionados pela onda de suspeição, o que se confirmou nessa época de 2004/2005 em que, na dúvida, o FC Porto foi sempre prejudicado.
Nas épocas seguintes, o FC Porto beneficiou de um contexto favorável por falta de concorrência. A gestão desportiva do Benfica foi o que se sabe, principalmente depois do despedimento de Fernando Santos, e faltavam argumentos ao Sporting, apesar dos méritos de Paulo Bento. Sabia-se que esta época tudo seria diferente. O Benfica deixara-se de espanholices e escolhera um treinador competente. Além disso, e como antecipei em Julho, «este é o ano de todos os perigos porque o investimento sucessivo que o Benfica tem vindo a fazer implica que consiga resultados e que faça os possíveis, e até os impossíveis, para conseguir retorno».

Infelizmente, esses «impossíveis» são perceptíveis e inegáveis. Enquanto o Benfica é a equipa que mais beneficiou com expulsões de adversários, que jogou mais minutos em superioridade numérica e que tem o maior número de penalties assinalados a seu favor, o FC Porto teve cinco golos mal anulados. É verdade que sempre houve Paixões, Ferreiras e Lucílios mas esta época, os «erros» foram muito mais do que o costume, e tiveram maior impacto graças às nomeações cirúrgicas. Este fim-de-semana, tivemos mais um exemplo descarado desses critérios: seis dias depois da sua desastrada exibição em Belém, num jogo igualmente decisivo, o herói de Campomaior seria o eleito para arbitrar o FC Porto e viu-se o que sucedeu.

Para além da dualidade de critérios da Comissão Disciplinar e da Comissão de Arbitragem da Liga, há também um sector maioritário da comunicação social que alinha pelo mesmo diapasão. Veja-se, por exemplo, como o golo do Braga contra o Marítimo mereceu as primeiras páginas por, no início da jogada, a bola ter saído pela linha lateral. Ora, o mesmo sucedera com o único golo do Benfica contra o FC Porto no Estádio da Luz, que fora precedido por um fora-de-jogo evidente. Nessa altura, como se recordam, imperou «o senso comum», e descartou-se o nexo de casualidade entre essa infracção e a concretização do golo, no seguimento da jogada.

Temo, por tudo isso, que o FC Porto esteja arredado do título. É certo que as exibições não encantam os adeptos, e não se pode culpar terceiros por tudo quando os jogadores são displicentes e perdulários, ou quando o treinador não é ousado. Ainda assim, e perante tantos obstáculos, nem o melhor e mais infalível FC Porto teria sido capaz de liderar este campeonato.

O coro encarnado
NUM comovente e afinado coro, alguns benfiquistas saíram a terreiro para invocarem que se o caso Calabote interessa aos portistas é porque, desde então, não terão tido outras razões de queixa. Não sei se conhecem os casos de Reinaldo Silva e de Porfírio Silva, também eles irradiados por beneficiarem o Benfica e prejudicarem o FC Porto, ou se esses escândalos foram tão óbvios que não suscitam interesse. Infelizmente, o recurso sucessivo a Bruno Paixão em jogos decisivos, demonstra que não é preciso recorrer à história longínqua e aos tempos do antigo regime para encontrar exemplos flagrantes de árbitros que sofrem de «condicionalismos inaceitáveis», para usar as crípticas palavras de Coroado.

O silêncio
JESUALDO não tem poupado a arbitragem a críticas, mas é uma voz isolada, desempenhando um papel que não lhe assenta bem. Não entendo a estratégia de comunicação do clube. Ante os castigos, a morosidade da justiça, as nomeações a pedido e as arbitragens escandalosas, remete-se a um silêncio sepulcral, apenas interrompido para criticar os jornalistas e zurzir no imaginário «inimigo interno». Durante anos, habituamo-nos a ouvir a voz de Pinto da Costa, sempre que o FC Porto era prejudicado. Com o presidente amordaçado pelo castigo, que a interpretação do justiceiro vermelho transforma numa sentença perpétua, é preciso encontrar alguém que tenha a coragem e o talento para falar em seu nome.

Imaginações
A última tese da treta é a de que o FC Porto está interessado na carreira do Sporting de Braga, como se o título pudesse ser ganho por interposta entidade. Ora, para que fique claro, reconheço que os bracarenses têm tido o mérito de lutar com armas desiguais e de levar, ainda assim, a melhor. Além disso, como não gosto de jogos de secretaria, acho que o castigo a Vandinho é injusto, tendencioso e vergonhoso, mas não será por isso que deixarei de apontar, também, todas as circunstâncias em que os bracarenses forem beneficiados pela arbitragem. Quero que o FC Porto ganhe, este fim-de-semana, com mérito e lisura e, se o deixarem, possa lutar pelo título até ao fim do campeonato.

Golos incríveis
OFC Porto ganhou ao Arsenal num jogo estranho, com golos insólitos. Se o golo de Varela resulta de um frango descomunal, o empate ocorreu numa jogada consentida e só tolerável no futebol de praia, enquanto o desempate é obra de um jogador inteligente e de um árbitro desatento, a lembrar um colega russo que permitiu, há anos, e em iguais circunstâncias, que o Bayern eliminasse o FC Porto. Veremos o que acontece em Londres, onde, sinceramente, espero que a inteligência de Rúben inspire toda a equipa e o treinador. Não consigo entender, apesar do bom resultado, que tenha sido esperar pelas cãibras para determinar a tardia substituição de um jogador injustiçado mas sem rotinas de jogo.

Rui Moreira n' A Bola.

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