terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Por acabar...

SIM, já me incomoda tanto cor--de-rosa em torno de si: a loira que entrou para o Bentley à saída da madrugada do Cloud 23, a Miss que deixou, furtiva, o hotel, encafuada num boné CR7, a menina da TV que jura que não lhe há-de dar o telemóvel, o registo do CR9 nos mistérios de Madrid – que logo me lembro do conto de Negro Fontanarrosa: O Que Se Diz De Um Ídolo, que trata de futebolista que andara escondido nas linhas com que se fazem os homens invisíveis mas que de súbito o destino mudou: numa expulsão dramática, numa escaramuça com jornalista, num flirt fugaz, num divórcio escandaloso – e desse frenesim cresceu em furor por estádios cheios, tornou-se herói passional, ponto de identificação pela imperfeição, a polémica e o alvoroço mais do que pelo génio, a classe, o sucesso. Ou então passa-me pela cabeça aquela cena famosa em que George Best lamenta, na noite em que se arrastava, ébrio, de dentro de um pub: se não tivesse nascido tão bonito já ninguém se lembraria de um brasileiro chamado Pelé... Em qualquer dos casos um amigo meu diz-me sempre que o futebol teria menos piada se os seus ídolos fossem como um dos modelos que eu aprecio e que Gattuso definiu assim: Kaká é tão perfeito que às vezes tenho de lhe tocar para saber se é verdadeiro ou não... OK, o meu amigo é capaz de ter razão. Se não, eu não me teria perdido a escrever o que escrevi – sem saber o que sobraria para crónica que idealizara arrancar deste modo: Cientistas de uma universidade de Amesterdão analisaram 200 jogos de futebol - e concluíram que em cada cinco vezes que a bandeirola se levanta para assinalar offside dois erros há. E que é humanamente impossível ao olho humano fazer melhor. Por isso, propuseram rasgar a lei. Ninguém os levou a sério. Talvez porque acabar com o fora-de jogo fosse acabar com o prazer dos sádicos, com a certeza dos hipócritas que vêem tudo num primor nas repetições da TV, com o jeito que bodes-expiatórios dão e...
(... e acabou-se o espaço!!!)

António Simões n' A Bola.

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