terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Rúben e Ronaldo


O Andorinha era clube pobre de Santo António, no Funchal. José Dinis Aveiro andava por lá como roupeiro. Quando o filho nasceu chamou-lhe Cristiano. Mas não simplesmente Cristiano. Juntou-lhe Ronaldo. Como Reagan, o presidente dos Estados Unidos que adorara como actor nos filmes velhos do Oeste – e parece até lhe embrulhou o futuro na profecia: «não sei porquê, mas vai ser tão famoso como ele». Aos três anos percebeu que dominava bolas de futebol como se tivesse dez. Cresceu – e começou a levá-lo para o campo. Cismava que para ser forte teria de comer duas sopas por refeição – e o que fazia sempre. Inevitável, do Andorinha saltou o génio para o Nacional. Na Choupana está, cobrindo parede, foto desse Ronaldo, cabelo rapado, chuteiras nas mão – e ar de mágoa que não se disfarça. Alguém me explica:
– Um drama, aquilo! No fim, com o Marítimo falhou um penalty, perdemos o campeonato. Furioso, descalçou as botas, atirou-as para longe, jurou que não jogava futebol nunca mais. Era já o seu espírito, o nosso craque...

Tinha 12 anos, continuou a jogar. Semanas depois foi do Nacional para Alvalade. A transferência teve uma causa: pagar dívida de 450 contos ao Sporting. O resto é o que se sabe: melhor jogador do mundo, agora no Real só de salário 1400 euros à hora.

Ah! Naquela manhã, na Choupana, coberta de nevoeiro, também me contaram que em Rúben Micael há o espírito do Ronaldo a chorar depois do penalty falhado. E é por isso que creio que o seu destino há-de ser parecido com o dele. Corre apenas um risco: que o transformem, sebastiânico, no homem capaz de tirar o dragão das suas angústias. Só ele não chega, percebeu-se, contra o Paços. Sem Hulk (que continua enredado em teias de uma justiça que às vezes tem razões que a razão não compreende...) este FC Porto é o mais fraco do século. E com o Benfica mais forte da década – ou vai ainda mais ao mercado comprar com muito juízo e pouco capricho (para não dizer pior...) ou está perdido, acredito.

António Simões n' A Bola.

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