quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

André Villas-Boas - Tenho muito que pedalar para receber o prémio de Melhor do Mundo

Orgulhoso por ter feito parte da equipa técnica de Mourinho, Villas-Boas considera ser impossível algum treinador português igualar o patamar alcançado pelo Special One

Villas-Boas considerou justo o prémio de Melhor Treinador do Mundo entregue pela FIFA a José Mourinho, que acredita vir a tornar-se no melhor de todos os tempos. Para já, é uma referência e alguém a quem vai "roubar" ideias porque todos os treinadores o fazem. Suceder um dia ao Special One nesta distinção é que lhe parece complicado. O técnico portista falou ainda do campeonato para elogiar o Benfica e dizer que não está obcecado em chegar ao fim sem derrotas. Quer é ganhar o título, mas para o conseguir o FC Porto, lembrou, é preciso manter os níveis exibicionais. Quanto à Taça de Portugal, a ideia é dar mais um passo rumo ao Jamor porque pretende fazer história no clube, que nunca venceu a prova três anos consecutivos.

Este prémio é o reconhecimento do trabalho que está a ser feito em Portugal, ou seja é extensível a outros treinadores, ou é de um homem só?

Ele é português, mas está num patamar diferente de todos os outros. Se há qualidade nos treinadores portugueses? Claro que sim. E parece-me evidente que há uma nova onda de técnicos portugueses com competências.

Mourinho é uma referência para os treinadores portugueses? Fala-se muito em clones dele…

Essa colagem não é nossa. Primeiro estamos a falar de um patamar inatingível, portanto qualquer tentativa de clonagem ia ficar a meio do caminho. O nível de sucesso dele dificilmente será equiparado por outro treinador português. Cada um pensa pela sua cabeça, mas cada treinador é um bom ladrão porque todos roubamos ideias deste e daquele e se podemos fazê-lo do melhor do mundo de certeza que o faremos. Depois, adaptamos as nossas e criamos os nossos processos. Por sermos pessoas de identidades próprias é que vamos triunfando. Depois de Mourinho qualquer pessoa com ascensão será sujeita a essa comparação, que é injusta.

Espera um dia vir a receber tal distinção?

Não. Tenho ambições de carreira e se permitirem chegar lá seria fantástico, mas penso que é um patamar de tal forma elevado que não sei se será para mim. Acredito que tenho alguma competência e que posso construir uma carreira de que me orgulhe, mas atingir isso acho difícil. Só está ao alcance de pessoas muito especiais e para que lá chegue tenho muito que pedalar. Tenho ambições um pouco diversas que, se calhar, não permitirão chegar a esse ponto.

Pergunta O JOGO

"Com Mourinho deixa de haver limites"

Trabalhou vários anos com Mourinho, acha tem alguma responsabilidade no prémio de Melhor Treinador do Mundo que ele recebeu?

[risos]. Claro que não. Foi privilégio enorme ter feito parte da sua equipa técnica e ter ajudado a conquistar alguns dos títulos. A singularidade e exclusividade do prémio, que acontece pela primeira vez, reflectem a singularidade e exclusividade da carreira insólita do José Mourinho. O prémio assenta como uma luva numa competição feroz com outros dois grandes treinadores. Com ele deixa de haver limites, tudo o que é delineado como objectivo é alcançado e estamos perante uma carreira que não tem comparação nem terá porque o José Mourinho vai tornar-se no melhor de todos os tempos. A transcendência daquilo que atinge é algo fora do normal. Para nós, treinadores portugueses, é um privilégio viver na era de José Mourinho e ter essa referência.

Que balanço faz da primeira volta do campeonato?

Temos pena de ter falhado em Guimarães e em Alvalade porque nos daria uma margem mais confortável. No entanto, ainda falta muito, temos um Janeiro e um Fevereiro complicado e o inesperado pode acontecer se não formos capazes de manter o nível exibicional. Com o Marítimo sentimos um prazer enorme por sermos capazes de demonstrar um nível elevadíssimo nos 90 minutos de um jogo com forte impacto emocional. É bom chegar ao fim da primeira volta com esta margem, mas não podemos claudicar porque o Benfica está forte e motivado.

O principal adversário na luta pelo título é o Benfica?

É porque é o que está mais próximo. O Sporting está a cinco do Benfica e para se aproximar teremos os dois de perder pontos. O que nos preocupa neste momento é o Benfica. É uma equipa com processos consolidados, agressiva, que joga futebol de ataque e que eu admiro. É esse o adversário que estamos a controlar.

Está farto de ouvir dizer que só tem esta vantagem por erros dos árbitros?

Já falei sobre isso. Faltam 15 jogos e é uma Liga dura, extremamente competitiva. Conseguimos um número óptimo de pontos, mas sentimo-nos culpados por ter perdido quatro. Só quem se coloca nesse nível de exigência é que pode aspirar a ser campeão. Se os outros não foram capazes de o fazer não temos culpa. Se fizermos o mesmo número de pontos na segunda volta seremos campeões.

É possível vencer o campeonato sem derrotas?

Não é um objectivo traçado. É complicado, temos deslocações muito difíceis à Luz e a Braga. Pode acontecer, mas só as equipas que roçam a perfeição podem ambicionar a isso.

"Ganhar três anos seguidos e fazer história na Taça"

Depois de vencer o Paços de Ferreira e o Chaves nas últimas duas finais da Taça, o FC Porto está apostado em dar mais um passo rumo ao Jamor porque quer ganhar a prova três vezes seguidas. "Esse é um objectivo que nos interessa e a nossa motivação. Queremos fazer história, portanto, máxima focalização", sublinhou o técnico portista, que admitiu fazer alterações na equipa. "Cada onze que delineamos dá-nos as máximas garantias, mas o jogo é imprevisível. Se o FC Porto estiver ao nível habitual poderá passar, mas também pode estar bem e sofrer um golo e o Pinhalnovense, motivado, aguentar o resultado. O futebol é caos e o FC Porto pode ser eliminado em casa, como passar dando espectáculo", referiu, revelando a titularidade de Mariano e Kieszek.

Quanto ao adversário fez questão de provar que o estudou ao pormenor. "Tem um ponta-de-lança alto e poderoso que gosta de deixar jogo nos médios e de criar espaços para os extremos, que são rápidos. Tem um lateral-direito agressivo na profundidade que dá muitas soluções ofensivas. Penso que perderam o lateral-esquerdo por lesão e vão ter que adaptar alguém. É uma equipa bem organizada e com uma ideia de jogo que me agrada porque tenta jogar. Acima de tudo, será um adversário que estará num patamar alto de motivação. Teremos que estar muito alertas", frisou.




Carlos Gouveia n' O Jogo.

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