sábado, 9 de outubro de 2010

Fundação Falcao

Dragão de ouro dentro e também fora dos relvados

"Quero fazer alguma coisa por estas crianças." Aquilo que começou por ser um desejo expresso por Falcao numa tarde em que visitou os subúrbios de Bogotá, capital da Colômbia, comovendo-se com o sofrimento de centenas de crianças marginalizadas, passou à realidade. Desde 26 de Março, a Fundação Radamel Falcao Por Uma Infância Feliz, assim se chama o projecto, ajuda 150 crianças. Todas elas, assim como muitíssimas famílias, foram expulsas das suas terras pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ou pelos paramilitares, fugindo para a periferia das grandes cidades, como Bogotá, para tentarem subsistir, sujeitando-se a condições extremas de pobreza e abandono social. "Não podemos dar ajuda a todos, porque não temos recursos para o fazer, mas pelo menos tentamos melhorar a vida de um pequeno grupo de crianças, esperando no futuro poder fazê-lo por muitos mais", conta, a O JOGO, Carmenza Zárate, mãe do avançado portista e principal responsável pela fundação.

Toda a família de Falcao está envolvida na assistência diária a estes miúdos na zona sul da periferia de Bogotá. Patrícia, a tia, que já tem experiência na matéria por ter trabalhado desde muito nova em instituições de ajuda social, é a directora, encarregando-se de uma actividade primordial: a alimentação. Para isso, conseguiu o apoio de algumas empresas, que fornecem cereais, leite, arroz, hambúrgueres e pão. Para que as crianças possam comer todos os dias, Patrícia levanta-se às 4h30 da manhã. Não tem automóvel e viaja quase três horas para chegar ao local onde funciona a fundação e onde um grupo de mães se encarrega de cozinhar. "Estamos a trabalhar para conseguir fundos do Governo ou de empresas que nos possam ajudar. Até agora, o apoio financeiro mais forte é feito pelo Falca [diminutivo de El Tigre no seio familiar] e toda a minha família contribui, até a minha mãe", acrescenta Carmenza.

Outra das prioridades passa pela assistência psicológica, já que, para além dos traumas por terem sido expulsos das suas terras, "muitas crianças foram também vítimas de violação por terem estado em pleno estado de abandono", diz Carmenza. A encarregada de os auxiliar nesse domínio é Carlina, outra tia de Falcao, que é psicóloga. "A família inteira trabalha por estes miúdos, e até as minhas filhas, de 14 e 16 anos, ficam até de madrugada a enviar e-mails e a tratar dos projectos da fundação. É uma alegria enorme quando vemos um sorriso destes miúdos; enche-nos a alma", emociona-se a mãe de El Tigre.

As instalações da fundação são precárias: são casas antigas que foram convertidas numa pequena escola e cantina. Estão situadas numa escarpa perigosa, sujeitas regularmente a deslizamentos de terra. É aí que se desenrola também a parte educativa. Patrícia Zárate conseguiu um acordo com um centro de estudos para que estudantes de Pedagogia e Psicopedagogia apliquem os seus conhecimentos colaborando com a fundação. Dessa maneira, sem gastos, as crianças recebem formação. De qualquer forma, já foi pedido um apoio às autoridades de Bogotá para a construção de um colégio que tenha também um campo desportivo.

Falcao só pôde visitar os miúdos uma vez, já que desde que trocou o River pelo FC Porto só teve um período de férias alargado. Tinha previsto um jogo em Bogotá com a Fundação Pupi, gerida pelo argentino Javier Zanetti, do Inter de Milão, mas o evento acabou por ser cancelado porque o estádio onde deveria decorrer o encontro não estava disponível nas datas em que Falcao podia comparecer. "Ficou adiado, mas é algo que acabará por se realizar", diz Carmenza.

O próximo objectivo é garantir assistência médica para as 150 crianças. As consultas estão já marcadas para o próximo dia 16. Roupas e sapatilhas serão entregues no Natal. Estas crianças têm mesmo um Pai Natal, é real e chama-se Radamel Falcao García Zárate.

Frederico Del Rio n' O Jogo.

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