segunda-feira, 7 de junho de 2010

O ABC dos treinadores à Porto

André Villas-Boas, Vítor Pereira e José Mário Rocha, três dos cinco elementos da nova equipa técnica dos dragões, foram todos, efectivamente, formados para ser treinadores à Porto. O grande responsável pelo conceito foi Ilídio Vale, antigo coordenador do futebol jovem dos dragões, e actual seleccionador nacional dos sub-19. Havia uma série de requisitos a respeitar, uma ideia de jogo comum e um modelo bem definido. O lema era "sem formar treinadores à Porto, não há jogadores à Porto".

Na cerimónia de apresentação como sucessor de Jesualdo Ferreira, mais do que qualquer outra coisa, Villas-Boas destacou a importância de um corpo comum de ideias transversal a toda a equipa técnica. Ideias, na verdade, contemporâneas de Bobby Robson no FC Porto, no longínquo ano de 1994. Nessa altura, o departamento coordenado por Ilídio Vale estabeleceu os requisitos: os candidatos tinham de possuir bons conhecimentos de futebol, muita ambição, grande capacidade de comunicação e sobretudo paixão, bem como o conhecimento do estágio de desenvolvimento dos jovens e, claro, a obrigatoriedade de perfilharem a ideia de jogo defendida pelo clube.

Uma regra importante do processo de formação do treinador à Porto era que nenhum podia ser técnico principal sem primeiro ter passado pela experiência de ser adjunto, para garantir plena identificação com o clube. Uma espécie de construção progressiva do conhecimento futebolístico. As excepções, na altura, foram João Pinto e Madjer, integrados directamente como treinadores principais, à semelhança de Pedro Emanuel esta época. Depois, no trabalho de campo, os treinadores obedeciam a um modelo de jogo comum (ver sete princípios à parte), sendo o mais importante a procura e a criação de um jogador agressivo e inteligente, um aspecto mais valorizado até do que a habilidade. A uniformização de métodos de trabalho na busca de um conceito de jogo semelhante a todas as faixas etárias era o grande objectivo. Para isso, havia um documento estipulando situações de treino que todos deviam colocar em prática.

Villas-Boas que, ainda na fase embrionária do projecto, foi proposto ao departamento por Bobby Robson veio a calhar. Na altura, Ilídio Vale procurava justamente gente jovem para formar os tais treinadores à Porto. Sem critérios escritos ainda, o vizinho do treinador inglês não teve de passar por grandes testes e quando os candidatos começaram a ser avaliados foi-lhe dada igualdade de oportunidades. Quem o acompanhou na altura, destaca-lhe acima de tudo, o gosto pelo risco e pela experimentação.

Tomaz Andrade e Carlos Gouveia n' O Jogo.

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