quarta-feira, 4 de maio de 2011

Álvaro Pereira - Quatro minutos? Hoje assinava num segundo

N' O Jogo:

O FC Porto tem 21 pontos de vantagem para o Benfica e pode terminar a época com a maior vantagem de sempre para o segundo classificado. Mais um recorde ao alcance da equipa e Álvaro Pereira diz que é tudo mérito da equipa do que demérito dos adversários, apontando a seriedade com todos os jogos são encarados como o grande segredo. Mais difícil foi eleger o melhor jogo de uma época que pode ser perfeita. Quando chegou ao FC Porto, o uruguaio disse que assinou em quatro minutos, mas se fosse hoje nem pestanejava.

Foi por épocas como esta que assinou em quatro minutos pelo FC Porto?

[risos] Sim. Mas isso não quer dizer que esta época é boa e a outra má. O que mudou foram os resultados e não gosto sequer de fazer comparações entre treinadores. A nível pessoal a época passada correu-me muito bem, a adaptação a um novo estilo de futebol foi rápida, fui o jogador com mais minutos. Esta temporada queria muito o título nacional, consegui, mas há mais objectivos que estão perto e vamos trabalhar para os conseguir.

Se fosse agora assinava em três minutos?

Agora, assinava num segundo.

Conseguia imaginar uma época tão boa?

Trabalhamos para isso e com o decorrer da época e com as vitórias, conseguimos o título. Começámos com o pé direito e esperamos acabar da mesma forma. Enfrentamos com seriedade todos os adversários, qualquer que seja, e isso é muito importante.

Qual foi o melhor jogo da época? Os 5-0 ao Benfica, o jogo do título ou a remontada da Taça de Portugal?

É difícil de dizer, mas talvez tenha sido o do Estádio da Luz em que nos sagrámos campeões precisamente porque definimos um título, assim como o da Supertaça no início da época. Ganhámos 5-0 no Dragão, e isso foi importante, mas se não fôssemos campeões não teria qualquer significado. Assim como este triunfo na meia-final da Taça de Portugal, que teve um sabor especial por ter sido diante do grande rival, não terá importância se no dia 22 não levantarmos o troféu. Isso é que interessa.

Olhando para a diferença de 21 pontos parece que o campeonato foi fácil de conquistar...

Parece a quem está de fora, mas não foi e quem está cá dentro sabe disso. Não houve erros dos adversários, mas mérito do FC Porto porque temos 26 vitórias e dois empates e jogando sempre da mesma forma, sem facilitar nada mesmo já com o título assegurado. Estamos perto de bater um recorde e isso é muito meritório. Nós é que tornámos o campeonato fácil.

Que importância tem ganhar o campeonato com a maior vantagem de sempre?

É bonito porque será muito bom se este grupo for recordado por bater recordes e ganhar troféus. A ideia é essa. Temos primeiro o Villarreal, depois o Paços de Ferreira e o Marítimo, adversários que estão a lutar por coisas importantes e é preciso respeitá-los. A nossa motivação também passa por aí: por bater recordes.

Qual é o segredo desta equipa?

Ganhar e estar motivado. Somos ambiciosos, mas com cautela. Enfrentamos todos os jogos como finais para ganhar. Depois, desfrutamos com tranquilidade a pensar no jogo seguinte.

Pinto da Costa comparou esta equipa com a de 1987 e disse que era melhor do que a que foi orientada por José Mourinho. Vocês têm noção do que isso significa?

São elogios muito bonitos e ainda por cima da parte de quem vêm. Mas ainda não conseguimos nada. Vencemos o título nacional, que é muito bom, mas temos coisas importantes pela frente. Essas palavras motivam.

O Benfica é o adversário que mexe mais com o balneário?

Acho que não. É evidente que é o maior rival e que os dias que antecedem esses jogos têm uma atenção especial por parte de todos, mas esta equipa trata com o mesmo respeito o Benfica, o Sporting ou o Setúbal, como se viu no último jogo em que o mister mudou muitos jogadores e mantivemos o ritmo. Sabemos que os jogos com o Benfica são especiais, não argumento contra isso, mas respeitamos todos da mesma forma.

"Quando vejo Falcao no ar já sei que vai dar golo"

Álvaro Pereira e Falcao entendem-se às mil maravilhas: aos cruzamentos do uruguaio, corresponde o colombiano com remates certeiros. O alteral garante que não há qualquer segredo e que é a qualidade do avançado é que faz toda a diferença.

Uma boa parte dos golos do Falcao nascem dos seus cruzamentos. Ele é o melhor avançado com quem jogou?

Acho que sim. É um avançado de topo porque basta olhar e já sabe onde a bola vai cair. Quando ele está no ar já sei que vai dar golo. Ter um jogador desta qualidade na equipa facilita. É incrível porque basta vê-lo na área e sei que vai ganhar a bola. Entendemo-nos muito bem.

A pior fase do FC Porto coincidiu com a ausência do Álvaro Pereira e do Falcao, por lesão, foi apenas uma coincidência?

Não foi a pior, mas a que resultou nas derrotas da Taça da Liga e da Taça de Portugal. Quem jogou esteve bem e foi a fase em que houve mais jogos e acusámos um pouco o cansaço. Foram muitos jogos seguidos e a margem de erro era mínima. Não foi por ter faltado este ou aquele jogador.

"Vencer a Taça seria o final perfeito"

No dia 22 de Maio, o FC Porto termina a época como nos últimos dois anos: a jogar a final da Taça de Portugal no Jamor. Álvaro Pereira espera repetir os trunfos anteriores para encerrar com chave de ouro o ciclo 2010/11. "Às 19 horas do dia 22 veremos se é assim. A essa hora o jogo já deve ter terminado. Espero que seja o final de temporada perfeito, mas para isso teremos de ganhar", sublinhou, considerando o Guimarães um rival difícil. "Tem uma boa equipa e um treinador com muita qualidade e inteligência. Um jogo com o Guimarães também é praticamente um clássico em Portugal, tendo em conta a rivalidade entre as duas equipas. Vai ser uma grande final, muito disputada", considerou.

"Não tenho vontade de sair"

Numa altura em que o nome de Álvaro Pereira tem sido ligado a alguns clubes europeus, nomeadamente o Bayern de Munique, o uruguaio voltou a reafirmar a vontade de continuar no FC Porto na próxima época.

A época tem-lhe corrido muito bem e não faltam clubes interessados. Pensa sair ou quer voltar a jogar a Liga dos Campeões com o FC Porto?

Só penso no que ainda temos pela frente esta época, seja a meia-final da Liga Europa, a final da taça de Portugal ou tentar continuar a bater recordes no campeonato. Temos a possibilidade de levantar quatro troféus numa época e espero consegui-lo. Amo a cidade do Porto, estou muito cómodo, os adeptos fazem-me sentir bem e não penso em sair. Tenho a Copa América para jogar pela selecção pelo que há muito a ocupar a minha cabeça. Este ano está a correr muito bem e espero que continue assim daqui para frente.

Já jogou na Argentina, Roménia e Portugal. Que outro campeonato gostaria de experimentar?

Não penso nisso. O meu sonho era jogar num grande clube da Europa e o FC Porto proporcionou-me isso. Conseguimos ser campeões e, na próxima época, teremos a oportunidade de voltar a jogar a Champions, que é uma competição fantástica. Quero é desfrutar.

Tem uma cláusula de "apenas" 20 milhões de euros. Se fosse treinador de um grande clube europeu, não vinha contratar o Álvaro Pereira ao FC Porto?

(risos) Não, não, agora não... Não tenho vontade de sair, porque estou muito bem aqui. Estou tranquilo, cómodo, continuo a jogar, a família está bem, as pessoas estão contentes comigo... É tudo perfeito. Para além disso, é um país óptimo para os sul-americanos, até pela língua, uma vez que o castelhano é muito parecido com o português. Por tudo isto, sinto-me em casa.

Mas tem-se falado insistentemente do interesse do Bayern de Munique, que tem vindo assistir a vários jogos do FC Porto...

Ouvi o mesmo que toda a gente... Não sei de nada. Li nos jornais, na internet, mas ninguém falou comigo. Aliás, nem têm de falar comigo, se estiverem realmente interessados. Têm é de falar com o clube. O clube é que decide o meu futuro. Estou aqui, bem, e penso apenas no FC Porto, até porque nos jornais fala-se sempre sobre muitas possibilidades.

"Corro muito porque fazia maratonas quando era pequeno"

O que mudou no Álvaro de uma época para a outra?

Fui operado ao ombro... [risos]. Isso foi o principal. Mais a sério, não mudou muito. Sinto-me em casa e isso facilita tudo. Tenho um maior conhecimento do campeonato e dos adversários, o que também ajuda.

E o que ainda tem para melhorar?

Muito. Todos os dias trabalho para não me deixar conformar e ter cada vez mais ambição. Quero continuar a levantar troféus e a crescer como jogador.

Sente-se um jogador à Porto?

Quem pode dizer isso são os adeptos, as pessoas do clube e os meus companheiros. Bem, eu acho que ser um jogador à Porto é defender a camisola até à morte. E isso vai acontecer sempre comigo.

Ouvimos dizer que corria maratonas quando era pequeno?

Sim, mais ou menos entre os oito e os 15 anos. No Uruguai, há uma corrida chamada de São Filipe de Santiago e que se corre em Janeiro. Preparava-me sempre para essa corrida, porque era a altura de férias da escola. Sempre corremos na família. Comecei a correr com o meu irmão, corríamos entre oito e 12 quilómetros, e sempre gostei, de tal forma que cheguei a fazer parte de uma equipa de atletismo. Mas nunca cheguei a correr profissionalmente, porque por volta dos 15 anos tive de escolher entre o atletismo e o futebol. Escolhi o futebol, felizmente. Mas também tiro proveito desse meu passado, porque não me canso muito a correr de um lado para o outro. Também me parece que é algo genético, porque o meu pai já era assim e o meu filho também é.

"Adeptos podem ficar tranquilos, há lateral-esquerdo para algum tempo"

Há poucos canhotos no futebol. É desta forma que, meio a brincar, Álvaro Pereira explica o facto de um bom lateral-esquerdo ser uma espécie rara, quase em vias de extinção. O FC Porto sofreu isso na pele durante vários anos, mas Palito sossega os adeptos azuis e brancos.

Consegue explicar por que motivo há poucos laterais-esquerdos de qualidade?

Porque há poucos canhotos (risos). Mas, por exemplo, quando jogava na América do Sul quase nunca jogava como lateral; era mais médio. O jogo lá é diferente, enquanto aqui na Europa os defesas aparecem mais na frente, têm mais bola, e eu gosto muito desta posição. Aliás, aqui só me vejo a jogar como lateral.

Que opinião tem dos outros laterais do FC Porto?

Nas camadas jovens, gosto muito do Romário e do Bakar, que já treinaram algumas vezes connosco. Quanto aos outros, o Rafa esteve muito bem até ter o azar de sofrer uma lesão; o Sereno também tem feito todas as posições da defesa, e está sempre muito bem; Fucile já todos conhecem e está completamente adaptado... Sei que antes de ter chegado o Cissokho, se falava muito sobre o lugar de lateral-esquerdo na era pós-Nuno Valente. Mas agora os adeptos podem ficar tranquilos, porque vai ter o Álvaro Pereira por algum tempo (risos).

Há quem considere que o Fábio Coentrão é o melhor lateral a jogar em Portugal. Não se sente menosprezado?

Não, não... Ele é um grande jogador e isso de quem é o melhor ou o pior não me interessa muito. O que importa é o dia-a-dia, cada jogo, como acaba a temporada e quem é campeão. Ele defende o Benfica, eu o FC Porto; ele defende a selecção de Portugal, eu o Uruguai. Nunca tive nenhum problema com ele, respeito-o, é um grande jogador, muito valorizado, fez uma grande temporada. Não gosto de entrar nesse tipo de comparações, até porque o que importa é quem ganha troféus.

Mas considera-se um dos melhores laterais esquerdos do mundo?

Não, que é isso? Deixo essas coisas para os jornalistas, eu trabalho apenas para ajudar a equipa. Sou maluco por futebol, sinto-o de uma forma especial, quero ganhar sempre tudo. Há mais jogadores que fazem muito bem a minha posição.

"Villas-Boas é especial porque ganhamos desde o início"

Os elogios a André Villas-Boas são naturais, tão naturais como as vitórias que o FC Porto tem conseguido desde o início da temporada. Álvaro Pereira não quis fazer comparações com outros treinadores, mas sempre foi dizendo que Villas-Boas é especial...

O discurso motivacional é um dos trunfos de André Villas-Boas?

Sem dúvida que ele trabalha muito bem esse aspecto. É um treinador muito inteligente, ambicioso e transmite-nos precisamente essa mensagem. Em cada jogo passa-nos a ideia de que é uma final e isso motiva-nos.

Que mensagem é que tem passado nos intervalos que tem levado a equipa às vitórias, como aconteceu na Luz ou contra o Villarreal?

O treinador nem falou muito, só procurou corrigir alguns erros. Às vezes basta um olhar e todos nos comprometemos: vamos jogar, temos uma desvantagem de dois golos, no caso da Taça, e é ganhar ou morrer. Fomos para o campo, soltámo-nos, atacámos e conseguimos dar a volta. Com o Villarreal aconteceu a mesma situação. Nas eliminatórias da UEFA temos de ganhar e, de preferência, conseguir uma boa vantagem, sendo que, às vezes, os jogadores querem fazer o segundo golo antes de marcar o primeiro. E isso prejudica. Entrámos relaxados na segunda parte e conseguimos uma boa vitória.

Encaixou bem no futebol que André Villas-Boas pretendia para o FC Porto. Que opinião tem do treinador?

Não é só o jogador que tem de se adaptar ao treinador, mas o treinador também se deve adaptar às características dos jogadores que tem à disposição. Ele procurou aproveitar o melhor de cada um de nós. O respeito que temos por ele é o mesmo que tínhamos por Jesualdo Ferreira. Tem demonstrado que tem capacidade.

E sente que tem mais liberdade para atacar?

Não é por aí. Sou um jogador atrevido por natureza, que procura fazer o melhor que sabe mas sempre com responsabilidade. Tenho sempre muita liberdade e sinto-me bem com isso.

O que distingue Villas-Boas dos outros treinadores com quem trabalhou?

Não gosto de fazer comparações, porque todos têm métodos diferentes. Ele é especial porque desde o primeiro dia que temos ganho coisas. Todos os treinadores nos deixam coisas boas e coisas más.

Os penteados que lhe dão sorte

Álvaro Pereira não se cansou de dizer que se sente, no Porto, como em casa. Considerou a cidade "muito bonita", embora tenha ainda "lugares bonitos por conhecer". "Gosto muito e só tem um defeito: chove sempre muito em Dezembro e Janeiro". Quanto à comida, é só elogios. "é uma delícia. Não comia peixe na América do Sul, mas aqui disseram-me que tinha de experimentar. E agora adoro. Também gosto muito de lulas e de marisco. A minha família também. Já as francesinhas, nem tanto". Na exploração da vida mais privada, sobrou ainda uma pergunta: porque razão está sempre a mudar de penteado, às vezes até durante os intervalos dos jogos? "Não é nenhuma superstição. O problema é que, às vezes, a cabeleireira não tem tempo para acabar as tranças e elas acabam por ficar mal com o decorrer dos jogos. É só isso. Ah, mas vou voltar a fazer tranças, porque me deram sorte".

Palito por culpa da dicção do irmão

Álvaro Pereira tem um apelido: Palito. O lateral explicou que, "ao contrário do muita gente pensa", esta denominação não está relacionada com o facto de ter sido sempre magro. Surgiu antes por culpa de um problema de dicção do irmão mais velho... "Quando era pequeno chamavam-me de Alvarinho ou Alvarito. Mas o meu irmão, Danilo, que também era pequeno, não conseguia dizer Alvarito e dizia sempre Alpalito. Depois, na rua, quando íamos jogar futebol, todos me começaram a chamar de Palito. No início, e quem não me conhecia, pensava que era por eu ser magro. Mas não era. Foi mesmo por culpa do meu irmão", contou.

Sem comentários: