DEPOIS do empate com Os Beleneneses, o FC Porto venceu em Chipre, garantindo um lugar nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões pelo quarto ano consecutivo, e atingindo aquele que era, a par da conquista do campeonato nacional, um dos seus grandes objectivos. Mas, para que o outro seja conquistado (e neste caso seria pela quinta época consecutiva, o que igualaria a melhor série de sempre), este FC Porto que se tem visto nos últimos jogos parece insuficiente. O resultado em Nicósia, num ambiente complicado mas contra uma equipa fraquinha, foi justo mas não chega para mascarar os problemas que a equipa apresenta, numa fase já adiantada da época. E, à medida que as lesões vão sendo debeladas, fica-se com a ideia que o problema não estaria, apenas, na enfermaria.
Creio que o cerne da questão está no meio-campo, onde Lucho sabia pautar e pensar o futebol da equipa, entendendo os tempos em que devia jogar atrás ou à frente da linha da bola. Por contraste, Meireles não consegue interpretar esses tempos e tem a tendência para jogar à frente da bola. Ora, para fazer pressão defensiva, conseguir aberturas e criar jogadas, avançando, fazendo tabelas ou passes em profundidade, um jogador tem de partir de trás da bola. O que acontece é que Meireles prefere deambular à frente da bola, esperando que alguém lhe faça um passe para tentar, então, alvejar a baliza. Essa sua disposição táctica, que se assemelha a um falso 10, prejudica a recuperação da bola, e é por isso que, a espaços, o meio-campo do FC Porto parece abúlico, quando os jogadores adversários trocam a bola entre si. É que, Fernando e o terceiro homem do meio-campo, seja ele Tomás Costa, Belluschi, Mariano ou Guarín, não chegam para todas as encomendas.
Julgo que Jesualdo conhece o problema, e é por isso que recorre ao sentido táctico de Mariano, que percebe bem quando deve jogar atrás ou à frente da bola. É por isso também, e não por razões defensivas, que tem optado por colocar um quarto jogador na linha média. De facto, de nada adianta ter três jogadores na frente, se não há quem os abasteça. Veja-se, a propósito, como Falcao foi o jogador que maior distância correu na primeira parte do jogo em Chipre, o que é invulgar num ponta-de- lança, e comprova que ele se viu forçado a vir tentar buscar jogo a zonas muito recuadas, o que explica a falta de profundidade do jogo atacante da equipa.
Depois de Chipre, Jesualdo tem, agora, a oportunidade de repensar a disposição táctica da equipa e a colocação das suas peças. Terá, também, de avaliar se é preciso ir às compras quando o mercado reabrir em Janeiro. É claro que falta Valeri, de quem muito se espera, e há também os jogadores da formação, que não têm de ser opção, apenas, na Taça de Portugal. Mas o treinador saberá que o tempo começa a escassear, e é preciso encontrar uma solução de urgência para a indisfarçável crise de inspiração da equipa.
Ainda assim, e como alguém me dizia após a sofrida vitória em Chipre, bendita crise esta, que permite ao FC Porto ir ganhando na Europa, honrando os seus pergaminhos e enchendo os cofres com os dinheiros da UEFA, e ir mantendo a concorrência nacional, cujos méritos parecem aliás exagerados, a uma distância nada preocupante. Ao fim e ao cabo, o que mais preocupa os adeptos são os resultados. São esses resultados que calam a indisfarçável crise de forma da equipa, e o descontentamento dos adeptos que é visível na pouca afluência aos jogos e nos muitos protestos e assobios que se vão ouvindo, com uma frequência pouco habitual.
Contas e espectáculo
OFC Porto conseguiu, com a vitória em Chipre, uma receita adicional muito importante. Aliás, as receitas da Champions são tão relevantes para os clubes portugueses que, ao contrário do que já ouvi, o FC Porto não vai facilitar nem limitar-se a cumprir calendário nos dois jogos que faltam para se completar a fase de grupos. Qualquer ponto amealhado vale muito dinheiro, e não só ajudará a cobrir os custos do plantel como permitirá, também, ajustar o plantel, se isso parecer necessário em Janeiro. Mas, sem a pressão do apuramento, é espectável que a equipa nos proporcione melhores e mais inspiradas exibições. Conto, por isso, com um bom espectáculo, no próximo jogo no Dragão, com o Chelsea.
Mitos e competências
NA frente doméstica, o FC Porto perdeu uma boa oportunidade de igualar o Benfica e de manter a distância para os bracarenses. Mas, a boa notícia é que, ao contrário do que alguns já garantiam, os encarnados não são invencíveis. Pelo contrário, depois do emotivo jogo de Braga, em que Domingos Paciência provou que a sua modéstia não é sinónimo de menor competência e que afinal não é um treinador defensivo, e em que também se comprovou que Jesus, apesar dos seus fortes argumentos, não é infalível nem omnisciente, fica-se agora com a certeza que o Sporting de Braga é favorito, não só pela qualidade do treinador e da equipa, mas também porque já venceu os três crónicos candidatos ao título.
A influência no resultado
NA última jornada, houve dois jogos em que os erros de arbitragem tiveram influência directa na atribuição dos pontos: o penalty que Cosme Machado não conseguiu ver em Alvalade, e o fora-de-jogo errado, que impediu o FC Porto de abrir o marcador. Em Braga, por contraste, houve erros de arbitragem no campo disciplinar, em que não houve benefício de nenhuma das equipas, e uma decisão polémica e severa, mas acertada, na jogada anulada a Luisão. Só que, quem apenas leu os jornais, fica com a ideia que não foram o Sporting e o FC Porto os grandes prejudicados e que o Benfica foi impedido de ganhar em Braga. A pressão hegemónica do Benfica sobre a comunicação social é, de facto, impressionante.
Os rapazes e o lobo
COMO escrevi na última crónica, os talentosos futebolistas do Benfica andam apostados em aperfeiçoar a técnica do mergulho. Os mergulhos sucessivos na grande-área bracarense não tiveram, desta vez, qualquer utilidade que não fosse o cartão amarelo a Saviola. Aflige ver atletas reputados, como são os argentinos e o muito habilidoso Ramires (que é um dos melhores jogadores do campeonato), insistirem na tanga. Felizmente, Jorge de Sousa não se deixou iludir, ao contrário do que acontecera em Leiria, em que fora enganado por Aimar. Um dia destes, e como acontece na velha fábula, o Benfica vai pagar caro por isso, quando um árbitro tomar por tanga, e por isso não assinalar, uma falta verdadeira.
Rui Moreira n' A Bola.
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