1 O FC Porto naufragou nos Barreiros. Mais uma vez, o resultado foi melhor que a exibição. Só que nem isso chegou para empatar... É extraordinário que, depois do que se vira no jogo contra o Apoel, Jesualdo tenha escolhido precisamente a mesma equipa. É espantoso que continue a apostar num processo de jogo tão previsível que qualquer adversário consegue contrariar.
Naturalmente, não falta quem encontre explicações implausíveis para tudo isto. Ou são os assobios dos adeptos, ou é A BOLA e a RTP, ou são as críticas do Miguel Sousa Tavares, ou é o estado do relvado, ou é o cansaço. Também eu, reconheço, procurei encontrar explicações nas lesões, na adaptação dos recém-chegados, na falta de forma de algumas das importantes peças do plantel. Não nos levem a mal. No fundo, todos nós portistas esperávamos com maior ou menor impaciência que, tal como aconteceu no ano passado, o FC Porto iria conseguir recuperar.
Mas vi o jogo com o Marítimo, ouvi as declarações de jogadores e do técnico, e cheguei à triste conclusão de que essas desculpas generosas são incompletas e requentadas.
2 Começo pelo cansaço de que Meireles se queixa. Pois bem, gostaria que alguém da equipa técnica me explicasse porque razão mantêm o Raul em campo. E, já agora, gostaria que o jogador esclarecesse como escapa ao cansaço quando joga pela Selecção.
Fala-se, depois, nas lesões. Ora, sendo certo que ainda há alguns lesionados, apenas dois deles eram titulares antes desse impedimento: Varela e Fucile. Será que o FC Porto depende assim tanto deles? E, recuperado que está da lesão, porque não joga Belluschi que, apesar de tudo, é o único médio que consegue construir jogadas de ataque?
3 Começo a acreditar que o problema é outro e, porventura, bem mais complicado. É que, ou não temos jogadores para interpretarem os processos de Jesualdo — e isso seria gravíssimo porque o treinador avalizou as suas contratações — ou é o processo que está esgotado.
Na primeira hipótese, só espero que cheguemos a Janeiro ainda em luta pelo título e que, então, a SAD saiba encontrar um reforço que faça a diferença. Mas fica a preocupação adicional de já termos o plantel mais caro do País, numa altura em que o Benfica está à nossa frente, na classificação e em qualidade. Se o problema é, como julgo, de processos, então é preciso que Jesualdo compreenda, ou alguém lhe explique e imponha que não pode jogar num sistema táctico que só funcionava com Lucho. Na equipa do FC Porto não há lugar para fantasmas.
4 A verdade é que há muitos, muitos anos que não via um desempenho tão fraco do meu clube. Pior do que a táctica, ou a forma, é a incapacidade de lutar conta o infortúnio. Sempre houve, com todos os treinadores, dias infelizes e de pouca inspiração, mas não me lembro, nem nos tempos de Octávio, de uma equipa tão pouco aguerrida e tão desorganizada.
Um desperdício
QUE Jesualdo opte por Helton é uma opção que alguns adeptos aplaudem e os outros acatam. Mas numa situação em que o titular se lesiona no aquecimento, é incompreensível que o treinador não recorra ao suplente. Dirão, justamente, que não foi por culpa dele que a equipa perdeu. Dirão que a aposta foi boa, porque o brasileiro aguentou o jogo, apesar da visível inferioridade. Dirão que não se pode garantir que a utilização de Helton tenha agravado a sua lesão. Mas reconhecerão que foi um voto de desconfiança na alternativa, que reduz Beto à total irrelevância. Com que moral estará Beto, agora que tem de jogar, quando sabe que o treinador o preteriu numa situação em que Helton estava condicionado?
Vícios de rico
PREDIGUER custou mais de quatro milhões de euros ao FC Porto. Pelo que dele vi, na sua aparição contra o Sertanense, nada tenho a opor à sua contratação, ainda que nada tenha feito de especial. Mas se já me surpreendia que não tivesse sido inscrito na Liga dos Campeões, ainda mais me espanta quando vejo que não é opção. Pois, dizem-me que ele terá de passar pelo laboratório, que terá de se aclimatar ao futebol europeu, que é preciso dar tempo ao tempo. Clube rico, este, que empresta Castros e tantos outros, que vêm da formação, mas que se dá ao luxo de contratar uma vaga esperança por um preço tão elevado, quando a equipa precisava de alternativas experientes para o meio-campo.
SLB 'forever'
O senhor Lucílio Baptista (SLB) — e é por mero acaso que as suas iniciais e as do clube coincidem —transformou-se num talismã do Benfica. O futebol sempre teve destas magias. Mas o que parece ser uma excessiva coincidência é que, depois da sua influente arbitragem na final da taça da cerveja, tenha contribuído — inadvertidamente é claro — para que o Benfica partilhe a liderança com o Braga. À arbitragem em Vila de Conde, onde os minhotos foram espoliados de dois pontos, seguiu-se a da Luz, em que não viu um penalty a favor dos visitantes mas viu falta inexistente do tanguista Di María, que resultou em golo. O Benfica jogou bem e mereceu ganhar mas não precisa de tantos empenhos.
O braço-de-ferro
QUEIROZ e Madail estão de parabéns. Ganharam o braço-de-ferro contra o Real Madrid, obrigando Cristiano Ronaldo a apresentar-se em Lisboa, para logo ser dispensado por não estar em condições de poder alinhar nos jogos contra a Bósnia. Há quem pense, por isso, que foi teimosia, mas é preciso compreender que, se a Federação cedesse à pressão madrilena e tomasse como bom o diagnóstico espanhol, estaria a subverter os princípios e a criar um perigosíssimo precedente, deixando que fossem os clubes a decidir, a todo o tempo, se um atleta pode ser convocado. As regras são feitas para serem cumpridas e não pode haver, neste capítulo, qualquer contemplação, excepção ou discriminação.
Rui Moreira n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário