SEXTA-FEIRA caiu Paulo Bento no Sporting; sábado caiu o Sp. Braga em Guimarães; e domingo caiu o FC Porto no Funchal. Para quem está atento ao futebol, nenhum destes desabamentos do fim-de-semana traz espanto algum.
Paulo Bento caiu por exaustão: mesmo a Senhora de Fátima, que dizem que faz tantos milagres, de vez em quando deve cansar-se. Se um clube não tem dinheiro, não pode comprar bons jogadores; se não tem bons jogadores, não pode ter uma boa equipa; se não tem uma boa equipa, ainda poderá disfarçar durante um tempo, mas fatalmente acabará por não ter bons resultados; e, sem equipa e sem resultados, não há nenhum treinador do mundo que se aguente. Tão simples quanto isto. Muito gostaria de saber o que fariam os tais «terroristas» de que fala Bettencourt, sentados na cadeira de Paulo Bento: conseguiriam transformar o Caicedo ou o André Marques ou o Pedro Silva ou o Postiga em bons jogadores? Ou conseguiriam inventar dinheiro, esgravatando nos já tantas vezes vendidos, revendidos e voltados a vender terrenos de Alvalade? Isto, a curto prazo. Porque, a longo prazo, pode ser que eu esteja enganado, mas mantenho a tese aqui exposta há uns tempos: há duas instituições em Portugal cujo destino inexorável me parece ser a morte lenta (visto que morte súbita não há, por aqui) — o PSD e o Sporting Clube de Portugal. Para já e como se viu, a saída do «suspeito n.º 1» não teve o efeito milagroso que os «terroristas» esperavam…
Caiu o Braga em Guimarães e com toda a lógica e justiça. Pese à simpatia que me merece Domingos Paciência e à infinita gratidão e saudade que tenho pelo seu passado de n.º 9 do FCP, eu tinha-me abstido, até agora, de abordar o desempenho do Braga e, menos ainda, de embarcar no coro de loas de tantos comentadores ávidos pelo aparecimento de mais um «candidato», fora do clube dos três. Compreendo e subscrevo o desejo, mas ele não passa disso: o Braga não é candidato. Não é, como o Guimarães nunca chegou a sê-lo há dois anos e como o Boavista de outros tempos também nunca o foi — excepto nas circunstâncias descritas no livro do Fernando Mendes, sobre o qual tem recaído um eloquente silêncio geral. O Braga não é candidato, como bem se viu em Guimarães, porque lhe falta cultura e atitude de vitória, regularidade na concentração e vontade, capacidade de querer, de acreditar, de ousar. E falta-lhe também uma equipa à altura dos desejos: tinha melhor, bem melhor equipa, no ano passado, quando «o novo Mourinho», como lhe chamou António-Pedro Vasconcelos, não conseguiu melhor do que um quinto lugar no campeonato. Este ano, o Braga tem uma boa defesa, um meio-campo aceitável, um ataque onde só Alan tem verdadeira categoria e um guarda-redes, que é o da Selecção, ilustre continuador da escola do seu antecessor, Ricardo — para quem cada bola aérea é um drama sem solução. É curto, é pouco, a juntar à falta de hábitos de conquista, para justificar uma candidatura ao título. E só lamento, pessoalmente, que a extensão do meu último texto não me tenho permitido dizer isto mesmo a semana passada — justamente após a vitória sobre o Benfica, que não me convenceu.
Enfim, a terceira queda do fim-de-semana foi a do FC Porto às mãos do Marítimo. Quem, como eu, segue há tanto tempo e tão atentamente as sucessivas equipas do FC Porto, já podia prever facilmente o que ia suceder — e sobre isso, sim, venho escrevendo aqui, há algumas semanas. Bastou-me ver os primeiros quinze minutos de jogo, para mandar um sms a um outro portista: «Hoje perdemos».
Deixem-me ser directo: depois da última época de transacções (o momento futebolístico que eu mais temo em todo o ano!), o FC Porto ficou reduzido apenas a quatro bons jogadores: o Rolando e o Bruno Alves, o Falcão e o Hulk (embora a léguas do desempenho do ano anterior). Depois, tem cinco jogadores razoáveis e não mais do que isso: o Fucile, o Fernando, o Belluschi, o Meireles e o Rodriguez (estes dois últimos também em forma deplorável). E dois ou três, como o Nuno André Coelho e o Beto, que ainda não dispuseram de oportunidades para mostrarem o que valem. Tudo o resto são jogadores banais ou menos do que isso. É curto, também.
Ora, acontece, para agravar as coisas, que Jesualdo Ferreira — que tão bom foi a reconstruir equipas em anos anteriores — não parece ter percebido ainda que, desta vez, lhe deram cabo da equipa. E, onde as circunstâncias exigiam capacidade de inovação, de rasgo, de ousadia, tudo tem esbarrado no inamovível conservadorismo de Jesualdo. Jogo após jogo, ele parece preso da expectativa do milagre salvador do Hulk ou do Falcao (como sucedeu em Nicósia), ou então do ainda mais imprevisível milagre de ver gente como o Mariano, o Guarín, o Tomás Costa, o Sapunaru transformarem-se em bons jogadores.
No Funchal, concorreu ainda mais uma das características do seu enervante conservadorismo: ele precisa de 45 minutos inteiros para perceber o que já toda a gente percebeu — que a equipa não está a jogar nada e que é preciso mexer nela. (Contra o Belenenses, a pior equipa do campeonato, nunca consegui recuperar os danos de meio jogo desperdiçado; em Malta, safou-se a cinco minutos do fim; e, no Funchal, lixou-se com toda a lógica, uma vez que a primeira oportunidade de golo só apareceu aos 80 minutos e a segunda e última já nos descontos. E foi uma sorte não ter ido para o intervalo a perder por 3-0, se as baldas habituais de Helton no jogo aéreo tivessem tido as consequências lógicas). Incrível como é que não percebe que o grande problema desta equipa está no meio-campo e como é que, ao menos, não dá uma oportunidade ao miúdo Sérgio Oliveira (que, de castigo por tanto ter prometido no jogo da Taça, nunca mais foi convocado)? Como é que prefere ter o Belluschi, o único criativo, no banco, e o Guarín em campo — como sempre sem perceber sequer onde devia jogar, nem ao menos lhe ocorrendo tapar as auto-estradas abertas pelo Sapunaru, das quais nasceria o golo do Marítimo? Como é que, tendo finalmente entendido que o Guarín era um sitting duck, resolve trocá-lo por outro ainda pior — o Mariano — cuja «disciplina táctica», tão apreciada pelo treinador, é levada tão à letra que, quando recebe ordens para ocupar o flanco direito médio, já não sai mais dali: nem para avançar, nem para vir atrás ajudar!?
Sim, já sei: apesar da «crise de exibições», estamos com os mesmos pontos do ano passado e «apenas» a cinco de Braga e Benfica. E estamos nos oitavos-de-final da Champions. Contra factos não há argumentos? Há, sim, há este outro facto: esta equipa não joga nada. E, quando não se joga nada, o futuro não é risonho. Que o diga o Paulo Bento…
PS: Meu caro Eduardo Barroso: julgas e julgas bem que tenho amizade por ti. Julgas mal que tenho «alguma consideração profissional»: tenho toda, muitíssima mesmo. E uma grande admiração pelo homem a quem ouvi uma das frases-guia da minha vida, naquele célebre debate televisivo com o eng.º Macário Correia, pregando o fascismo antitabagista e exibindo, impante, a sua fantástica saúde de não fumador: «Olhe que a saúde é um estado passageiro que não augura nada de bom!». Mas, francamente, ó Eduardo, quando te vi, aqui há umas semanas, a queixares-te e a suspeitares do árbitro do Porto-Académica, porque ele tinha validado os dois primeiros golos do Porto — os quais tu reconhecias que tinham sido legais, mas que, em tua opinião, podiam perfeitamente ter sido também considerados off-side por um árbitro e um liner menos atentos — eu confesso que tive de ler três vezes para ter a certeza de que não estava enganado! Já não te chega viveres a queixares-te dos erros, reais ou supostos, dos árbitros: agora queixas-te também dos não-erros contra os adversários!
Olha, mas, nestes tempos dolorosos para ambas as nossas cores, mando-te um abraço solidário pelo desfecho do Nacional de juniores, que o ilustre CD da Liga (o mesmo que quis enfiar o Benfica na Champions pela porta do lixo e à custa do FC Porto), queria atribuir ao Benfica. Felizmente não passou no CJ a tentativa infame de fazer campeões através da invasão planeada de campo para evitar a realização do jogo decisivo! E agora, espero que, se forem buscar o André Vilas-Boas à Académica, não o façam à Benfica…
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
1 comentário:
Na época passada tinhamos a pior equipa dos últimos 10 anos. Fomos campeões, ganhamos a taça, fomos aos quartos-de-final da C.L. e só não eliminamos o Manchester nos pormenores. Que as coisas estão mal, sou o primeiro a reconheê-lo, mas não sou tão radical como o Miguel.
Beijinhos
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