1 No jogo Portugal-Bósnia, no Estádio da Luz, os dois jogadores do FC Porto, Bruno Alves e Raul Meireles, estiveram entre os melhores dos portugueses. No jogo Bósnia-Portugal, voltaram a estar entre os melhores. Ainda bem, porque contribuíram para este merecido feito da Selecção, e porque calaram os pasquineiros. Infelizmente, haverá sempre quem julgue que se tratou de um mero acaso e não valorize, por isso, o facto de também Ricardo Carvalho e Pepe, que a meu ver completam o quarteto que decidiu este play-off, serem jogadores que passaram pelo FC Porto, e que foram marcados e tocados pelo ADN do clube.
2 A excelentes exibições de Bruno Alves não surpreendem, porque o central tem estado ao seu melhor nível e é um dos jogadores portistas com alma até Almeida, a quem nunca se pode pedir mais generosidade ou atitude. O que espanta é que, na Luz, tenha marcado um golo invulgar, correspondendo a um cruzamento e aparecendo isolado na área como o jogador mais adiantado da equipa, numa jogada de envolvimento do ataque português. Ora, sabe-se como no FC Porto essas aventuras lhe estão vedadas, à excepção das jogadas de bola parada e das situações desesperadas, em que a equipa opta pelo chuveirinho para a área adversária e se pede a Bruno que tente utilizar a sua estatura e compleição física para jogar na frente. Como escrevi na semana passada, creio que o problema do FC Porto está nos processos de jogo e num modelo muito rígido e previsível. Parece-me que este golo de Bruno Alves comprova essa tese. Com o trinco Fernando também amarrado a funções defensivas, ao contrário do que se lhe conhecia noutras equipas, não seria conveniente que Jesualdo arriscasse um pouco mais e permitisse outra liberdade a Bruno Alves para fazer desequilíbrios, trocando as voltas às marcações dos adversários?
3 Muito mais sensível e complicada é a questão de Meireles, que voltou a fazer duas grandes exibições pela Selecção. Na Luz, as suas tabelas com Deco nem sempre tiveram êxito mas, na segunda mão, teve oportunidade de abrir o livro e mesmo que não tivesse marcado o golo decisivo, teria sido o melhor dos jogadores em campo. A grande e misteriosa questão que fica, agora, por responder, é porque razão aparece em tão boa forma na Selecção, quando é consensual que tem jogado tão mal no FC Porto, onde parece cansado e distraído, e até receoso de meter o pé? É uma pergunta à qual o jogador vai ter de responder no campo, quando voltar a actuar de azul-e-branco, porque os adeptos vão exigir essa explicação e, neste caso, não parece ser, apenas ou tão só, um problema de processos de jogo.
4 Sejamos, ainda assim, optimistas. Vamos continuar a ter Bruno Alves e pode ser que estas exibições e os muitos elogios ajudem Raul Meireles a reencontrar a forma que o notabilizou, em particular no final da época passada.
Um homem sério
NA Luz, Carlos Queiroz voltou a ser assobiado pelos adeptos. Depois, durante a semana, ouviram-se muitas críticas ao seleccionador nacional, antecipando uma tragédia que, fe- lizmente, não aconteceu. Afinal, ganhou a segunda mão com todo o mérito e segurança, contrariando as vozes agoirentas mas logo apareceu quem questionasse porque razão não festejou à Scolari. O que interessa é que Portugal está na fase final do Mundial. Na base desse êxito, estão os jogadores, e está Queiroz. O seleccionador não festejou efusivamente, e fez bem, porque sabe que, para já, se limitou a cumprir o mínimo que lhe era exigido. Espero, e acredito, que Carlos Queiroz vai celebrar e fazer a festa na África do Sul.
Depois do populismo
NATURALMENTE, Queiroz não é Scolari. Não apela a rezas e a milagres, não precisa de recorrer à portofobia para ser adulado em Lisboa e venerado pelos seis milhões, não entra em desnecessárias teatralidades. É um treinador competente e equilibrado, que tem ideias claras sobre tudo aquilo que pretende e que, desta vez, conseguiu realizar um sonho que parecia perdido, depois de alguns sobressaltos. Bom seria que os adeptos da Selecção, principalmente os que não acompanham o futebol no dia-a-dia, se recordassem que, para além do folclore, das bandeirinhas e dos cordões humanos, precisamos de um homem competente e que a imprensa lhe conceda um décimo do crédito que deu ao seu antecessor.
No estádio dos Borat
TUDO aquilo que se passou na deslocação da Selecção portuguesa à Bósnia é, no mínimo, incompreensível. Que o acesso à fase final do Campeonato do Mundo de futebol seja decidido num estádio sobrelotado e com um piso lavrado, ainda se compreende. Que uma equipa nacional seja ameaçada, insultada, cuspida e intimidada num aeroporto, sem que haja uma intervenção das autoridades, já é mais bizarro. Tudo isto acontece porque os senhores que mandam nas FIFA e UEFA precisam do voto dos pequenos países para controlar o negócio. Há quem diga que o futebol português não está em boas mãos mas, se olharem além-fronteiras, perceberão que esse não é um problema exclusivamente nacional.
A última escolha
OS pormenores rocambolescos e bizarros que envolveram a contratação do substituto de Paulo Bento no Sporting são um sintoma de que algo vai muito, muito mal em Alvalade. Quando Bettencourt se despediu de Bento garantindo que os adeptos ainda se iriam arrepender, condicionou a futura escolha. Quando anunciou À CMVM que estava em negociações com Villas Boas e depois falhou o acordo com a Académica, aumentou o condicionamento. Não admira, por isso, que Carvalhal tenha sido apresentado por um vídeo no site do clube. É um treinador que aprecio e desejo-lhe sorte. Não deve ser fácil ser tratado assim, como se fosse a derradeira escolha, e lidar com um presidente contrariado.
Rui Moreira n' A Bola.
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