TODOS concordaram que o estádio bósnio onde a Selecção jogou não tinha condições, por culpa do relvado e por a sua lotação ter sido excedida, o que motivou uma reclamação à FIFA por parte da FPF, mas o jogo entre a Oliveirense e o FC Porto quebrou esse consenso. Sabia-se que o relvado não estava em condições e que tinham sido retiradas as cadeiras para duplicar a capacidade das bancadas. À FPF, a organizadora da competição, competiria atender aos avisos, inspeccionar o estádio e, se necessário, encontrar uma solução de recurso. Em vez disso, lavou as suas mãos.
Perante as preocupações portistas, houve quem imaginasse que o alvo era Hermínio Loureiro e invocasse «a verdade da prova», esquecendo que o Benfica não fora a Monsanto, e que o Sporting não iria à Caparica.
Só não houve mais polémica porque o mau tempo alagou o campo e facilitou a decisão do árbitro. O presidente da Oliveirense acatou a decisão e percebeu-se, pelas suas cândidas decla- rações, que o episódio lhe dá argumentos para continuar a reclamar um novo estádio da sua autarquia.
Ainda assim, a FPF resolveu emitir um comunicado, em resposta às críticas do FC Porto. Nessa prosa, a FPF recusa a comparação com o que motivou o seu protesto à FIFA, explicando «que o estádio onde se realizou o Bósnia-Portugal não estava licenciado pela UEFA, ao passo que o da Oliveirense está licenciado para receber jogos de uma competição profissional». A FPF omite que esse licenciamento por parte da Liga não contemplava que se duplicasse a lotação, o que é um aspecto relevante no aspecto da (in)segurança e esquece que, com o mesmo argumento, a FIFA poderia invocar que o estádio bósnio está, tal como o de Oliveira de Azeméis está, licenciado pela Liga do país respectivo.
Infelizmente, o clubismo toldou a análise deste caso e tudo ficará na mesma. Para muitos, a moral da história é que se os clubes mais modestos jogam naquele campo, os grandes também deveriam jogar. Para outros, é inaceitável que os artistas da bola arrisquem lesões jogando num batatal. Ora, este caso deveria servir para que se incentivasse uma fiscalização sistemática de campos e estádios, sejam eles humildes ou grandiosos, segundo as regras escritas e o bom senso que não precisa de leis. Não faltam, por todo o país, bons relvados, tantas vezes subutilizados ou esquecidos, exactamente porque se permite que o futebol profissional seja jogado em condições pouco apropriadas e perigosas, que adulteram a verdade desportiva e afastam os espectadores. Este critério de selecção, por exigente que possa parecer, e como aliás foi aquele que ditou o fim dos pelados, seria um grande contributo para graduar o futebol nacional.
Não era a feijões
OFC Porto perdeu com o Chelsea num jogo morno. A homenagem a Deco foi o grande momento da noite. Com Belluschi e Varela em bom nível, o FC Porto fez uma boa 1ª parte. Depois com a sua saída quando já acusavam cansaço, por troca com Hulk e Guarín, Jesualdo recuperou a equipa dos últimos jogos. O brasileiro logo se esqueceu de ajudar Sapunaru, ao contrário do que Varela havia feito, e abriu o caminho por onde os ingleses fizeram o golo. Guarín pode substituir Meireles mas não é Belluschi. O FC Porto perdeu. Diz-se que foi a feijões, mas eram feijões de luxo e apetitosos, que calhariam bem na nossa sopa de pedra, e pelos quais os ricos ingleses nem sequer tiveram de se empenhar muito.
O incrível sentado
GOSTEI de ver Hulk sentado no banco. Não sei se alguém lhe disse que precisava de descansar da ida ao escrete. Em vez disso, talvez lhe devessem ter explicado que fora preterido por causa dos seus tiques e individualismo, das suas inócuas simulações. Talvez assim tivesse optado por uma outra atitude, logo que surgisse a oportunidade de jogar. Em vez disso, e como tem sido costume, Hulk foi de pequena utilidade quando entrou. Sabe-se como Jesualdo, com a sua larga experiência de formador, o tem defendido. Seria uma pena se um jogador com tantas virtudes se desperdiçasse até porque não é grande a distância entre o génio e a frivolidade, entre o super-herói e o artista de circo.
As metades da laranja
JESUALDO diz que o FC Porto está a melhorar. É verdade que as soluções apresentadas na 1ª parte apontam para isso e não escandalizaria se tivesse chegado ao intervalo em vantagem. Além disso, o Chelsea não é uma equipa qualquer e mesmo quando joga a meio gás, como foi o caso, é bem mais forte do que a nossa concorrência nacional, com a qual vamos disputar os próximos jogos que serão cruciais. Beto não teve muito trabalho, mas esteve atento e soube resolver sem complexos o que poderia ser difícil, sofrendo um golo indefensável. Veremos o que se passa nos próximos jogos, mas fica a ideia de que, se a equipa desta 1.ª parte até pode bastar, já a da 2.ª parte parece uma laranja espremida.
A grande batota
COM grande ajuda, a França estará no Mundial. Depois da criação de cabeças-de-série nos play-off que aliás ajudou Portugal, eis que a eliminatória com a República da Irlanda se resolveu com a batota do costume. Quem defende as ajudas televisivas para descortinar estes casos julga que depois deste e das repercussões que teve, a solução que preconiza está mais perto. Julgo que, pelo contrário, este caldinho justifica a inflexibilidade de quem manda no futebol e que nada quer alterar. Para que a FIFA, a UEFA e os seus pares possam continuar a adulterar a verdade desportiva em função dos seus interesses, é preciso que esta subjectividade continue a existir.
Rui Moreira n' A Bola.
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