sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Fazer das tripas coração

TUDO levava a crer que esta seria uma semana terrível. Afinal, um dos mais carismáticos dirigentes do FC Porto, Fernando Gomes, apresentara a sua demissão do cargo de administrador da SAD, onde era responsável pelo pelouro das finanças. Dizia-se que entrara em rumo de colisão com o presidente e com os seus colegas por causa da contratação do brasileiro Kléber. Horas depois, saber-se-ia que o negócio se gorara e que para além da desfeita, haveria consequências no balneário já que, como Farias deixara, por isso, de rumar ao Brasil, era presumível que o jogador argentino ficasse contrafeito. Havia, também, a notícia de problemas disciplinares envolvendo o capitão Bruno Alves que o teriam afastado da convocatória, Rodriguez estava lesionado e também Raul Meireles estava indisponível, havendo rumores de que não seria por lesão. Logo que Angelino Ferreira foi indicado como substituto de Fernando Gomes, poucos se lembraram que o recurso à «prata da casa» era um desfecho natural e muitos invocaram que a nomeação só comprovava que a renovação de quadros já não era possível.
Todo este drama colossal acontecia, ainda por cima, em vésperas de um jogo importante para a Taça de Portugal e não faltava quem garantisse que esta eliminatória, vista como uma final antecipada, seria o tira-teimas para a equipa técnica. Afinal, o FC Porto estava já a seis pontos do Braga e do Benfica e como o Sporting acabara de comprometer definitivamente as suas esperanças de conquistar o campeonato, a Taça de Portugal era o último prémio de consolação da época.

Aparentemente, estavam criadas as condições ideais para que o FC Porto partisse para este jogo em situação de inferioridade e, na dúvida, apontava-se a «fruta» como única arma letal à disposição dos dragões. É verdade que, também no seio dos adeptos portistas, havia algum desalento, a inevitável titularidade de Mariano Gonzalez era apontado como uma fragilidade e a fraca bilheteira confirmava essas inquietações.

Afinal, não foi preciso esperar muito para perceber que os mind games não tiveram o efeito previsto. Com Fernando Gomes no camarote presidencial e Bruno Alves na bancada, com Ruben Micael com a batuta e Mariano e Falcao em grande plano, o FC Porto depressa mostrou que continua a ser uma nau à medida destas tormentas. Viu-se um grande espectáculo de futebol, com uma excelente arbitragem, com correcção exemplar, com alegria nas bancadas, com golos de qualidade e com uma réplica digna, como se comprovou a um minuto do fim. Tal como aconteceu tantas vezes no passado, e sucedera na época passada em Kiev e Alvalade, o FC Porto respondeu no momento certo e, fazendo das tripas coração, contrariou as mais funestas previsões. Não, desta vez não houve casos nem dramas, não houve túneis nem protestos, os stewards não jogaram. Houve, apenas, um invulgar jogo de futebol, de onze contra onze, sem trunfos escondidos.

Bruno Alves
NÃO se conhece, oficialmente, a razão pela qual Bruno Alves não foi convocado para o importante jogo da Taça de Portugal mas não é crível que se tenha tratado de uma opção técnica, tanto mais que, segundo a comunicação social noticiou, terá havido um problema disciplinar num treino. Nestas situações, exige-se a devida ponderação entre a indispensável disciplina interna e o bom senso, e é para isso que servem as multas. É que de suspensões e exclusões, ainda por cima por casos que se passam fora dos relvados, já estamos todos fartos. Além disso, e como Tomas Costa fez bem em lembrar, Bruno Alves faz falta ao grupo de trabalho.

Nomeações
É extraordinário que, depois de tudo o que se passara no Dragão na visita da União de Leiria, o árbitro Elmano Santos tenha sido escolhido para arbitrar um jogo tão importante como o Benfica-Guimarães. É extravagante que João Ferreira, depois de ser o 4º árbitro que está associado ao caso do túnel da Luz e ao estranhíssimo Marítimo-Benfica, tenha merecido arbitrar o Braga-Sporting, e que Carlos Xistra tenha sido escalado para o jogo da Choupana. Pelos vistos, são estes os critérios de Vítor Pereira. É, no mínimo, surpreendente que se procure resolver a suspeita — que existe e que as palavras recentes do responsável pelas nomeações só corroboraram — com estas insólitas nomeações.

Campeão
O Benfica tem uma boa equipa e um excelente treinador, e não me custa a admitir que esses argumentos poderiam ser suficientes, só por si, para conquistar o tão almejado título nacional. Não sei se o Benfica ganhará o campeonato de futebol, mas reconheço que, no mínimo, já ganhou o campeonato do túnel e a taça da secretaria. Como me confidenciava, há dias, um antigo dirigente benfiquista, é pena que a eventual vitória do seu clube fique associada, para sempre, a esta mácula. Lamentavelmente, o Sporting de Braga parece ser, agora, o alvo a abater e, esperando que o FC Porto consiga ultrapassar os minhotos na classificação, gostaria que isso fosse conseguido sem truques e sem ajudas.

A batota
PARA que conste, o Braga foi o campeão no relvado até 2 de Fevereiro, dia em que se viu privado de dois dos seus melhores jogadores. Vandinho foi castigado por «tentativa de agressão» que não consta dos relatórios dos árbitros, da polícia, dos delegados da Liga e que é desmentida por todos os intervenientes, excepto os ligados ao Benfica. Se o leitor tem dúvidas sobre mais esta inventona, recorra ao You Tube e procure S. C. Braga-Benfica — O que realmente se passou com o Vandinho e o adjunto. Com tantas e sucessivas calabotices, em que há sempre um único beneficiado, não será tempo de os outros clubes convocarem uma Assembleia Geral Extraordinária da Liga e dizerem «basta!»?

Rui Moreira n' A Bola.

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