AO fim de uma semana em cartaz, vi o tão aguardado filme do túnel do Estádio da Luz, nomeado para todas as categorias de diversos prémios, inclusivamente de guarda-roupa. Finalmente. Ia preparado para um épico, um arraial de pancadaria à grande e à americana, todos de Winchester e de Colt ou apenas usando os punhos rente às portas dos saloons. Um western.
Desilusão fatal. Em vez do épico, uma coisa chinfrim e aos saltos; em vez do western, um documentário que poderia ter sido produzido por uma seita contemplativa das Testemunhas de Jeová. Tenho, pois, a dizer o seguinte: 1) o túnel é feio e desagradável, muito pouco digno de cinema como deve ser; 2) não se vê grande coisa de acção nem «frame a frame», nem «em contínuo», tirando uns fragmentos em que não se sabe se são os índios ou os cowboys a empurrar os adversários — aquele joguinho mariquinhas do empurra-empurra-que-ainda-me-irritas-e-vou-fazer-queixa; 3) é incompreensível como um clube que joga na Liga Europa, e com um historial tão reconhecido, tem câmaras de videovigilância desta qualidade; 4) está lá um cavalheiro a perguntar se já podem desligar o vídeo porque precisam de devolver os aparelhos à loja; 5) um clube com pelo menos dois bons cineastas afectos às suas cores só conseguiu aquelas imagens da treta?; 6) inexplicavelmente, e contra todas as expectativas, não se vê o Cardozo a apanhar uma estalada; 7) não se vêem golos; 8) o cinema português, posso garanti-lo, não sai prestigiado; tudo maus actores - e da pós-produção nem falar.
Por falar em cinema: cenário perfeito, o do Dragão, para um jogo de grande nível - o da passagem às meias-finais da Taça. Rúben Micael parece ter chegado já com as chuteiras alinhadas. Mas o que mais me afectou foi a mobilidade de Mariano González. Este homem, que tem feitio e aspecto de empregado de mesa do Café Tortoni, que todos nós devemos assobiar e vaiar pelo menos uma vez na vida, parecia ter despertado para o futebol. Nunca se sabe.
Francisco José Viegas n' A Bola.
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